sábado, 22 de julho de 2017
Até quando a Doutrina Espírita será refém dos deturpadores?
O "espiritismo" brasileiro vive a mais aguda crise de seus 133 anos, mas, a exemplo de 1975, quando o roustanguismo foi posto em xeque e, com a morte do ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, abrindo caminho para a "fase dúbia", que aposta num "roustanguismo sem Roustaing e com Allan Kardec".
Hoje a "fase dúbia" é que causa efeitos danosos, pois o roustanguismo não se podia disfarçar numa pretensa promessa de "recuperar as bases espíritas originais". Há constantes conflitos entre a exposição, aparentemente correta, da teoria original de Allan Kardec, com ideias e práticas trazidas pelos deturpadores da Doutrina Espírita.
Isso acaba resultando numa vergonhosa seletividade da apreciação da obra kardeciana, ou então na hipócrita postura de certos palestrantes em fingir reprovar a "vaticanização" e evocar até mesmo os alertas de Erasto contra os deturpadores do Espiritismo, sem perceberem que são os próprios oradores e escritores "espíritas" os maiores criticados pelo espírito do discípulo de Paulo de Tarso.
A recente bajulação de "espíritas" aos kardecianos autênticos, como Deolindo Amorim (pai do jornalista e "ansioso blogueiro" Paulo Henrique Amorim) e José Herculano Pires (sobrinho do contador caipira Cornélio Pires), sinaliza o auge dessa "postura dúbia", na qual os deturpadores do Espiritismo vão longe demais em suas contradições.
Isso porque o "espiritismo" virou um engodo que mistura valores igrejeiros com alguns postulados espíritas originais que conseguem ser veiculados. O evidente conflito que as ideias kardecianas têm com livros de forte acento católico como os de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco sinalizam esse gravíssimo problema, que hoje atinge níveis insustentáveis.
A crise é tão grande que os palestrantes "espíritas" praticamente estão falando apenas com seus fiéis incondicionais. Oficialmente, o número de pessoas que se dizem "espíritas", segundo o Censo brasileiro de 2010, nunca passou de 2% desde o primeiro recenseamento que incluiu tal informação, o de 1940, mas há quem diga que o número de adeptos do "movimento espírita" está diminuindo e estacionando em torno de 0,8%.
Em Salvador, reduto de Divaldo Franco e José Medrado, o "espiritismo" está decaindo, com a perda drástica de seguidores, forçando o fechamento de "centros espíritas" menores ou a redução de seus horários de funcionamento, para, ao menos, economizar energia elétrica e consumo de água.
Surgiram até mesmo rumores, espalhados por conversas nas ruas, de que o Centro Espírita Paulo e Estêvão - que há sofreu um "racha" na sua cúpula, com dissidentes migrando para um "centro" no bairro do Uruguai - iria reduzir suas instalações no bairro de Amaralina, nas proximidades da comunidade do Nordeste de Amaralina, dominada pela violência.
A decadência do "espiritismo" faz com que seus palestrantes caprichem no exército das "belas palavras", mas em muitos casos eles dão um "tiro no pé" quando, desde que Michel Temer assumiu o poder, eles passaram a fazer textos em apologia ao sofrimento humano, vestindo a camisa da Teologia do Sofrimento, já defendida, em outros tempos, por Chico Xavier.
Isso só agrava a crise no "espiritismo" e faz as pessoas se afastarem das "casas espíritas", constrangidas com tantos apelos para aceitar e se conformar com as dificuldades e desgraças que muitos sofredores acumulam sem solução nem compensação nas suas vidas.
As pessoas chegam a pegar mais de um ônibus e viajar para longe, procurando solução nas "casas espíritas", mas voltam para casa recebendo como respostas "espirituais" coisas como "não há problema algum" ou "você tem que ver a coisa sob outro prisma e ver que sua coleção de desgraças é ótima para sua vida". Como se sofrer demais só fizesse bem, ignorando que sofrimento demais também produz tiranos, criminosos, vigaristas e suicidas.
Só que esse quadro de crise extrema só consegue sinalizar que o "espiritismo" corre atrás do próprio rabo, pensando como "única salvação" o mesmo lero-lero dos deturpadores do Espiritismo prometerem "aprender melhor a Doutrina Espírita". Alguns deturpadores, exaltados no pretensiosismo, chegam a dizer, hipócritas, que "todos não devem só entender Kardec, mas viver Kardec, tirá-lo dos centros espíritas e vivê-lo 24 horas de cada dia da nossa vida".
É aquele velho papo das raposas que prometem reconstruir o galinheiro. E mais uma vez a esperança de que Allan Kardec seja melhor compreendido e adequadamente praticado será em vão. Quem garante, afinal, que a exposição correta da teoria espírita não coexista, mais uma vez, com delírios mistificadores como "crianças-índigo" e "colônias espirituais" (concebidas à maneira dos condomínios de luxo vistos nos classificados), ou na evocação de padres e até milagres católicos?
Mais uma vez o Espiritismo se torna, no Brasil, refém dos deturpadores. A ameaça que já havia sido alertada pelo próprio Allan Kardec e por mensageiros espirituais como Erasto foi muito bem sucedida no Brasil, a ponto dos deturpadores se acharem "mais espíritas do que Kardec".
O mais grave disso é que o poder dos deturpadores brasileiros cresceu tanto - e ainda sob o apoio de uma mídia hegemônica e ultraconservadora, como a TV Tupi, no passado, e, hoje, a Rede Globo - que eles invadiram a França, berço do Espiritismo.
É deplorável que os próprios deturpadores do Espiritismo tomem as rédeas da doutrina no Brasil. Eles viraram os "donos" do Espiritismo. Mancharam até o termo "kardecista" que, ironicamente, soa pejorativo entre os espíritas autênticos, que agora preferem ser chamados de "kardecianos".
E é preocupante ver que, mais uma vez, a promessa de "revalorização" do pensamento original de Allan Kardec seja dada pelos próprios deturpadores que o traem. Os deturpadores do Espiritismo, mesmo os "conceituados" Chico Xavier e Divaldo Franco, deturparam sabendo muito bem o que faziam, com longo histórico de traições ao pensamento kardeciano original e com obras de grande repercussão e produzidas por muitos anos para um grande público.
Daí que, se os deturpadores traíram os postulados espíritas originais, não foi por acidente, boa fé ou falta de tempo, mas porque fizeram com muita consciência de seus atos, em muitos casos agindo por má-fé, mesmo.
Por isso, esperamos o dia em que veremos quando o Espiritismo brasileiro deixará de ser refém dos deturpadores, que cometem traições de extrema gravidade mas cometem o cinismo de se dizerem "rigorosamente fiéis" à obra original kardeciana e ainda falam em "viver Kardec". Com os hipócritas no comando, não há como recuperar, para valer, o bom senso e a coerência original de Allan Kardec.
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