terça-feira, 31 de maio de 2016

"Espiritismo" protege poder da Rede Globo


O "espiritismo" é, como fenômeno religioso atual, um subproduto da Rede Globo. Evidentemente, não é criação da mídia da família Marinho, que antes era hostil a essa doutrina igrejista, mas foi a famosa rede televisiva, famosa pelo seu poder manipulador, que contribuiu decisivamente para a imunidade que essa religião deturpadora e hipócrita tem no Brasil e outras partes do mundo.

É graças à Globo que o "espiritismo" tornou-se "intocável". Graças ao poder hipnótico da Globo, os mitos de Chico Xavier e Divaldo Franco se consolidaram, cresceram e se tornaram invulneráveis, isso partindo da mesma corporação que trata Luís Inácio Lula da Silva como a "encarnação do mal".

As pessoas não percebem que a Globo insere no inconsciente coletivo, até de parte de seus detratores, muitos hábitos e formas de ver o mundo, o que torna o poder da corporação midiática ainda mais perigoso.

Até o vocabulário é manipulado, lembrando a "novilíngua" de 1984, de George Orwell, na qual gírias e jargões são criados para empobrecer o vocabulário (tal qual na obra orwelliana). A indigesta gíria "balada", que causa estranheza por não ter a vida naturalmente efêmera e os limites grupais de uma gíria de verdade, é o maior símbolo dessa manipulação.

Lançada pela Jovem Pan FM - rádio hoje conhecida pelo reacionarismo extremo, que fez a emissora ser apelidada de "Klu-Klux-Pan" - e popularizada por Luciano Huck, que tinha um programa na rádio e hoje é um dos maiores astros da Rede Globo, a gíria "balada", surgida de um trocadilho eufemista com drogas em forma de pílulas, tem um significado vago que varia de uma apresentação de DJ a um jantar entre amigos.

Há também a opção preciosista da expressão "cliente", que substituiu a expressão freguês, numa "novilíngua do bem" que tenta dar uma promoção ao "freguês". Até quem compra um pacote de biscoitos de um ambulante virou "cliente", quando o termo, antes, era específico para pessoas que usavam serviços como bancos, assistência jurídica e consultas médicas.

A Globo dita o gosto musical - como a breguice musical que conhecemos ou a MPB que é autorizada a fazer sucesso entre o grande público - , o vestuário das pessoas, o comportamento dos jovens, a visão analítica da política brasileira. A Globo é um monstro moral, e o alcance dela é ainda mais monstruoso quando se observa a influência em parte de seus detratores.

Muitos assimilam os valores da Globo como se eles fossem naturais, fizessem parte da rotina espontânea das pessoas. Daí a postura constrangedora de pessoas que nem parecem odiar a Globo mas que ficam nas mídias sociais com uma suposta postura de oposição, se promovendo com a adesão a bandeiras de protesto como "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo" e "A realidade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura".

No "espiritismo", a ideia de promover a idolatria a Chico Xavier e Divaldo Franco revela a intenção da Globo de concorrer com a religiosa Rede Record sem no entanto usar uma roupagem claramente religiosa. Observa-se que o "espiritismo" não é mais do que um "Catolicismo à paisana" de crenças sobrenaturais, o que favorece ser usado para a Globo para manipular a fé das pessoas.

Só que as pessoas não percebem isso. É verdade que os ídolos "espíritas" também encontram outras mídias, incluindo a TV paga, para divulgarem seus dogmas, mas a Globo é o reduto central de renovação de símbolos e paradigmas que cercam essa doutrina igrejeira.

É bom deixar claro que, se Chico Xavier é um mito glorificado no Brasil, deve-se agradecer à Rede Globo. O mito foi criado e alimentado por Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB, mas de forma atrapalhada que deixou vazar escândalos. Mas foi a Globo que solidificou esse mito e o reforçou com estereótipos conservadores ligados ao amor e à caridade.

Ninguém deve esquecer que, se Chico Xavier é adorado, é porque houve uma manipulação ideológica que a Rede Globo lançou em seus noticiários e documentários, com os mesmos elementos que foram trazidos do documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), que Malcolm Muggeridge dirigiu e apresentou para a BBC, a respeito de Madre Teresa de Calcutá.

