sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
O "espiritismo" e os "donos da razão"
O status religioso faz com que os "espíritas" sempre argumentem de forma que possam ficar com a posse da verdade. Não de forma escancarada, dizendo "a verdade está comigo", mas de uma forma que possa ficar sempre com a palavra final.
Isso é grave, se percebermos que o "espiritismo" já nasceu corrompido, preferindo Jean-Baptiste Roustaing a Allan Kardec, e construiu suas bases das fontes roustanguistas. Quando passou a, em tese, apreciar o pedagogo francês, era tarde demais.
Mesmo assim, houve persistência e o "espiritismo" brasileiro lançou mão de uma série de contradições. O mito de Francisco Cândido Xavier causou muita confusão e não são seus opositores os culpados. Afinal, Chico Xavier aprontou, ele mesmo, apelando por atitudes que só levavam ao sensacionalismo e ao oportunismo dentro de seu arrivismo religioso.
Fraudes literárias, exploração ostensiva de tragédias familiares, moralismo retrógrado, tudo isso Chico Xavier fez aproveitando o ponto fraco dos devotos religiosos. E ainda Chico, e, hoje, seus seguidores, reagem com coitadismo, vitimismo, carteirada e outras manobras arrogantes ou de falsa modéstia, para reagir a críticas severas e denúncias de irregularidades com provas.
A carteirada religiosa permite, dentro do sistema de valores retrógrados que ainda existem no Brasil, que os "espíritas", deturpadores, se achem portadores de um "modelo ideal" de "espiritismo". Dentro dessa classe de roustanguistas enrustidos, há quem finja criticar a deturpação e fale que "espiritismo só existe um, o de Kardec". E depois vão elogiando os deturpadores consagrados pela doutrina brasileira, Chico Xavier, Divaldo Franco et caterva.
Mediunidade de faz-de-conta, conceitos igrejistas e outras armadilhas que já haviam sido advertidas nos tempos de Kardec foram praticadas e, o que é pior, usando como pretexto as bases kardecianas. A tendência dúbia (1975-2016), que mascarava o igrejismo de herança roustanguista com simulacro de recuperação de bases kardecianas, virou um festival de vergonhosas contradições, protegidas pela reputação religiosa e usando até o "amor" e a "caridade" como desculpa.
Palestrantes se orgulham, dentro daquela pose "paternal" e "equilibrada" que conhecemos, dizendo que os outros não podem se achar com a razão. Tentam, de forma subliminar, desqualificar críticas, provas, investigações, análises lógicas, inventando argumentos absurdos como dizer que as práticas "espíritas" escapam da compreensão humana e que o amor e a fé já comprovam a veracidade de mensagens.
Outros argumentos aberrantes fazem com que a "mentiunidade" (falsa mediunidade) seja tida como "autêntica" mesmo quando apresenta irregularidades quanto ao estilo pessoal do autor alegado. "É a linguagem universal do amor", "de repente o autor esqueceu seu estilo de tão tomado pela força do amor", "no mundo espiritual, todos somos iguais" ou "o artista deve ter doado seu estilo para a caridade e investido numa linguagem acessível a todos".
Tudo desculpa furada. Mas como estão em jogo palavras bonitas como "amor" e "caridade", tudo é aceito sem reservas. Chegou-se ao ponto de, se alguém tiver prestígio social e ser proprietário de uma suposta casa de caridade bastante frequentada por gente sofrida, se alguém inventar uma mensagem de sua mente e a atribui a um morto de sua escolha, até os familiares do falecido poderão lhe dar credibilidade, bastando caprichar no bom mocismo.
Sim, isso mesmo. Cria-se uma fraude supostamente mediúnica, um mal disfarçado apelo de mershandising religioso, citando "colônias espirituais" e tudo, pedindo para as pessoas "se unirem na fraternidade em Cristo" (eufemismo para proselitismo religioso) e, como tudo é feito através de "mensagens positivas" e "em nome da caridade", ninguém mexe, o farsante se torna um "intocável" e até se houver algum processo judicial, ele sempre termina na impunidade.
É terrível. E o pior é que, quando lançamos argumentos lógicos, investigações com provas, apurações cautelosas e tudo o mais, somos ainda acusados de "paixões terrenas", "overdose de raciocínio", e comparados, vejam só, a inquisidores da Idade Média! Logo o "espiritismo" brasileiro, tão medieval!
O "espiritismo" brasileiro deixa a máscara cair quando sua fingida defesa do pensamento científico e questionador se dissolve quando o raciocínio lógico ultrapassa as fronteiras da mistificação religiosa. A aparente postura favorável dos "espíritas" dá lugar a uma posição medieval, condenando o ato de raciocinar e investigar, se lançando contra a Ciência e a Filosofia e acusando os que raciocinam de "serem escravos de percepções terrenas que entram em conflito com a fé".
Deste modo, os "espíritas" que se lançam contra a Razão (no sentido de raciocínio), mas que se dizem donos da razão (no sentido de posse da verdade), demonstram-se completamente obscurantistas, deixando de lado a fingida defesa do Conhecimento para, arrogantemente, dizer, à maneira dos católicos medievais, que "não se pode desafiar os segredos da fé e da religião".
O próprio Chico Xavier tinha argumentos obscurantistas, tal como seu mentor, o maligno Emmanuel. Os textos de Chico Xavier eram severas condenações ao raciocínio crítico, ao questionamento, à investigação e à análise, posturas que claramente entram em conflito com o pensamento original de Kardec, derrubando qualquer ilusão de recuperar as bases kardecianas com chiquismo.
E por que tenta condenação ao ato de pensar e questionar? Porque Chico Xavier realizou pastiches literários tão graves e supostas psicografias que apontam irregularidades severas e preocupantes, que ele, manipulador do discurso e da mente humana, tinha que fazer um malabarismo retórico para dizer que não vale a pena raciocinar e contestar as coisas. Antecipando Deltan Dallagnol e seu Power Point, Chico Xavier reprovava as provas (lógica) em benefício das convicções (fé religiosa).
Pretextos próprios do fanatismo religioso, como a ideia tradicional de "Deus" e a concepção medieval de Jesus Cristo, fazem os "espíritas" se esforçarem para ficar com a última palavra. Diante do declínio da fase dúbia, eles tentam caprichar no moralismo religioso, como último recurso para ter a posse da verdade, mesmo diante de uma trajetória cheia de mentiras e fraudes que, desde o começo, manchou e desmoralizou o "movimento espírita".
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