sábado, 27 de agosto de 2016

Por que Chico Xavier queria que você nunca questionasse?


Quem é tomado pela memória curta, certamente, não vai entender. Mas se voltarmos ao tempo e relembrarmos os aspectos sombrios de Francisco Cândido Xavier, que chegaram a deixar de queixo caído até o charlatão da imprensa, David Nasser - excelente escritor, notável compositor mas de caráter um tanto duvidoso - , veremos as armadilhas que o "médium" trouxe para o público.

Muitos ficam maravilhados quando Chico Xavier, em seus diversos textos - vários deles usurpando nomes como Humberto de Campos, Auta de Souza, Olavo Bilac, Meimei, Jair Presente e tantos e tantos outros que "perderam sua individualidade" e passaram a "pensar" como o "médium" - , diz para as pessoas nunca reclamarem nem se queixarem da vida. E acham isso bom.

Estão redondamente enganados. A religião tem desses sadismos. O "espiritismo" não é diferente. Quando uma pessoa sofre e enfrenta desgraças nas quais tem dificuldades de superar, o palestrante ou articulista "espírita" da ocasião sempre diz para a pessoa aguentar a barra, aceitar os "desígnios do Alto" e ter fé ou, quando muito, "mudar os pensamentos" e "buscar novos caminhos".

Chico Xavier chegava a ser muito sádico com suas "palavras de amor". Ele dizia, com aquele jeito ultraconservador de caipira moralista, que a pessoa, na pior das desgraças, estava "sendo abençoada", e dizia que o sofredor tinha que olhar passarinhos, o rio correndo, as flores brotando etc.

É até ilustrativo que O Cruzeiro tenha, até 1970, questionado os "méritos" de Chico Xavier. A revista dos Diários Associados tinha um personagem chamado O Amigo da Onça, que também falava coisas "simpáticas" diante de pessoas encrencadas.

Há passagens de Chico Xavier que lembram muito bem o personagem de Péricles Maranhão, que, por sinal, cometeu uma atitude que os "espíritas" consideram um "crime hediondo", o suicídio. Péricles estava deprimido com as gozações que recebeu por causa do seu personagem. Enquanto isso, o "espiritismo" chega a ficar complacente com o homicídio, considerando os assassinos "justiceiros" dos "resgates espirituais" de suas vítimas.

Os livros de Chico Xavier, incluindo os "medíunicos" - consideramos plausível a tese de que apenas Emmanuel teria realmente ditado os livros que levam o nome -  são sempre um receituário digno da Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica que, no exterior, teve como seguidores, nos últimos séculos, as beatas Teresa de Lisieux e Madre Teresa de Calcutá.

E se as pessoas ficam maravilhadas com esses apelos de "não queixar", "não reclamar", "não fale mal da vida", "aceite as dificuldades visando bênçãos futuras". Isso nada tem de progressista, nada tem de transformador na vida das pessoas, é desculpa barata para o sofredor ficar sofrendo e não amolar os ídolos religiosos que não querem lidar com problemas mais complexos.

ACEITAR AS FRAUDES DE CHICO XAVIER

A ideia de não questionar o que quer que fosse, de aceitar tudo de bandeja, mostra o caráter ultraconservador do "espiritismo" brasileiro. Se vermos os textos de Emmanuel, existe um padrão de comportamento castrado no qual as pessoas são claramente aconselhadas a se tornarem submissas, conformadas e apenas submetidas ao jugo alheio.

Emmanuel personifica o espírito leviano que Erasto havia prevenido nos tempos de Allan Kardec. Lendo O Livro dos Médiuns, na tradução de José Herculano Pires, há descrições da ação e do perfil de espíritos inferiores que se encaixam perfeitamente em Emmanuel, como as qualidades negativas de espírito autoritário que produz textos empolados e usa "mensagens de amor" para forçar o público a acreditar nele.