O "milagre da Kodak", já que o documentário britânico de 1969 se serviu de tecnologias avançadas de registro da imagem sob a famosa marca, permitiu transformar Madre Teresa de Calcutá em "ícone da caridade", escondendo aspectos sombrios como o descaso que ela fazia com seus alojados em suas "casas de caridade".

A "missionária" sendo saudada por multidões em sua chegada. A "missionária" carregando um bebê no colo. A "missionária" acolhendo um idoso doente deitado na cama. A "missionária" lançando frases de efeito - geralmente, formas adocicadas de princípios da Teologia do Sofrimento, coisas do tipo "é na pior desgraça que se encontra o caminho da salvação" - que viram "lições de sabedoria" etc.

Tudo isso foi adotado por Chico Xavier, numa revisão "limpa" de seu mito, antes ligado a escândalos mal dissimulados, como as denúncias de pastiches literários, fraudes de materialização, a ameaça de denúncias do sobrinho Amauri, o envolvimento com a farsa de Otília Diogo, fora outras coisas que poucos se esquecem, como o catastrofismo da "data-limite" e o perverso julgamento de valor contra as humildes vítimas do incêndio em um circo de Niterói, acusadas de "romanos sanguinários".

O próprio Chico Xavier e, por associação, seu congênere Divaldo Franco, servem como instrumentos de manipulação da Rede Globo. Em momentos de tensão política, como o final da ditadura militar, e, mais recentemente, as crises políticas de 2013 até agora, o "espiritismo" é a água com açúcar moralista que tenta frear os movimentos sociais de maneira "dócil" e "bondosa".

Como um "Catolicismo à paisana", o "espiritismo" não desperta suspeitas e pode manipular religiosamente sem que as pessoas percebam. "Desce macio" no inconsciente coletivo; E, além disso, não chama a atenção da Rede Record porque a concorrência religiosa é muito mais sutil, como uma operação de guerra em que os soldados se escondem em camuflagens.

A exemplo da equipe de Michel Temer e dos deputados federais e senadores que prepararam seu terreno, o "espiritismo" também se envolve na "arte" de inocentar acusados condenáveis, enquanto condena pessoas vítimas de vagas e infundadas suspeitas.

A equipe de Michel Temer tem indiciados pela Operação Lava-Jato e outros. Sua base de apoio inclui políticos que variam de espancadores de ex-mulheres a assassinos de agricultores, passando por grileiros, cobradores de propinas, correntistas de paraísos fiscais e outros casos graves.

Todos, porém, foram "legitimados" - fora alguns punidos aqui e ali e, mesmo assim, de forma branda a permitir que eles continuem agindo nos bastidores, como o deputado suspenso Eduardo Cunha - , e agem como se estivessem trabalhando pela mais rigorosa legalidade.

Mas é o Brasil em que Chico Xavier realizou pastiches literários grotescos e passou a ser promovido com o "foro privilegiado" dos ídolos religiosos, convertido num quase deus aos olhos de seus deslumbrados seguidores. Ele virou um "intocável" e, inimigo interno do Espiritismo (pregava o oposto ao pensamento original de Kardec), o "médium" mineiro é tido por muitos como "seguidor rigorosamente fiel (sic) à Doutrina Espírita".

Repetimos. Se Chico Xavier é idolatrado, seus seguidores deveriam pensar duas vezes antes de atacar a Rede Globo, porque foi ela que influiu nisso. Devem evitar gafes como o de uma blogueira de esquerda que reclamou do "boicote da Globo" ao filme As Mães de Chico Xavier, se esquecendo que a Globo nunca iria boicotar uma produção da Globo Filmes, da mesma companhia.

Escrevemos isso nos baseando em fatos. A Globo fez uma parceria com a FEB, depois que a TV Tupi, antiga parceira, foi extinta, e se inspirou no documentário de Malcolm Muggeridge para recriar o mito de Chico Xavier.

