sábado, 6 de fevereiro de 2016

O obscurantismo politicamente correto do "espiritismo" brasileiro

PRISIONEIROS NA IDADE MÉDIA - Eles também faziam "resgates espirituais"?

As pessoas no Brasil não percebem que as piores armadilhas no país, em todos os sentidos, estão camufladas nas melhores aparências. País inexperiente dentro da comunidade das nações - o "velho mundo", com seus grandes impasses, pelo menos é melhor preparado para enfrentá-los - , o Brasil ainda deslumbra com muitas coisas que os europeus já reconhecem como nefastas, nocivas.

Daí que poucos percebem o engodo que é o "espiritismo" brasileiro, que na prática se divorciou do legado intelectual de Allan Kardec e virou uma porcaria doutrinária que mistura igrejismo com pseudo-ciência.

As pessoas se iludem com essa doutrina porque se deixam seduzir pela imagem de bom-mocismo. Quem consegue resistir a imagens dóceis de crianças sorridentes, ilustrações cheias de coraçõezinhos, meninos negros tomando sopinha, idosos de braços abertos dando risadas, e tantas imagens bonitas da propaganda "espírita"?

Descontando aqueles que não se iludem com esse ideário adocicado, esse verniz de "amor e bondade" faz muitos brasileiros, alguns tidos como "sérios", se deslumbrarem com facilidade, e isso é perigoso se percebermos o que está por trás dessa "maravilhosa" doutrina brasileira.

Há muita mistificação, muita fraude, muita demagogia. As pessoas se iludem com todo o aparato de "bondade" e até agora não há processos judiciais, reportagens investigativas, teses acadêmicas ou documentários que pudessem pôr em xeque os espertos figurões do "espiritismo" brasileiro, que capricharam no seu aparato de "humildade" e "generosidade".

É estarrecedor que a Justiça dos homens não tenha desmascarado uma figura irregular como Francisco Cândido Xavier. O mito de Chico Xavier provocou várias confusões e escândalos, a partir de seus plágios e pastiches literários, e até agora, mesmo anos depois de morto, ele não só ficou impune como tornou-se um dos maiores ídolos religiosos de todo o Brasil.

Pior é que esse estereótipo de "amor e bondade" associado a Chico Xavier foi uma campanha produzida pela grande mídia, que manipula corações e mentes de uma forma tão engenhosa que as pessoas ignoram que muitos de seus hábitos foram adquiridos através de decisões de uma minoria de executivos de mídia, isolados nos seus escritórios.

Além disso, é bom desconfiar de tanta campanha de bom-mocismo. O exemplo de Luciano Huck - que as pessoas "teleguiadas" pela grande mídia ignoram ser o mentor da gíria "balada", colóquio sem pé nem cabeça empurrado para o imaginário juvenil - , diz muito.

Dublê de filantropo em seu programa de TV, Luciano é no entanto envolvido em incidentes como investir em grandes reformas na sua casa sem alvará e degradando o meio-ambiente, e alusões a racismo e pedofilia em mensagens impressas em sua grife de camisetas.

Chico Xavier cometeu erros gravíssimos quando se tornou o "ícone do espiritismo" e coisas traiçoeiras são observadas até em atividades consideradas "de extrema bondade" como as cartas "mediúnicas", que se tornam perniciosas por dois aspectos.

Um é o fato de que as cartas dos "entes falecidos", por apresentarem sempre o mesmo estilo de mensagem do "médium" e sua caligrafia pessoal, indicam prática fraudulenta, uma vez que os aspectos pessoais dos falecidos nunca apareciam naturalmente, havendo denúncias de que eles teriam sido forjados através da "leitura fria", recurso discursivo no qual assistentes do "médium" colhiam informações sutis de parentes de mortos através de vários tipos de conversas informais.

Outro é o fato de que, expondo as tragédias pessoais através do fenômeno sensacionalista da "mediunidade" como é conhecida no Brasil, a partir do exemplo de Chico Xavier se criou uma publicidade maliciosa que prolonga sem necessidade, nas famílias, as tragédias pessoais, que poderiam ter sido superadas no sossego da privacidade, mas perduram até meses e anos pela exploração que o "bondoso médium" faz das mesmas.

Neste segundo aspecto, nota-se a crueldade: o "médium" alimenta seu prestígio pessoal ostentando as tragédias familiares, que, de cobertura em cobertura, por parte da imprensa sensacionalista, se perduram, criando uma pressão da sociedade sobre as famílias que já não vivem mais de forma sossegada de tranquila diante de tamanha publicidade.

