quinta-feira, 31 de julho de 2014

As estranhas mudanças editoriais de Parnaso de Além-Túmulo


Começamos a ler a tese A Poesia Transcendente de Parnaso de Além-Túmulo, de Alexandre Caroli Rocha, que a FEB anuncia como uma tese de pós-graduação que, de "maneira surpreendente", legitima a autoria dos poemas e prosas atribuídos a escritores e poetas falecidos na suposta psicografia de Francisco Cândido Xavier.

No começo do trabalho, o que chama muito a atenção é que o mesmo livro foi publicado em várias edições, todos com emendas nas obras publicadas ou com a exclusão de antigos poemas, em detrimento da aparentemente normal inclusão de novos poemas e prosas de autores aparentemente ausentes em edições anteriores.

São seis edições: a primeira, de 1932, chegou a receber uma crítica de um desconfiado Humberto de Campos, em vida. Depois vieram as seguintes reedições: 1935, 1939, 1944, 1945 e a definitiva, em 1955.

Segundo a versão oficial, o conteúdo do livro teria sido organizado pelo espírito de Emmanuel, o suposto orientador espiritual de Chico Xavier. Caberia ao jesuíta a avaliação do conteúdo dos livros e à decisão de sua publicação, como uma espécie de "editor do além".

O livro já cria estranheza, pelo menos para os especialistas em literatura, por usar o termo "Parnaso", um termo bastante gasto devido ao desgaste do movimento parnasiano que havia sido "derrubado" pelo Movimento Modernista, que em 1932 já havia se consolidado no Brasil. O que dá um indício do latente conservadorismo e da visão antiquada do anti-médium mineiro.

Mas isso talvez só tenha importância nos meios literários, já que para os pouco especializados em literatura isso não faz muita diferença. No entanto, um aspecto põe em xeque a suposta perfeição e a pretensa transparência da obra dita mediúnica, já em primeira vista.

Afinal, se Parnaso de Além-Túmulo se anunciava como um fruto de "espíritos benfeitores", e se definia como um trabalho de "mensagens edificantes", por conta de toda a mística perfeccionista do "espiritismo" de Chico Xavier, por que seu conteúdo teve que ser revisto e muitos dos "valiosos" poemas fossem suprimidos de uma edição para outra?

Sim, o Chico Xavier, ele mesmo tido pela FEB como pessoa de "inegável perfeição" e classificado pela revista O Reformador como uma das pessoas mais evoluídas que passaram pela Terra, de obras "seguramente evoluídas", tinha que fazer reparos num de seus livros conforme exigiam as conveniências.

Algumas dessas mudanças teriam sido inócuas, supostamente para reforçar a expressão poética, como no poema atribuído ao poeta parnasiano Augusto dos Anjos, "Homo", no qual o verso "O homem era o produto abstruso da ânsia", da primeira para a segunda edição, deu lugar a "O homem era o fruto abstruso da ânsia".

A alegação que foi dada era para "aperfeiçoar" a métrica, já que surgiram queixas sobre aspectos irregulares da produção poética em comparação com que os supostos autores haviam produzido em vida.

Outro exemplo de "acerto de métrica" seria atribuído a "Miniaturas da Sociedade Elegante", supostamente de Artur Azevedo, dramaturgo, jornalista e poeta que havia sido irmão de Aluísio Azevedo, este autor de O Cortiço e O Mulato. Artur está associado sobretudo às comédias teatrais e a peças como A Capital Federal, de 1897.

No referido poema, pelo menos dois reparos foram feitos entre a segunda e a terceira edições de Parnaso, como substituir "Seu bacharel e meigo enamorado" por "Bacharel delambido e enamorado", e "Sua esposa beijava o seu amigo" por "Viu que a esposa beijava um seu amigo".

Outro reparo tendencioso, feito para forjar erudição foi com relação ao poema "Contrastes", atribuído ao espírito de Auta de Souza (1876-1901), a linda negra potiguar que havia sido poetisa ultrarromântica de acentos simbolistas, lançou o livro Horto e que havia falecido de tuberculose.

Neste poema de Auta, a alteração de verso, trocando "Tanto desânimo e tantas desventuras" por "Tal desalento e tantas desventuras", além de "reparar" a métrica, adotaria um tom mais erudito, já que a expressão "desalento" é de uso mais elitizado e culto do que a palavra "desânimo", voltada mais para o uso coloquial.

Há as eliminações sem explicação aparente, seja de Chico Xavier ou da FEB, ou então porque foram vistos como "violentos". A supressão, na quinta edição, de "Número infinito", tido como de Augusto dos Anjos, não teve qualquer explicação. Já "Guerra", também atribuído a Augusto dos Anjos, teria sido eliminado na mesma edição por "repetição de tema" constante em outros textos do livro.

Por sua vez, Guerra Junqueiro, poeta português que viveu entre 1850 e 1923 e autor do livro A Velhice do Padre Eterno, que lhe resultou em reações indignadas de intelectuais católicos, teve uma biografia amenizada na sexta edição, eliminando sua postura crítica contra a Igreja Católica.

Desta forma, onde se lia "Notável, sobretudo, pela sua hostilidade à Igreja de Roma, vemos por sua produção de agora, que os anos do além-túmulo não lhe alteraram a sadia e lúcida mentalidade, nas mesmas diretrizes", passou-se a ler "Notável, sobretudo, pela sua veia combativa e satírica".

Guerra Junqueiro também esteve associado a um poema atribuído à sua autoria, "Contra a Besta Apocalíptica", excluído da sexta edição de Parnaso de Além-Túmulo. A medida não foi justificada, embora Clóvis Ramos, autor do livro 50 Anos de Parnaso, sugerisse que o poema foi suprimido pelo seu conteúdo violento contra a Inquisição Católica.

E todos esses processos, a decisão é atribuída a Emmanuel. O livro atingiu sua edição definitiva pela sexta edição, de 1955, definido por Francisco Thiesen, ex-dirigente da FEB, em artigo seu, como "edição adulta", com seus "vinte e poucos anos" em relação à publicação original.

Sobre as alterações, Thiesen tentou justificar da seguinte maneira: "Houve aumento de páginas (...), mas ocorreram também supressões de algumas unidades (...). É que, com a 6ª edição, a obra passou a obedecer a delineamentos estruturais de globalidade unificada, e isso exigiu modificações de variada gama em centenas de versos, estrofes, sonetos, poemas...".

Então tá.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Professora denuncia "patrulhamento" contra espíritas autênticos

A PROFESSORA DORA INCONTRI FOI ACUSADA DE FAZER PROSELITISMO SÓ PORQUE INCLUIU ALLAN KARDEC NUM TRABALHO SOBRE PENSADORES DO SÉCULO XIX.

Foi publicado recentemente um artigo da professora universitária Dora Incontri, que denuncia a situação em que se encontra o chamado "espiritismo" brasileiro. Tanto pelo boicote de acadêmicos laicos ou de outras crenças e religiões quanto pela indiferença de pessoas que se dizem espíritas, a denúncia de Dora é um ponto a pensar.

Afinal, o chamado "espiritismo" brasileiro cresceu muito pouco ao longo dos anos. Com toda a pompa e mania de triunfalismo do suposto "espiritismo" da FEB, sua doutrina - a que deturpa as ideias de Allan Kardec em prol de um religiosismo retrógrado - só cresceu pouco mais de 1% no Brasil, mais de 70 anos depois do lançamento do ufanista Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

As distorções que se fazem em relação à doutrina originalmente lançada por Allan Kardec, ele mesmo um pedagogo, discípulo de Pestalozzi e um dos modernos planejadores da educação pública infantil na França, fazem com que Dora enfrente situações um tanto surreais que ela descreveu no seu blogue.

Com vários trabalhos acadêmicos, incluindo uma tese de pós-graduação que a fez doutora e pós-doutora pela USP, e seminários dedicados à Pedagogia Espírita, ela resolveu, juntamente com seu colega Alessandro César Bighetto, elaborar um livro didático a ser implantado no ensino médio de Filosofia.

Avaliado por uma banca de especialistas laicos, o livro não foi aprovado para ser implantado pelo governo - não se sabe se ela se ela se referiu ao governo de São Paulo ou ao Governo Federal - por ter citado Allan Kardec entre os pensadores do século XIX, alegando que a educadora teria com isso feito "proselitismo religioso".

Dora, no entanto, o incluiu pelo fato de Kardec ter sido, antes de mais nada, um pedagogo e um defensor da educação pública. E isso ao lado de personalidades que também são consideradas religiosas, como Leonardo Boff e Madre Teresa de Calcutá, que não tiveram qualquer queixa da banca examinadora.

A educadora também se queixa da falta de apoio recebida pela comunidade dita "espírita". Ela não é convidada a fazer palestras e nem é assistida diante de situações enfrentadas por ela. Para a tese de doutorado na USP, ela contou com o apoio de um católico e uma judia, só para se ter uma ideia.

Embora o artigo seja um tanto controverso - há quem diga que é uma autopropaganda da autora - , é um texto pertinente sobre como está a situação do dito "espiritismo" brasileiro. Nosso entender é que Dora, embora citasse muito sua experiência pessoal, não realizou qualquer tipo de autopropaganda, apenas denunciando o descaso que ocorre em assuntos relacionados ao Espiritismo no Brasil.

POR QUE ISSO OCORRE?

As razões que fazem com que tais situações aconteçam é o desprezo que se tem às abordagens científicas ligadas ao Espiritismo. O próprio Allan Kardec não foi o primeiro a ser apreciado, já que no Brasil os chamados "espíritas" primeiro preferiram apreciar Jean-Baptiste Roustaing e seu catolicismo alucinógeno.

Tal desprezo de especialistas "laicos" se deve ao fato de que a Federação "Espírita" Brasileira, que primeiro assimilou as ideias de Roustaing para depois, diante de acirrada polêmica, atribuir as ideias deste a Kardec, transformou a Doutrina Espírita num engodo místico-religioso.

Para o bem e para o mal, Kardec passou a ser vinculado a ideias que o professor lionês não teria a coragem nem a sensatez de defender. Pior: além de estar falsamente associado a ideias delirantes e místicas sobre espiritualidade e religiosidade, Kardec ainda foi usado como suposto autor de mensagens apócrifas que mais parecem terem sido dadas por padres religiosos.

Isso faz com que Allan Kardec vire "refém" da ideologia espiritólica. A ponto de atribuir Chico Xavier a uma reencarnação posterior de Allan Kardec, com todos os absurdos que essa tese sem qualquer fundamento apresente.

E aí Kardec se reduz, no Brasil, a um reles pregador religioso. Seu trabalho intelectual é subestimado, mesmo diante do pedantismo pseudo-científico do "espiritismo" brasileiro, que em vez de fazer ciência só "faz falar", enquanto é vinculado a um moralismo religioso retrógrado, piegas, moralista e exageradamente místico.