Tudo isso é uma construção de discurso, uma fábrica de ideologia, que ganha sentido num país em que o deslumbramento religioso é uma doença infantil. Graças a isso, um esquisito paranormal que plagiava livros construiu um caminho que o levou a uma "divinização" difícil de desfazer. Tudo por causa da fé religiosa que leva muitos a essa cegueira.

domingo, 29 de maio de 2016

O estupro coletivo e a crise moral... e do Rio de Janeiro


A situação é bem típica. Diante de uma banca de jornais, em qualquer canto do Rio de Janeiro - podendo ser também Niterói, São Gonçalo ou Baixada Fluminense - , um engraçadinho, podendo ser até um "senhor" de seus 50 e tantos anos, vê as notícias sobre fatos ruins que acontecem no Estado.

"Não tem jeito mesmo. A gente não vai pra frente!...", diz, com uma cômica ironia, o referido sujeito, que no fundo não parece realmente preocupado com tais problemas. Parece um sujeito feliz querendo "reclamar de vez em quando" só para ter assunto com as outras pessoas, mas na verdade nem está aí para os problemas cotidianos, porque não é ele que vive esses problemas.

Há também outra situação. Nas mídias sociais, existe um certo problema. Relatado numa comunidade relacionada, esse problema é contestado por muitos internautas. Há uma quase unanimidade nas concordâncias, o questionamento é feito com pouca margem de desavenças.

De repente, um dos questionadores desse problema parte para a ação. Resolve tomar iniciativa e resolver esse problema. Aqueles que concordaram com ele no fórum da comunidade digital, de forma surreal, começam a reagir e se irritam com a atitude do parceiro, chegando mesmo a patrulhá-lo, mandar e-mails discordando da iniciativa dele, e até passando a defender o problema não como um problema, mas como algo que deve ser aceito, por mais "imperfeito" que fosse.

Esses dois dados surreais ilustram a decadência do Estado do Rio de Janeiro, que se torna o reduto de toda a decadência moral e cultural que acontece no Brasil. Ela acontece em outras partes do país, há em todos os Estados, mas essa decadência se torna mais intensa no Sul e no Sudeste, e encontra um caso extremo nas cidades fluminenses, sobretudo o Rio de Janeiro.

Recentemente, houve o caso de um estupro de uma garota de 16 anos. Um estupro coletivo, digno de sociedades primitivas. Uma garota foi visitar um namorado em Jacarepaguá e foi cercada por um grupo de rapazes. Foi dopada e estuprada. Quando voltou a si, viu que estava com cerca de 30 homens numa casa, e o estupro foi filmado. A ocorrência ocorreu no dia 21 e o vídeo, publicado quatro dias depois.

MACHISTAS NÃO PODEM MOSTRAR FRAQUEZA NEM TRAGÉDIA

Numa sociedade com um machismo decadente, mas resistente, a "cultura do estupro" é um reflexo mais cruel da hipersexualização que acontece na sociedade e que, na Internet tomada pela imbecilidade tirânica nas mídias sociais, encontra manifestações ainda mais entusiasmadas de apologia ao estupro e à coisificação da mulher.

É chocante que haja mulheres dispostas a fazer o papel de mercadorias sexuais, como Solange Gomes, no alto de seus 42 anos, e Renata Frisson, a Mulher Melão, de 33. Por ironia, a Mulher Melão tem a mesma idade que a primeira-dama do governo interino de Michel Temer, a jovem Marcela Temer, e ambas mostram os dois lados da mesma moeda machista: Marcela, a "serva do lar" da família patriarcalista, e Renata, o "brinquedo sexual" dos machos afoitos.

É uma sociedade em que a mulher é coisa e o homem é que é o ser. Uma sociedade machista e partiarcalista, que acha ofensa alguém advertir que feminicidas conjugais, que mataram suas mulheres em nome da "honra", também podem morrer de infarto ou câncer porque, como machistas, eles também descuidam da saúde.

É notório que machista odeia fazer exame de câncer, seja de fígado, pulmão ou acima de tudo próstata, e, se achando no direito de vida e morte da mulher, também se acha no direito de se julgar quando irá morrer. Mas os descuidos do organismo, causados pelo tabagismo, pelas drogas e álcool e por uma condução nervosa no volante, a vida do machista tende a ser mais curta do que se pensa.

