sábado, 31 de dezembro de 2016
2017 será trágico para a plutocracia?
2016 foi um ano de muitos e terríveis retrocessos. No Brasil, se ascendeu ao poder um presidente sem representatividade popular, que implantou um projeto político que exige sacrifícios descomunais aos mais pobres, ameaçando direitos e conquistas consolidados pelas leis, principalmente a Constituição Federal de 1988. Só isso define o quanto o ano que passou foi bastante dramático para as pessoas.
Apesar disso, a chamada "boa sociedade", que inclui as elites abastadas e setores arrivistas da classe média, mesmo a mais baixa, parece viver no paraíso. Mesmo no Estado do Rio de Janeiro, palco de profundos e vertiginosos retrocessos sociais nos últimos oito anos, as pessoas teimam em achar que o Estado em que vivem sempre está vivendo momentos áureos, de um apogeu interminável.
Para os fluminenses, a ideia é sempre ver seu Estado e sua famosa capital serem vistos como "modelos a serem seguidos". O Rio de Janeiro, a "eterna Cidade Maravilhosa", uma "cidade-modelo" para o país, a ponto de, se lançar o cuspe à distância como "esporte olímpico", o resto do país terá que aderir.
A terrível pintura padronizada nos ônibus cariocas, que confunde os passageiros e favorece a corrupção político-empresarial, já que diferentes empresas de ônibus soam iguaizinhas sob uma mesma "pintura de consórcio", foi o exemplo nefasto do que é impor modismos.
Essa medida simboliza um decadente modelo de sistema de ônibus que já não faz sentido sequer em Curitiba, São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte e é empurrado goela abaixo para cidades como Florianópolis e Recife, que já vê o sucateamento do sistema representado pelos ônibus visualmente iguaizinhos.
Mas isso é só um detalhe, mas um dos mais importantes. Afinal, você se desloca, da casa para outro lugar, pegando um ônibus que você nem sabe a empresa operadora, que pode mudar à sua revelia, diante de um sistema sem a menor transparência no qual você nem sabe se voltará vivo para casa, e todos esses malefícios são defendidos por tecnocratas que muitos acreditam serem "tarimbados" e "saber tudo" sobre mobilidade urbana, apesar de nunca terem usado um ônibus na vida.
Os retrocessos ocorrem como uma avalanche caindo do alto de uma colina coberta pelo gelo. O declínio descontrolado da vida humana é defendido por senadores com apetite elitista insaciável, pela ganância sem limites dos mais ricos - inclusive os magnatas do mercado financeiro, a parte mais rica, arrivista, corrupta e impiedosa do empresariado - , pela persuasão obsessiva da mídia e pela ação vingativa e chantagista dos reacionários juvenis das redes sociais.
Com isso, é assustador ver o "espiritismo" brasileiro, uma religião tida como "espiritualista", em tese voltada à superação do materialismo, estar se comportando de maneira favorável às elites dominantes, com seus palestrantes apelando para os sofredores "aceitarem o sofrimento sem queixumes" e "perdoar os algozes pelos abusos e crimes cometidos".
Essa "moral espírita", que parece fazer apologia às injustiças sociais, só recorrendo à filantropia para evitar efeitos extremos - daí a "caridade paliativa" que só intervém, de maneira parcial, na pobreza extrema, mais para expor o filantropo aos aplausos das massas do que para realizar alguma ajuda definitiva (que não é o caso dessa "caridade"), mostrou a que veio com o caso da pediatra de Rondonópolis, que fez um juízo de valor acusando uma vítima de estupro de ser "culpada".
O "espiritismo" demonstra ser a religião das elites. A religião é um subproduto do conjunto da hipocrisia humana típico do Brasil. Se diz "espiritualista", mas não aceita que o espírito possa intervir na vida material, obrigando-o a "aceitar desgraças". Ou seja, prefere que as pessoas sejam escravas da matéria, sejam os privilegiados que a usufruem e manipulam para seus caprichos, sejam os sofredores que têm que aceitar infortúnios de difícil superação.
É, portanto, uma religião retrógrada, que se revela não uma adaptação brasileira do legado de Allan Kardec, mas uma forma repaginada do antigo Catolicismo medieval português, trazido ao Brasil pelos jesuítas, mostrando um cacoete muito comum nas elites brasileiras, que é sempre de pegar uma novidade e deturpá-la ao sabor das velhas correntes que nunca são superadas.
O resultado dessa hipocrisia de adaptar o "novo" ao sabor do "velho" se vê hoje na política brasileira, com o governo de Michel Temer lançar um projeto político que retoma a velha desigualdade social anterior à Era Vargas. com a precarização do mercado de trabalho, adiamento da aposentadoria para o fim da vida, a entrega das riquezas brasileiras a empresas estrangeiras e um sistema educacional hierarquizado nos moldes da Idade Média.
Junta-se a isso uma elite que agora não tem medo de expor seus preconceitos sociais, a ponto de nomes antes respeitáveis como o diretor de teatro Cláudio Botelho e o publicitário baiano Nizan Guanaes mostrarem posturas cruelmente elitistas. E isso diante de um Legislativo que vira as costas para o povo e um Judiciário que parece promover a Justiça do próprio umbigo.
As elites dominantes foram tomadas de um surto psicótico tão grande que é preciso se preocupar. Mas as pessoas não se preocupam e saem de casa felizes como se estivessem passeando em algum bosque do paraíso. O mundo está tenso e o Brasil mais ainda, e não há como relativizar com um suposto otimismo como os demagogos da religião tentam inserir diante de dificuldades intransponíveis que podem causar sérios prejuízos.
Mas o problema é que o topo da pirâmide, por sua sede desenfreada e sem controle pela retomada e ampliação de privilégios, é o que pode sofrer os efeitos da ganância extrema em 2017. Muitos especialistas de diversos setores (como leis, geopolítica, imprensa etc), afirmam que o presente ano será muito trágico, pelas complicações sociais a serem causadas por esse elitismo voraz.
Isso porque a sede sem controle por privilégios e luxo, combinada com um complexo de superioridade, pela supremacia do status quo exercida até nas camadas médias da sociedade - que endeusam os detentores de diplomas, fama, dinheiro, visibilidade e prestígioreligioso, entre outras "vantagens" sociais - , pode também trazer efeitos nefastos para a própria plutocracia.
A retomada voraz de privilégios acontece de forma proposital, e num contexto em que se tem consciência da necessidade da justiça social e dos compromissos de atender às necessidades gerais das classes populares. A ruptura forçada dessa necessidade e o fim do protagonismo das classes trabalhadoras no Brasil pode representar também um derramamento de sangue nas mansões, nos condomínios de luxo, nas boates chiques e até nos escritórios mais isolados.
Exagero? Não. Isso é apenas um dos aspectos das convulsões sociais que ocorrerão em 2017. O Brasil será um palco sangrento de reações de pessoas que não aceitarão tantas perdas, pois não é apenas a perda do protagonismo social, com o comando político agora entregue a pessoas sem representatividade popular, que está em jogo. Está em jogo, também, a perda de privilégios e conquistas históricas, forçando o empobrecimento ainda mais cruel da população.
As elites fizeram campanha para que o governo retrógrado de Michel Temer chegasse ao poder, impondo uma agenda política que matará o povo aos poucos, forçando o aumento da carga horária do trabalho, a redução de salários, o fim de garantias sociais, o adiamento da aposentadoria, a sobrecarga de funções, aliado ainda ao corte de investimentos em hospitais públicos, o que fará muitos brasileiros morrerem pelo desgaste profissional, pelos acidentes de trabalho e na fila dos hospitais.
Será castigo demais para as classes populares, muito mal disfarçado por um discurso oficial, difundido pela grande mídia comercial - como a Rede Globo, cujos donos vivem num enriquecimento faraônico de arrancar os cabelos de qualquer um - , de que "tais sacrifícios" serão necessários para o "crescimento social e econômico" do Brasil.
Grande ilusão. Se hoje as elites não conseguem conter seus próprios escândalos - como os "responsáveis" aliados de Michel Temer envolvidos até o pescoço nos escândalos de corrupção mais diversos - , imagine o descontrole que terão com as reações da sociedade? Assaltos ocorrendo à luz do dia em ruas movimentadas, escândalos e tragédias abalando os privilegiados de forma dramática e, não raro, traumática.
Há abusos de todo tipo, com o Judiciário e o Ministério Público agindo ao arrepio da lei, elites expondo preconceitos antissociais, internautas mostrando seu reacionarismo e seu linchamento moral sem controle, a grande mídia veiculando mentiras cabeludas nos seus noticiários, enquanto religiões apostam numa pregação moralista severa e cruel contra quem não detém os privilégios da Terra.
Não adiantarão o paternalismo dos jantares de gala beneficientes, aumento da segurança policial, ensino de "inteligência emocional" nas escolas depois da reforma do ensino médio, ou o desesperado apelo de religiosos - como os "espíritas" - para se aceitar o sofrimento e perdoar os abusos dos algozes.
O preço caríssimo de uma parcela da sociedade em querer ter demais e muito mais fará do Brasil um país totalmente vulnerável, podendo fazer de 2017 um ano muito trágico para a própria plutocracia
quinta-feira, 29 de dezembro de 2016
Vitimismo e triunfalismo: os gravíssimos defeitos do "movimento espírita"
CHICO XAVIER ERA HÁBIL NO VITIMISMO.
A complacência ao erro, embora combatida pelos "espíritas" no discurso, é sempre defendida na prática ou mesmo em posturas sutis que, como pegadinha, contagiam, às vezes, alguns questionadores pouco vigilantes da deturpação espírita, que ainda se arrepiam quando os questionamentos contra Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco vão além das críticas corretas, mas simplórias, de que "eles entenderam mal a doutrina kardeciana".
O "movimento espírita" vive seu rol de dissimulações. É a única religião que pratica desonestidade doutrinária, pois seu conteúdo rompeu frontalmente com o legado do seu alegado precursor, Allan Kardec, que nos primórdios da FEB foi relegado a segundo plano, diante da preferência de Jean-Baptiste Roustaing, que inspirou os postulados do "espiritismo" brasileiro.
O "espiritismo" pode ter uma quantidade ínfima de seguidores, identificados estatisticamente como apenas 2 % da população brasileira. No entanto, é a religião mais beneficiada pela blindagem da mídia e da Justiça, a ponto de suas irregularidades nem de longe sofrerem risco de serem investigadas com seriedade e condenadas pela força da Lei.
É estarrecedor que o "espiritismo" seja a doutrina em que a falsidade ideológica é não só permitida como socialmente estimulada. Usa-se o pretexto da "bondade" e da "caridade" para veiculação de mensagens atribuídas a pessoas mortas, que no entanto escapam de suas caraterísticas pessoais não por não apresentar semelhanças, mas por apresentar diferenças que derrubam qualquer verossimilhança.
As críticas aos deslizes do "movimento espírita" foram intensas desde quando o mito de Chico Xavier foi trabalhado engenhosamente pelo mercenário presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, que com o "médium" mineiro teria co-escrito vários livros "psicografados", principalmente sob a falsa assinatura de Humberto de Campos e a consultoria de especialistas literários.
Esperto, Chico Xavier, que se valia pela aparência de caipira franzino, mais tarde acrescida pela de um velhinho doente e frágil, lançou até mesmo os truques de persuasão da opinião pública que se valiam de duas táticas bastante eficazes, o vitimismo e triunfalismo.
Chico Xavier foi um grande artífice do ilusionismo. Como todo interiorano, gostava de circo e de espetáculos de mágica. Participava de sessões de "materialização" claramente inspiradas no ilusionismo circense. Era adepto da "leitura fria", método de entrevista no qual o entrevistador envolve emocionalmente o entrevistado para colher gestos e informações sutis durante um diálogo.
Se Chico Xavier teve uma habilidade, ela nunca teria sido a de filósofo, cientista, psicólogo, consultor moral ou filantropo, mas de um manipulador da linguagem. Era um artífice em explorar truques nas mentes das pessoas e, quando era severamente criticado, lançava mão de vitimismo e triunfalismo, criando uma "escola" coitadista que protege o "movimento espírita" e seus astros.
No vitimismo, há a pose de "vítima", que faz com que a pessoa que sofre críticas pesadas não reaja com energia. Há a falsa modéstia e a falsa resignação, uma pretensa pose de tristeza profunda, de falsa conformação com a derrota e uma fingida rendição aos contestadores.
No triunfalismo, há a pretensa noção de que será vitorioso com as derrotas. É um sentimento falsamente masoquista, de aceitar que derrotas sucessivas o abatam e achar que vencerá tudo em breve. Como adepto da Teologia do Sofrimento, Chico Xavier manipulava seus preceitos também em causa própria, até para enganar as pessoas sobre como "se dar bem diante da desgraça extrema".
Essas duas táticas de convencimento das pessoas, o vitimismo e o triunfalismo, são usados tendenciosamente para sugerir humildade e perseverança, mas na verdade são demonstrações de pura arrogância e hipocrisia.
O vitimismo tenta tirar vantagem com a pose de "vítima". O triunfalismo, pela suposta crença de que se pode "vencer tudo nas piores derrotas". Isso é uma forma de proteger ídolos religiosos que cometem irregularidades muito graves, e Chico Xavier cometeu não só a deturpação da Doutrina Espírita, gravíssima em si, mas também fraudes e pastiches literários grotescos e preocupantes.
Vitimismo e triunfalismo servem para dar uma carteirada moral nas pessoas, e isso mostra o quanto a desonestidade doutrinária do "movimento espírita" vai longe com seus erros e irregularidades diversos. A gravidade disso é usar a "bondade" e a "caridade" como se fossem cúmplices da fraude e da mistificação, permitindo que o prestígio religioso sirva de escudo para os mais aberrantes erros, como se fosse possível os "espíritas" fazerem o que quiserem e saírem imunes com isso.
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
"Espiritismo" brasileiro teria antecipado a pós-verdade?
DIVALDO FRANCO E CHICO XAVIER - Pioneiros da pós-verdade?
A pós-verdade é um fenômeno preocupante no século XXI e se tornou um efeito inesperado e negativo das mídias sociais na Internet. Quando se imaginava que a chamada interatividade e a libre transmissão de informações nas redes sociais provocariam a chamada revolução social, eis que movimentos retrógrados surgiram, cresceram e trouxeram a retomada ultraconservadora à humanidade.