Com isso, o que acontece é que, se Kardec se torna o totem manipulado pela FEB ao sabor dos interesses desta instituição, por outro lado ele é mal visto como intelectual, e inclui-lo dentro do movimento de pensadores que marcaram a Europa no século XIX - o chamado Século das Luzes, por causa da ampla difusão de descobertas e conhecimentos científicos - é tido como "proselitismo".

A grande incoerência nisso é que, no Brasil, tanto laicos quanto espiritólicos adotam uma postura negativa quanto a Kardec na sua condição original de pensador e pedagogo, impedindo que se ensine Pedagogia Espírita ou que cite Kardec nos estudos sobre a Filosofia no século XIX.

Isso é incoerente porque Kardec foi um educador, pensou a Escola Pública, analisava a pedagogia infantil e propunha ideias e mudanças no sistema de ensino, além de defender a educação gratuita e a modernização do método de ensino e aprendizado.

É o que se chegou ao ponto, depois de mais de um século de deturpações espiritólicas. Com o vínculo forçado do professor Allan Kardec a um religiosismo retrógrado, cria-se uma imagem que faz os laicos boicotarem projetos sobre Filosofia e Pedagogia porque citam justamente um filósofo e um pensador que erroneamente está associado a um pragmatismo radicalmente religioso. É um absurdo.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Carlos Bacceli "exalta" suposta missão de Chico Xavier pela Doutrina Espírita


Nos últimos anos, o Espiritolicismo tenta reagir às críticas e tenta reafirmar as raízes católicas de sua doutrina, sob a alegação que o "espiritismo" brasileiro estaria "atualizando" os princípios de filosofia, religião e ciência defendidos por Allan Kardec.

É um trabalho pernicioso, mas que volta e meia mostra manifestos ambiciosos e persistentes, que chegam a acusar os críticos do "espiritismo" brasileiro de sentirem inveja, serem obsediados ou simplesmente de promoverem a perseguição contra aqueles que "apenas pregam o amor e a paz".

Um artigo divulgado pelo ex-presidente da Federação "Espírita" Brasileira, Carlos A. Baccelli, mineiro de Uberaba nascido em 1952 e que desde muito jovem conviveu com Chico Xavier, o anti-médium que se mudou de sua terra natal, a também mineira cidade de Pedro Leopoldo, para a referida cidade do Triângulo Mineiro, é um exemplo dessa Contra-Reforma espiritólica.

Publicado em 2009, o texto de Baccelli, intitulado "A obra mediúnica de Chico Xavier na Codificação" tenta vincular o catolicismo místico e psíquico do mineiro com a doutrina trazida por Allan Kardec, em tamanho pretensiosismo pseudo-científico que nós conhecemos.

O artigo tenta insistir na hipótese de que o "espiritismo" de Chico Xavier, Emmanuel e André Luiz não só "atualizaram" as ideias de Kardec como teriam "ampliado" e "aprofundado" os conhecimentos dos principais livros do professor francês.

No artigo, o autor ainda chama os principais livros de Kardec de "pentateuco", já que teriam sido cinco - O Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno e A Gênese - os livros que oficialmente são as "obras básicas" da Doutrina Espírita.

A denominação de "pentateuco" é tendenciosa e influenciada pelo Catolicismo, já que tenta fazer o mesmo no Espiritismo o que se fez no Catolicismo com os cinco livros atribuídos a Moisés: Gênesis, Êxoto, Levítico, Números e Deuteronômio.

Além disso, o termo subestima os demais trabalhos fundamentais de Kardec, sobretudo o livro O Que é o Espiritismo?, considerado pelos espíritas autênticos como parte indispensável das obras básicas, até por ser a mais básica das obras produzidas pelo pedagogo francês, sendo uma verdadeira introdução à Doutrina Espírita.

Em contrapartida, o artigo de Baccelli exalta o livro O Consolador, de 1940, tido como o primeiro trabalho "científico" de Chico Xavier e Emmanuel. Baccelli define o livro como "didático", envolvendo perguntas supostamente relacionadas à Química, Física, Biologia, Sociologia e outros ramos do conhecimento humano.

Há também uma tese muito estranha que só mesmo os dirigentes da FEB e seus adeptos julgam "verídica", que é da suposta ideia inicial de Allan Kardec de denominar O Livro dos Espíritos com o nome de Religião dos Espíritos. A tese foi divulgada por Canuto Abreu, um entusiasta das obras de Jean-Baptiste Roustaing.

Nota-se também que também é exaltada a obra de André Luiz, o suposto espírito que, na aposta de Baccelli, "teria sido" o médico Carlos Chagas, que teria "revelado de maneira impressionante" a ideia de erraticidade "vagamente" descrita por Kardec, através da descrição de uma "cidade inteira no Além" através de livros como Nosso Lar.

Pretensiosamente, Baccelli ainda faz um apelo aos "espíritas de bom senso": "Por este motivo e outros, acreditamos que os espíritas de bom senso, isentos de toda e qualquer ortodoxia ou mesmo paixão pessoal, devem já começar a aclamar a Obra Mediúnica de Chico Xavier, em seu todo homogêneo, em nível da Codificação, que, com ela, sobremodo se engrandeceu".

No fim, ele ainda tem o atrevimento de dizer que Allan Kardec está "ultrapassado", tentando justificar as distorções feitas pelo "espiritismo" brasileiro: "Sem Kardec, com certeza, o Espiritismo não teria Chico Xavier, mas, sem Chico Xavier, o Espiritismo teria continuado o mesmo de exatos 152 anos atrás (1857, em relação a 2009)!".

Como se vê, o Espiritolicismo faz um discurso sedutor que parece convincente, mas na verdade é puramente traiçoeiro.

domingo, 27 de julho de 2014

No Brasil, "espíritas" fazem o que querem com os falecidos. Lá fora isso é muito raro

RAMONES - Todos os músicos da primeira formação da banda norte-americana estão falecidos.

O "espiritismo" brasileiro é dotado de certos "surrealismos". Em nome das "palavras de amor", qualquer fraude é permitida, e isso faz com que a imagem dos espíritos falecidos se torne coisificada, pois o que vale são apenas as mesmas mensagens de "amor, fraternidade, luz e caridade", pouco importando se elas vêm ou não dos falecidos a que tais mensagens são atribuídas.

No Brasil, se faz o que quer com os falecidos. Vide o caso de Raul Seixas, que virou marionete de seus pretensos admiradores. No âmbito espiritólico, ele foi transformado em uma caricatura exageradamente mística por conta de um suposto médium que nem especialista em rock é, além de ter se reduzido em mais um propagandista da religião "espírita".

Raul já é usurpado e manipulado fora do contexto espiritólico. Virou um pretenso ídolo de breganejos os quais fariam o saudoso roqueiro baiano torcer o nariz. E, recentemente, uma coletânea de música brega incluiu uma música de Raul, "Tu és o MDC de Minha Vida", em que o cantor parodiava o brega, que, pela bagagem musical exigente do roqueiro, nunca seria levada a sério por ele.

O Brasil já vive o tendenciosismo que até existe no exterior, só que lá as coisas não são tão escancaradas. Aqui manipula-se até o estado civil das pessoas, como funqueiras e dançarinas de "pagode" que tentam passar a todo custo uma imagem de "solteiras convictas", enquanto nos bastidores vivem relações estáveis com namorados ou maridos que vivem em lugares ignorados.

Aqui é o país onde ocorre a corrupção na política, no futebol, na mídia, em que grupos empresariais se ascendem de forma fraudulenta e até rádios FM adulteram audiência usando sintonias individuais em ambientes coletivos como se fossem "audiências coletivas", atribuindo a audiência de uma meia-dúzia de pessoas às centenas de milhares que passam perto dessas minorias.

E o que esperar da mediunidade num contexto desses? Pseudo-médiuns ou mesmo espíritos de farsantes falecidos se aproveitam da boa-fé e da emotividade das pessoas para adotarem a falsidade ideológica e usar falecidos para lançar supostas mensagens fraternais às custas de discursos ou histórias risíveis, que só parodiam e deturpam os perfis dos falecidos.

Aqui Raul Seixas, Renato Russo e Cazuza já foram parodiados por supostos médiuns. Sim, podemos dizer parodiados porque suas supostas mensagens espirituais se expressam de maneira caricata em relação ao que essas personalidades eram em vida.

A coisa acontece de qualquer forma que, se qualquer pessoa com um expressivo carisma e querido por muitos imitar a voz e os trejeitos de um falecido e dizer que fez psicofonia, boa parte das pessoas irá acreditar, se as mensagens forem "agradáveis" e expressar "amor e caridade".

Lá fora, em que pese o sensacionalismo midiático, a indústria de pseudo-celebridades, a corrupção político-empresarial e o astral nebuloso que faz com que neuróticos e até estudantes problemáticos saiam por aí atirando em qualquer um, é difícil lançar uma pseudo-mediunidade que é um fenômeno "privilegiado" no Brasil.

Imagine se algum charlatão que goza de um grande prestígio, dentro de um meio dito "espírita", decidir se passar pelo espírito do ex-baixista dos Ramones, Dee Dee Ramone, e escrever um livro meloso no qual ele conta sua relação com os também falecidos Joey Ramone, Johnny Ramone e, recentemente, Tommy Ramone, numa colônia espiritual onde todos aprenderam os "valores da doutrina cristã".

Lá fora seria ridículo, patético, quase nada convincente, e haveria forte risco de um processo judicial. Ninguém aceitaria alguém se passando por Dee Dee Ramone - que em vida escreveu uma biografia sobre sua antiga banda - e escrevesse um livro dizendo que o antigo quarteto foi para o umbral, depois para uma colônia espiritual e aí "descobrir os valores do amor e da luz".

Mas aqui deixam passar até pinturas falsificadas, supostamente mediúnicas, que destoam dos estilos originais dos autores atribuídos. Deixam passar poemas e prosas que sofrem uma queda de qualidade em relação ao que os autores atribuídos produziram em vida. Tudo por conta do carisma do suposto médium, das mensagens "positivas" transmitidas e do destino "filantrópico" de tais obras.

Paciência. Se um Ricardo Teixeira, dirigente esportivo marcado pela corrupção, é capaz de "comprar" a confiança de juristas, especialistas, políticos e jornalistas, e se um Michael Sullivan, que criou um esquema de corrupção na música brasileira, é capaz de "comprar" a confiança de artistas e intelectuais, um suposto médium "compra" a confiança de ativistas, filantrópicos e até de intelectuais diversos.

Aí o que se vê é isso. Em nome das "palavras de amor", se faz o que quer com os falecidos. O que parece bom, mas, na verdade, é uma crueldade de dimensões preocupantes. Afinal, os verdadeiros espíritos dos falecidos são impedidos e até desestimulados de se manifestarem e nem chegam perto dos chamados "centros espíritas".

