domingo, 10 de setembro de 2017

A deturpação do Espiritismo e a incoerência dos deturpadores


Na crise vivida pelo "espiritismo" no Brasil, percebe-se que os próprios deturpadores sempre investem na promessa de "recuperar as bases espíritas originais", como se fosse fácil ensinar errado num dia e depois corrigir o mau ensino com a revisão de suas ideias.

Mudar ideias, corrigir, rever conceitos e desculpar-se dos erros é, em si, compreensível e, dependendo do conceito, bastante louvável. Mas não é o caso do "espiritismo" brasileiro, no qual os deturpadores, no primeiro momento, fogem com muito gosto dos ensinamentos espíritas originais e, depois, querem reparar os erros que cometeram, mesmo quando suas consequências se tornam graves.

O "espiritismo" brasileiro, por suas escolhas, acabou se reduzindo a uma forma atualizada e esotérica do antigo Catolicismo jesuíta, de bases medievais, que vigorou no Brasil durante boa parte do período colonial. Quando tentou reparar o problema gerado, foi tarde demais.

Não adianta renegar Jean-Baptiste Roustaing e herdar suas ideias. Da mesma forma, não adianta admitir alguma qualidade positiva na obra de Roustaing e depois dizer que "Espiritismo é só com Allan Kardec".

Nos últimos 40 anos, o festival de incoerências associado aos "grandes nomes" do "espiritismo" brasileiro, como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, corroborado por nomes de menor projeção como Richard Simonetti, José Medrado, Orson Peter Carrara e Alamar Régis Carvalho, mostra o quanto o "espiritismo" se reduziu a um engodo doutrinário.

Esse engodo mistura ideias espíritas originais com conceitos igrejistas. A "caridade", tão festejada, se resume a mero Assistencialismo, apesar do rótulo pomposo de "Assistência Social": uma "caridade" que ajuda pouco e só serve para a promoção pessoal do "benfeitor", endeusado por conta de concessão de sopinhas, roupas velhas e projetos pedagógicos não muito diferentes da antiquada Escola Sem Partido.

A desinformação generalizada das pessoas - que desconhece, por exemplo, que o termo "médium" significa "intermediário" e nada tem a ver com a imagem espetacularizada dos supostos médiuns marcados pelo culto à personalidade - permite que o "espiritismo" se sustente com tantas contradições, num momento apelando para o "respeito rigoroso aos postulados kardecianos originais", no outro se derramando no igrejismo mais exaltado.

O expositor "espírita", seja um "médium" ou um simples palestrante ou escritor, não pode ser compreendido como um funcionário de plantão que comete um desastroso erro num dia e, depois, tenta corrigir o que havia dito antes. Isso porque, pelas suas pretensões e responsabilidades, a contradição tem maior peso de gravidade, e se juntarmos as diversas exposições, orais ou textuais, de cada "pensador espírita", se verá uma coleção de ideias que se chocam umas com as outras.

PRETENSÃO DE PALAVRA FINAL

O expositor "espírita" tem sempre a pretensão de ficar com a "palavra final", embora sempre dê a impressão de que não pretende isso. É como aquelas pessoas que querem a posse da verdade mas, no discurso, insistem que não.

Neste caso, o expositor "espírita", que se considera "porta-voz de Jesus" e, a pretexto de transmitir mensagens "edificantes", comete vários equívocos, até pela abordagem igrejeira que expressa da Doutrina Espírita, tem um peso de responsabilidade maior para ter maior cuidado com as ideias, e, se decide se descuidar, está sujeito aos efeitos mais drásticos que o desqualificam como "pensador" do Espiritismo.

Não adianta expor um aparato de belas palavras, como se a arrumação de textos garantisse a suposta coerência de ideias e a aparente positividade das mensagens significasse consistência de ideias e conformidade com o bom senso. Quantas mentiras, quantas ideias truncadas, confusas e incoerentes se escondem sob a mais bela coreografia das palavras!...

O caso precedente de Chico Xavier, que sempre foi um católico ortodoxo fantasiado de "espírita", ou o caso posterior de Divaldo Frando, roustanguista dos mais igrejistas, mas que vende a falsa imagem de "kardeciano autêntico", revelam o quanto os alhos e bugalhos textuais causam problemas graves, fazendo com que, de forma vergonhosa, o Espiritismo brasileiro nunca seja devidamente respeitado.

A coisa se agrava quando os expositores "espíritas" sempre desejam ter a reputação de "filósofos". Isso requer uma grande responsabilidade que quase nunca é assumida, principalmente se soubermos que a função de filósofo não é a de ter a pretensão de "saber tudo", mas de transmitir ideias para análise e questionamento.

Daí ser vergonhoso ver volumes como a série "Divaldo Responde", um "clássico" da empulhação, um amontoado de textos verborrágicos, de suposta erudição e rebuscados, que só agradam mesmo a quem se apega a valores ultraconservadores e a paradigmas hierárquicos que só tinham sentido cem anos atrás.

A "fase dúbia" do "movimento espírita" vive a sua grave crise e quer corrigi-la com supostas soluções que se revelam ineficazes. Sempre a mesma promessa de "entender melhor Kardec", alimentada pela letra "desencarnada" da "correta" exposição da teoria espírita original.

Mas se, num momento, se sucumbe à tentação do igrejismo mais entusiasmado, então não adianta ensinar correto a teoria espírita, se na prática desobedece às mesmas lições. Além disso, os deturpadores da Doutrina Espírita não têm condições reais para recuperar as bases kardecianas que eles mesmos rasgaram com gosto. Não se pode fugir da responsabilidade dos piores erros.

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