O cyberbullying nas redes sociais, ainda nos tempos do Orkut, deram a senha do surto ultraconservador que levou países progressistas a novos golpes - sem o uso das Forças Armadas, mas tomado de fachada jurídico-institucional e apoiada pelas corporações midiáticas - e hoje permitem a livre transmissão de pontos de vista fascistas, além de preconceitos sociais racistas, machistas e homofóbicos, e mesmo elitistas.
O século XXI era anunciado em antigas ficções científicas como épocas futuristas de profundos avanços científicos e culturais, apesar de determinadas obras já alertarem sobre seus cenários obscutos e desoladores de poder e decadência social. Mesmo assim, não havia uma perspectiva que uma retomada ultraconservadora, com um apetite similar a dos movimentos nazi-fascistas do século XX, e surpreendentemente defendida por pessoas de aparente superioridade social.
De maneira imprevista, vemos, no Brasil, uma parcela da classe política, do empresariado, do meio jurídico e das cúpulas que controlam os meios de Comunicação investindo em projetos elitistas, derrubando a ilusão de que tais pessoas seriam solidárias aos interesses populares e às necessidades de qualidade de vida das classes médias, a princípio ainda esperançosas com o paternalismo destes setores sociais.
A sociedade está transtornada. De repente as elites passaram a adotar posicionamentos mais egoístas e agir sem controle para a garantia absoluta de seus interesses. Passam a expor preconceitos sociais mais abertamente e a manipular leis e argumentos como se fossem uma massa de modelar, ao bel prazer e sempre visando a proteção e a legitimação de seus interesses pessoais ou de classe.
Depois de uma desvairada campanha pela derrubada do governo Dilma Rousseff, feita por aloprados manifestantes vestidos de camisas da CBF, que se revelou depois serem patrocinados, com generosas somas financeiras, por partidos políticos - logo eles que se diziam "apartidários" - , observa-se o esforço da chamada plutocracia (o conjunto de detentores de poder e privilégios) em se manter no comando às custas de muito falatório e atitudes tendenciosas.
MALABARISMO DISCURSIVO
Daí o fenômeno da "pós-verdade". É a prevalência de uma construção discursiva capaz de transformar mentiras escancaradas em verdades indiscutíveis. As acrobacias das palavras permitem que falsas ideias sejam legitimadas como "verdadeiras" e sua difusão, dependendo até do status do emissor, garante a fabricação de consenso que pode durar anos e ser dificilmente combatido.
É o que se vê quando políticos e tecnocratas impõem medidas antipopulares e criam um repertório discursivo para tentar convencer que medidas que, no fundo, se revelam maléficas e nocivas, são "benéficas" para a população. Chegam mesmo a admitir desvantagens e danos, mas buscam argumentar que eles "são transtornos necessários que gerarão benefícios futuros para os cidadãos".
Com um malabarismo discursivo, inventam benefícios futuros que não existem. Minimizam os prejuízos dizendo que são "males necessários". Justificam danos como se fossem "esperados" ou "inesperados" conforme as circunstâncias, e juram que "estudarão para resolvê-los". As pessoas são enganadas por essa verborragia tecnicista mesclada com juridiquês que sempre empurra o pior como se fosse grande coisa.
Esse malabarismo discursivo toma as pessoas de surpresa, iludidas e desarmadas através da desinformação, que é a anfitriã do espetáculo da pós-verdade. Diante de muitos malefícios, a pós-verdade cria um espetáculo de palavras articuladas que forçam a aceitação resignada das pessoas mediante transtornos presentes e promessas de benefícios futuros que, em verdade, não existem.
As pessoas são induzidas a aceitar algo que não oferece muitas vantagens. Cria-se um discurso da conformação e do sacrifício. Aceita-se esse discurso porque ele parte de gente considerada "gabaritada", "prestigiada" e "competente". Só para impor a nociva pintura padronizada nos ônibus (que confunde os passageiros e facilita a corrupção político-empresarial) em várias cidades do país só se consolidou porque seu idealizador, Jaime Lerner, é visto como um semi-deus em seu meio.
ILUSÃO DO STATUS QUO
A pós-verdade tem seus "cães de guarda" que são os chamados "midiotas", os "idiotas da aldeia global", só para citar, ao mesmo tempo, Umberto Eco e Marshall McLuhan, que em muitos momentos são capazes de estabelecer o terror digital para defender pontos de vista "estabelecidos" pelo poder de diversos aspectos, através do cyberbullying.
O status quo de muitos dos chamados "fascistas mirins" - parcela dos "midiotas" que adota atitudes agressivas de ofender os discordantes - faz com que ataques de difamação sejam feitos em grupos, incluindo pessoas que nem parecem ofensivas, mas são levadas na carona do valentão da ocasião, iludidas com seu comportamento "divertido" e "animado".
Os "fascistas mirins" ou "valentões digitais" (cyberbullies) geralmente comandam esses ataques e, não satisfeitos com isso, ainda apelam para criar sites difamatórios nos quais não medem escrúpulos para parodiar, para fins de dano moral, suas vítimas a partir da usurpação, pela reprodução indevida, do acervo pessoal de seus prejudicados.
Mesmo nesses contextos grotescos, a sociedade sofre a pegadinha do status quo. É como no bullying da escola, em que alunos não necessariamente praticantes de humilhação ficam solidários ao valentão porque ele parece bem sucedido, atraente, se não pela beleza, mas pelo jeito "divertido" e por alguma projeção social. É a partir dessas situações que as pessoas começam a se iludir com as tentações do status quo, levando gato por lebre pela aparente superioridade social.
PRESTÍGIO RELIGIOSO
Daí que a pós-verdade se torna um perigo. É a proteção, através de um discurso bem construído, dos detentores do poder, que sempre arrumam uma desculpa para levar vantagem em cima dos prejuízos alheios, dando a impressão de que é possível o pessoal do lado de baixo da pirâmide aguentar todo tipo de retrocesso ou dano, enquanto os que estão no lado de cima podem cometer abusos e atrocidades e saírem não só imunes e impunes, mas também queridos por muitas pessoas.
As pessoas estão vulneráveis às ilusões do status quo, confiando em indivíduos por causa do diploma, da fama, do poder jurídico, político, econômico e administrativo, que acabam aceitando a supremacia de pessoas que se aproveitam de tais privilégios e atribuições para cometer abusos de toda ordem, provocar prejuízos a milhões de pessoas e ainda assim gozar de todo tipo de impunidade, empurrando com a barriga as ameaças e riscos que sofrem com tais atitudes.
No âmbito religioso, isso não é diferente. O arrivismo um tanto pernicioso de personalidades, que é muito mais perigoso e leviano do que se imagina, é facilmente aceito pelo simulacro de "caridade" que faz mais propaganda ao "benfeitor" do que traz benefícios profundos. Qualquer crítica pode ser rebatida mostrando velhinhos doentes deitados num quarto e crianças pobres tomando sopa.
As pessoas não imaginam que isso não é bondade plena. É apenas um marketing da caridade, uma ostentação de ações paternalistas que garantem o endeusamento fácil de ídolos religiosos que, em verdade, não ajudam muito. Essa "caridade" que derrama, sem muita necessidade, lágrimas de comoção, é apenas um marketing que promove ações que, no fundo, são muitíssimo medíocres e sem efeitos transformadores profundos.
E isso se agrava quando a religião é a "espírita", que já nasceu fundamentada pela deturpação, com sementes roustanguistas que criaram raízes e que, por isso, transformaram o "espiritismo" brasileiro num movimento religioso em decadência irrecuperável, pelo menos nos padrões em que ele é feito.
Temos um círculo vicioso no qual os maiores deturpadores, Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, gozam (no caso do primeiro, postumamente) de um prestígio religioso que os faz serem beneficiados até pela vã ilusão de que se pode recuperar as bases kardecianas originais mantendo os dois "médiuns" no pedestal, nem que seja para enfeite.
Esse círculo vicioso se dá porque muitos acreditam que eles, gozando de uma roupagem religiosa "impecável", podem ser facilmente reabilitados mesmo sob pesadas acusações de deturpação grave. por causa das desculpas de que eles "sempre foram bondosos" e "ajudaram muita gente". Daí que até uma parcela de kardecianos autênticos é tentada, como que rendida por um canto de sereia, a aceitar Chico Xavier e Divaldo Franco, apenas por causa da "bondade".
Só que é uma "bondade" que não vai além do mundo de sonho e de fantasia. Na realidade, ela é fraca, insossa, inexpressiva e traz poucos efeitos sociais. O número de "beneficiados" parece grande, mas diante da dimensão de trilhões de pessoas, é pouco. Além disso, o caráter do benefício é duvidoso, por diversos aspectos.
Primeiro, porque o "benefício" tem o preço caro do proselitismo religioso. A Mansão do Caminho tem projeto pedagógico - não muito diferente do proposto pela Escola Sem Partido - que ensina a ler, escrever e aprender um ofício, mas os alunos são "convidados" (nunca de modo explícito, mas sutilmente persuasivo) a acreditar em bobagens como "crianças-índigos", tão ridícula que causou até divórcio do casal que criou o mito, devido a discussões sobre repartir o lucro de livros e palestras.
Segundo, porque é uma "caridade" espetacularizada, que causa muito encanto e comoção, mas que em nada ajuda de profundo e definitivo. As ações "filantrópicas" mostram sempre os mesmos pobres carentes a receber donativos, o que mostra que isso nada adiantou, não trouxe transformação alguma para a humanidade.
Mas o discurso da pós-verdade tenta fortalecer mitos. A blindagem de Chico Xavier e Divaldo Franco por seus seguidores é imensa, atingindo dimensões preocupantes. Eles mesmos trouxeram visões mistificadoras que contrariam o pensamento de Kardec, mas mesmo assim o discurso da pós-verdade os coloca como "discípulos" do pedagogo francês, a ponto de serem virtualmente poupados diante do esforço de recuperar as bases doutrinárias originais.
Ideias como "crianças-índigos" e "colônias espirituais" foram concebidas sem fundamento lógico, apenas movido por paixões religiosas de toda espécie. Ideias moralistas de nível conservador foram difundidas nos livros, palestras e depoimentos de Chico e Divaldo, se multiplicando como toda pós-verdade, que nasce como uma mentira multiplicada e difundida por gente influente.
Daí que eles podem, sim, terem antecipado a pós-verdade, na qual ideias mistificadoras e desprovidas de lógica ganharam terreno visando o prestígio religioso dos dois "médiuns" somado à mania dos brasileiros em dar superioridade a pessoas com status quo elevado, condicionado por atribuições obtidas materialmente pelas conveniências e pela troca de favores, mesmo diante de critérios técnicos e éticos relativamente respeitados.
Espera-se das pessoas, diante dos retrocessos inúmeros que a pós-verdade e a ilusão do status quo trouxeram para a humanidade, que comecem a fazer questionamentos profundos e abrir mão de antigas paixões. Em certos momentos, é preciso abandonar os "heróis" do imaginário coletivo para que as pessoas se salvem, se desapegando de ilusões que lhes parecem tão caras e preciosas, mas que são armadilhas que podem levar à ruína e à decepção.
A pós-verdade é um fenômeno preocupante no século XXI e se tornou um efeito inesperado e negativo das mídias sociais na Internet. Quando se imaginava que a chamada interatividade e a libre transmissão de informações nas redes sociais provocariam a chamada revolução social, eis que movimentos retrógrados surgiram, cresceram e trouxeram a retomada ultraconservadora à humanidade.
O cyberbullying nas redes sociais, ainda nos tempos do Orkut, deram a senha do surto ultraconservador que levou países progressistas a novos golpes - sem o uso das Forças Armadas, mas tomado de fachada jurídico-institucional e apoiada pelas corporações midiáticas - e hoje permitem a livre transmissão de pontos de vista fascistas, além de preconceitos sociais racistas, machistas e homofóbicos, e mesmo elitistas.
O século XXI era anunciado em antigas ficções científicas como épocas futuristas de profundos avanços científicos e culturais, apesar de determinadas obras já alertarem sobre seus cenários obscutos e desoladores de poder e decadência social. Mesmo assim, não havia uma perspectiva que uma retomada ultraconservadora, com um apetite similar a dos movimentos nazi-fascistas do século XX, e surpreendentemente defendida por pessoas de aparente superioridade social.
De maneira imprevista, vemos, no Brasil, uma parcela da classe política, do empresariado, do meio jurídico e das cúpulas que controlam os meios de Comunicação investindo em projetos elitistas, derrubando a ilusão de que tais pessoas seriam solidárias aos interesses populares e às necessidades de qualidade de vida das classes médias, a princípio ainda esperançosas com o paternalismo destes setores sociais.
A sociedade está transtornada. De repente as elites passaram a adotar posicionamentos mais egoístas e agir sem controle para a garantia absoluta de seus interesses. Passam a expor preconceitos sociais mais abertamente e a manipular leis e argumentos como se fossem uma massa de modelar, ao bel prazer e sempre visando a proteção e a legitimação de seus interesses pessoais ou de classe.
Depois de uma desvairada campanha pela derrubada do governo Dilma Rousseff, feita por aloprados manifestantes vestidos de camisas da CBF, que se revelou depois serem patrocinados, com generosas somas financeiras, por partidos políticos - logo eles que se diziam "apartidários" - , observa-se o esforço da chamada plutocracia (o conjunto de detentores de poder e privilégios) em se manter no comando às custas de muito falatório e atitudes tendenciosas.
MALABARISMO DISCURSIVO
Daí o fenômeno da "pós-verdade". É a prevalência de uma construção discursiva capaz de transformar mentiras escancaradas em verdades indiscutíveis. As acrobacias das palavras permitem que falsas ideias sejam legitimadas como "verdadeiras" e sua difusão, dependendo até do status do emissor, garante a fabricação de consenso que pode durar anos e ser dificilmente combatido.
É o que se vê quando políticos e tecnocratas impõem medidas antipopulares e criam um repertório discursivo para tentar convencer que medidas que, no fundo, se revelam maléficas e nocivas, são "benéficas" para a população. Chegam mesmo a admitir desvantagens e danos, mas buscam argumentar que eles "são transtornos necessários que gerarão benefícios futuros para os cidadãos".
Com um malabarismo discursivo, inventam benefícios futuros que não existem. Minimizam os prejuízos dizendo que são "males necessários". Justificam danos como se fossem "esperados" ou "inesperados" conforme as circunstâncias, e juram que "estudarão para resolvê-los". As pessoas são enganadas por essa verborragia tecnicista mesclada com juridiquês que sempre empurra o pior como se fosse grande coisa.