Combinando os dois aspectos, fraude e ostentação, a coisa piora mais e mais, pois cria uma ilusão de que os mortos estão bem, através de mensagens tidas como "suas". Só que é o mesmo recurso dos trotes criminosos, em que o estelionatário imita a voz de um suposto parente e, através da "leitura fria" (sim, os golpes telefônicos também usam esse recurso), implora para a vítima sacar uma grande soma de dinheiro para dar, de alguma forma, para o criminoso.

Mesmo que os falecidos estejam realmente bem, não são eles que transmitem isso, mas um terceiro que se diz "médium" que cria suas próprias mensagens, atribui a autoria aos mortos e tempera as mensagens com apelos "fraternais" só para convencer as pessoas, que acham que o aparato de "bondade" vale por si só, e que, como bondade rima com verdade, a verdade não é necessária, porque muitos acreditam que a verdade está na bondade em si, o que é um equívoco.

Se passar por outros, mesmo que seja para transmitir "bondade" e "fraternidade", é sempre uma desonestidade, e, sendo uma desonestidade, é um ato cruel, porque é uma pessoa se passando por outras, que ilude famílias, alimenta falsas esperanças e ainda se promove às custas da tristeza alheia, se passando por um pretenso consolador e falso confortador de almas.

O "espiritismo" consiste numa forma politicamente correta do obscurantismo medieval da Igreja Católica do Império Romano, sobretudo de sua divisão oriental, que se tornou depois o Império Bizantino. As raízes medievais do "espiritismo" brasileiro são historicamente confirmadas através das próprias raízes da religiosidade brasileira.

O Brasil foi o reduto do catecismo jesuíta, expressão bastante conservadora do Catolicismo português, de perfil claramente medieval, tanto que existem registros de condenações inquisitórias ainda no século XVIII e o seu moralismo ainda era vigente nos tempos do Segundo Império ou mesmo nos primeiros tempos da República Velha.

Uma combinação é feita entre a mentalidade medieval do Catolicismo português herdada pelo "movimento espírita", fundado por dissidentes católicos, e aspectos politicamente corretos típicos do Brasil: o "jeitinho brasileiro", prática de obter vantagens sem esforço e de forma desonesta e pedante, a "memória curta", feita para esquecer erros de alguns privilegiados de ocasião, etc.

Com o tempo, o "espiritismo" se desenhou com muita demagogia e mentiras. Se autoproclamava "doutrina do conhecimento", mas privilegiava a mistificação e o moralismo. Dizia valorizar a Ciência, mas tira de escanteio cientistas sérios como Percival Lowell e Franz Anton Mesmer. Comete fraudes, mas tenta botar tudo debaixo do tapete sob o rótulo tendencioso de "religião da bondade".

É claro que a opinião pública ainda não pôde verificar o perigo que é o "espiritismo" brasileiro, esse roustanguismo não-assumido que faz falsas juras de amor a Allan Kardec e finge "respeitar fiel e rigorosamente seu pensamento", como os velhos católicos medievais que fingiam seguir "rigorosamente" o chamado Cristianismo primitivo, doutrina criada pelos herdeiros e seguidores de Jesus de Nazaré para perpetuar sua missão ativista.

Afinal, o "espiritismo" se tornou a mais bem-sucedida armação, apoiada por cenários políticos retrógrados e pela grande mídia reacionária, mas de uma forma tão sutil que as pessoas aceitaram como se fossem "naturais", como tudo que é decidido por autoridades e executivos dotados de prestígio e que se autodefinem como "a sociedade" e "a democracia".

Cria-se todo um aparato de "amor e bondade" para esconder fraudes e ideias anti-doutrinárias. O pensamento de Allan Kardec é traído o tempo todo, e seus traidores, no entanto, estufam o peito e insistem em dizer que "são fiéis" ao professor lionês, vão a Paris como muitos burgueses fúteis viajam hoje para fazer selfies e mostrar tudo nas mídias sociais, e com a mesma vaidade viscosa, acham que "estão em casa" com suas bajulações baratas ao pedagogo francês.

As ideias contradizem Kardec? Há irregularidades na prática tida como mediúnica? O "palestrante espírita" Então entra o "jeitinho brasileiro" e os "espíritas" que poderiam ser denunciados por suas irregularidades passam a ser adorados porque são "bondosos", bastando escrever mensagens "positivas", ilustradas com coraçõezinhos e crianças sorridentes, e aparecer ao lado de miseráveis tomando sopinha.

Isso não resolve as coisas e cria apenas uma "paz forçada" que agrada os "espíritas" e os permite se manterem nessa mesma postura contraditória de mistificações, moralismos e fraudes enquanto juram "fidelidade absoluta" a Allan Kardec. E o Brasil se atola na lama, acreditando que "sofrer em silêncio" irá fazer o país crescer. Quanta ingenuidade.

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