É lamentável que vários palestrantes "espíritas" adotem uma postura contraditória de num momento fingir concordar com Erasto e em outro manifestar seu entusiasmo por Emmanuel, da mesma forma que não consegue discernir Allan Kardec e Chico Xavier, quando uma análise nem muito difícil pode ver aberrantes contradições entre estas duas pessoas claramente antagônicas.

A verdade é que, quando Chico Xavier, em parte sob influência de Emmanuel - mas com o "médium" concordando e consentindo com muito prazer - , dizia para ninguém questionar ou reclamar, quem levava vantagem com isso era justamente o próprio anti-médium mineiro.

Prestemos atenção nos textos: há sempre apelos que condenam o "exclusivismo da ciência", o "excesso de raciocínio", o "tóxico do intelectualismo", sempre um amaldiçoamento do ato de pensar, como se o raciocínio fosse um processo em si muito perigoso. E por que Chico Xavier sempre apelava para isso?

Simples. Muitas irregularidades se observam, e são muito aberrantes, das atividades "mediúnicas" de Chico Xavier e seus seguidores. As "mensagens espirituais", por mais que tentem ser semelhantes, em algum momento entram em conflito com aspectos pessoais que os mortos apresentaram em vida. A lógica sempre recomenda que, diante de um monte de semelhanças, se houver alguma diferença que entre em conflito, a mensagem é simplesmente falsa.

Há pastiches literários graves. João Dornas Filho, sobre o suposto Olavo Bilac de Parnaso de Além-Túmulo, é taxativo: "Esse homem, que em vida nunca assinou um verso imperfeito, depois de morto teria ditado ao Sr. Xavier sonetos interinos abaixo de medíocres, cheios de versos mal medidos, mal rimados e, sobretudo, numa língua que Bilac absolutamente não escrevia!".(“Folha da Manhã”, São Paulo, 19-IV-1945).

Só faltou Dornas dizer que o suposto Olavo Bilac "pensava" como Chico Xavier. Já observamos poemas atribuídos ao espírito de Auta de Souza que não tinham o estilo gracioso da poetisa potiguar, e pareciam ter vindo da imaginação do próprio "médium".

Escândalos sérios foram causados por Chico Xavier, de propósito. Portanto, para desespero dos fanáticos seguidores do anti-médium mineiro, foi culpa do próprio Chico, sim. Ele é que quis investir nessa brincadeira, distorcendo os conceitos de vida espiritual, mediunidade e outros aspectos da Doutrina Espírita, entendendo mal e ensinando pior ainda.

Isso foi tão grave que gerou até um processo judicial. Mas, como o Brasil é conservador e seu sistema de valores envolve uma compreensão parcial (tanto em ignorância e tendenciosismo) das leis e uma certa complacência com beatos religiosos, Chico Xavier passou por cima de todo obstáculo, não por ser a expressão de "bondade suprema" (num país em que nem o Supremo Tribunal Federal nem está tão supremo assim), mas pelo famoso "jeitinho brasileiro" do qual foi hábil praticante.

Junte um caipira ultraconservador, que era beato católico dos mais ortodoxos e que decidiu fazer pastiches literários pegando os nomes dos mortos para fazer sensacionalismo e tirar boas vantagens nisso. Isso é o Chico Xavier que os questionamentos mais aprofundados e a lógica mais apurada identficam, num simples esforço de raciocínio.

É por isso que Chico Xavier e seus partidários sempre condenaram os "excessos do raciocínio". É porque eles têm medo de serem desmascarados, e por isso sempre usavam da falácia do Ad Passiones (apelo à emoção), carteirada moral feita para se protegerem, enquanto diziam que "pensar demais faz mal" para evitar que os questionamentos os desmascarassem.

Diante disso, chegamos a uma conclusão de que Chico Xavier não deveria ser conhecido como "o homem chamado Amor". Pelas obras irregulares que fez, não muito difíceis de serem desmascaradas, Chico Xavier deveria ser conhecido como "o homem chamado FALÁCIA".

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