Esse malabarismo discursivo toma as pessoas de surpresa, iludidas e desarmadas através da desinformação, que é a anfitriã do espetáculo da pós-verdade. Diante de muitos malefícios, a pós-verdade cria um espetáculo de palavras articuladas que forçam a aceitação resignada das pessoas mediante transtornos presentes e promessas de benefícios futuros que, em verdade, não existem.
As pessoas são induzidas a aceitar algo que não oferece muitas vantagens. Cria-se um discurso da conformação e do sacrifício. Aceita-se esse discurso porque ele parte de gente considerada "gabaritada", "prestigiada" e "competente". Só para impor a nociva pintura padronizada nos ônibus (que confunde os passageiros e facilita a corrupção político-empresarial) em várias cidades do país só se consolidou porque seu idealizador, Jaime Lerner, é visto como um semi-deus em seu meio.
ILUSÃO DO STATUS QUO
A pós-verdade tem seus "cães de guarda" que são os chamados "midiotas", os "idiotas da aldeia global", só para citar, ao mesmo tempo, Umberto Eco e Marshall McLuhan, que em muitos momentos são capazes de estabelecer o terror digital para defender pontos de vista "estabelecidos" pelo poder de diversos aspectos, através do cyberbullying.
O status quo de muitos dos chamados "fascistas mirins" - parcela dos "midiotas" que adota atitudes agressivas de ofender os discordantes - faz com que ataques de difamação sejam feitos em grupos, incluindo pessoas que nem parecem ofensivas, mas são levadas na carona do valentão da ocasião, iludidas com seu comportamento "divertido" e "animado".
Os "fascistas mirins" ou "valentões digitais" (cyberbullies) geralmente comandam esses ataques e, não satisfeitos com isso, ainda apelam para criar sites difamatórios nos quais não medem escrúpulos para parodiar, para fins de dano moral, suas vítimas a partir da usurpação, pela reprodução indevida, do acervo pessoal de seus prejudicados.
Mesmo nesses contextos grotescos, a sociedade sofre a pegadinha do status quo. É como no bullying da escola, em que alunos não necessariamente praticantes de humilhação ficam solidários ao valentão porque ele parece bem sucedido, atraente, se não pela beleza, mas pelo jeito "divertido" e por alguma projeção social. É a partir dessas situações que as pessoas começam a se iludir com as tentações do status quo, levando gato por lebre pela aparente superioridade social.
PRESTÍGIO RELIGIOSO
Daí que a pós-verdade se torna um perigo. É a proteção, através de um discurso bem construído, dos detentores do poder, que sempre arrumam uma desculpa para levar vantagem em cima dos prejuízos alheios, dando a impressão de que é possível o pessoal do lado de baixo da pirâmide aguentar todo tipo de retrocesso ou dano, enquanto os que estão no lado de cima podem cometer abusos e atrocidades e saírem não só imunes e impunes, mas também queridos por muitas pessoas.
As pessoas estão vulneráveis às ilusões do status quo, confiando em indivíduos por causa do diploma, da fama, do poder jurídico, político, econômico e administrativo, que acabam aceitando a supremacia de pessoas que se aproveitam de tais privilégios e atribuições para cometer abusos de toda ordem, provocar prejuízos a milhões de pessoas e ainda assim gozar de todo tipo de impunidade, empurrando com a barriga as ameaças e riscos que sofrem com tais atitudes.
No âmbito religioso, isso não é diferente. O arrivismo um tanto pernicioso de personalidades, que é muito mais perigoso e leviano do que se imagina, é facilmente aceito pelo simulacro de "caridade" que faz mais propaganda ao "benfeitor" do que traz benefícios profundos. Qualquer crítica pode ser rebatida mostrando velhinhos doentes deitados num quarto e crianças pobres tomando sopa.
As pessoas não imaginam que isso não é bondade plena. É apenas um marketing da caridade, uma ostentação de ações paternalistas que garantem o endeusamento fácil de ídolos religiosos que, em verdade, não ajudam muito. Essa "caridade" que derrama, sem muita necessidade, lágrimas de comoção, é apenas um marketing que promove ações que, no fundo, são muitíssimo medíocres e sem efeitos transformadores profundos.
E isso se agrava quando a religião é a "espírita", que já nasceu fundamentada pela deturpação, com sementes roustanguistas que criaram raízes e que, por isso, transformaram o "espiritismo" brasileiro num movimento religioso em decadência irrecuperável, pelo menos nos padrões em que ele é feito.
Temos um círculo vicioso no qual os maiores deturpadores, Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, gozam (no caso do primeiro, postumamente) de um prestígio religioso que os faz serem beneficiados até pela vã ilusão de que se pode recuperar as bases kardecianas originais mantendo os dois "médiuns" no pedestal, nem que seja para enfeite.
Esse círculo vicioso se dá porque muitos acreditam que eles, gozando de uma roupagem religiosa "impecável", podem ser facilmente reabilitados mesmo sob pesadas acusações de deturpação grave. por causa das desculpas de que eles "sempre foram bondosos" e "ajudaram muita gente". Daí que até uma parcela de kardecianos autênticos é tentada, como que rendida por um canto de sereia, a aceitar Chico Xavier e Divaldo Franco, apenas por causa da "bondade".
Só que é uma "bondade" que não vai além do mundo de sonho e de fantasia. Na realidade, ela é fraca, insossa, inexpressiva e traz poucos efeitos sociais. O número de "beneficiados" parece grande, mas diante da dimensão de trilhões de pessoas, é pouco. Além disso, o caráter do benefício é duvidoso, por diversos aspectos.
Primeiro, porque o "benefício" tem o preço caro do proselitismo religioso. A Mansão do Caminho tem projeto pedagógico - não muito diferente do proposto pela Escola Sem Partido - que ensina a ler, escrever e aprender um ofício, mas os alunos são "convidados" (nunca de modo explícito, mas sutilmente persuasivo) a acreditar em bobagens como "crianças-índigos", tão ridícula que causou até divórcio do casal que criou o mito, devido a discussões sobre repartir o lucro de livros e palestras.
Segundo, porque é uma "caridade" espetacularizada, que causa muito encanto e comoção, mas que em nada ajuda de profundo e definitivo. As ações "filantrópicas" mostram sempre os mesmos pobres carentes a receber donativos, o que mostra que isso nada adiantou, não trouxe transformação alguma para a humanidade.
Mas o discurso da pós-verdade tenta fortalecer mitos. A blindagem de Chico Xavier e Divaldo Franco por seus seguidores é imensa, atingindo dimensões preocupantes. Eles mesmos trouxeram visões mistificadoras que contrariam o pensamento de Kardec, mas mesmo assim o discurso da pós-verdade os coloca como "discípulos" do pedagogo francês, a ponto de serem virtualmente poupados diante do esforço de recuperar as bases doutrinárias originais.
Ideias como "crianças-índigos" e "colônias espirituais" foram concebidas sem fundamento lógico, apenas movido por paixões religiosas de toda espécie. Ideias moralistas de nível conservador foram difundidas nos livros, palestras e depoimentos de Chico e Divaldo, se multiplicando como toda pós-verdade, que nasce como uma mentira multiplicada e difundida por gente influente.
Daí que eles podem, sim, terem antecipado a pós-verdade, na qual ideias mistificadoras e desprovidas de lógica ganharam terreno visando o prestígio religioso dos dois "médiuns" somado à mania dos brasileiros em dar superioridade a pessoas com status quo elevado, condicionado por atribuições obtidas materialmente pelas conveniências e pela troca de favores, mesmo diante de critérios técnicos e éticos relativamente respeitados.
Espera-se das pessoas, diante dos retrocessos inúmeros que a pós-verdade e a ilusão do status quo trouxeram para a humanidade, que comecem a fazer questionamentos profundos e abrir mão de antigas paixões. Em certos momentos, é preciso abandonar os "heróis" do imaginário coletivo para que as pessoas se salvem, se desapegando de ilusões que lhes parecem tão caras e preciosas, mas que são armadilhas que podem levar à ruína e à decepção.
domingo, 25 de dezembro de 2016
Sangue de São Januário e a "profecia" da Data-Limite
Em tempos de retomada ultraconservadora, sobretudo no Brasil, além da emergência de fenômenos dramáticos como a pós-verdade e as convulsões sociais - isso para não dizer dos ataques terroristas e da guerra civil que, por ora, atinge a cidade de Aleppo, na Síria - , uma crença católica, embora fantasiosa, cria uma perspectiva sombria que coincide com o contexto realista de hoje.
Trata-se da crença do Sangue de São Januário. Diz a lenda da Igreja Católica que o bispo Januário de Benevento, morto em 305 por decapitação depois de se opor à tirania do Império Romano, teve seu sangue recolhido por um idoso, guardado num frasco de água enchido por uma mulher, e preservado num relicário na Catedral de Nápoles, na Itália, terra do sacerdote.
Três datas são atribuídas anualmente pela Igreja Católica para o ritual da liquefação, quando o sangue armazenado se torna líquido. Uma é 19 de setembro, outra 16 de dezembro e, antes de ambas, o primeiro domingo de maio.
Segundo os católicos, a liquefação tem que ser realizada para que a humanidade na Terra tivesse um mínimo de sossego possível, ou seja, esteja livre de perigos de alta gravidade e grandes proporções. Se caso não ocorre a liquefação, há um risco iminente de catástrofes e desastres de todo tipo.
No último dia 16, o papa Francisco I esteve em Nápoles para a cerimônia, como reza (olha o trocadilho) a tradição. A liquefação não aconteceu e, uma vez divulgado o resultado, os católicos passaram a ficar apreensivos, acreditando que uma grande catástrofe vai acontecer em 2017.
Sabe-se que 2016 foi um ano sombrio, trágico, de retomada ultraconservadora que fez com que boa parte do mundo, sobretudo o Brasil, passasse a viver um cotidiano kafkiano, em que Dilma Rousseff, ou talvez Dilma R., se sentiu como o Josef K. de O Processo, condenada sem ter cometido crime.
No entanto, 2017 tende a ser bem mais trágico, sobretudo quando as elites, no Brasil, retomaram seus privilégios com apetite redobrado e o desastrado presidente da República, Michel Temer, protegido pela mídia e representante dos interesses do "deus" mercado, propõe medidas de clara exclusão social, embora os noticiários da grande mídia veiculem mentiras que coloquem as nefastas PEC do Teto e as reformas trabalhista, previdenciária e educacional como "positivas".
A crença no Sangue de São Januário pode ser fantasiosa, mas é compreensível porque ela é uma crença cultural dos católicos. Mas confronta-se essa crença com a "profecia" da Data-Limite trazida por Francisco Cândido Xavier e se resulta numa interpretação nada favorável aos "espíritas".
INDECISÃO
Os partidários da tese da "regeneração" no "espiritismo" brasileiro não conseguem decidir coisa alguma, preocupados em criar palpites de datas nos quais a realidade desmente frontalmente, como num jogo em que os "espíritas" tentam lutar contra o tempo para impor suas convicções messiânicas em detrimento de ocorrências realistas.
Isso é típico do "espiritismo" da FEB, de Chico Xavier, de Divaldo Franco, de "poetas alegres" etc. Mas Allan Kardec rejeita tudo isso, por não ver coerência em prever datas determinadas sobre ocorrências futuras, alertando haver nisso um grave risco de mistificação.
Os "espíritas" já determinaram datas para a "regeneração". Disseram que era em 1982, 2000, 2010, 2012. Agora apostam em 2019, ou então 2052 ou 2057. Não se decidem e até como se dará a "regeneração" é bastante controverso, pois uns dizem que ocorrerá "sem conflitos", outros afirmam que ocorrerá "com muitas dificuldades".
Tentando puxar a brasa para sua sardinha, os "espíritas" tentam pregar um otimismo exagerado, mesmo quando admitem a ocorrência de fatos sombrios. O Sangue de São Januário, ainda que seja uma fantasia católica, pelo menos, na sua não liquefação, trouxe uma perspectiva bem mais realista, e que coincide com as tendências que acontecem no nosso mundo.
Vale lembrar que a não liquefação coincidiu com ocorrências que vieram depois, como o início da Segunda Guerra Mundial, a entrada da Itália no confronto e a sua subordinação ao império nazista. Outras ocorrências muito trágicas como um terremoto de grandes proporções em Irpínia, no centro da Itália, também estão associadas, pelos católicos, à não liquefação.
A situação trágica de 2016, com os falecimentos massivos de tantos artistas e intelectuais de valor - como David Bowie e Umberto Eco - , pode se repetir em 2017, embora também haja as baixas de uma plutocracia ao mesmo tempo gananciosa, autoconfiante em excesso e imprudente. O que se sabe é que ela também pagará o preço caro pelos retrocessos forçados e pela busca voraz de recuperar e ampliar privilégios às custas dos sacrifícios de muitos.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
Brasil tem ideia antiquada do que é bondade
Há uma ideia bastante equivocada e muito antiquada do que é bondade no Brasil. As pessoas veem a bondade dentro de uma concepção bastante restritiva, ao mesmo tempo materialista, institucionalista e, de certa forma, moralista.
Essa ideia consiste em ver a bondade como um subproduto de alguma religião. Embora as pessoas tentem fazer malabarismos discursivos dizendo que "não é bem assim" e fingir admitir que a bondade "está acima de qualquer religião", a forma como veem a bondade acaba se mostrando, sim, restrita ao "cativeiro" da fé religiosa.
Dentro do contexto da retomada ultraconservadora da sociedade brasileira, as pessoas imaginam ser possível a bondade subordinada a uma estrutura religiosa. Sem aquelas políticas progressistas e ousadas que promoviam justiça social e representavam limites aos abusos econômicos das elites, a retomada conservadora cria a utopia de que a bondade "mais eficaz" é aquela que resolve a pobreza de maneira parcial, sem abalar as estruturas da sociedade vigente.
Aparentemente, é uma medida recomendada por não representar conflitos. Os mais ricos continuam abusando de seu poder econômico, mas só minimizam, ainda que de maneira inexpressiva, seus abusos, através de projetos supostamente filantrópicos.
Estas iniciativas podem parecer que vão além da simples esmola, porque muitas dessas medidas parecem "concretas" e "voltadas ao pleno benefício humano". Mas são caridades paliativas, mesmo sendo projetos de Educação e ensino profissional, e elas nem de longe representam um limite para o sistema de desigualdades em que vivemos.
