terça-feira, 13 de dezembro de 2016
A violenta crise do Brasil em convulsões sociais
O Brasil anda sofrendo uma séria crise, e que envolve paradigmas e valores que remetem a 1974, tempo em que setores da sociedade pareciam "felizes" com a combinação do "milagre brasileiro" e "democracia controlada", em que a repressão poderia ser "amenizada" - apesar dela, na verdade, ter se intensificado entre 1974 e 1976 - porque o conservadorismo social havia prevalecido.
Hoje a chamada "boa sociedade" está com medo. Um medo enorme de perder privilégios e ver paradigmas e aceitar o fim de uma era, de um ciclo de benesses, de um padrão de alternâncias entre libertinagem e moralismo que estabelecia uma série de relações entre agentes sociais que hoje veem o risco de perder sentido nos tempos atuais.
Se é aberrante ver que setores da sociedade conservadora acham "ofensivo" se preparar para a morte de assassinos ricos - pelo menos três famosos, ligados à "honra machista" ou "direito à propriedade no campo", tem sérios históricos de doenças como úlceras graves ou relacionados ao passado de nicotina, drogas e overdose de remédios - , expondo a vulnerabilidade e a tragédia das elites, então isso mostra o quanto a sociedade conservadora está em pânico.
Ela, por enquanto, tem consolidada uma "frente única" de recuperação de antigos paradigmas e privilégios. Tiraram a presidenta progressista Dilma Rousseff para pôr no lugar uma figura tão retrógrada quanto Michel Temer, que politicamente lembra um Ernesto Geisel sem farda e tão antiquada que é casado com uma mulher bem mais jovem, com a qual estabelecem relações conjugais típicas do século XIX.
Diante da crise descontrolada do governo Temer e de sua surpreendente coleção de graves escândalos, o presidente, já denunciado, junto com seus inúmeros aliados, em delações da contraditória, mas às vezes desafiadora, Operação Lava Jato, tenta abafar a crise pensando em cancelar futuras delações e garantir a impunidade política que sempre favoreceu as elites políticas e financeiras do nosso país.
Ultimamente, pessoas lutam para o desmonte de conquistas sociais e até da cultura brasileira. Nesta, o caso é mais aberrante: ideólogos da plutocracia usam a trincheira adversária, a mídia de esquerda, para forjar um "fogo amigo". Inserem na intelectualidade de esquerda preconceitos sobre "cultura popular" dignos da direita intelectual, fazendo apologia à ignorância, à pobreza e à degradação social, tentando desmontar as esquerdas como um vírus instalado no organismo de alguém.
A ideia é retomar, à força, os padrões machistas, elitistas, racistas, mercadológicos e outros aspectos vigentes no Brasil dos anos 1970. É recuperar o sistema de relações sociais próprio dessas épocas ou, de preferência, radicalizá-los ainda mais, tornando o país mais conservador e retrógrado, e não o contrário, um país que só se moderniza pela aparência, enquanto força sua marcha-a-fé social.
As convulsões sociais, que vão desde os cyberbullies nas redes sociais, que não medem escrúpulos de montar blogues de calúnia e difamação se servindo até do acervo pessoal de suas vítimas, até os comentaristas mais reacionários da grande imprensa - sobretudo Veja e Rede Globo / Globo News - , revelam essa guerra do Brasil retrógrado com as transformações dos tempos.
Há até mesmo a blindagem desesperada a elites dotadas de algum prestígio social. O Poder Judiciário e o Ministério Público, cada vez mais revelando irregularidades aberrantes, goza de superioridade econômica e sócio-política, protegidos por uma reputação inabalável. A Rede Globo, bombardeada por duras críticas, é outra "intocável". No âmbito religioso, os "espíritas" são outros "intocáveis", embora menos populares que católicos e evangélicos, mas também muito mais blindado que estes.
Isso ocorre de tal modo que as fraudes "espíritas" observadas em pretensas mediunidades, como as supostas psicografias que não passam de mensagens criadas pelos ditos "médiuns", falsas psicofonias que estranhamente apelam quase sempre para personagens que não deixaram registros sonoros, ou pictopsicografias que não passam de pinturas falsificadas em que o suposto médium não tem escrúpulo algum em usar o mesmo estilo pessoal de assinatura em quadros de "diferentes autores".
Tudo isso é blindado. A Justiça não mexe com esses farsantes. Basta alguém ser querido por um considerável número de pessoas, criar uma suposta instituição filantrópica, botar velhinhos e crianças carentes para viver em suas instalações, e vai o suposto médium criar mensagens apócrifas que diz serem "mediúnicas" e ele usa a "bondade" como escudo para que todos aceitem suas fraudes.
Isso é aberrante. Estamos com um quadro catastrófico no Brasil. Políticos querendo destruir conquistas sociais. Intelectuais culturais querendo submeter a cultura popular ao mercado. Movimentos fascistas esperançosos em usurpar o poder a qualquer momento. Com tanta gente importante morrendo até mesmo de forma prematura, a sociedade ainda se arrepia quando um punhado de assassinos ricos e doentes está a caminho do caixão!
O Brasil mantém os entulhos de 1974 e tenta salvar o mofo e jogar fora o fungicida. A recusa pela renovação, pela mudança de paradigmas, é tão grande que, quando se admite mudar alguma coisa, é sempre para pior. Sempre de forma a prejudicar mais pessoas, a proteger farsantes, a manter valores sociais injustos e castradores, a só permitir a "bondade" quando ela se volta mais à vaidade pessoal do benfeitor religioso, em detrimento de benefícios inócuos e inexpressivos a seus assistidos.
O medo de pessoas que pareciam ter vivido em uma certa estabilidade social, que se achavam resistir a todo tipo de tormenta ou crise severa ao longo de quatro décadas, parece crescer de maneira extrema, quando se fala que um ciclo no qual se protegiam paradigmas e valores conservadores e hoje agonizantes, está chegando ao fim.
Esse medo, por enquanto, tenta recuperar, à força, valores que já deveriam estar obsoletos, e essa obsessão em botar o Brasil na marcha-a-ré já começa a estabelecer um preço muito caro no qual a própria plutocracia é que vai pagar,
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