Primeiro, eles não podem se manifestar porque outros já se manifestam em seus nomes. Segundo, porque a falta de confiabilidade dos "médiuns" brasileiros lhes constrange e os afasta, o que significa que, no final, quase sempre acabamos órfãos das mensagens de nossos entes queridos, que fogem entristecidos com as fraudes que acontecem nos círculos "espíritas".

sábado, 26 de julho de 2014

O mistério da jovem Meimei


Um dos nomes mais cultuados pelo Espiritolicismo é o da jovem mineira Irma de Castro Rocha, conhecida como Meimei. Bela, inteligente e generosa, ela havia nascido em 22 de outubro de 1922 onde hoje é o município de Mateus Leme, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Ela, que desejava ser professora e adorava crianças, não chegou a completar 24 anos de idade, já que sofria de nefrite, ou seja, doença grave de inflamação renal, e faleceu em 1946 nas exatas três semanas antes de seu aniversário. Estava casada com o esportista Arnaldo Rocha havia dois anos e não chegaram a ter filhos.

Arnaldo, amoroso e dedicado, combinou com Irma que ela seria conhecida pelo apelido de Meimei, palavra que conheceram do livro Momento em Pequim, do pensador chinês Lyn Yutang. Em chinês, "meimei" é uma palavra que significa "noiva querida" ou "amor puro".

Onze dias depois do falecimento de Irma, Arnaldo, num dia de chuva, foi para a casa do irmão Orlando e, depois, os irmãos, descendo uma avenida em Belo Horizonte, cidade onde faleceu a jovem, e encontraram Chico Xavier, que logo os reconheceu. Orlando teria entrado em contato com ele antes.

Chico disse que Meimei "queria muito falar" com o marido. A partir daí vieram as mensagens aparentemente psicografadas e, posteriormente, os livros com autoria atribuída ao espírito de Meimei, que eventualmente são lidos nos "centros espíritas" de todo o país.

AFEIÇÃO OU FASCINAÇÃO?

Com toda a certeza, seria bela e comovente a comunicação de Arnaldo com o espírito de sua mulher. Mas dentro do contexto espiritólico de Chico Xavier e Emmanuel, a situação torna-se estranha, ante o constante oportunismo dos dois, bastante relatado aqui.

Segundo Entre a Terra e o Céu, obra de Chico Xavier atribuída a André Luiz, publicada em 1954, Meimei teria sido Blandina, moradora da suposta cidade espiritual de Nosso Lar. Já Ave Cristo, ditado pelo espírito Emmanuel a Chico, e lançado um ano antes, ou seja, em 1953, Meimei, sob o mesmo nome de Blandina, teria vivido no século três da nossa era.

Embora Arnaldo não apontasse qualquer estranheza em relação às mensagens atribuídas ao espírito de Meimei e pelo fato dela ter sido católica fervorosa, já que o chamado "espiritismo" brasileiro sempre teve acento católico e esta era a religião devota de Chico Xavier - que atraiu para si o espírito Emmanuel, que teria sido o jesuíta Manoel da Nóbrega - , o caso ainda é misterioso.

Não é impossível que, mesmo falecida, Meimei pudesse conviver com o marido, como um espírito que pudesse lhe orientar nos caminhos da vida, até porque a afeição entre os dois era profunda e sincera. Mas da forma com que Chico e Emmanuel trabalharam o mito de Meimei, mesmo da forma aparentemente mais positiva e amorosa possível, ainda traz muitas dúvidas.

À primeira vista, não foram notadas contradições entre as mensagens e livros atribuídos a Meimei e a personalidade da jovem. Meimei, católica praticante, talvez tivesse escrito boa parte das ideias religiosas que foram publicadas nos livros atribuídos à sua autoria.

O grande problema é que Chico Xavier havia passado, pouco antes, por uma séria polêmica por causa do processo judicial movido pelos herdeiros de Humberto de Campos por conta do uso do nome do autor em obra duvidosa, como Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, cuja qualidade textual é inferior ao que o escritor havia produzido em vida.

Mesmo resultando em empate, o caso em parte poderia ter abalado Chico e este, já tendo se tornado um astro da FEB - um verdadeiro "astro pop", um "rei do pop" no Espiritolicismo - , teria que se alimentar às custas da emotividade dos que perdem seus entes queridos.

E aí o caso Meimei caiu como uma luva para alguém acusado de plagiar a obra de Humberto de Campos e usurpar o prestígio deste, e Chico juntou as peças, criando um clima de fascinação que talvez tivesse seduzido o viúvo da jovem.

Possivelmente, Chico se aproveitou da situação e buscou alimentar prestígio para tentar abafar o caso Humberto de Campos, que diante de ações recorrentes obrigou Chico a substituir esse nome para o de "Irmão X".

Portanto, torna-se uma coisa estranha. Aparentemente, não foi identificada estranheza entre as mensagens do espírito Meimei e o que ela teria representado em vida. Pelo menos os familiares não se pronunciaram sobre isso. Boa-fé ou confiabilidade? E diante do oportunismo de Chico e seu despótico "orientador" Emmanuel? Pode se esperar alguma veracidade nisso?

Mesmo a católica Meimei teria realmente escrito os livros e mensagens atribuídos à sua autoria? E todo esse clima de afetividade e emotividade não seria um recurso de "fascinação", uma armadilha de espiritólicos para fazer envolver as pessoas?

O que se sabe é que esse mistério não pode ser resolvido pela simples aceitação emotiva, que conforta mas não assegura a realidade dos fatos. Seria melhor uma análise mais científica, ainda que sob sério risco de contestação, e bem longe do pedantismo pseudo-científico do dito "espiritismo" brasileiro. É preciso analisar as coisas com muita cautela, o máximo possível, para não cair em graves enganos.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Espiritismo não é cristão


Tanto nos círculos espíritas autênticos como nos espiritólicos, discute-se a influência de Jesus na Doutrina Espírita. Há uma séria polêmica para muitas pessoas, já que ainda existe a crença de que o Espiritismo é uma doutrina cristã, o que, por incrível que possa parecer, é um enorme equívoco.

Em primeiro lugar, isso resulta de uma série de más interpretações. Até em relação ao sobrenome de Jesus, que só virou "Cristo" por conta de um ritual de hospitalidade realizado pelo seu primo João Batista, que o Catolicismo define como "batismo".

Através de um jogo de palavras - "batismo" para Batista e "cristo" para crisma - , criou-se um valor ideológico que nunca existiu, transformando o ritual que "transformou" Jesus numa obrigação para "limpar" as pessoas do chamado "pecado original".

O "batismo" seria na verdade uma festa, um ritual de celebração, equivalente ao que ocorria em muitas tribos primitivas para receber um visitante. Era uma forma de celebrar a amizade e mostrar um grande afeto e confiança à pessoa que recebe tal cerimônia. Culturalmente, é um processo belo e admirável.

Por sua vez, o chamado "pecado original" é muito mal explicado pelo Catolicismo ortodoxo pela lenda de Adão e Eva, fábula de forte acento fictício provavelmente inspirado em um suposto personagem que havia existido no Oriente Médio, segundo relatos do Velho Testamento.

No Espiritolicismo, o "pecado original" corresponde a ideia das "faltas passadas", às quais se relaciona uma forma glamourizada de sofrimento humano, que a doutrina espiritólica define como "resgate espiritual". Sofrimento é bom, desde que não seja para os líderes espiritólicos e seus consortes. É como diz o ditado: "pimenta nos olhos dos outros é refresco".

A questão do sobrenome de Jesus é bastante controversa, e seria melhor que historiadores, sociólogos e antropólogos fizessem e divulgassem estudos a respeito. Sabe-se que, por sua origem geográfica, ele teria sido Jesus de Nazaré ou Jesus Nazareno, porque era comum na época atribuir como sobrenome a procedência geográfica, o lugar de nascimento ou de moradia de longa data.

JESUS NÃO QUIS CRIAR RELIGIÃO

Jesus não criou religião e o que oficialmente se registra como o Cristianismo primitivo seria, na verdade, um movimento progressista. Seriam precisos estudos sérios para analisar o caso, mas sabe-se que Jesus fundou uma das organizações não-governamentais mais antigas, reunindo amigos solidários que hoje se registra como "apóstolos".

O mito de que Jesus teria criado religiões, várias delas divergentes e hostis entre si, se deu na Idade Média, quando as mesmas elites responsáveis pela morte do ativista judeu, as aristocracias romanas, teriam se apropriado do Cristianismo primitivo e criado uma religião de acordo com seus próprios interesses, muitos materialistas e até mesquinhos, que veio a ser o Catolicismo medieval.

Foi ele que criou uma visão oficial de Jesus que hoje conhecemos. Uma visão deturpada, distorcida, que atribuiu a Jesus procedimentos, crenças e atitudes que ele teria reprovado severamente. Nem é preciso muito esforço para isso: as "cruzadas", forças militares e bélicas que marcaram o período medieval, provocavam guerras sangrentas a pretexto de defender o pacífico Jesus.

E se Jesus não criou religião alguma, e ele só foi "o Cristo" depois de um ritual de amizade e afeição de seu primo, também Allan Kardec não teve o propósito de transformar a Doutrina Espírita numa doutrina cristã.

É preciso discernir as coisas. Kardec se afinava com as ideias progressistas de Jesus. Evidentemente, há uma admiração do professor francês pelo ativista judeu, mas isso não significa a idolatria cega e nem a transformação de Jesus num fetiche, que é o que se expressa a tese do Espiritismo como uma "doutrina cristã".

O Espiritismo, como Kardec estabeleceu, era uma ciência com todos os seus riscos de revisão de teses, conceitos e conhecimento. O Espiritismo estava sujeito a revisões e reinterpretações, mas muito longe da maneira fútil e depravada que o "espiritismo" brasileiro da FEB e congêneres promoveu em mais de cem anos.

Kardec não tratava Jesus como um totem nem como um fetiche. Por isso sua doutrina, em que pese as afinidades profundas com a doutrina do nazareno, não se define como "cristã", até para não se associar às distorções que Jesus acabou sofrendo ao longo dos séculos.

Portanto, o Espiritismo foi apenas um movimento intelectual francês do século XIX, de grande importância, mas dotado de muita autonomia. Dialogava com as ideias de Jesus como poderia dialogar com as ideias de Sócrates, Rousseau, Voltaire e Newton. Mas cada um com sua individualidade, sem essa preocuçação de fulano ser neo-sicrano, pós-beltrano e coisa parecida.

Mas todos eles tinham seus repertórios de ideias autônomos, e a integração de suas ideias não pode ser confundida com um vínculo forçado que só desvaloriza esses pensadores em suas contribuições pessoais para a humanidade. Todos eram brilhantes e diferenciados nos seus esforços de esclarecer a humanidade. Vínculos forçados e uniformizadores contrariam a individualidade dessas pessoas.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

A Terra poderia ser um planeta mais evoluído. Mas a humanidade não deixou

PIRÂMIDES DO EGITO - Exemplo de uma arquitetura que até hoje desafia muitos especialistas, diante de uma tecnologia considerada muito moderna para a época.