A caridade paliativa ainda será profundamente questionada. Afinal, ela é uma medida que deixa muita gente fascinada, encantada, mas é como toda fantasia de contos de fadas. As pessoas adultas, ultimamente, estão mostrando neuroses e vícios trazidos da infância e nunca devidamente resolvidos, e é na religião que se observa o apego doentio a fantasias infantis que se repetem como farsa.
É o entretenimento um tanto fútil das "lindas estórias", que fez a fama de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, mas se observa também em outros casos ligados ao Catolicismo, aos movimentos evangélicos ou mesmo no contexto "laico" da autoajuda. É a busca doentia do conto de fadas perdido, um vício mal resolvido de sempre ouvir narrativas que misturem sofrimento, sonho e realização. É uma diversão que movimenta o marketing da superação, de valor duvidoso.
Da mesma forma, vemos na ideia dominante de bondade arremedos da lembrança infantil: a tutela paternal ou maternal observada nas "casas de caridade", uma ideia de casa (a "casa de caridade", seja de que crença for), de sistema de valores ("religião") e de uma figura paternal/maternal ("ídolo religioso") que compõem uma concepção que estabelece supremacia na ideia que muitos têm sobre o que é bondade.
Por isso é que, diante desse saudosismo infantil, que não traz de volta os cuidados das mães e as proteções dos pais e nem a pedagogia dos contos infantis, as pessoas tendem a acreditar na ilusão de uma "bondade" materializada, composta de estrutura física, ideológica e hierárquica. A bondade deixa de ser uma qualidade espontânea, embora o discurso a considere como tal, para ser um subproduto da "religião" ou de instituição equivalente.
E é essa "bondade" que se torna cúmplice de irregularidades religiosas. No caso do "espiritismo", ela garante a blindagem dos deturpadores Chico Xavier e Divaldo Franco. Basta denunciar uma irregularidade sequer e, pronto, aparecem imagens de crianças pobres tomando sopinha e velhos doentes deitados na cama para tentar calar qualquer questionamento.
A "bondade" acaba servindo para a carteirada religiosa e isso não é bom. As ideias de "amor" e "caridade" tornam-se "parceiras" da irregularidade, da mistificação, por causa das concepções restritivas de tais virtudes. A "bondade" é vista por muitos incautos como algo que prevalece até mesmo à lógica, à ética e ao bom-senso, mas isso cria um prejuízo que faz com que, na verdade, a "bondade" seja sempre rebaixada ao "cativeiro" da fé religiosa.
Daí que, contraditoriamente, as pessoas estabelecem uma concepção antiquada e contraditória de "bondade", uma qualidade que elas julgam estar acima de tudo, mas que na prática está abaixo da roupagem religiosa, o que permite que esta qualidade consinta com as irregularidades e as práticas desonestas que se ocorre sob o manto da religião. Qualquer denúncia é só mostrar crianças pobres e velhinhos doentes. Infelizmente, a carteirada religiosa dá sempre certo no Brasil.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
"Espiritismo" envergonharia Allan Kardec e Jesus de Nazaré
O velho igrejismo "espírita", trazido pelos seus palestrantes, verdadeiros mercadores das belas palavras, insiste e persiste como se isso fosse o "trabalho do bem". Demonstra cada vez mais o vínculo com a Teologia do Sofrimento, a "pedra do sapato" que gruda nos pés dos "espíritas" comprometidos com a postura dúbia, de bajular Allan Kardec e praticar o igrejismo.
As mensagens "fraternais" são de um igrejismo católico quase explícito, se não fossem dispensadas a batina, as decorações a ouro, as pompas sacerdotais e o senta-e-levanta das missas. Muito fácil promover o desfile das palavras lindas, como se mendigasse fraternidade e teorizasse demais a bondade e a caridade, mas tudo isso é um esforço vão, uma perda de tempo.
Afinal, minutos e minutos se perdem, longos parágrafos se alongam nas divagações sobre "bondade" e "caridade", que mais parecem um emprego de palavras bonitas e bem organizadas a serviço do comércio de livros religiosos. Divagações prolongadas e súplicas chorosas, diante de palavras que cheiram a flores da natureza, não condizem diante da prática do cotidiano caótico em que vivemos.
É vergonhoso ver o "espiritismo" tão perdido nesse jogo duplo, em que de um lado se bajula Allan Kardec, de outro se pratica o igrejismo católico de origem roustanguista. Num país que esconde farsantes por debaixo do tapete, mas se aproveita as ideias retrógradas por ele difundidas, faz sentido a persistência dessa tendência dúbia que norteia o "movimento espírita" e desnorteia o legado do professor lionês.
Um dado exemplo desta postura dúbia é o lançamento do livro Um Sacerdote Espírita - Reflexões Sobre Padre Germano, de Orson Peter Carrara, se referindo a um sacerdote espanhol que teria sido "mentor" da espanhola Amália Domingos Soler, "espírita" de origem católica de meados do século XIX, num tempo em que Allan Kardec já havia falecido e seu legado diluído gradualmente para a catolicização.
Padre Germano foi portanto um suposto espírito católico que apareceu para divulgar mensagens "fraternais". Teria sido um dos primeiros "mentores" católicos a influir na prevalência do "espíritismo místico", em detrimento do cientificismo kardeciano. Germano teria sido também "psicografado" por Francisco Cândido Xavier, em 1932.
Carrara exalta a data de lançamento do livro, 03 de outubro, aniversário de Allan Kardec, dentro da tendência do "movimento espírita" em ficar cismando demais com datas. A data de lançamento é pura coincidência e teria sido até proposital, mas não influi muito até porque o "espiritismo" professado por Carrara é muito distante do originalmente professado por Kardec.
Mas há o chamado "jeitinho brasileiro" e Allan Kardec é servido aos brasileiros em duas traduções igrejistas: a de Guillon Ribeiro da FEB e a de Salvador Gentile, da IDE. São traduções que traem em muitos aspectos o pensamento racional de Kardec e exageram nas referências religiosas descritas pelo pedagogo francês, na prática transformado em um "padre" por essas traduções igrejistas tendenciosas.
É vergonhoso como palestrantes "espíritas" chegam a citar Erasto, de maneira bastante oportunista, pois o espírito do discípulo de Paulo de Tarso se manifestou, nos tempos de Allan Kardec, para prenunciar a farsa que é justamente praticada por aqueles que babam o ovo por Kardec, Erasto e outros que avisaram sobre a deturpação que os inimigos internos do Espiritismo promovem hoje.
Eles avisaram e ninguém deu ouvidos. Cria-se uma desordem doutrinária, cheia de fraudes grosseiras, cheia de pregações moralistas constrangedoras, cheia de aberrações que ofendem a lógica e bom senso, mas que se apoiam nos pretextos de "amor e bondade" que Erasto preveniu, alertando que o amor ao próximo não pode servir de pretexto para tamanhas e tão escandalosas desonestidades.
O "rouba mas faz" do "movimento espírita", consagrado por Chico Xavier, com supostas psicografias que destoam dos estilos originais dos autores falecidos alegados, não pode ser aceito sob a desculpa do "amor ao próximo" nem das "mensagens de amor", do contrário transformaremos a humanidade numa bagunça de falsificadores e bandidos "bondosos".
Imagine um sequestrador imitando um filho, durante um trote telefônico, com um falsete que consegue enganar muita gente, falando em "palavras de amor", "apelos para a paz" etc. Alguém seria feliz por ser enganado através de "mensagens de amor"?
Mas infelizmente o papo do internauta médio é esse: "ah, pouco importa a autenticidade, a abordagem espírita, o que importa é o amor e a caridade, o trabalho pelo próximo". Essa visão um tanto ingênua e tola permite que desonestidades doutrinárias sejam realizadas impunemente sob o pretexto da "caridade", o que faz o amor ser tido como cúmplice de qualquer desonestidade.
O "espiritismo" envergonharia Allan Kardec e Jesus de Nazaré, se eles conhecessem o "movimento espírita" brasileiro. Jesus ficaria indignado com os mercadores das "belas palavras" e provavelmente teria dito: "Para que tanto tempo, tantos livros e tantas palestras só sobre o amor? Querem transformar a ideia da bondade numa mercadoria?".
Kardec iria dizer algo próximo ao que disse sobre Roustaing: "É certo que Chico Xavier e Divaldo Franco falam de coisas positivas e agradáveis, mas torna-se duvidosa a validade de suas pregações, pela presença de ideias sem nexo e desprovidas de coerência lógica".
Os "espíritas" fazem ouvidos de mercador em relação a isso. Acham que Jesus e Kardec topariam qualquer parada, aceitariam tudo como cornos-mansos, aceitando deturpações de seu pensamento. Jesus, então, foi o que mais foi deturpado, sobretudo pelo Catolicismo medieval e por outras seitas dissidentes e derivadas, muitos anos antes de Kardec.
Mas a verdade é que o "movimento espírita" tornou-se vergonhoso, pelo seu roustanguismo que hoje não é devidamente assumido. É uma teia de desonestidades doutrinárias para as quais a alegação de "trabalho pelo amor ao próximo" é uma desculpa para que mistificações e deturpações ocorram impunemente.
É estarrecedor que pessoas no Brasil insistam, com arrogante persistência, na ideia falaciosa de que "não importa a forma como o Espiritismo está sendo feita, o que importa é o trabalho de amor, a dedicação ao próximo, a caridade, a bondade, a misericórdia", uma alegação que encanta muita gente pelo sedutor espetáculo de palavras belas e envolventes.
No entanto, Erasto preveniu sobre o caráter traiçoeiro dessa ideia que é difundida como "verdade absoluta" e que, no Brasil, faz prevalecer o sutil conceito da bondade como supostamente acima de qualquer honestidade ou desonestidade nas atividades "espíritas", dando a impressão de que se pode até mentir "em nome da fraternidade".
Eis o que disse Erasto, na mensagem que Allan Kardec incluiu no Capítulo 20, Influência Moral dos Médiuns, em O Livro dos Médiuns, na consistente tradução de José Herculano Pires, que mais respeita o texto original em francês:
"Os médiuns levianos, pouco sérios, chamam, pois, os Espíritos da mesma natureza. É por isso que as suas comunicações se caracterizam pela banalidade,a frivolidade, as idéias truncadas e quase sempre muito heterodoxas, falando-se espiritualmente.(8) Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé".
Essa tese derruba completamente o mito confortável do "vale-tudo" do "movimento espírita" sob a desculpa do "trabalho da fraternidade". A bondade não pode ser usada como desculpa para a desonestidade doutrinária. Não se pode enganar as pessoas em nome do bem, porque o ato de enganar já consiste num mal.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
Juntos, PEC do Teto e 'ranking' da ignorância sepultam de vez mito do "Brasil Coração do Mundo"
BRASILEIROS PREFEREM PERDER AS RIQUEZAS NACIONAIS PARA O CAPITAL ESTRANGEIRO A SEREM GOVERNADOS POR POLÍTICOS PROGRESSISTAS.
Se o mito do Brasil como "coração do mundo" foi uma grande bobagem trazida por Francisco Cândido Xavier, e havia razões de sobra para contestá-lo de vez, os fatos recentes ocorridos no Brasil nos últimos meses simplesmente sepultam, em definitivo, essa fantasia delirante e perigosa (colocar um país como "centro do mundo" já rendeu cenários políticos de trágica lembrança).
O Brasil foi listado, em levantamento recente do Instituto Ipsos Mori, em sexto maior país ignorante do planeta, numa lista de 40 pesquisados. Nosso país só perde para os EUA (5°), África do Sul (4°), Taiwan (3°), China (2°) e Índia (1°). Dos 10 países mais ignorantes do planeta, quatro são do bloco econômico BRICS (Brasil, Índia, China, África do Sul). A Rússia, que completa o bloco, ficou em 14º lugar da lista geral.
O critério de pesquisa adotado foi a relação entre percepção (ter noção das coisas) e a realidade. Nos países pesquisados, o nível de ignorância é maior quando se supõe uma percentagem de pessoas, em determinada condição social ou ponto de vista sobre alguma coisa, apresenta um índice diferente em relação ao número real.
No extremo oposto, o país menos ignorante é a Holanda (40°), seguida da Grã-Bretanha (39°), Coreia do Sul (38º), República Tcheca (37°) e Malásia (36°). É curioso que EUA e Grã-Bretanha, que possuem um mercado comum de cultura pop, estejam em níveis diferentes de ignorância no mundo. Na América do Sul, a Colômbia é o país menos ignorante do mundo (30º), seguido do Chile (25º), Peru (23º) e Argentina (20º). Entre os sul-americanos, portanto, o Brasil é o país mais ignorante.
Um dos critérios analisados é o poder que monopólios ou oligopólios de mídia podem influir nas pessoas. O Brasil foi "beneficiado" por esse quadro, com o poder descomunal da Rede Globo e seus proprietários que acumulam fortunas, sonegam impostos e ainda recebem subsídios estatais.
Um dos exemplos dessa disparidade entre percepção e realidade é a proporção de distribuição de riqueza no Brasil: para os entrevistados, os 70% menos ricos detém 24% da riqueza. A realidade mostra um índice bem menor, 9%, que pode cair ainda mais.
Afinal, o projeto econômico do governo de Michel Temer, ancorado na PEC do Teto, agora uma lei que limita os investimentos em setores públicos, mas que também inclui as reformas trabalhista, previdênciária e educacional, favorecerá os mais ricos - sobretudo o setor financeiro, como os grandes banqueiros, que continuarão recebendo altas taxas de juros da dívida pública - , e irá empobrecer ainda mais a classe média baixa e o povo pobre.
A ignorância dos brasileiros se observa em diversos aspectos. Nas redes sociais, é dominante a tendência de usar justificativas pretensamente lógicas para ideias absurdas ou reacionárias, ou então partir para ataques ofensivos, ainda que por meio de gracejos. A ideia de pessoas que creem em valores "estabelecidos", mas nem sempre benéficos à sociedade, em bancarem as "donas da verdade", atinge níveis preocupantes.
PÓS-VERDADE
A própria onda reacionária revela essa ignorância da maioria dos brasileiros é movida pelo estarrecedor fenômeno da "pós-verdade", já analisada pela Teoria da Comunicação como uma catástrofe social, na qual mentiras passam a ter roupagem de "verdade indiscutível" seja pela divulgação massiva de determinado dado mentiroso, seja pelo status social do emissor da mensagem, ainda que seja o de um simples internauta com alto prestígio entre seus pares.