O machista teima em achar que pode viver 90 anos, mesmo passando 50 anos ingerindo um coquetel de cerveja, bebidas alcoólicas "chiques", cocaína, nicotina e alimentação gordurosa. Sente-se ofendido quando alguém lhe diz que ele pode morrer de câncer ou infarto antes da "linear" idade de 90 ou 95 anos. O machista se acha um Deus, pode se destruir e se achar indestrutível.

E os que matam suas mulheres pouco importam se elas tinham muitos projetos de vida. Mas, contraditoriamente, eles é que têm medo de morrer, daí que vários feminicidas chegam a acionar a Justiça para regular a imprensa na cobertura de suas vidas, e, caso algum deles morra, não apareça uma nota de jornal. E, numa sociedade machista, um feminicida não pode morrer antes dos 85 anos, e a própria imprensa "oculta os cadáveres" de quem morre antes dessa idade.

Fica feio divulgar tragédias de machistas. Machistas são "fortes", divinos "apolos" do moralismo patriarcal, não podem mostrar sua fraqueza. Mas as mulheres é que são vítimas de tragédias, de humilhações, como a jovem de 16 anos que sofreu estupro coletivo sob os comentários animados de quem se divertiu com o vídeo divulgado nas mídias sociais.

A "CULTURA DO ESTUPRO"

Há até mesmo um protocolo machista nas mídias sociais no qual o internauta tem que exaltar e endeusar a mulher-objeto, tratando "musas" siliconadas como se fossem ícones da feminilidade, ou mesmo pretensos símbolos de feminismo. O feminismo é confundido com uma combinação de misandria e celibato, sob a desculpa de que as mulheres que "mostram demais" promovem seu sucesso sem a influência de maridos e namorados.

Há casos de mulheres siliconadas que tratam a "sensualidade" como um "trabalho". "Sem tempo para namorar, dedicação total à carreira", disseram várias delas. O "trabalho": explorar o corpo como uma mercadoria erótica de consumo por parte de um público de machistas afoitos. Os mesmos que ficam alegres quando uma "novinha" é estuprada e o vídeo aparece nas mídias sociais.

Vários internautas que tentaram romper esse ideal machista, esse culto à coisificação sexual, sofreram ataques. Um internauta que sugeriu a Solange Gomes se casar com um homem recebeu mensagem de uma mulher (?!) dizendo que a "famosa" poderia processá-lo judicialmente. Outros internautas que se definem como nerds também receberam comentários constrangedores quando afirmaram que as mulheres-frutas não fazem o seu tipo para namorar.

É a "cultura" da coisificação da mulher, da hipersexualização, que tem na "cultura do estupro" uma variante ainda mais radical. E que tem como "bons exemplos" figuras como Jair Bolsonaro, que disse a uma parlamentar que "não a estuprava porque ela não merece", e o ator pornô convertido em "educador" no risível governo Temer, Alexandre Frota, dizendo num programa de TV que estuprou uma mãe-de-santo com naturalidade e tom de piada.

O programa, o The Noite do SBT, é apresentado por Danilo Gentili, comediante do mesmo "clube" de reacionários de Frota e Bolsonaro. Frota narrou o caso como se narrasse um fato pitoresco e Danilo e a plateia se divertiram com gargalhadas histéricas, como se não fosse um estupro, e sim uma diversão.

O programa tem como banda musical de apoio o grupo de rock Ultraje a Rigor, cujo líder, Roger Rocha Moreira, outro ícone do direitismo sócio-político-midiático, havia apoiado a criação de um blogue ofensivo que parodiava o Escreva Lola Escreva, da professora e ativista Lola Aronovich. O blogue, intitulado Lola Escreva Lola, saiu do ar depois que foi denunciado à polícia.

O RIO DE JANEIRO CONTINUA LINDO?

Diante desse contexto, em que a maior parte do reacionarismo na mídia, na política e nas mídias sociais, se encontra no Rio de Janeiro, um Estado cuja decadência muitos recusam a admitir e tentam minimizar os problemas trágicos e de repercussão bastante negativa atribuindo-os à "rotina natural da modernidade urbana".