Regredimos. É o que se constata na humanidade do planeta Terra, que ainda sofre com surtos de violência terrorista em países como Israel e episódios como o possível atentado a um avião de passageiros que recentemente caiu na Ucrânia se repetem constantemente.

Poucos avanços foram feitos em relação à Idade Média. Grandes movimentos ideológicos, como o Catolicismo medieval e, posteriormente, o Capitalismo político-econômico, causaram grandes estragos e fizeram travar os avanços da humanidade.

Diante de um emaranhado de valores duvidosos, as pessoas se tornaram menos saudáveis, mais consumistas, menos honestas, mais interesseiras, e o egoísmo humano foi um dos poucos fenômenos que tiveram "políticas sustentáveis" bem-sucedidas ao longo dos anos.

Em outras palavras: o egoísmo humano, na medida em que existe a solidariedade grupal para grandes projetos excludentes, de uma forma ou de outra. A articulação, por exemplo, que envolve grandes grupos capitalistas, políticos imperialistas e o crime organizado é um claro exemplo de como o egoísmo criou redes autossustentáveis no qual os maiores chefões vivem quase em imunidade.

Os danos morais que foram causados pelo Catolicismo medieval - que deturpou os ideais progressistas de Jesus da forma mais grotesca possível e, em princípio, ao sabor dos imperadores e aristocratas romanos que o haviam crucificado antes - e pelo Capitalismo em geral, fora os inúmeros outros danos consequentes, são inumeráveis e comprovam esse retrocesso no nosso planeta.

Em contrapartida, quando havia projetos de transformação sócio-cultural e de outros âmbitos na Terra, eles eram sabotados, empastelados e até perdidos. Muito do que se produziu na Antiguidade clássica, inclusive ideias de grande valor para os dias de hoje, se perderam e muito pouco se restou do que foi produzido em livros, textos dramáticos e obras de arte naqueles tempos.

Um dos grandes enigmas que existem hoje e que denunciam o nosso atraso contemporâneo é o fato de que construções arquitetônicas da Antiguidade, como no Egito, no México e no Peru, foram feitas por uma tecnologia bastante moderna e arrojada, algo que não se conseguiu explicar de maneira definitiva, já que até hoje apenas especulações foram lançadas, mesmo quando há hipóteses prováveis.

Enquanto isso, as cidades sofrem com a urbanização caótica, com a especulação imobiliária, com o crescimento das favelas que nenhuma ação política é capaz de desfazê-las e substituir por moradias populares construídas em larga escala diante de um processo de reurbanização sustentável que recupere a harmonia e o equilíbrio ambientais.

Em vez disso, há as "máfias" dos combustíveis e das empreiteiras, que boicotam técnicas e materiais mais ecológicos e econômicos, preferindo investir em materiais poluentes, degradantes ou caros. Hoje temos grandes elites, grandes oligarquias que, sob diversos aspectos, promovem a degradação sócio-cultural através de uma engenhosa rede de apoio e favorecimentos, inclusive sob a proteção das leis.

Grupos que promovem o egoísmo humano às custas de projetos que exijam baixos investimentos e lucros facilmente altos a curto prazo se sustentam e realimentam seu poder na impunidade, no consentimento silencioso de multidões desinformadas e pela manipulação do poder midiático e mercadológico.

No Brasil, se vê até mesmo a privatização da cultura popular, através de uma multiplicação de sub-celebridades e cantores e músicos medíocres cujo sucesso se deve mais a um engenhoso esquema de empresas de entretenimento, que subornam até atores de TV e acadêmicos para apoiar toda essa lambança sócio-cultural.

E a religião? Se o "espiritismo" brasileiro já se serve de muitas fraudes, com falsificação de quadros e falsetes travestidos de psicofonia e plágios disfarçados de psicografia, ele que é considerado a "vanguarda" da espiritualidade mundial, então o processo religioso só está em retrocesso.

As energias espirituais estão poluídas de certa forma que frequentemente quem morre mais são pessoas que trazem algum diferencial diante da mediocridade e do maucaratismo dominantes. No Brasil, recentemente perdemos pessoas essenciais como José Wilker e João Ubaldo Ribeiro. No exterior, perdemos vários cientistas que pesquisavam a cura da AIDS.

Enquanto isso, mesmo os facínoras que descuidam da saúde possuem sossego suficiente para ao menos adiar seus óbitos por algum tempo. Deixam de ser emocionalmente pressionados e vivem um ostracismo que pode não ser dos mais saudáveis ou invulneráveis, mas lhes fazem expor menos a seus riscos.

Em vários aspectos, criou-se uma solidariedade de uma minoria de homens que acumularam dinheiro e poder suficientes para sustentarem redes diversas a serviço do egoísmo, alimentado às custas dos retrocessos sociais e travando o progresso da humanidade na Terra mesmo quando tentam assimilar conceitos e valores progressistas.

Se o "sistema" não consegue impedir que ideias e valores novos se projetem e se expressem, eles tentam fazer com que seus efeitos transformadores sejam minimizados na medida do possível. Enquanto isso, as silenciosas multidões desconhecem a maioria das armadilhas que se armam contra elas. Por causa de uns poucos egoístas, a Terra perdeu a chance de se evoluir um pouco mais.

terça-feira, 22 de julho de 2014

FEB tratou um livro humorístico como assunto sério


É uma grande malandragem. Afinal não dá para ver ingenuidade na declaração do antigo presidente da Federação "Espírita" Brasileira, Wantuil de Freitas, que havia declarado improcedente a acusação de plágio contra Chico Xavier, no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de 1938.

A acusação de refere a um capítulo do livro O Brasil Anedótico, livro que o escritor Humberto de Campos lançou em vida, em 1927, intitulado "Lei das Aposentadorias". Campos, como espírito, é atribuído como autor do livro "psicografado" por Xavier, quatro anos após o falecimento do ilustre escritor, em 1934.

Como era uma questão ainda nova, a da obra atribuída à produção além-túmulo de pessoas falecidas, ela não constituiu num problema sério para ser apreciado judicialmente, e a Justiça deixou passar o processo que o advogado dos herdeiros de Humberto, Milton Barbosa, moveu contra Chico e a FEB.

Com isso, a FEB ficou com moral alta, já que foi um empate que trouxe vantagem para a instituição e para a transformação de Chico em ídolo popular, até hoje, 12 anos após o falecimento do anti-médium mineiro.

Em 1944, Wantuil tentou argumentar com as seguintes palavras as acusações de que Chico teria copiado o capítulo do livro de Humberto, apenas tendo a habilidade de rearrumar as palavras para dar a impressão de que o texto é diferente:

"Os trechos de “Brasil Anedótico”, que são indicados como plagiados por Francisco Xavier, não podem ser considerados como tais. Qualquer escritor, relatando em nova obra o que já dissera em outra, repete frequentemente as mesmas expressões. Ademais, não haveria necessidade de plagiar naquela narrativa feita em termos comuns. Muitos dos plágios apontados são aliás transcrições de trechos de outros livros e se encontram entre aspas, na obra psicografada".

O que chama a atenção, não somente pela incoerência dos argumentos de Wantuil, é em relação aos dois livros envolvidos, O Brasil Anedótico e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. A comparação torna risíveis os argumentos do então presidente da FEB.

Em primeiro lugar, Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho se autodefine como um livro "sério". Na interpretação da FEB, trata-se de um documento histórico que esclarece as profecias do "anjo" Ismael, suposto mentor espiritual do Brasil, de que o país sul-americano seria o guia futuro da humanidade planetária.

O Brasil Anedótico é, tão somente, um livro humorístico. Nele Humberto, com base em relatos diversos consultados em outros livros, conta piadas leves relacionadas às personalidades em evidência no século XIX e na década de 1920 do século XX, época da produção e lançamento do livro.

Seria trágico se não fosse cômico. Um livro de piadas que, com um capítulo reproduzido num livro que, em tese, se define como "sério", só pode indicar o quanto as fraudes que se fazem sob o véu do "espiritismo" brasileiro criam situações bastante embaraçosas, às quais nenhuma alusão de "palavras de amor e luz" consegue atenuar.

A título de comparação, seguem os dois trechos, em reprodução já publicada no blogue Obras Psicografadas. Primeiro, o original, e depois, o trecho plagiado. O capítulo do livro de Humberto de Campos se encontra por volta da página 110. Já o do livro de Chico Xavier, se encontra no capítulo "D. João VI no Brasil", e o trecho do plágio está na página 66.

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A LEI DAS APOSENTADORIAS

Moreira de Azevedo – “Mosaico Brasileiro”, pág. 52.

Chegada ao Rio de Janeiro em 1808 a família real portuguesa com todo o seu séquito de fidalgos e fâmulos, foi posta em execução a chamada lei das aposentadorias, a qual obrigava os proprietários e inquilinos a mudarem-se, cedendo as casas para residência dos criados e servidores d’el-rei. Bastava que o fidalgo desejasse uma casa, para que o juiz aposentador intimasse o morador por intermédio do meirinho, que se desempenhava do seu mandato escrevendo sumariamente na porta, a giz, as letras P. R. Estas significavam — “Príncipe Regente”, ou, como interpretava o povo — “ponha-se na rua”.

Era Agostinho Petra de Bitencourt juiz aposentador quando, um dia, lhe apareceu um fidalgote, requerendo aposentadoria em uma excelente casa, apesar de já ter uma. Dias depois veio pedir-lhe mobília e, finalmente, escravos.

Ao receber o terceiro pedido, Agostinho Petra, que acompanhava a indignação do povo com tantos abusos da Corte, gritou para a esposa, no interior da casa:

— Prepare-se Dona Joaquina, que pouco tempo podemos viver juntos.

E indicando, para a mulher, que acorrera, o fidalgote insaciável:

— Este senhor já duas vezes me pedir casa, depois mobília, e agora, criado. Brevemente quererá, também, mulher, e como eu não tenho outra senão a senhora, ver-me-ei forçado a servi-lo!

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D. JOÃO VI NO BRASIL

(...) A chamada lei das aposentadorias obrigava todos os inquilinos e proprietários a cederem suas casas de residência aos favoritos e aos fâmulos reais. Bastava que qualquer fidalgote desejasse este ou aquele prédio, para que o Juiz Aposentador efetuasse a necessária intimação, a fim de que fosse imediatamente desocupado. Ao oficial de justiça, incumbido desse trabalho, bastava escrever na porta de entrada as letras “P. R.”, que se subentendiam por “Príncipe Regente”, inscrição que a malícia carioca traduzia como significando — “Ponha-se na rua”.