A pós-verdade - que no Brasil é a base até do "movimento espírita" e teve em Chico Xavier um de seus pioneiros, por suas fraudes literárias serem tidas como "autênticas" pela carteirada religiosa que representam - permitiu que o Brasil substituísse a presidenta Dilma Rousseff, vítima de boatos tidos como "denúncias verídicas", pelo vice Michel Temer, que instituiu uma agenda política retrógrada e antipopular.
No Brasil, a pós-verdade encontra seu "paraíso astral" pela combinação entre uma modernidade de fachada, que mascara gerações que, mesmo jovens ou relativamente jovens, são altamente reacionárias, o apego ao status quo - meras atribuições, materiais, de superioridade social, são erroneamente tidas, por si só, como "confiáveis" - e ao poder de instituições e empresas que vivem da impunidade plena, aliado ainda ao quadro degradado de Educação e ética social.
A ignorância é tanta que, mesmo quando o racismo é considerado crime inafiançável, há ondas de ataques racistas nas redes sociais, que atingiram pessoas famosas e consistiram em ataques coletivos, feitos por vários internautas, que ignoram que poderiam ir depois para as celas das prisões. E, o que é pior, quando alguém lhes avisa isso, eles ainda reagem, com o famoso gracejo "KKKKKKKKK".
Tudo isso é muito grave. Setores sociais retrógrados tentam fazer malabarismo discursivo, usando de argumentos aparentemente lógicos para proteger suas convicções. Isso quando não partem para a "ignorância", xingando, fazendo cyberbullying ou perdendo tempo fazendo blogues ofensivos ou se expor demais perseguindo desafetos, criando tanto problemas para a polícia quanto para as milícias, que começam a se alertar quando veem um "valentão" na rua e pensam ser um rival.
A onda de retrocessos sociais que é permitida pelos deslizes cometidos pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, também praticados pela grande mídia, pelo Ministério Público e Polícia Federal, pelos movimentos religiosos, sob um padrão de Justiça desigual que pune demais quem comete delitos leves e livra da cadeia quem comete crimes graves, tudo isso faz com que o Brasil esteja no ranking dos países mais ignorantes.
Se tudo for mantido como está, a coisa tende a se agravar pelas consequências que serão ampliadas pelas conveniências, omissões e jogos de interesses. Ficar na ilusão do endeusamento do status quo, da confiança cega à suposta competência tecnocrática ou à pretensa bondade religiosa podem trazer efeitos danosos, como num sonho dourado durante o sono que, quando interrompido pelo despertar, faz a pessoa cair da cama.
Se o mito do Brasil como "coração do mundo" foi uma grande bobagem trazida por Francisco Cândido Xavier, e havia razões de sobra para contestá-lo de vez, os fatos recentes ocorridos no Brasil nos últimos meses simplesmente sepultam, em definitivo, essa fantasia delirante e perigosa (colocar um país como "centro do mundo" já rendeu cenários políticos de trágica lembrança).
O Brasil foi listado, em levantamento recente do Instituto Ipsos Mori, em sexto maior país ignorante do planeta, numa lista de 40 pesquisados. Nosso país só perde para os EUA (5°), África do Sul (4°), Taiwan (3°), China (2°) e Índia (1°). Dos 10 países mais ignorantes do planeta, quatro são do bloco econômico BRICS (Brasil, Índia, China, África do Sul). A Rússia, que completa o bloco, ficou em 14º lugar da lista geral.
O critério de pesquisa adotado foi a relação entre percepção (ter noção das coisas) e a realidade. Nos países pesquisados, o nível de ignorância é maior quando se supõe uma percentagem de pessoas, em determinada condição social ou ponto de vista sobre alguma coisa, apresenta um índice diferente em relação ao número real.
No extremo oposto, o país menos ignorante é a Holanda (40°), seguida da Grã-Bretanha (39°), Coreia do Sul (38º), República Tcheca (37°) e Malásia (36°). É curioso que EUA e Grã-Bretanha, que possuem um mercado comum de cultura pop, estejam em níveis diferentes de ignorância no mundo. Na América do Sul, a Colômbia é o país menos ignorante do mundo (30º), seguido do Chile (25º), Peru (23º) e Argentina (20º). Entre os sul-americanos, portanto, o Brasil é o país mais ignorante.
Um dos critérios analisados é o poder que monopólios ou oligopólios de mídia podem influir nas pessoas. O Brasil foi "beneficiado" por esse quadro, com o poder descomunal da Rede Globo e seus proprietários que acumulam fortunas, sonegam impostos e ainda recebem subsídios estatais.
Um dos exemplos dessa disparidade entre percepção e realidade é a proporção de distribuição de riqueza no Brasil: para os entrevistados, os 70% menos ricos detém 24% da riqueza. A realidade mostra um índice bem menor, 9%, que pode cair ainda mais.
Afinal, o projeto econômico do governo de Michel Temer, ancorado na PEC do Teto, agora uma lei que limita os investimentos em setores públicos, mas que também inclui as reformas trabalhista, previdênciária e educacional, favorecerá os mais ricos - sobretudo o setor financeiro, como os grandes banqueiros, que continuarão recebendo altas taxas de juros da dívida pública - , e irá empobrecer ainda mais a classe média baixa e o povo pobre.
A ignorância dos brasileiros se observa em diversos aspectos. Nas redes sociais, é dominante a tendência de usar justificativas pretensamente lógicas para ideias absurdas ou reacionárias, ou então partir para ataques ofensivos, ainda que por meio de gracejos. A ideia de pessoas que creem em valores "estabelecidos", mas nem sempre benéficos à sociedade, em bancarem as "donas da verdade", atinge níveis preocupantes.
PÓS-VERDADE
A própria onda reacionária revela essa ignorância da maioria dos brasileiros é movida pelo estarrecedor fenômeno da "pós-verdade", já analisada pela Teoria da Comunicação como uma catástrofe social, na qual mentiras passam a ter roupagem de "verdade indiscutível" seja pela divulgação massiva de determinado dado mentiroso, seja pelo status social do emissor da mensagem, ainda que seja o de um simples internauta com alto prestígio entre seus pares.
A pós-verdade - que no Brasil é a base até do "movimento espírita" e teve em Chico Xavier um de seus pioneiros, por suas fraudes literárias serem tidas como "autênticas" pela carteirada religiosa que representam - permitiu que o Brasil substituísse a presidenta Dilma Rousseff, vítima de boatos tidos como "denúncias verídicas", pelo vice Michel Temer, que instituiu uma agenda política retrógrada e antipopular.
No Brasil, a pós-verdade encontra seu "paraíso astral" pela combinação entre uma modernidade de fachada, que mascara gerações que, mesmo jovens ou relativamente jovens, são altamente reacionárias, o apego ao status quo - meras atribuições, materiais, de superioridade social, são erroneamente tidas, por si só, como "confiáveis" - e ao poder de instituições e empresas que vivem da impunidade plena, aliado ainda ao quadro degradado de Educação e ética social.
A ignorância é tanta que, mesmo quando o racismo é considerado crime inafiançável, há ondas de ataques racistas nas redes sociais, que atingiram pessoas famosas e consistiram em ataques coletivos, feitos por vários internautas, que ignoram que poderiam ir depois para as celas das prisões. E, o que é pior, quando alguém lhes avisa isso, eles ainda reagem, com o famoso gracejo "KKKKKKKKK".
Tudo isso é muito grave. Setores sociais retrógrados tentam fazer malabarismo discursivo, usando de argumentos aparentemente lógicos para proteger suas convicções. Isso quando não partem para a "ignorância", xingando, fazendo cyberbullying ou perdendo tempo fazendo blogues ofensivos ou se expor demais perseguindo desafetos, criando tanto problemas para a polícia quanto para as milícias, que começam a se alertar quando veem um "valentão" na rua e pensam ser um rival.
A onda de retrocessos sociais que é permitida pelos deslizes cometidos pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, também praticados pela grande mídia, pelo Ministério Público e Polícia Federal, pelos movimentos religiosos, sob um padrão de Justiça desigual que pune demais quem comete delitos leves e livra da cadeia quem comete crimes graves, tudo isso faz com que o Brasil esteja no ranking dos países mais ignorantes.
Se tudo for mantido como está, a coisa tende a se agravar pelas consequências que serão ampliadas pelas conveniências, omissões e jogos de interesses. Ficar na ilusão do endeusamento do status quo, da confiança cega à suposta competência tecnocrática ou à pretensa bondade religiosa podem trazer efeitos danosos, como num sonho dourado durante o sono que, quando interrompido pelo despertar, faz a pessoa cair da cama.
sábado, 17 de dezembro de 2016
Médica usa "moral espírita" para recusar atendimento a criança
Segundo informações trazidas pelo portal G1, uma médica de Rondonópolis, no interior de Mato Grosso, foi condenada a pagar R$ 10 mil de indenização a mãe de uma menina, vítima de danos morais durante uma solicitação de consulta.
Era uma pediatra que se recusou a atender a mulher e sua filha, por um mero juízo de valor. A filha havia sofrido tentativa de estupro de um tio, e ela tinha apenas sete anos de idade. O atendimento foi recusado porque a pediatra "não queria se envolver com os problemas espirituais da menina".
Ela atribuiu a culpa à própria menina, alegando que ela "tinha uma energia sexual que puxou o tio para ter sexo com ela". "A sua filha não é vítima de nada, ela tem que se responsabilizar", acrescentou a médica, que se declarou "espírita", e alegou que a menina "havia tido outras vidas" e que "já nasceu com um problemão para resolver nesta vida".
A pediatra ainda disse que alegou "liberdade de crença, consciência e de manifestação religiosa" e disse que não iria intervir em "problemas espirituais". A conversa foi gravada. A sentença condenatória foi dada pelo Tribunal de Justiça do Mato Grosso.
A VÍTIMA É A "CULPADA"
Juízos de valor são muito comuns no "espiritismo" brasileiro. Relacionados a um trágico episódio, de repercussão mundial, ocorrido há exatos 55 anos, o criminoso incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, no dia 17 de dezembro de 1961, um perverso juízo de valor foi trazido, cinco anos mais tarde, por alguém que muita gente considera "um dos maiores símbolos de pureza espiritual na face da Terra", Francisco Cândido Xavier.
Pois no livro Cartas e Crônicas, Chico Xavier fez um terrível julgamento de valor, logo ele que pedia a todos a "não julgarem quem quer que fosse". Usando da teoria sem fundamento lógico do "resgate coletivo" - crença comum entre os "espíritas" - , Chico Xavier acusou as humildes vítimas do criminoso incêndio de terem sido, em "outra vida", romanos sanguinários da Gália (atual França), que viviam no século II e que sentiam prazer em ver hereges sendo queimados em praça pública.
A acusação de Chico Xavier foi gravíssima, muita perversidade para alguém considerado "puro" e "espiritualmente elevado". Ele ignorou a dor de pessoas sofridas - que em 1966 ainda tinham lembranças vivas do trauma vivido - e acusou as vítimas, mortos, feridos e sobreviventes, de terem sido romanos sanguinários.
Além disso representar um desrespeito à dor do próximo - logo dado por um "símbolo máximo de caridade", vejam só! - , também apelou para a suposição de encarnações passadas de parte de uma doutrina que nunca seguiu devidamente os ensinamentos de Allan Kardec e é capaz de investir numa ficção chamada "colônias espirituais", e, portanto, supôs encarnações passadas que não tiveram provas lógicas.
Afinal, será que necessariamente TODAS as vítimas da tragédia circense viveram nos tempos do Império Romano e tinham prazer em ver outrem se ardendo em chamas? Além disso, além do julgamento de valor de Chico Xavier atenuar a ação pessoal de Dequinha, mandante e um dos executores do incêndio criminoso, o "médium", que tanto fala em "perdão e misericórdia infinitas", evocou um suposto passado para culpabilizar tão cruelmente uma multidão sofredora.
Mais grave ainda. Chico Xavier atribuiu tudo isso a um autor morto, o usurpado Humberto de Campos, que se tornou brinquedo para as fraudes literárias do anti-médium mineiro, mesmo sob o pseudônimo de Irmão X. Chico fez um julgamento de valor perverso, se esquecendo dos próprios princípios de perdão que tanto pregava, e ainda botou na responsabilidade de outro, que nunca escreveria os livros que Chico lançou usando seu nome, e nem faria acusações cruéis neste sentido.
Daí que o "espiritismo" que ignora Allan Kardec mas bajula o seu prestigiado nome se motra uma doutrina perversa, e o caso da pediatra de Mato Grosso revela isso. A "religião da bondade" mostra o seu lado cruel, investindo em juízos de valor alegando "outras vidas" sem provas lógicas e com a pura intenção de fazer juízos de valor severos, nos quais as vítimas sempre são vistas como "culpadas". E os "espíritas" ainda acreditam que irão ao céu com seu balé de belas palavrinhas.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
Congressos e 'workshops' geram a fortuna que os "espíritas" tanto querem
SEMINÁRIOS COM TEMAS BANAIS COSTUMAM CUSTAR CARO E OCORREM EM HOTÉIS DE LUXO.
O "espiritismo" é só gratuidade e generosidade? "Dai de graça o que de graça recebeis"? Dizer é fácil, e o "espiritismo" deturpador tem seus truques para garantir a blindagem absoluta que recebe, que permite cometer fraudes e irregularidades sem que a Justiça mova um só dedo. E, se mover, os "espíritas" ainda vem com o discurso vitimista de sempre: se acham "perseguidos", fazem cara de choro etc.
Observamos que no "movimento espírita", não só no Brasil mas em países em que a doutrina roustanguista montada no nosso país também a acolhem, como Portugal e Espanha, ocorrem os tais "congressos espíritas" ou workshops do gênero, que servem para garantir a fortuna das cúpulas "espíritas", embora sob o pretexto de que o dinheiro será "doado para a caridade".
São eventos muito caros, que acontecem em hotéis de luxo e servem para que os astros do "espiritismo" sejam adulados pelas elites, garantindo as medalhas e o envaidecimento pessoal que garantem a ilusão de "luminosidade" na Terra, uma falsa reputação de superioridade espiritual garantida por uma série de simulacros.
Entre esses simulacros, podemos citar tanto a caridade paliativa quanto as desculpas do acolhimento da gente rica aos ídolos "espíritas", principalmente quando estes ídolos são supostos médiuns, uma condição que já é aberrante porque, no Brasil, o dito "médium" sofre da mania do culto da personalidade, algo que inexistia nos tempos de Allan Kardec.