É um Estado cujo know-how político foi "exportado" através da figura de Eduardo Cunha, que chegou a ser presidente da Câmara dos Deputados e, político sem carisma nem expressão, tornou-se o símbolo da prepotência política sem controle. Mesmo afastado da presidência da casa legislativa e suspenso do mandato parlamentar, Cunha deixou um legado de ideias e pessoas adotadas pela equipe do presidente interino Michel Temer.

Temer é o típico "marido do século XIX", casado com uma moça com idade para ser sua neta. Cunha não chega a tanto, mas casou-se com a outrora admirável jornalista Cláudia Cruz, que havia sido musa cult entre os fãs de televisão em geral.

O governo Temer se cercou de um ministério machista, dotado de homens brancos com o perfil tecnocrático ou político dignos do auge da ditadura militar. A composição causou repercussão negativa e Temer, sem voltar atrás, tentou disfarçar o problema nomeando mulheres para secretarias ou outros órgãos de segundo escalão.

No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes até prometeu dar assistência à adolescente vítima do estupro coletivo. Foi hostilizado e vaiado. Afinal, Paes defende como candidato à sucessão na Prefeitura do Rio de Janeiro um ex-secretário, Pedro Paulo Carvalho, acusado de agressões violentas à ex-mulher.

Mas isso faz sentido numa situação em que o Brasil vê uma coleção de fatos desastrosos e trágicos, além de uma porção de gafes. E muitas delas vindas do Rio de Janeiro, cuja decadência é demais para serem consideradas apenas "problemas corriqueiros da complexa vida moderna".

O Rio de Janeiro do ar poluído, das balas perdidas que matam inocentes, dos fascistas e brutamontes da trolagem nas mídias sociais, dos ônibus com pintura padronizada que confundem passageiros, dos produtos que somem rápido nos mercados e levam tempo para serem reabastecidos, da "rádio rock de verdade" que é feita por gente sem vocação para o gênero, do "funk" que glamouriza a pobreza, do coronelismo enrustido da contravenção e das milícias etc.

Não é, portanto, um Rio de Janeiro imponente de 60 anos atrás, e nem sequer uma sombra desses tempos. O Rio de Janeiro decadente que insiste em se impor como "modelo de vida" para o resto do país é apenas o palco principal dessa tragicomédia cotidiana, dessa avalanche de valores retrógrados que se multiplicam nos noticiários e geram uma imagem negativa do Brasil no exterior.

Daí que não dá para ignorar a queda vertiginosa do Brasil e do seu principal palco geográfico. Se o cidadão carioca típico, que diante das bancas de jornais e nas mesas de botequim, fica gracejando dos problemas cotidianos, transformando a decadência do Rio de Janeiro em piada sarcástica, é sinal que a situação é mais grave quando os próprios fluminenses ignoram essa decadência. Há poucos dias, pessoas jogavam bola felizes diante dos dois mortos da queda de uma ciclovia.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

O perigo de recuperar bases kardecianas sem descartar Chico Xavier e Divaldo Franco


É muito comum as pessoas que, no Brasil, discutem a deturpação da Doutrina Espírita, se sentirem melindrosas quando as críticas chegam aos dois astros do "movimento espírita": Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco.

Ainda apegadas à fabulosa reputação dos dois, associados a estereótipos ligados ao amor, bondade, caridade e humildade, Chico Xavier e Divaldo Franco ainda exercem uma "fascinação" (no sentido de um tipo de obsessão alertado pelo Espiritismo original) até mesmo em ateus e kardecianos autênticos.

Só isso para explicar que os questionamentos sempre "morrem" quando se chega a essas duas figuras, que seduzem os incautos diante de um aparato de "filantropia" e "generosidade". O que é um perigo muito sério, uma armadilha traiçoeira e sutil que pega qualquer um desprevenido.

Lendo os livros e artigos de Allan Kardec e os alertas de espíritos como Erasto, observa-se que eles avisaram, com toda a clareza possível, para as pessoas evitarem as armadilhas dos deturpadores da Doutrina Espírita, que fariam de tudo para obter a confiança absoluta de suas vítimas.