Moreira de Azevedo conta em suas páginas que Agostinho Petra Bittencourt era um dos juizes aposentadores ao tempo de D. João VI, quando lhe apareceu um fidalgo da corte, exigindo pela segunda vez uma residência confortável, apesar de já se encontrar muito bem instalado. Decorridos alguns dias, o mesmo homem requer a mobília e, daí a algum tempo, solicita escravos. Recebendo a terceira solicitação, o juiz, indignado em face dos excessos da corte do Rio, exclama para a esposa, gritando para um dos apartamentos da casa:

— Prepare-se, D. Joaquina, porque por pouco tempo poderemos estar juntos.

E, indicando à mulher, que viera correndo atender ao chamado, o fidalgo que ali esperava a decisão, concluiu com ironia:

— Este senhor já por duas vezes exigiu casa; depois pediu-me mobília e agora vem pedir criados. Dentro em breve, desejará também uma mulher e, como não tenho outra senão a senhora, serei forçado a entregá-la.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Quando Chico Xavier traiu Herculano Pires


São publicadas na Internet denúncias de fraudes feitas em supostas materializações espirituais, com o consentimento do "iluminado" ídolo do "espiritismo" brasileiro, Francisco Cândido Xavier, o famoso anti-médium Chico Xavier.

São fraudes que ocorreram em várias épocas, como 1964, 1970 e outras épocas. E o que se chamou a atenção foi essa foto, da qual não foi divulgado crédito de data, mas provavelmente é posterior a março de 1979, quando faleceu o jornalista e estudioso do Espiritismo autêntico, José Herculano Pires.

Herculano Pires era amigo de Chico Xavier, mas não se iludia com os deslizes cometidos pelo mineiro, já que Herculano, sobrinho do músico e contador caipira Cornélio Pires, foi um pesquisador sério da Doutrina Espírita, além de tradutor fiel dos livros de Allan Kardec.

Mas a amizade no entanto foi traída postumamente, diante dos rituais de suposta produção de ectoplasma, que mais parece uma montagem de algodão, gaze e outros artifícios sobre a qual se colava a foto de alguém extraída de alguma revista.

Nesta foto acima, o suposto médium Pedro Machado participava de um desses rituais, o qual se viu a imagem de Herculano Pires. Tudo indica que o registro dessa suposta mediunidade, até pelo estilo típico das fotografias da época, foi feito ainda em 1979, alguns meses após o falecimento de Herculano.

FOTO DE HERCULANO PIRES SIDO USADA NA SUPOSTA APARIÇÃO CORRESPONDE, PROVAVELMENTE, À FOTO ACIMA, SÓ QUE EM LADO INVERTIDO.

E aí a fraude se mostra pelo simples fato de que Herculano aparece com óculos, como se na vida espiritual ele ainda estivesse preso às restrições materiais da visão. Só esse aspecto já denuncia a fraude, assim como o caráter grotesco da "aparição", que mais parece a de uma colagem de foto.

Essa atitude mostra o quanto tais processos fraudulentos, patrocinados por Chico Xavier, nada têm a ver com amor e bondade. São processos sensacionalistas feitos para enganar as pessoas, através de um ilusionismo feito de algodão, gaze e fotocópias.

Para piorar, essa prática ainda por cima demonstrou o lado aproveitador de Chico, que através de seu apoio a essas práticas, foi capaz de consentir que se usasse uma foto de Herculano Pires para tais "aparições". Logo Herculano, que era energicamente contra essas fraudes.

Mais uma vez foi posta em xeque o caráter de "bondade infinita" associado oficialmente ao anti-médium mineiro Chico Xavier, que com todo o carisma de "superior" e "iluminado" foi capaz de cometer essa verdadeira traição a um amigo, depois que este morreu.

domingo, 20 de julho de 2014

"Centros espíritas" e a perda de tempo nas doutrinárias


Se falta assunto para se falar nos ditos "centros espíritas", a solução mais fácil é investir nos assuntos sobre família. Até parece que o primeiro e maior mandamento no Espiritolicismo é o "honrar pai e mãe", bem mais importante do que "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo".

Os tais "centros" são feitos, em tese, para divulgação da Doutrina Espírita e as palestras se inspiram na bibliografia supostamente associada ao Espiritismo. Claro, nem tanto assim espírita, é verdade, já que boa parte dos livros vem da lavra de Chico Xavier, Divaldo Franco e congêneres, fora as "violetas na janela" da vida, não é mesmo?

Quem já foi espiritólico e frequentou muito esses lugares sabe o que é ter paciência para ouvir palestras assim, muitas delas maçantes e dadas por gente que já chega estressada, tudo para obter os tais "passes" que muita gente garante serem "milagrosos", "tiro e queda" contra o mal-estar. Ainda vamos falar sobre esse mito dos passes.

Aqui o foco está nas doutrinárias, muitas delas tristes e deprimentes. Às vezes o palestrante chega dizendo que o amiguinho "desencarnou", noutras vem com o aviso fúnebre de que "partiremos não se sabe quando" - justo quando a gente procura ter um sentido para nossas vidas! - , além da pieguice e do pedantismo de sempre.

A quase totalidade das palestras é de cunho religioso. Mas, quando o assunto envolve em tese conhecimentos científicos, quase sempre há pedantismo, já que a evocação da ciência é a mais superficial possível, o que frustra de antemão quem quer obter algum conhecimento científico exato sobre a espiritualidade.

Quanta perda de tempo muitos de nós tivemos diante de tais palestras. Tudo porque buscávamos, ou tentávamos buscar, algum socorro espiritual, algum esclarecimento moral, algum conforto, algum bem-estar. Só que tudo isso se torna inócuo, e não raro encontramos palestras ruins e mesmo as palestras boas são de um religiogismo exagerado e piegas, que não tem utilidade prática para nossas vidas.

Há muito essas doutrinárias desprezam Allan Kardec, reduzido a um figurante que volta e meia é citado ligeiramente, mas sem qualquer importância, fora eventuais bajulações. Na sua essência, porém, Kardec é desprezado da forma mais cruel, porque do seu legado tudo é, se não ignorado, deturpado e distorcido ao bel prazer pelos líderes "espíritas".

Com isso, perdemos tempos preciosos de nossas vidas, que poderiam ser usados para nos instruirmos numa leitura de livros realmente edificantes, por causa de um socorro espiritual que não existe, e que é composto de rituais e dogmas duvidosos, além de palestras em boa parte pouco inspiradas e, em outras, extremamente dogmáticas (mesmo as mais "inspiradas").

Buscamos a tal "luz" quando na verdade vemos apenas uma lanterna pequena e fraca no meio de nosso túnel, enquanto os "centros espíritas" enrolam com sua pregação religiosa muito mal disfarçada de "transmissão de conhecimento". Vamos e voltamos na mesma, e isso quando a vida não continua piorando para muitos de nós, por causa de doutrinárias que nada acrescentam a nossas almas.

sábado, 19 de julho de 2014

"Espiritismo" brasileiro prejudicou a Ciência Espírita


A Ciência Espírita no Brasil existe, mas ela foi bastante prejudicada pelo religiogismo excessivamente piegas e retrógrado adotado pelo "espiritismo" da FEB. Seus trabalhos tiveram poucos avanços, diante da verborragia que usa e abusa das evocações pedantes à ciência, sem apresentar algo novo, concreto e, sobretudo, consistente.

O contexto brasileiro contribui muito para esse quadro lamentável, em comparação ao da França do século XIX, o chamado "Século das Luzes", quando o professor Rivail, conhecido pela famosa alcunha de Allan Kardec, se serviu de uma sociedade marcada por diversas manifestações do pensamento intelectual mais refinado e progressista.

A partir desse contexto, que revelou pensadores famosos como Rousseau, Voltaire e tantos outros, Kardec estudou os fenômenos da vida espiritual aproveitando sua experiência de pedagogo, matemático e de estudioso do Magnetismo de Franz Mesmer, para lançar as ideias que hoje se conhecem pela Doutrina Espírita.

Infelizmente, no Brasil, o que ocorreu é que o país sempre foi marcado por sua posição de atraso sócio-cultural resultante de sua condição colonial vigente até 1822 e de seu status semi-colonial que se manteve em todo o Segundo Império.

Mesmo os simpatizantes do Iluminismo francês, no Brasil, ainda assimilaram pela metade a causa dos Direitos Humanos, uma vez que, enquanto havia a segunda etapa da Revolução Industrial e as primeiras obras do pensamento socialista, em meados do século XIX, o Brasil ainda se mantinha inflexível diante das pressões pelo fim da escravidão.

O próprio Portugal também vivia um enorme atraso. Passada a Idade Média, o país europeu ainda mantinha práticas punitivas graves aos hereges, seu Catolicismo ainda era medieval na época da Revolução Francesa, e ainda teve que amargar uma crise resultante da devastação do terremoto que atingiu Lisboa e arredores, em 1750.

Isso criou as condições para o Brasil, ainda em incipiente processo de urbanização e com um ensino superior em processo de implantação, assimilar as ideias de Kardec já em segunda mão, pelas distorções do suposto seguidor Jean-Baptiste Roustaing que geraram as sementes ideológicas da Federação "Espírita" Brasileira.

Desta forma, o Espiritismo foi seriamente prejudicado pois, no lugar dos conhecimentos científicos de Kardec, foi feita a abordagem da espiritualidade com base em valores do Catolicismo, sobretudo na adaptação de conceitos como a Santíssima Trindade e a questão do Espírito Santo.

Isso causou um retrocesso muito grande e bloqueou o caminho dos avanços científicos. Eles não deixaram de ocorrer, mas, como em toda atividade que preze a Ciência, no Brasil, eles sempre são realizados à margem, sem muita visibilidade e com muito menos investimentos.

Temos até mesmo os estudos da TransComunicação Instumental (TCI), dos quais se destaca o nome de Sônia Rinaldi, mas eles ainda são pouco conhecidos. E a comunicação com os espíritos é prejudicada violentamente pela farra que se faz com o dom da mediunidade no Brasil.

Aqui a mediunidade é tão irregular que 75% das supostas mensagens espirituais não passam de faz-de-conta feitos por gente aqui na Terra, enquanto que 24% seriam de espíritos zombeteiros que se passam por personalidades ilustres. Para piorar, o 1% restante, quando é de manifestação espiritual autêntica, está quase toda  entregue a moralistas do nível do jesuíta Emmanuel.

Assim não há como analisar cientificamente a questão da vida espiritual. Além das fraudes mediúnicas, existe também a verborragia da quase totalidade dos articulistas ditos "espíritas", que falam muito em ciência, citam frases de autores, evocam da psicologia à física quântica, mas nada trazem de conhecimento científico. Tudo vira um desfile de palavras mortas e ideias pedantes.

Por essas coisas acontecerem há mais de 100 anos, e mesmo no século XX a coisa não melhorou, já que figuras como Albert Einstein produziam conhecimento e no Brasil ainda se fazia vista grossa às fraudes de Chico Xavier, é que a Ciência Espírita carece de uma valorização mais digna e ampliada, com os temas da espiritualidade entregues ao domínio da há muito corrompida FEB.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Fernando Collor "teria sido" o Marechal Deodoro. E agora?