A caridade paliativa é aquela "bondade" que mais encanta as pessoas do que traz alguma ajuda de fato. É uma "bondade" na qual o benfeitor se posiciona acima do beneficiado, o que é um erro. O suposto benfeitor pode até fazer pouco, mas é glorificado pelo status religioso que garante a blindagem necessária, como se fosse um "deus de poucas ou nenhumas façanhas".
Quanto à adulação das elites, os "espíritas" costumam fazer um comentário esnobe: "são os ricos que mais precisam da boa palavra", "vejam como existem ricos caridosos, apoiando o nosso trabalho do bem". E, com essa bajulação toda, os "espíritos puros" da Terra garantem seu envaidecimento e sua blindagem enquanto não se preparam para o choque de realidade ao regressarem ao mundo espiritual.
É bom deixar claro que uma figura como o verborrágico Divaldo Franco, considerado o "maior filantropo do Brasil" por ajudar menos que 0,1% da população brasileira, pelo prestígio que possui, ele poderia muito bem cobrar dos ricos alguma atitude de ajuda plena para os pobres. Mas não faz. Em vez disso, fica bajulando as elites e se sentindo muito à vontade ao lado dos ricos e poderosos.
Ainda sobre os "congressos" e workshops, que servem para reciclar o ideário roustanguista que sempre norteou o "espiritismo" no Brasil, mesmo na chamada "fase dúbia" - falsa promessa de recuperação das bases kardecianas para mascarar o igrejismo de raízes roustanguistas - , uma coisa chama a atenção nesses eventos: a frivolidade dos temas.
Note, por exemplo, a imagem que ilustra este texto, em mais uma das "milionárias" palestras de Divaldo Franco, ocorrida este ano. O tema, "Felicidade é Possível", é uma grande bobagem, porque ninguém vai debater felicidade em algumas horas de palestras com taxas caras de inscrição.
Pode parecer bonito para muitos, mas debater "amor" e "felicidade" em palestras "espíritas" soa uma grande bobagem, que serve como uma prática caça-níqueis dos "espíritas" que, na maioria de suas atividades, precisam forjar "gratuidade" em quase tudo, até em asneiras como o documentário Data Limite Segundo Chico Xavier que são exibidas "digrátis" nos canais do YouTube.
Se disponibilizam gratuitamente até os livros da "série Humberto de Campos", a pior fraude que se pôde fazer na literatura. Livros que nem de longe lembram o estilo do autor maranhense, que chegou a fazer parte da Academia Brasileira de Letras (muito superior que a ABL de hoje, capaz de eleger um medíocre Merval Pereira, talvez pelo bigodinho "anos 1920"), mas "valem" pelas "mensagens edificantes", como se fosse possível enganar e pregar o bem ao mesmo tempo.
Vamos lembrar que toda essa "gratuidade" tem um preço muito caro a ser cobrado. Afinal, são obras que transmitem mentiras, mistificações e ideias aberrantes, herdadas de uma mentalidade roustanguista (de Jean-Baptiste Roustaing) bastante enrustida, sobretudo na "fase dúbia", a mais mentirosa e a mais dissimuladora que atinge frontalmente a forma como a Doutrina Espírita é apreciada no Brasil.
Portanto, é uma forma de enganar e iludir as pessoas, oferecendo produtos "gratuitos", em que a "boa palavra" é apenas um gancho para mistificações perversas, que atrofiam a compreensão das pessoas não só sobre a vida na Terra como no que se supõe ser o "mundo espiritual", sem os estudos necessários aconselhados pelo mestre Kardec. E essa "gratuidade" também serve de isca para atrair fiéis, de forma que outras formas de renda precisam ser feitas.
Daí os livros que, quando lançados, são comercializados, e só depois são "disponíveis de graça". Filmes também. E há os "congressos" e "seminários" (workshops) que prometem "soluções infalíveis" para problemas banais, em palestras verborrágicas em que, em pelo menos duas horas, se costuma falar demais sem ter muita coisa a dizer.
A verdade é que "amor" e "felicidade" são temas tão banais que não precisam ser "debatidos" com tamanho prolongamento. São coisas que se resolvem no cotidiano, sem "análises" e apenas com breves conversas ou a identificação adequada do problema de alguém.
Além disso, ver que uma religião perniciosa como o "espiritismo", que já representa o mal pela sua desonestidade doutrinária, deturpando os ensinamentos de Kardec com traduções igrejistas da pior espécie, quer "estudar o amor e a felicidade", isso causa desconfiança, tanto pela interpretação roustanguista que isso se dará quanto pelo fato de que coisas assim não precisam de "tanto estudo". E o que é "estudo", para uma doutrina igrejeira e anti-racional como o "espiritismo" brasileiro?
O "espiritismo" é só gratuidade e generosidade? "Dai de graça o que de graça recebeis"? Dizer é fácil, e o "espiritismo" deturpador tem seus truques para garantir a blindagem absoluta que recebe, que permite cometer fraudes e irregularidades sem que a Justiça mova um só dedo. E, se mover, os "espíritas" ainda vem com o discurso vitimista de sempre: se acham "perseguidos", fazem cara de choro etc.
Observamos que no "movimento espírita", não só no Brasil mas em países em que a doutrina roustanguista montada no nosso país também a acolhem, como Portugal e Espanha, ocorrem os tais "congressos espíritas" ou workshops do gênero, que servem para garantir a fortuna das cúpulas "espíritas", embora sob o pretexto de que o dinheiro será "doado para a caridade".
São eventos muito caros, que acontecem em hotéis de luxo e servem para que os astros do "espiritismo" sejam adulados pelas elites, garantindo as medalhas e o envaidecimento pessoal que garantem a ilusão de "luminosidade" na Terra, uma falsa reputação de superioridade espiritual garantida por uma série de simulacros.
Entre esses simulacros, podemos citar tanto a caridade paliativa quanto as desculpas do acolhimento da gente rica aos ídolos "espíritas", principalmente quando estes ídolos são supostos médiuns, uma condição que já é aberrante porque, no Brasil, o dito "médium" sofre da mania do culto da personalidade, algo que inexistia nos tempos de Allan Kardec.
A caridade paliativa é aquela "bondade" que mais encanta as pessoas do que traz alguma ajuda de fato. É uma "bondade" na qual o benfeitor se posiciona acima do beneficiado, o que é um erro. O suposto benfeitor pode até fazer pouco, mas é glorificado pelo status religioso que garante a blindagem necessária, como se fosse um "deus de poucas ou nenhumas façanhas".
Quanto à adulação das elites, os "espíritas" costumam fazer um comentário esnobe: "são os ricos que mais precisam da boa palavra", "vejam como existem ricos caridosos, apoiando o nosso trabalho do bem". E, com essa bajulação toda, os "espíritos puros" da Terra garantem seu envaidecimento e sua blindagem enquanto não se preparam para o choque de realidade ao regressarem ao mundo espiritual.
É bom deixar claro que uma figura como o verborrágico Divaldo Franco, considerado o "maior filantropo do Brasil" por ajudar menos que 0,1% da população brasileira, pelo prestígio que possui, ele poderia muito bem cobrar dos ricos alguma atitude de ajuda plena para os pobres. Mas não faz. Em vez disso, fica bajulando as elites e se sentindo muito à vontade ao lado dos ricos e poderosos.
Ainda sobre os "congressos" e workshops, que servem para reciclar o ideário roustanguista que sempre norteou o "espiritismo" no Brasil, mesmo na chamada "fase dúbia" - falsa promessa de recuperação das bases kardecianas para mascarar o igrejismo de raízes roustanguistas - , uma coisa chama a atenção nesses eventos: a frivolidade dos temas.
Note, por exemplo, a imagem que ilustra este texto, em mais uma das "milionárias" palestras de Divaldo Franco, ocorrida este ano. O tema, "Felicidade é Possível", é uma grande bobagem, porque ninguém vai debater felicidade em algumas horas de palestras com taxas caras de inscrição.
Pode parecer bonito para muitos, mas debater "amor" e "felicidade" em palestras "espíritas" soa uma grande bobagem, que serve como uma prática caça-níqueis dos "espíritas" que, na maioria de suas atividades, precisam forjar "gratuidade" em quase tudo, até em asneiras como o documentário Data Limite Segundo Chico Xavier que são exibidas "digrátis" nos canais do YouTube.
Se disponibilizam gratuitamente até os livros da "série Humberto de Campos", a pior fraude que se pôde fazer na literatura. Livros que nem de longe lembram o estilo do autor maranhense, que chegou a fazer parte da Academia Brasileira de Letras (muito superior que a ABL de hoje, capaz de eleger um medíocre Merval Pereira, talvez pelo bigodinho "anos 1920"), mas "valem" pelas "mensagens edificantes", como se fosse possível enganar e pregar o bem ao mesmo tempo.
Vamos lembrar que toda essa "gratuidade" tem um preço muito caro a ser cobrado. Afinal, são obras que transmitem mentiras, mistificações e ideias aberrantes, herdadas de uma mentalidade roustanguista (de Jean-Baptiste Roustaing) bastante enrustida, sobretudo na "fase dúbia", a mais mentirosa e a mais dissimuladora que atinge frontalmente a forma como a Doutrina Espírita é apreciada no Brasil.
Portanto, é uma forma de enganar e iludir as pessoas, oferecendo produtos "gratuitos", em que a "boa palavra" é apenas um gancho para mistificações perversas, que atrofiam a compreensão das pessoas não só sobre a vida na Terra como no que se supõe ser o "mundo espiritual", sem os estudos necessários aconselhados pelo mestre Kardec. E essa "gratuidade" também serve de isca para atrair fiéis, de forma que outras formas de renda precisam ser feitas.
Daí os livros que, quando lançados, são comercializados, e só depois são "disponíveis de graça". Filmes também. E há os "congressos" e "seminários" (workshops) que prometem "soluções infalíveis" para problemas banais, em palestras verborrágicas em que, em pelo menos duas horas, se costuma falar demais sem ter muita coisa a dizer.
A verdade é que "amor" e "felicidade" são temas tão banais que não precisam ser "debatidos" com tamanho prolongamento. São coisas que se resolvem no cotidiano, sem "análises" e apenas com breves conversas ou a identificação adequada do problema de alguém.
Além disso, ver que uma religião perniciosa como o "espiritismo", que já representa o mal pela sua desonestidade doutrinária, deturpando os ensinamentos de Kardec com traduções igrejistas da pior espécie, quer "estudar o amor e a felicidade", isso causa desconfiança, tanto pela interpretação roustanguista que isso se dará quanto pelo fato de que coisas assim não precisam de "tanto estudo". E o que é "estudo", para uma doutrina igrejeira e anti-racional como o "espiritismo" brasileiro?
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
A violenta crise do Brasil em convulsões sociais
O Brasil anda sofrendo uma séria crise, e que envolve paradigmas e valores que remetem a 1974, tempo em que setores da sociedade pareciam "felizes" com a combinação do "milagre brasileiro" e "democracia controlada", em que a repressão poderia ser "amenizada" - apesar dela, na verdade, ter se intensificado entre 1974 e 1976 - porque o conservadorismo social havia prevalecido.
Hoje a chamada "boa sociedade" está com medo. Um medo enorme de perder privilégios e ver paradigmas e aceitar o fim de uma era, de um ciclo de benesses, de um padrão de alternâncias entre libertinagem e moralismo que estabelecia uma série de relações entre agentes sociais que hoje veem o risco de perder sentido nos tempos atuais.
Se é aberrante ver que setores da sociedade conservadora acham "ofensivo" se preparar para a morte de assassinos ricos - pelo menos três famosos, ligados à "honra machista" ou "direito à propriedade no campo", tem sérios históricos de doenças como úlceras graves ou relacionados ao passado de nicotina, drogas e overdose de remédios - , expondo a vulnerabilidade e a tragédia das elites, então isso mostra o quanto a sociedade conservadora está em pânico.
Ela, por enquanto, tem consolidada uma "frente única" de recuperação de antigos paradigmas e privilégios. Tiraram a presidenta progressista Dilma Rousseff para pôr no lugar uma figura tão retrógrada quanto Michel Temer, que politicamente lembra um Ernesto Geisel sem farda e tão antiquada que é casado com uma mulher bem mais jovem, com a qual estabelecem relações conjugais típicas do século XIX.
Diante da crise descontrolada do governo Temer e de sua surpreendente coleção de graves escândalos, o presidente, já denunciado, junto com seus inúmeros aliados, em delações da contraditória, mas às vezes desafiadora, Operação Lava Jato, tenta abafar a crise pensando em cancelar futuras delações e garantir a impunidade política que sempre favoreceu as elites políticas e financeiras do nosso país.
Ultimamente, pessoas lutam para o desmonte de conquistas sociais e até da cultura brasileira. Nesta, o caso é mais aberrante: ideólogos da plutocracia usam a trincheira adversária, a mídia de esquerda, para forjar um "fogo amigo". Inserem na intelectualidade de esquerda preconceitos sobre "cultura popular" dignos da direita intelectual, fazendo apologia à ignorância, à pobreza e à degradação social, tentando desmontar as esquerdas como um vírus instalado no organismo de alguém.
A ideia é retomar, à força, os padrões machistas, elitistas, racistas, mercadológicos e outros aspectos vigentes no Brasil dos anos 1970. É recuperar o sistema de relações sociais próprio dessas épocas ou, de preferência, radicalizá-los ainda mais, tornando o país mais conservador e retrógrado, e não o contrário, um país que só se moderniza pela aparência, enquanto força sua marcha-a-fé social.
As convulsões sociais, que vão desde os cyberbullies nas redes sociais, que não medem escrúpulos de montar blogues de calúnia e difamação se servindo até do acervo pessoal de suas vítimas, até os comentaristas mais reacionários da grande imprensa - sobretudo Veja e Rede Globo / Globo News - , revelam essa guerra do Brasil retrógrado com as transformações dos tempos.
Há até mesmo a blindagem desesperada a elites dotadas de algum prestígio social. O Poder Judiciário e o Ministério Público, cada vez mais revelando irregularidades aberrantes, goza de superioridade econômica e sócio-política, protegidos por uma reputação inabalável. A Rede Globo, bombardeada por duras críticas, é outra "intocável". No âmbito religioso, os "espíritas" são outros "intocáveis", embora menos populares que católicos e evangélicos, mas também muito mais blindado que estes.