Com o máximo de clareza, identifica-se muitos aspectos que as pessoas no Brasil deixaram passar: os deturpadores manipulariam por textos rebuscados e prolixos e oratória empolada, falariam de coisas lindas e boas, dominariam as pessoas falando de amor, bondade e humildade, e sempre transmitiriam uma imagem agradável que dificultasse qualquer reação contrária a esses espíritos levianos.

Identifica-se dois tipos de obsessão que se tornam motores para a prevalência do "espiritismo" brasileiro em sua fase dúbia (que bajula Kardec mas pratica o igrejismo). A "fascinação", que consiste na pessoa ser seduzida pelo deturpador religioso através de uma porção de ideias e aspectos agradáveis, e a "subjugação", que é a submissão completa a esse deturpador.

As pessoas geralmente exercem "fascinação" por Chico Xavier e Divaldo Franco. Se entregam, com morbidez quase voluptuosa, às suas imagens de pretensos filantropos. Embora admitam que eles "entenderam mal" a Doutrina Espírita, sempre justificam a complacência pela desculpa da "bondade", da "filantropia" e da "humildade".

Chegam a dizer que os dois "ajudaram muita gente" sem dar argumentos convincentes. Acham que eles, pelo menos, "sempre foram grandes filantropos", ignorando o fato de que os locais de sua influência, Uberaba e o bairro de Pau da Lima, em Salvador, estão entre as áreas mais violentas no Brasil. Alguém tem coragem de circular por Uberaba ou Pau da Lima na penumbra da madrugada?

As instituições já seguem o processo de "subjugação". Ninguém investiga Divaldo Franco e, quando tenta investigar Chico Xavier, é só uma tarefa de fachada que só serve para fingir admitir uma polêmica e depois legitimar todas as farsas e mistificações do anti-médium.

Isso porque as classes de juristas, jornalistas e acadêmicos estão subordinadas à imagem "bondosa" associada aos dois anti-médiuns, e não conseguem sequer questionar se essa imagem não teria sido construída, se ela é falsa ou se mesmo aspectos verossímeis como a "caridade praticada" na Mansão do Caminho realmente trazem resultado ou não.

BASES FICAM IRRECUPERÁVEIS COM CHICO E DIVALDO

Para quem quer recuperar as bases doutrinárias do Espiritismo original, melhor seria esquecer e desprezar Chico e Divaldo, e admitir que eles, com toda a imagem "bondosa" que apresentam, são realmente os inimigos internos da Doutrina de Allan Kardec.

Aceitá-los a pretexto deles serem, "pelo menos, símbolos de amor e bondade", é legitimar a deturpação de uma forma ou de outra. Afinal, mau Espiritismo não se compensa com tais pretextos. Até porque bom-mocismo não compensa mau serviço. O amor não é cúmplice da desonestidade, ninguém mente para ajudar os desfavorecidos.

O grande perigo de aceitar Chico e Divaldo é que, no caso da recuperação das bases kardecianas, o processo se revela traiçoeiro, a aceitação torna-se uma armadilha que pode, sim, manter a deturpação através de algumas etapas:

1) Pressupondo que Chico Xavier e Divaldo Franco são "bondosos", dá se alguma credibilidade para os dois anti-médiuns.

2) Com isso, eles são creditados como "exemplos de caráter" e, por isso, adorados de uma forma quase incondicional pelas pessoas que querem recuperar as bases kardecianas.

3) Sendo "exemplos de caráter", eles passam a ganhar uma confiança plena que dá imunidade a ambos.

4) Em primeira instância, se admite que eles "entenderam mal" a Doutrina Espírita, mas pela imagem de "bondosos" que recebem, os questionadores são tentados a ler ou reler as obras lançadas pelos dois "médiuns".

5) Com isso, as pessoas são seduzidas pelas "mensagens lindas" que as obras trazem, passando a dar crédito nas obras deturpadoras como se fosse "uma abordagem diferente e atualizada".

6) Diante disso, à aceitação das "palavras de amor" se segue a "revisão de posições" na qual se "avalia" as ideias deturpadoras como se elas fossem "melhor" do que as do tempo de Kardec, afinal elas teriam sido publicadas décadas depois.