O "Bovespírita", a bolsa de apostas de reencarnações espíritas, volta e meia nos assombra com novos casos ou com a relembrança de casos mais antigos. Desta vez, é este último que chega à tona para bagunçar a festa.

Pois, 16 anos antes de Divaldo Franco divulgar uma mensagem atribuída ao Marechal Deodoro, Chico Xavier teria difundido uma mensagem dizendo, em 1989, que o então presidente eleito Fernando Collor de Mello teria sido reencarnação do militar que inaugurou a República no Brasil.

Para os desavisados, é bom lembrar que Chico Xavier apoiou Fernando Collor para a presidência da República, o que diz muito dessa postura conservadora que a roustanguista Federação "Espírita" Brasileira quase sempre adota no âmbito político-partidário.

Segundo Xavier, Deodoro teria voltado na figura de Collor - que, apesar de nascido no Rio de Janeiro, vive na Alagoas onde nasceu o outro - para "resgatar dívida no mandato anterior". Deodoro teria abandonado o cargo, depois de tantas crises políticas - ele teria fechado o Congresso depois que decidiu pela concentração de seu poder - e econômicas, como a onda "especulativa" do Encilhamento.

Deodoro não era um entusiasta da República. Ele foi monarquista até a véspera do 15 de novembro de 1889, data em que Deodoro, doente e cansado, era chamado pelos rebeldes antimonarquistas para dar fim ao Segundo Império, depois que a assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no país, deixou muitos senhores de engenho na falência.

Sem querer aqui defender o regime escravista, e até por reafirmar a mentalidade tosca e provinciana dos senhores de engenho, eles faliram depois que houve a abolição porque eles não tiveram uma mentalidade que pudesse desenvolver atividades econômicas fora do regime escravo, apesar de ser conhecido o êxito do trabalho industrial nos países europeus, naquele fim do século XIX.

Deodoro era um defensor do Império brasileiro, e tinha simpatia por Dom Pedro II. Talvez por isso mesmo o Espiritolicismo, que sempre manteve o Segundo Império em boa conta, endeusando seus governantes e consortes, sobretudo a Princesa Isabel e seu ato, hoje considerado inócuo, de abolir a escravidão sem realizar políticas sociais em prol dos negros libertos.

Com todos os defeitos que Deodoro teve, como seu autoritarismo, ele não teria sido Fernando Collor, já que este tornou-se famoso pelo cafajestismo político, que o dito "caçador de marajás" dá continuidade agora como senador, num claro retrocesso de conduta em relação a Deodoro, por mais defeitos que este tivesse em sua vida.

Para complicar as coisas, Chico e Divaldo se envolveram em mais esta "saia justa", já que o primeiro atribuiu o espírito de Deodoro a Collor, que está vivo (e mesmo seus hoje falecidos irmãos Pedro e Leopoldo eram vivos em 1989), e o segundo divulgou uma mensagem atribuída a Deodoro, em 2005.

Assim a gente não consegue entender. Afinal, Chico e Divaldo, dois astros do "espiritismo" brasileiro, igualmente tidos como "espíritos superiores", dotados de "muita luz" e considerados figuras "insuspeitas" e de alta confiabilidade, adotaram essa gritante divergência entre um e outro.

Como é que pessoas assim consideradas acima de qualquer suspeita e dotadas da mais absoluta credibilidade podem se contradizer assim de forma tão vergonhosa? E, ao sabermos dos "mecanismos" que a chamada "máquina espírita" apronta para as pessoas, se tratam de concepções igualmente fraudulentas?

Isso já põe em xeque a credibilidade do "espiritismo" brasileiro, esse verdadeiro "mercado da fé e da espiritualidade" que engana as pessoas e, a pretexto de se situar na vanguarda da religiosidade, adota posturas bastante sombrias, procedimentos duvidosos e valores retrógrados. Que "luz" se espera de tudo isso diante de tantas trevas?

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Allan Kardec já fez síntese de sua doutrina


A roustanguista Federação "Espírita" Brasileira até tentou, mas sua síntese oportunista da obra de Allan Kardec, intitulada Allan Kardec Para Todos, nem dá para o gasto, porque é apenas um resumo do que já foi guillotinado (leia-se Guillon Ribeiro) da obra do professor francês.

Mas Kardec era prevenido. O pedagogo de Lion já havia escrito um livro que é ao mesmo tempo síntese e introdução de seu pensamento, o livro O Que é o Espiritismo, lançado originalmente em 1859, dois anos depois de O Livro dos Espíritos.

Ao lançar o livro que iniciou a divulgação da Doutrina Espírita, Kardec era desafiado com muitas perguntas e questionamentos. Ele mesmo tinha muitas dúvidas e a questão do mundo espiritual era algo novo para ele, que procurava lançar as ideias ao debate e a analisá-las com muita cautela e muito critério, como alguém que mexe com algo novo.

Enquanto reformulava O Livro dos Espíritos, cuja edição definitiva foi lançada em 1860, Kardec procurou sintetizar as ideias descobertas e a procurar responder às questões então lançadas, e produziu o pouco lembrado O Que é o Espiritismo.

O livro é subestimado pelo dito "espiritismo" brasileiro, embora a FEB tenha uma tradução do mesmo feita por redatores da revista oficial da entidade, O Reformador. Isso porque o livro, até por ser uma síntese do pensamento original de Kardec, é considerado "perigoso" pelos espiritólicos, já que estabelece diretrizes concisas da doutrina original.

Mesmo com a tradução domesticada da FEB, o livro, até por resumir as ideias originais do professor francês, apresenta pontos que podem entrar em contradição com muitas diretrizes e procedimentos feitos pelo movimento espírita brasileiro. Daí sua subestima pelas lideranças "espíritas" brasileiras.

A tradução recomendável do livro é a de Wallace Leal Valentin Rodrigues, respaldada pela introdução escrita por José Herculano Pires, já que o texto se aproxima de seu sentido original, sem as adulterações "catolicizadas" que costumam haver em outras traduções.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Suposta mensagem de Deodoro da Fonseca foi divulgada em 2005

SUPOSTA PSICOFONIA FOI ATRIBUÍDA AO MILITAR QUE INAUGUROU A REPÚBLICA NO BRASIL.

Em 16 de novembro de 2005, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia, o médium Divaldo Pereira Franco divulgou, em suposta psicofonia, mensagem que foi atribuída ao marechal Deodoro da Fonseca, intitulada "Oração à Pátria Brasileira".

Com todos os clichês espiritólicos, como a superestima da Princesa Isabel (no termo "gesto audaz da tua filha") na sua tarefa abolicionista, hoje considerada pouco eficiente em termos históricos e sociais, e a imagem do Brasil como "centro do Evangelho", o processo de psicofonia também é considerado bastante duvidoso.

Afinal, não há registros sonoros da voz de Deodoro da Fonseca. A tecnologia de reprodução sonora era recente - o fonógrafo foi inventado em 1877 por Thomas Edison - e por isso não se sabe que vozes tiveram nossos personagens históricos de então, por conta da tecnologia nova, não comercializada e portanto inacessível aos brasileiros.

Portanto, é impossível sabermos as verdadeiras vozes de Adolfo Bezerra de Menezes, José do Patrocínio, Princesa Isabel, Deodoro da Fonseca e outros. Se sabemos que a voz de Dom Pedro II era fina - há quem arrisque jocosamente compará-la, por exemplo, ao personagem Baxter da série cômica de TV Mom - , foi por conta de relatos deixados por registros históricos da época.

Além disso, o texto abaixo tem muito da famosa verborragia de Divaldo Franco, que até parece mais uma palestra dele. Provavelmente usando um falsete - tudo indica que é isso mesmo - , o anti-médium baiano desta vez botou as palavras na conta do ex-presidente, em mais uma panfletagem de cunho religioso.

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ORAÇÃO À PÁTRIA BRASILEIRA

Pátria brasileira!

Abençoada pela fulgurante luz das estrelas do Cruzeiro do Sul, estás programada pelo Senhor da Vida para que sejas, em futuro não distante, o centro de irradiação do Evangelho restaurado.

Enquanto a humanidade sofre a noite terrível que se abate sobre a Terra, e tu experimentas, solo verdejante, a sombra dominadora do descalabro moral dos homens, na Consciência Cósmica ue te gerou, estão definidos os desafios para que logres as tuas conquistas em futuro próximo.

Dormem, nas montanhas em que te apoias e na intimidade das águas oceânicas do Atlântico, que te banha de norte a sul, tesouros inimagináveis que te destacarão mais tarde no concerto econômico das grandes nações.

Embora a conspiração deste momento contra as tuas matas grandiosas, sobreviverás às ambições desconcertantes de madeireiros, pecuaristas e agricultores desalmados, e dos conciliábulos nefandos que lutam pela destruição da tua Amazônia, que permanecerá como último pulmão da Terra sustentando a soeicade que hoje se encontra sem rumo.

Padeces, na conjuntura atual, a sistemática desagregação dos valores ético-morais, políticos e emocionais, os mesmos que abalam o mundo, mas esses transitórios violadores do dever passarão, enquanto persistirá a tua destinação histórica, Pátria do porvir!

Conseguiste libertar-te da mancha cruel da escravidão em etapas contínuas, que culminaram no gesto audaz da tua filha, que não teve pejo de, na ausência do pai, pôr fim ao abuso da exploração impiedosa do negro, também teu filho, no eito terrível e hediondo da perversidade.

Logo depois, já livre do jugo da pátria-mãe que te humilhava, pondo-te em subalterna situação, aspirante por voos mais altos, que um dia se transformaram em liberdades democráticas que sorriam para ti, e o teu pavilhão verde, azul e amarelo tremulou, numa república, que a partir de então podia compartilhar do banquete internacional realizado pelos povos livres da Terra.

É certo que ainda estertoras, neste momento de desafios, quando a cultura cambaleia, a ética desfalece, a moral se perverte e os direitos humanos esquecidos são postos à margem pelos dominadores ignorantes de um dia.

Tu, porém, sobreviverás a toda essa derrota, Brasil!

Compreende, neste momento, a desenfreada manobra dos manipuladores da opinião pública e a daqueles que te dilapidam os valores, transferindo-os para os paraísos fiscais da ignomínia e da sensatez, porque esse hediondo crime contra tua economia e os milhões de vidas, será de duração efêmera. Eles morrerão deixando tudo em contas secretas e em aplicações de que jamais se utilizarão...

Enquanto isso ocorre, germem no teu solo os filhos da miséria, ocultos nos escombros do abandono.

As tuas vielas, ruas e avenidas nos pequenos burgos do interior, nas metrópoles, veem e sofrem intermes, a desenfreada correria da violência que se atrela ao selvagem potro da morte, dizimando vidas, taladas em pleno alvorecer.