Isso ocorre de tal modo que as fraudes "espíritas" observadas em pretensas mediunidades, como as supostas psicografias que não passam de mensagens criadas pelos ditos "médiuns", falsas psicofonias que estranhamente apelam quase sempre para personagens que não deixaram registros sonoros, ou pictopsicografias que não passam de pinturas falsificadas em que o suposto médium não tem escrúpulo algum em usar o mesmo estilo pessoal de assinatura em quadros de "diferentes autores".
Tudo isso é blindado. A Justiça não mexe com esses farsantes. Basta alguém ser querido por um considerável número de pessoas, criar uma suposta instituição filantrópica, botar velhinhos e crianças carentes para viver em suas instalações, e vai o suposto médium criar mensagens apócrifas que diz serem "mediúnicas" e ele usa a "bondade" como escudo para que todos aceitem suas fraudes.
Isso é aberrante. Estamos com um quadro catastrófico no Brasil. Políticos querendo destruir conquistas sociais. Intelectuais culturais querendo submeter a cultura popular ao mercado. Movimentos fascistas esperançosos em usurpar o poder a qualquer momento. Com tanta gente importante morrendo até mesmo de forma prematura, a sociedade ainda se arrepia quando um punhado de assassinos ricos e doentes está a caminho do caixão!
O Brasil mantém os entulhos de 1974 e tenta salvar o mofo e jogar fora o fungicida. A recusa pela renovação, pela mudança de paradigmas, é tão grande que, quando se admite mudar alguma coisa, é sempre para pior. Sempre de forma a prejudicar mais pessoas, a proteger farsantes, a manter valores sociais injustos e castradores, a só permitir a "bondade" quando ela se volta mais à vaidade pessoal do benfeitor religioso, em detrimento de benefícios inócuos e inexpressivos a seus assistidos.
O medo de pessoas que pareciam ter vivido em uma certa estabilidade social, que se achavam resistir a todo tipo de tormenta ou crise severa ao longo de quatro décadas, parece crescer de maneira extrema, quando se fala que um ciclo no qual se protegiam paradigmas e valores conservadores e hoje agonizantes, está chegando ao fim.
Esse medo, por enquanto, tenta recuperar, à força, valores que já deveriam estar obsoletos, e essa obsessão em botar o Brasil na marcha-a-ré já começa a estabelecer um preço muito caro no qual a própria plutocracia é que vai pagar,
domingo, 11 de dezembro de 2016
Dia de desgraça, véspera de bênçãos?
Já escrevemos várias vezes que o "espiritismo", ao fazer apologia ao sofrimento humano como suposto meio de purificação da alma, está fazendo jus à Teologia do Sofrimento, que a seita igrejista, que evoca Allan Kardec apenas na aparência, herdou do Catolicismo medieval português, vigente no Brasil colonial.
Tantas palestras e textos apelando para as pessoas aceitarem as desgraças, mudarem seus desejos e necessidades, nem que reste apenas o direito de respirar - o que, no Rio de Janeiro, é impossível, tal sua grande poluição e a multidão de fumantes inveterados e arrogantes - revelam o quanto os "espíritas" adotam posturas conservadoras, contrariando severamente os postulados originais de Allan Kardec, um pedagogo influenciado pelos ideais iluministas franceses.
Para piorar, os "espíritas", tão preocupados em ficar com a palavra final para tudo, estão sempre rebatendo críticas com respostas "dóceis", acabam moldando e remodelando os discursos antes cruamente difundidos, mostrando o quanto a "última palavra" não se encerra como argumento, tentando se adaptar às réplicas para produzir sentido, deixando de ser a tão sonhada "palavra final" sempre a se alterar conforme argumentos contrários.
Um exemplo disso é quando um "espírita" diz, cruamente: "Aguente as desgraças com silêncio e resignação", usando como desculpa uma falácia normalmente encarada por seus adeptos como "lição de otimismo e esperança": "O que são décadas de desgraças e muito azar diante da eternidade da vida e da certeza da vida futura?".
É aquela desculpa: "Dia de desgraça, véspera de bênçãos". E como isso revela uma visão sádica, disfarçada em palavras aparentemente bondosas, mesmo severas. Sobretudo diante de um moralista severo como Francisco Cândido Xavier. Ah, quantas pessoas são enganadas e aliciadas pela aparência humilde de Chico Xavier, sem saber o quanto ele feriu almas por causa de pregações moralistas tão cruéis, calcadas na Teologia do Sofrimento católica!
Afinal, uma encarnação tem um prazo curto, limitado, para a pessoa mostrar seus talentos, suas habilidades e suas necessidades. Se sobre ela aparecem obstáculos intransponíveis, barreiras insuperáveis, das quais apenas sacrifícios acima dos níveis normais podem superá-las, para não dizer o atalho do arrivismo que põe em risco princípios éticos do sofredor, então a vida se desperdiça, como se qualquer desgraça fosse brincadeira.
E aí o "espírita", ao perceber essa informação, molda o seu discurso. "Calma, existem soluções para tudo. Ninguém veio aqui para sofrer", tenta argumentar. Quanto a argumentos como "abra mão dos seus desejos", o palestrante "espírita" molda um jeito paternal, dizendo "você pode ter novas habilidades, se reinvente e valorize a vida!", com uma certa hipocrisia temperada com uma retórica pretensamente otimista.
É claro que, dentro da dose certa, o sofrimento reeduca as pessoas. as faz rever seus valores, desejos e necessidades etc. Mas é como num remédio que, tomado na dosagem adequada, traz a tão esperada cura para uma doença. Quando este remédio supera a dose correta, cria efeitos colaterais, mesmo quando traz uma cura. Esses efeitos podem trazer males ainda piores, até mesmo devastadores.
O sofrimento sem limites transforma as pessoas em tiranos, corruptos, ladrões, a etiqueta religiosa do perdão não impede de gerar pessoas cínicas, traiçoeiras, enganadoras, sempre aparentadas da melhor das maneiras, adotando sempre uma fala macia e dócil, mostrando sentimentos aparentemente benevolentes, gestos aparentemente generosos, e uma dedicação fraternal aparentemente digna de notas altas.
Que veneno não pode haver diante disso... Diante de vidas machucadas sem necessidade, que no mundo animal são capazes de transformar bichinhos domésticos em perigosas feras selvagens, os humanos dificilmente escapam dos efeitos danosos que as barreiras além da conta e os infortúnios sem controle, quando a aparente resignação tem como preço caro a brutalização da alma.
Não há como menosprezar isso. Nem sempre a culpa é da vítima, ou melhor, quase nunca é. Circunstâncias alheias à vontade de alguém, quando se acumulam em sucessivos incidentes, ao mesmo tempo pesados e sem controle, é que contribuem para as pessoas se amargurarem, perderem o ânimo, ou então, forjar um aparente entusiasmo buscando alguma revanche íntima contra alguém ou contra alguma situação.
É muito fácil o "espírita", que goza do status religioso que garante os aplausos terrenos de autoridades e aristocratas, dizer para o sofredor "sorrir para a vida", quando ele vive uma avalanche de desgraças em sua vida. Muito fácil aconselhar a aceitação dessa situação com palavras dóceis, mas é esse mel das palavras bonitas que acaba produzindo, no sofredor, o veneno emocional que produzirá pessoas dotadas de algum tipo de desvio moral. Sofrimento demais faz mal.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
O "espiritismo" e os "donos da razão"
O status religioso faz com que os "espíritas" sempre argumentem de forma que possam ficar com a posse da verdade. Não de forma escancarada, dizendo "a verdade está comigo", mas de uma forma que possa ficar sempre com a palavra final.
Isso é grave, se percebermos que o "espiritismo" já nasceu corrompido, preferindo Jean-Baptiste Roustaing a Allan Kardec, e construiu suas bases das fontes roustanguistas. Quando passou a, em tese, apreciar o pedagogo francês, era tarde demais.
Mesmo assim, houve persistência e o "espiritismo" brasileiro lançou mão de uma série de contradições. O mito de Francisco Cândido Xavier causou muita confusão e não são seus opositores os culpados. Afinal, Chico Xavier aprontou, ele mesmo, apelando por atitudes que só levavam ao sensacionalismo e ao oportunismo dentro de seu arrivismo religioso.
Fraudes literárias, exploração ostensiva de tragédias familiares, moralismo retrógrado, tudo isso Chico Xavier fez aproveitando o ponto fraco dos devotos religiosos. E ainda Chico, e, hoje, seus seguidores, reagem com coitadismo, vitimismo, carteirada e outras manobras arrogantes ou de falsa modéstia, para reagir a críticas severas e denúncias de irregularidades com provas.
A carteirada religiosa permite, dentro do sistema de valores retrógrados que ainda existem no Brasil, que os "espíritas", deturpadores, se achem portadores de um "modelo ideal" de "espiritismo". Dentro dessa classe de roustanguistas enrustidos, há quem finja criticar a deturpação e fale que "espiritismo só existe um, o de Kardec". E depois vão elogiando os deturpadores consagrados pela doutrina brasileira, Chico Xavier, Divaldo Franco et caterva.
Mediunidade de faz-de-conta, conceitos igrejistas e outras armadilhas que já haviam sido advertidas nos tempos de Kardec foram praticadas e, o que é pior, usando como pretexto as bases kardecianas. A tendência dúbia (1975-2016), que mascarava o igrejismo de herança roustanguista com simulacro de recuperação de bases kardecianas, virou um festival de vergonhosas contradições, protegidas pela reputação religiosa e usando até o "amor" e a "caridade" como desculpa.
Palestrantes se orgulham, dentro daquela pose "paternal" e "equilibrada" que conhecemos, dizendo que os outros não podem se achar com a razão. Tentam, de forma subliminar, desqualificar críticas, provas, investigações, análises lógicas, inventando argumentos absurdos como dizer que as práticas "espíritas" escapam da compreensão humana e que o amor e a fé já comprovam a veracidade de mensagens.
Outros argumentos aberrantes fazem com que a "mentiunidade" (falsa mediunidade) seja tida como "autêntica" mesmo quando apresenta irregularidades quanto ao estilo pessoal do autor alegado. "É a linguagem universal do amor", "de repente o autor esqueceu seu estilo de tão tomado pela força do amor", "no mundo espiritual, todos somos iguais" ou "o artista deve ter doado seu estilo para a caridade e investido numa linguagem acessível a todos".
Tudo desculpa furada. Mas como estão em jogo palavras bonitas como "amor" e "caridade", tudo é aceito sem reservas. Chegou-se ao ponto de, se alguém tiver prestígio social e ser proprietário de uma suposta casa de caridade bastante frequentada por gente sofrida, se alguém inventar uma mensagem de sua mente e a atribui a um morto de sua escolha, até os familiares do falecido poderão lhe dar credibilidade, bastando caprichar no bom mocismo.
Sim, isso mesmo. Cria-se uma fraude supostamente mediúnica, um mal disfarçado apelo de mershandising religioso, citando "colônias espirituais" e tudo, pedindo para as pessoas "se unirem na fraternidade em Cristo" (eufemismo para proselitismo religioso) e, como tudo é feito através de "mensagens positivas" e "em nome da caridade", ninguém mexe, o farsante se torna um "intocável" e até se houver algum processo judicial, ele sempre termina na impunidade.
É terrível. E o pior é que, quando lançamos argumentos lógicos, investigações com provas, apurações cautelosas e tudo o mais, somos ainda acusados de "paixões terrenas", "overdose de raciocínio", e comparados, vejam só, a inquisidores da Idade Média! Logo o "espiritismo" brasileiro, tão medieval!
O "espiritismo" brasileiro deixa a máscara cair quando sua fingida defesa do pensamento científico e questionador se dissolve quando o raciocínio lógico ultrapassa as fronteiras da mistificação religiosa. A aparente postura favorável dos "espíritas" dá lugar a uma posição medieval, condenando o ato de raciocinar e investigar, se lançando contra a Ciência e a Filosofia e acusando os que raciocinam de "serem escravos de percepções terrenas que entram em conflito com a fé".
Deste modo, os "espíritas" que se lançam contra a Razão (no sentido de raciocínio), mas que se dizem donos da razão (no sentido de posse da verdade), demonstram-se completamente obscurantistas, deixando de lado a fingida defesa do Conhecimento para, arrogantemente, dizer, à maneira dos católicos medievais, que "não se pode desafiar os segredos da fé e da religião".
O próprio Chico Xavier tinha argumentos obscurantistas, tal como seu mentor, o maligno Emmanuel. Os textos de Chico Xavier eram severas condenações ao raciocínio crítico, ao questionamento, à investigação e à análise, posturas que claramente entram em conflito com o pensamento original de Kardec, derrubando qualquer ilusão de recuperar as bases kardecianas com chiquismo.
E por que tenta condenação ao ato de pensar e questionar? Porque Chico Xavier realizou pastiches literários tão graves e supostas psicografias que apontam irregularidades severas e preocupantes, que ele, manipulador do discurso e da mente humana, tinha que fazer um malabarismo retórico para dizer que não vale a pena raciocinar e contestar as coisas. Antecipando Deltan Dallagnol e seu Power Point, Chico Xavier reprovava as provas (lógica) em benefício das convicções (fé religiosa).
Pretextos próprios do fanatismo religioso, como a ideia tradicional de "Deus" e a concepção medieval de Jesus Cristo, fazem os "espíritas" se esforçarem para ficar com a última palavra. Diante do declínio da fase dúbia, eles tentam caprichar no moralismo religioso, como último recurso para ter a posse da verdade, mesmo diante de uma trajetória cheia de mentiras e fraudes que, desde o começo, manchou e desmoralizou o "movimento espírita".
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
'Marketing' da superação nivela "espíritas" aos patrícios romanos
O roteiro é conhecido. Uma pessoa que venceu na vida conta sua história de dramas intensos, humilhações, desgraças, dificuldades acima do limite, impasses difíceis de serem resolvidos. De repente, uma circunstância qualquer lhe garante a superação e a conquista de alguma meta tão arduamente perseguida.
O caso em si nada tem de problemático, se a pessoa teve capacidade para superar tais infortúnios. Mas há um problema quando casos de superação como estes se tornam propaganda e fazem o recreio de moralistas esnobes que parecem vibrar mais com o sacrifício do que com o beneficio conquistado.