Paga, porém, em paciência e compaixão o preço da tua destinação histórica, na tua condição de futura pátria da paz e do Evangelho de Jesus.

Isto passará, e logo depois da noite de sombras, uma aurora de esperanças irá colocar-te no lugar que te está reservado, quando poderás oferecer lições de misericórdia e de solidariedade ao mundo que não perdoa, tu que te apresentas em forma de um grande coração simbolizando a afabilidade e a doçura.

Oro por ti, Brasil, e por vós, brasileiras e brasileiros, na condição de filho que também sou da terra iluminada pela constelação do Cruzeiro do Sul.

Mensagem em tese psicofônica divulgada por Divaldo Franco em 16.11.2005, no Centro Espírita Caminho da Redenção, Salvador, Bahia, atribuída ao Marechal Deodoro da Fonseca.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

FEB concretiza "sonho" católico de Emmanuel


A atual direção da FEB, pressionada pelas críticas que a entidade recebe pelos 130 anos de deturpações na doutrina de Allan Kardec, decidiu lançar coletâneas para "simplificar" suas manobras de manipular os espíritas brasileiros a seguir esta corrente catolicizada, que destoa seriamente das descobertas científicas e dos debates promovidos pelo professor lionês.

Sabemos que uma dessas coletâneas é Allan Kardec Para Todos, uma continuidade na apropriação oportunista do prestígio do pedagogo francês, desde que ele foi usado para "substituir" simbolicamente o advogado Jean-Baptiste Roustaing, que, ao pegar pesado demais com os casos da reencarnação de humanos em seres irracionais e o do "Jesus fluídico", foi deixado de lado pela FEB.

A suposta síntese das ideias de Kardec segue a linha traçada por Guillon Ribeiro, tradutor adotado pela federação, responsável pela adulteração politicamente correta mas catolicizada dos livros do francês, e a coletânea serve como introdução à bibliografia guillontinada recomendada pela entidade.

Outra publicação "complementar" é O Evangelho por Emmanuel, coleção de textos de Emmanuel sobre os diversos pontos do Novo Testamento, distribuídos em sete volumes temáticos, como uma celebração da produção da dupla Emmanuel / Chico Xavier que sempre fez a festa dos dirigentes da FEB.

Os volumes são referentes aos seguintes livros: os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), os Atos dos Apóstolos, as cartas de Paulo de Tarso e as cartas universais e do Apocalipse. O trabalho é organizado por Saulo César Ribeiro da Silva, integrante da FEB conhecido por coordenar edições de livros da entidade.

A abordagem, evidentemente, é dotada do mesmo moralismo católico, só que adaptado ao âmbito da espiritualidade. Desta forma, a doutrina de Allan Kardec é esvaziada em prol de um religiosismo conservador, embora pretensamente profético e missionário.

Na prática, o projeto, embora seja uma coletânea, concretiza os "sonhos" do espírito Emmanuel, ninguém menos que o traiçoeiro padre Manuel da Nóbrega, que, assim como fez com as crenças indígenas, absorvendo-as para deturpá-las em prol do Catolicismo medieval, tentou o mesmo com a Doutrina Espírita.

Portanto, não foi preciso que Emmanuel viesse com mais um livro, já que aparentemente a parceria com Chico Xavier terminou em 1997 e Chico faleceu cinco anos depois. Também não houve herdeiro mediúnico e oficialmente os espiritólicos acreditam que Emmanuel reencarnou no interior de São Paulo.

Em todo caso, o livro é uma síntese do que Emmanuel queria, se apropriando das ideias espíritas de Allan Kardec e deturpando o máximo possível, esvaziando completamente todo o sentido original das obras do professor francês, reduzindo o Espiritismo a um engodo místico-religioso cuja ênfase maior sempre foi no Catolicismo medieval, em que pesem outros enxertos religiosos e místicos.

domingo, 13 de julho de 2014

Desesperada, FEB insiste na sua interpretação de Allan Kardec


A roustanguista Federação "Espírita" Brasileira, desesperada com o crescimento das críticas da entidade na Internet, tenta agora apelar para que continue prevalecendo sua visão a respeito do Espiritismo, deturpada em prol de princípios herdados do Catolicismo medieval.

Com isso, entre algumas "novas" publicações, está o livro Allan Kardec Para Todos, obra com título bastante pretensioso e oportunista, organizado pelo designer peruano naturalizado brasileiro Luiz Hu Rivas, já conhecido pela "simplificação" nos moldes espiritólicos no livro Doutrina Espírita para Principiantes, lançada pela editora CEI.

O livro tem a pretensão de ser uma "síntese" das ideias de Allan Kardec, a partir de traduções já conhecidas do trabalho de Guillon Ribeiro, que norteiam a FEB. Os textos são organizados de maneira supostamente didática e contam com ilustrações.

Não é a primeira nem será a última tentativa do Espiritolicismo mostrar Kardec não somente "mastigadinho" mas "diluído" de forma que palavras de cunho católico, como "Doutrina do Salvador", substituam termos originais equivalentes a "Doutrina de Jesus".

A obra também relaciona várias personalidades que colaboraram com mensagens publicadas nos livros de Kardec, como Sócrates, Platão, Joana d'Arc, Fénelon, Paulo de Tarso, Erasto e outros. Mas aí é que entra a malandragem.

O texto de divulgação do livro, no portal da FEB, tenta citar separadamente os nomes de Emmanuel e Swedenborg, este um sobrenome isolado. Tudo para dar a impressão de que o Emmanuel que colaborou com a Codificação não foi o Emmanuel Von Swedenborg, ou "não foi apenas ele", mas o jesuíta relacionado a Chico Xavier.

Sabemos que o retrógrado jesuíta, que procura fazer o mesmo com a Doutrina Espírita o que fez com as crenças indígenas quando ele era o reacionário padre Manuel da Nóbrega, não participou da equipe que colaborou com a divulgação de ideias nos livros de Allan Kardec.

Não havia como. Emmanuel, que no mundo espiritual teria se enfurecido com a decisão do primeiro-ministro português Marquês do Pombal de encerrar as atividades jesuítas no Brasil (por questões financeiras), não iria contribuir com seus valores católicos ainda medievais para a produção de cunho científico organizada pelo professor lionês.

O Emmanuel que contribuiu para a Codificação foi somente o Von Swedenborg, pelo menos no que consta os fortes indícios na bibliografia de Kardec. Mas, com toda a certeza, nunca teria sido o jesuíta, com seu ranço católico que destoa do raciocínio científico de Kardec.

Desta vez o ufanismo brasileiro perdeu, apesar da FEB tentar enfiar o "mentor" de Chico Xavier nos colaboradores da Codificação, numa clara demonstração de falsidade ideológica.

sábado, 12 de julho de 2014

E a derrota do "coração do mundo" na Copa?


Nesta semana, a seleção brasileira de futebol sofreu a maior derrota de sua história, obtendo uma pontuação de 1 X 7, por causa da goleada feita pelos jogadores alemães, no jogo realizado na última terça-feira em Belo Horizonte, durante a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014.

A derrota representou um violento choque nas expectativas dos brasileiros, que nunca acreditariam que a derrota fosse tão grande e muitos ainda tinham esperança de ver os alemães derrotados em mais uma vitória da seleção em busca do hexacampeonato, que foi adiado mais uma vez.

A decepção foi enorme e de grandes proporções, já que a expectativa somava uma série de aspectos que se apoiavam nas ilusões que cercavam o Brasil como suposta nação-guia da humanidade, conforme anunciava o "anjo" Ismael em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

Junta-se a essa missão "espiritualista" a perspectiva material, trazida sobretudo pelo cenário político nacional, de que o Brasil se tornaria potência mundial, na medida em que ele é um dos cinco integrantes dos BRICS, bloco de países emergentes que inclui também Rússia, Índia, China e África do Sul (o "S" corresponde ao nome em inglês South Africa).

Ou seja, se juntarmos as peças, vemos que os "espiritualistas" querem ver o Brasil como uma nação-líder da humanidade futura, enquanto os "desenvolvimentistas" querem ver o Brasil como um dos futuros países do Primeiro Mundo, de preferência em posição bastante avantajada.

Só que as coisas não são tão simples assim. Observando o que acontece no Brasil, o país está muito longe tanto de ser uma potência sócio-econômica quanto o "reino de luz" da humanidade planetária. Seus aspectos de profundo atraso sócio-cultural, as irregularidades políticas, a precariedade da Justiça e as desigualdades sociais são bastante conhecidos e travam o progresso do país.

Só a trilha-sonora do "funk", ritmo marcado pela degradação de valores sócio-culturais e pela forte apologia à miséria, ignorância e imoralidade, glamourizadas até no discurso de intelectuais simpáticos ao gênero, já põe por terra abaixo qualquer esperança do Brasil ser a nação de vanguarda no progresso da humanidade.

E a corrupção política, a frouxidão das leis, a política salarial ainda precária, os desméritos diversos que fazem com que os beneficiados de qualquer coisa não sejam necessariamente aqueles que precisam ou merecem tais benefícios, tudo isso compromete o avanço do país e o coloca essencialmente ainda numa posição que antes era conhecida como terceiromundismo.

A própria posição do Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas é vergonhoso: em torno de 85º lugar, segundo dados recentes. É também um dos países onde ocorrem mais assassinatos e a presença de favelas também marca o profundo atraso das estruturas urbanas das cidades do país, mesmo as metrópoles.

Além disso, observa-se que o futebol que tanto anima a Federação "Espírita" Brasileira a ponto de apostar nele para o cumprimento das "profecias" de Ismael é, na verdade, um antro de corrupção política e empresarial armado pelos dirigentes esportivos João Havelange e Ricardo Teixeira.

Será que o "hexa" que, na verdade, representaria mais fortuna e permanência no poder de Ricardo Teixeira - Havelange está doente, nos seus 98 anos de idade - , iria fazer o Brasil virar potência econômica mundial e nação-guia da espiritualidade futura? De jeito nenhum!

Os problemas bastante complicados e graves, em muitos casos crescidos em doses surreais, fazem com que o Brasil tenha muito o que fazer. E não serão políticas neoliberais, ações tecnocráticas e fisiologismo político, e nem mesmo o misticismo moralista-religioso, que farão resolver tais problemas com facilidade ou perseverança.

Por isso a derrota da seleção brasileira, goleada sem dó pela seleção alemã, foi uma grande lição para os brasileiros. E mostrou um possível caminho para o Brasil pensar em superar o atraso: a desilusão. Pois é a desilusão que educa as pessoas e faz elas verem os limites de suas potencialidades e os erros e abusos cometidos, que cedo ou tarde trazem efeitos nocivos para as pessoas.

Portanto, o fim da ilusão do hexa que seria conquistado em solo brasileiro pode ter chocado muita gente e levado muitos às lágrimas, à raiva e até ao suicídio. Até mesmo atos de vandalismo foram feitos em reação à derrota imprevista. Mas a frustração é um remédio amargo que pode educar as pessoas no futuro, para prevenir contra sofrimentos piores e prolongados que a longa ilusão reserva.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A coisificação do espírito


Infelizmente, no "espiritismo" brasileiro, impera a regra de que a mensagem espiritual só vale quando carregada de alguma mensagem religiosa, independente dela ter vindo realmente do espírito a que ela está atribuída.

A personalidade do espírito se torna apenas um mero detalhe, ante as "palavras de amor" que a mensagem mostra, sempre naqueles clichês panfletários de "amor e fraternidade", "luz e caridade". Sempre aquele papo de que o espírito sofreu, ele recebeu preces ou foi socorrido para uma colônia espiritual e aí ele encontrou a "fé em Jesus", blá blá blá, blá blá blá.

Da forma como são divulgadas as "mensagens espíritas", seja em supostos recados mediúnicos ou em obras artísticas em tese trazidas por médiuns, o processo de comunicação de espíritos, conforme a Teoria da Comunicação, sofre o que este ramo do conhecimento define como "ruído".

Segundo esta teoria, "ruído" é todo tipo de interferência que compromete o êxito do processo comunicativo, ou, na melhor das hipóteses, desvia o seu sentido original para um outro sentido diverso, sem qualquer relação com aquele outro sentido que foi afetado.

No caso da comunicação espiritual, o "ruído" já começa a partir da própria condição do médium do "espiritismo" brasileiro, que já em si subverte todo o processo comunicativo original, por romper com sua função original de intermediário de uma comunicação ao ser transformado na atração principal.

Na Comunicação, existe o emissor, a mensagem, o canal e o receptor. Uma comunicação espírita adequada teria como emissor o espírito de alguém falecido, que traz uma mensagem qualquer, através de um canal, que é o médium, para o receptor, que é aquela pessoa interessada em ouvir a mensagem do espírito do falecido.

Só que o "espiritismo" brasileiro rompeu com isso. E aí, vemos, em primeira instância, o médium, que é o canal - o "meio" - , transformado em emissor. O espírito falecido é que é transformado em "canal", e a mensagem vira qualquer nota, sempre dotada de apelo religioso e não necessariamente (ou, o que é provável, quase nunca) relacionada com o espírito do falecido.

Virou bagunça. O caso de Chico Xavier é bastante ilustrativo. Ele deixa de ser o intermediário, o "canal", e passa a ser o emissor, enquanto os demais espíritos a que estão associadas as mensagens divulgadas pelo mineiro passam a ser o "canal", na medida em que se submetem ao prestígio do médium e ao apelo religioso da mensagem.

O primeiro prejuízo desse processo comunicativo se dá porque o médium se torna a principal atração, deixando de ser o intermediário. Os espíritos acabam se servindo, real ou simbolicamente - quando apenas seus nomes são atribuídos a mensagens que teriam sido inventadas por outrem, muito comum no Espiritolicismo - , como atrações secundárias no evento em que o médium é que tem o destaque.

O segundo prejuízo está nas mensagens religiosas que se tornam uma obsessão, mais do que qualquer recado que o espírito do além possa nos dar. Em muitos casos, ocorrem fraudes em que terceiros inventam uma mensagem de apelo religioso e supostamente "amorosa" e atribuem a autoria ao espírito do além de sua "preferência".

Isso é grave, e, em ambos os casos, os espíritos do além são coisificados, reduzidos a meros objetos de propaganda religiosa, a meros instrumentos da vaidade do médium brasileiro, que se torna anti-médium porque deixa de ser intermediário, ou seja, "médium", no sentido comunicativo do termo.

Pouco importa se é realmente o espírito do além ou não. Os líderes "espíritas" até tentam dizer que sim, enquanto propagam mensagens religiosas que, no raciocínio deles, encaixariam tanto em freiras quanto em roqueiros, valendo tão somente pelas "palavras de amor e luz".

No entanto, isso faz perder o sentido da comunicação original. Até porque as mensagens acabam mais valendo pela evocação de preces, pelo assistencialismo religioso, pelo panfletarismo da fé, que não raro destoam das personalidades dos falecidos, pouco importando o aparente positivismo das mesmas.

Assim, o espírito de alguém falecido é, na verdade, afastado de qualquer processo comunicativo feito no Brasil. Não existe confiabilidade. É fácil os "ispritas" daqui se passarem por uma alma do além, mandarem mensagem de "amor e paz", e os espíritos originais, impedidos de darem seu recado, se afastam, envergonhados em ver terceiros se passando por aqueles.

E aí tudo fica comprometido. Já não é mais uma questão de saber se o espírito do falecido está bem ou não, mas uma questão de usá-lo para fazer propaganda religiosa, geralmente sob as escritas, pinturas ou vozes de terceiros, ou para alimentar o prestígio e o carisma de um suposto médium.

Este é o espírito da coisa do Espiritolicismo. Reduzir os espíritos do além a meras coisas que se servem para a pregação religiosa e para o prestígio do suposto médium. A verdadeira caridade torna-se, desta maneira, bastante prejudicada.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Espíritos do além podem abrir mão de personalidade e estilo?


Uma situação insólita é bastante conhecida na aparente mediunidade no "espiritismo" brasileiro. Mensagens atribuídas a conhecidos espíritos do além, que haviam se tornado famosos ou reconhecidos entre nós, que destoam, em muitas caraterísticas, daquilo que eles faziam, pensavam e acreditavam em vida.

São mensagens que valem mais pela pregação religiosa, pelo panfletarismo de "amor e caridade", "luz e fraternidade", seja apenas por alguns clichês que guardam semelhanças superficiais com o que os espíritos atribuídos eram em vida.

Sabe-se que muita fraude é feita através dessas atividades, mas vamos aqui, a título de análise, admitir que tais mensagens seriam verdadeiras, assim como as expressões artísticas atribuídas aos nossos ilustres figurões do além.

Argumentações possíveis não faltam para irregularidades de estilo e personalidade notadas nas supostas mensagens espirituais. Podemos mesmo identificar prováveis desculpas, fora aquelas já conhecidas da "coincidência de pensamento", no que diz às acusações de plágio.

Citemos um exemplo com base no caso real da suposta psicografia de Olavo Bilac em Parnaso de Além-Túmulo, por Chico Xavier, em que se observa a falta da métrica (rigoroso cuidado na criação de versos visando a combinação sonora das sílabas) típica da poesia do movimento do Parnasianismo.

Uma argumentação hipotética que podemos prever dos dirigentes "espíritas" é que o espírito de Olavo Bilac teria ficado nervoso na ânsia de transmitir, do além, as mensagens fraternais que, com o impacto da vida carnal encerrada relativamente cedo (aos 53 anos, em 1918), teria tido necessidade de transmitir. Daí a "perda" da métrica diante da "urgência" de escrever um poema fraternal.

Outra argumentação hipotética seria a "universalidade de linguagem". Segundo essa hipótese, a linguagem espiritual é "tão universal" que questões referentes à personalidade e estilo se tornariam "supérfluas" diante do apelo "urgente" da "fraternidade", do "amor", da "caridade" e da "luz".

O QUE DIZ A DOUTRINA DE ALLAN KARDEC

Se levarmos em conta as ideias lançadas por Allan Kardec em seus livros, a bonita tese de "universalidade de linguagem" que permite que se abram mão de aspectos de personalidade e de estilo em prol das mensagens espirituais de "amor e caridade".

Pois as pesquisas do professor lionês e as ideias lançadas pelo Espírito de Verdade e outros espíritos divulgados nas obras kardecianas sugerem que, na vida espiritual, o espírito, despojado das limitações orgânicas do corpo físico, amplia sua capacidade de raciocínio e traz mais acentuados seus traços pessoais.

Isso porque o espírito não tem as limitações de ordem material que estabelecem restrições à memória - a lembrança de vidas passadas, por exemplo, se torna atrofiada - e, livre no seu estado perispiritual, teria seus aspectos pessoais ainda mais dinâmicos e ampliados.

Aqui na vida material, ainda não conseguimos desenvolver as técnicas seguras de comunicação com o além e nossa compreensão a respeito do mundo espiritual ainda carece de pesquisas mais aprofundadas.

Para piorar, o "espiritismo" brasileiro, apegado na sua pregação religiosa, toma o incerto como certo, e permite até mesmo que manifestações duvidosas sejam legitimadas, usando como critério exclusivo as "palavras de amor".

As desculpas de "nervosismo" ou de "universalidade de linguagem", assim como a "comunhão de ideias", são facilmente contestadas se tomarmos a linha de raciocínio de Kardec, já que a imprecisão de personalidade e estilo contradizem à realidade de que o espírito liberto do corpo físico acentua suas caraterísticas pessoais, com a mente livre.

Por outro lado, a "universalidade" das "palavras de amor" dá indícios de uma padronização de discurso, o que denuncia a semelhança suspeita de muitas mensagens, que parecem repetir o mesmo estilo difundido pelo suposto médium, o que indica prováveis fraudes, não obstante passíveis de comprovação.

Abrir mão da personalidade e do estilo, tesouros ESPIRITUAIS que permanecem no além-túmulo, seria uma coisa absurda, uma vez que se abre mão não de um tesouro material, mas de um patrimônio não-material, como se fossem moedas a serem deixadas de lado em prol do "serviço ao próximo".

Não há lógica alguma em abrir mão de personalidade e estilo como quem abre mão de fortunas, só para servir a missões de caridade em mensagens aparentemente espirituais. Acobertar as fraudes "mediúnicas" com essa argumentação cai por terra diante de tamanhas contradições.

Em muitos casos, as fraudes espirituais se notam quando os falecidos a que estão atribuídas as mensagens espirituais se revelam caricatos e estereotipados demais. Ou que passam a defender ou fazer coisas estranhas ao que eram em vida.

As desculpas diversas, como "unidade de pensamento" - dada por Divaldo Franco diante de acusações de plágio - ou de "mudança de postura", referente à defesa espiritólica ao suposto José do Patrocínio (que em mensagem da FEB falou como padre católico e destoou do ativismo social que o abolicionista defendeu em vida), são facilmente desmentidas pela análise lógica e pela pesquisa.

Da mesma maneira, o "nervosismo" do suposto espírito para se expressar para nós na terra ou a "universalidade de linguagem" que abre mão do "materialismo" (?!) da personalidade e do estilo em prol da "caridade" seriam também facilmente contraditas pelo raciocínio questionativo.

O espírito nunca abriria mão da personalidade e do estilo - o seu "saber fazer" e "como fazer" - por causa da caridade. A personalidade é a marca do espírito, ele a mantém como sua identidade. Se o "espiritismo" brasileiro ignora tudo isso, ele acaba "coisificando" o espírito, já que o que importa não é mais a sua presença, mas tão somente o tom "amoroso" das supostas mensagens espirituais.