Isso cria problemas porque há um sentimento sádico por trás de pessoas que aparentemente se comovem com casos de superação. "Fulano lutou para isso", dizem, sem perceber o êxtase que tem em atingir uma meta através de sacrifícios mais pesados.
É como ser maquiavélico às avessas. Os meios justificam os fins. Não é menos cruel, porque as pessoas acabam pensando mais nos sacrifícios do que nas conquistas, e acabam se comprazendo com desgraças e humilhações. A pessoa é humilhada? Então se esboça um sorriso, pelo sentimento hipócrita de ver a pessoa honrada sendo alvo de humilhação.
Ninguém percebe que as dificuldades extremas não são fáceis de se encarar. Para o moralista, é mole alguém sacrificar demais, "meter a cara", "dar tudo de si". Quanto mais sacrifício, melhor, segundo o moralista. E é irônico que muitos pais chegam a exigir dos filhos sacrifícios para vencer na vida em conversas nos domingos e feriados!
Isso esconde um sentimento sádico que, no caso do "espiritismo", que é mais típico nesse moralismo severo, faz de seus seguidores nivelados aos antigos patrícios romanos, desses que assistem, com prazer, aos gladiadores que enfrentam leões famintos e têm que optar por matá-los com a espada ou serem devorados por eles.
A única diferença é a "luta sem sangue" dos sacrifícios atualmente defendidos. Isso dá uma falsa impressão de não-violência, mas se observa que o moralismo não deixa de ser severo, quando se valoriza mais os sacrifícios do que os benefícios.
Em muitos casos, como é o da atual crise que vive o Brasil - não apenas uma crise econômica, política, institucional ou de segurança, mas generalizada - , o moralismo chega a louvar quem se sacrifica demais por pouco. Vira "lei da selva", os moralistas, no seu conforto no sofá, louvam aqueles que "metem a cara" demais para obter apenas pouco para sua sobrevivência.
Isso é um sentimento geral que até escapa dos "espíritas". E não é um moralismo exclusivamente brasileiro, mas tipicamente dele. E, diante do ultraconservadorismo do "movimento espírita", esse moralismo se torna bem mais acentuado, até pelas caraterísticas da doutrina brasileira.
O "espiritismo" está se nivelando às velhas religiões reprovadas por Jesus de Nazaré. Palestrantes e "médiuns" tomados de estrelismo se equiparam a velhos sacerdotes presunçosos e tomados da coreografia das palavras bonitas e da caridade paliativa que mais encanta as pessoas do que realmente ajuda em definitivo.
Os postulados do "espiritismo" brasileiro estão distantes do pensamento original de Allan Kardec, cujo falso vínculo é arrumado, através do "jeitinho brasileiro", em traduções deturpadas (como os da FEB e IDE), que reduzem o pedagogo francês a um padre, distorcendo seu cientificismo e reduzindo as ideias altruístas do mestre lionês ao cativeiro da fé religiosa.
O "espiritismo" está muito mais próximo dos postulados do antigo Catolicismo jesuíta português, de bases medievais e vinculado à corrente da Teologia do Sofrimento, a que define as desgraças humanas como um "caminho para o céu". A herança medieval é historicamente confirmada com o fato de que o "espiritismo" surgiu no Brasil fundado por dissidências católicas descontentes com as transformações da Igreja Católica propriamente dita.
Imaginamos que, no contexto atual de surtos de barbárie e deterioração moral, depois que forças reacionárias tomaram o poder na República brasileira, o moralismo religioso só critique as atrocidades do nazi-fascismo pela falta de "palavras de amor" e de um suporte moralista mais dócil que poderia motivar os holocaustos que tanto traumatizaram a humanidade.
Depois que Madre Teresa de Calcutá, após ser denunciada por deixar seus assistidos morrerem sob maus tratos - falta de higiene, contágio de doenças graves, seringas reutilizadas, subnutrição e medicação inadequada - e ainda se comprazer com a tragédia alheia, virar uma santa, então pode-se tudo. Pelo moralismo vigente, os tiranos seriam indicados ao Nobel da Paz por suas atrocidades?
O próprio Francisco Cândido Xavier fez um juízo de valor muito severo. Em 1966, acusou os humildes frequentadores e profissionais do Gran Circo Norte-Americano, cuja espetacular apresentação em Niterói de 17 de dezembro de 1961 terminou em um trágico incêndio de causas criminosas, de terem sido em outras vidas gauleses sanguinários (a Gália, atual França, fazia parte do Império Romano).
Chico Xavier cometeu três atrocidades. Primeiro, descumpriu o que ele mesmo pregava: "não julgueis quem quer que fosse". Segundo, seu juízo de valor atingiu pessoas humildes, sem que houvesse prova lógica que eles haviam sido mesmo romanos sanguinários (e seria muito pouco provável que haviam sido). E, terceiro, ainda transferiu a culpa para o espírito de Humberto de Campos, muito mal disfarçado pelo improvisado pseudônimo de Irmão X.
Os "espíritas" é que mais se nivelam a romanos sanguinários. Só que é uma sanguinolência sem sangue, politicamente correta como as repressões militares a estudantes e trabalhadores rurais do Brasil de hoje. Crueldades sempre explicadas com palavras dóceis, sofrimentos e holocaustos defendidos pela coreografia das palavras bonitas.
E ver o Chico Xavier, que pedia a ninguém julgar, fazer um julgamento de valor contra gente humilde é assustador, mas é fato confirmado pelas palavras que ele mesmo escreveu no livro Cartas e Crônicas, que com toda certeza Humberto de Campos nunca teria tido a covardia de escrever, naqueles idos de 1966, quando o Brasil vivia a ditadura militar que o "adorado médium" tanto apoiava, com fervoroso entusiasmo.
Esse julgamento de valor é muita atrocidade para um sujeito que é oficialmente considerado como "espírito puro", mas que, com a máxima certeza, viu suas ilusões serem destruídas quando retornou ao mundo espiritual, quando o pastichador e plagiador de livros, moralista severo, religioso retrógrado e medieval e usurpador de mortos voltou à tona, arrancando a máscara confortável do pretenso filantropo de fala mole e revestido do aparato do caipira doentio e frágil.
O próprio Chico Xavier já cometeu crueldade quando falava que o sofredor não deveria mostrar sofrimento e fingir aos outros que estava tudo bem. O próprio Chico Xavier manifestava seu ódio a quem reclamava da vida, insensível às dores que os queixosos vivem. Isso é uma perversidade sem tamanho, e acobertar essa piedade pelo mito do ídolo religioso associado a uma falsa ideia de "bondade" (reduzida a um subproduto da religião) explica o caráter retrógrado do "espiritismo".
E é isso que se vê no Brasil de hoje. Um moralismo severo, cruel mas seletivo. A recuperação de velhos preconceitos machistas, raciais, elitistas, moralistas, tecnocráticos, acadêmicos, profissionais, de tudo. Um surto obscurantista voltou ao Brasil como uma nuvem castanha cobrindo uma cidade inteira. A volta das trevas permite esse moralismo de pessoas que, diante da superação alheia, valorizam mais a desgraça do que os meios usados para superá-la.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
O preocupante complexo de superioridade de alguns "iniciados"
A passeata de ontem, sob o propósito surreal de pedir para que se permita que juízes, promotores e procuradores atuem "acima da lei", protestando contra um artigo do pacote anticorrupção que prevê punições a abusos por eles cometidos, mostra o quanto as pessoas se apegam ao status quo de maneira desesperada.
O Brasil vive um desequilíbrio ético no qual determinadas pessoas são dotadas de privilégios aparentemente inabaláveis. O dinheiro, a fama, o prestígio religioso, o poder econômico e empresarial, tudo isso faz com que um seleto grupo de pessoas, não necessariamente portador de virtudes admiráveis e íntegras, seja dotado da mais absoluta imunidade social.
Ver que pessoas estão se mobilizando contra um esforço do Legislativo que, com todas as suas imperfeições e um pacote anticorrupção longe de ser satisfatório para a população, pelo menos tentou determinar limites para o Judiciário e o Ministério Público. Nada mais democrático do que determinar freios legais para todos os segmentos da sociedade. É questão de buscar um mínimo de equilíbrio social possível.
Só que, em vez de haver um apoio a essa iniciativa, houve uma revolta e uma indignação que resultou num manifesto de panelaços, com moradores batendo panelas no horário nobre noturno. A desculpa ao repúdio à lei que limita e pune abusos de magistrados foi que ela prejudicaria processos como o da Operação Lava Jato.
O Brasil é um país ainda muitíssimo atrasado. Juízes podem estar acima das leis. Ídolos religiosos não podem ser desmascarados. Assassinos de elite "nunca morrem" (pois, se morrem, a imprensa não dá uma nota). A Rede Globo não pode falir. E há uma falsa impressão de invulnerabilidade em tudo isso.
Se não observarmos os equívocos que ocorrem nesses setores da sociedade, imaginaremos que os indivíduos que detém poder e privilégios são os mais "iluminados" do planeta. Ver que juízes, procuradores, promotores e similares podem agir sob o arrepio das leis, já que seu complexo de superioridade os permite cometer arbítrios indevidos sob o pretexto da excepcionalidade.
É um país surreal que faz com que um assassino rico e impune, se for diagnosticado com câncer por um médico, prefira processá-lo por danos morais em vez de iniciar qualquer quimioterapia. O homicida rico, consciente, em tese, dos riscos desse ato, pouco está ligando se sua vítima será morta antes dos 30 ou 40 anos de idade. Mas o mesmo homicida se inquieta quando alguma circunstância o faz ter risco de morte antes dos 60 anos, mesmo descuidando da saúde ou da direção de um veículo.
Isso faz com que a sociedade tenha uma ética seletiva, para a qual quem está dotado de algum privilégio social, como a riqueza e o prestigio político, jurídico ou religioso, sempre está com alguma vantagem. Nem que seja para juízes usarem o "combate à corrupção" para rasgar as leis, agindo com prepotência.
O "ESPIRITISMO" E SUA BLINDAGEM INTOCÁVEL
Quantos erros gravíssimos se observa nas práticas do "movimento espírita", sobretudo de parte de seus maiores ídolos, os anti-médiuns Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, os maiores e mais traiçoeiros deturpadores do legado kardeciano. De longe, os dois são inimigos internos da Doutrina Espírita, pelo conjunto da obra.
Juntos, Chico Xavier e Divaldo Franco fizeram uma escola tenebrosa de suposto Espiritismo. Como supostos médiuns, desenvolveram o culto à personalidade que não deveria ser para um médium de verdade. Mas se as pessoas se deslumbram com o culto à personalidade de um Sérgio Moro, em âmbito nacional, ou, na Bahia, de um Mário Kertèsz no rádio, então a presunção e a arrogância podem compensar, dependendo de algum privilégio.
Chico Xavier foi um dos primeiros a fazer erros aberrantes que desmoralizaram a Doutrina Espírita. O mais preocupante é que ele cometeu erros graves e seus seguidores querem que ele seja inocentado por isso. Enquanto isso, a suposta bondade dele foi vaga, fraca e ilimitada, uma "caridade" que mais parece jogada de marketing, por causar mais deslumbramento do que benefícios, e comprovadamente nenhum progresso concreto, definitivo e exato se viu nessa "admirável filantropia".
Em muitos casos, certas "bondades" até geraram atos perversos. A exposição ostensiva das tragédias familiares, prolongando a dor e sendo exploradas de forma sensacionalista pela mídia, como se fosse insuficiente a fraude nas psicografias que não condizem a nuances pessoais dos supostos autores mortos, enganando as pessoas que acham que foram os mortos que mandaram mensagem.
Essa fraude se compara a de um sequestrador que se passa pelo refém e passa um trote telefônico. Alguém imaginaria que esse sequestrador, se caprichasse em palavras de amor e afeto e num tom melífluo e fraternal, seria denunciado por isso?
O aberrante desfecho do caso Humberto de Campos é um verdadeiro espetáculo de encontro de duas gigantescas ilusões: a do prestígio jurídico e do prestígio religioso. No primeiro caso, juristas dotados de suposta superioridade com as leis não entenderam a natureza do processo e permitiram encerrá-lo com um empate em favor da FEB e de Chico Xavier.
A suposta obra espiritual de Humberto de Campos demonstra claramente uma grande farsa. É só comparar os livros que Humberto escreveu em vida e as supostas psicografias para ver que existem diferenças e irregularidades aberrantes, que fazem soar uma irresponsabilidade complacente qualquer aceitação da "obra mediúnica", sob a desculpa das "mensagens de amor" e "lições de vida".
Isso porque a desonestidade, não apenas doutrinária, mas desonestidade de enganar as pessoas, mesmo, foi feita por Chico Xavier e o caso Humberto de Campos é dos mais deploráveis. E as pessoas deixaram passar quando o processo resultou em empate, com juízes e "espíritas" tomados de suas paixões particulares e terrenas, que os fazem adotar as posturas que acabaram adotando.
Quantas ilusões! Quantas presunções e quantas fantasias! O prestígio religioso é o mais traiçoeiro, é a armadilha que pega seus maiores privilegiados, que, preocupados com a posse da verdade, com palavras belas, alegres e bem articuladas, criticam a "razão" dos outros enquanto se acham com toda a razão de suas teses confusas e contraditórias, mas protegidas por palavras soltas como "amor" e "caridade".
Quantas superioridades de alguns deixam a humanidade inferiorizada e prisioneira do atraso e dos sofrimentos excessivos e desnecessários. Quantos remédios são sonegados para as doenças arrivistas dos privilegiados e quanta overdose de remediação amarga é imposta àqueles que já conhecem o sofrimento mas terão que acumular desgraças, ferindo a alma e criando o ódio em vez da resignação e do aprendizado!
O maior desafio no Brasil é se desapegar de tamanhas reputações. Ver que juízes não estão acima das leis, banqueiros e empresários não têm privilégios inabaláveis, assassinos não estão acima da vida, religiosos não estão acima da ética e da razão, é algo bastante doloroso para muitos, mas é uma constatação que deve ser encarada com coragem e bom senso.
As pessoas têm que abandonar as paixões que colocam os privilegiados nem tão bons e íntegros como se imagina em seus pedestais, às custas do prejuízo alheio ou, na mais amena das hipóteses, através de sérias restrições ou do engano e da ilusão traiçoeira da exploração de esperanças vãs que nunca se concretizam. É preciso que uns poucos caiam de seus olimpos pessoais, para que um número maior de pessoas não seja gravemente lesado de uma forma ou de outra.