7) Com isso, a pessoa que queria recuperar as bases originais do pensamento kardeciano passa a legitimar visões deturpadoras, porque estas vêm de pessoas consideradas "bondosas" e "admiráveis".

Não existe meio-termo. A pessoa que acha que pode cultuar Chico e Divaldo porque eles são "bondosos" e não chegar perto de seus livros será tentada alguma vez a lê-los. A visão "imparcial" é apenas o começo de um caminho no qual os questionadores sempre escorregarão na rampa que a deturpação arruma para fazer seus opositores declinarem para o apoio do "movimento espírita".

É um processo traiçoeiro. Primeiro se diz que os deturpadores são "bondosos". Depois se dá confiança plena a eles. Em seguida, a curiosidade impele a leitura de suas obras. No fim, há a aceitação das ideias deturpadas e a invalidação das bases kardecianas, que se tornam irrecuperáveis.

Portanto, é essa armadilha que se arma e que já havia sido prevenida há mais de 150 anos. E o Brasil se recusa até hoje a ouvir tais advertências. Em vez de aceitar dez verdades, aceitou-se uma única mentira: a mentira igrejeira de Chico Xavier e seu discípulo Divaldo Franco.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Pais de formação "espírita" vibram, sem querer, pelo desemprego dos filhos


O "espiritismo" confunde as pessoas e embola as energias de tal forma que oportunidades são perdidas de forma surreal, com todo o esforço e otimismo que as pessoas desenvolvem, fazendo com que aquela chance lhes fugisse como um sabão escorregando das mãos e caindo num valão.

Exemplos recebemos diversos de pessoas que acabam sendo manipuladas pelas más energias "espíritas". É o caso de dois pais, já idosos, que veem seus dois filhos rapazes terem muita dificuldade de obter emprego.

É uma situação surreal. Os dois rapazes se esforçam para obter empregos, mandando currículos, indo para entrevistas de emprego, fazendo concursos públicos, estudando para fazer o melhor possível, procurando fazer as provas com atenção.

Eles nada conseguem. Não obtém conquista alguma. Eles se esforçam, vibram positivamente, têm jogo de cintura, metem a cara, mantém atenção e tudo. Só que nada acontece. Os empregos desejados e necessário para suas evoluções pessoais lhes fogem, fosse o esforço que houvesse sido feito.

Os pais passaram muito tempo seguindo a religião "espírita". O curioso é que, quando não havia um envolvimento no "espiritismo", como frequência em "centros espíritas" e a adesão a "tratamentos espirituais", havia mais oportunidade de emprego. Quando havia o envolvimento no "espiritismo", as oportunidades, quando apareciam, resultavam sempre em fracasso.

Os pais, educados em ideologias conservadoras dos anos 1940, acabam presos em paradigmas moralistas de sacrifício humano e busca neurótica de emprego. Diante dos valores da Teologia do Sofrimento, que o "espiritismo" adota via Chico Xavier, os pais acabaram se acostumando com a ideia de vida qualquer nota e busca de emancipação apenas pela busca material dos salários.

Os pais acabam confundindo as coisas, no seu moralismo severo. Em muitos momentos acabam misturando o trabalho em casa e o trabalho na rua. Pedindo para os filhos ajudarem em casa, sem querer acabam vibrando para que os filhos fiquem desempregados sempre e se limitem a "trabalhar" nas tarefas domésticas, o que os pais, com uma ênfase discursiva, denominam "trabalhar". O pai chega mesmo a dizer, brincando, "Vamos trabalhar?".

Há também a insegurança inconsciente da mãe de ver os filhos saindo de casa, com a obtenção de empregos. E, por mais que ela reze para que os filhos sejam empregados, ela acaba transmitindo energias contrárias, vibrando o contrário, tanto pelo medo de ver os filhos longe dela quanto pelo moralismo confuso que faz ela e o marido ficarem indecisos se os filhos devem trabalhar em casa ou ter emprego na rua.

Um dos filhos é jornalista de formação e não pode sequer acompanhar os noticiários da Internet de manhã, em casa. Tem que fazer as tarefas domésticas, quando os pais se esquecem que um profissional de jornalismo - o rapaz está desempregado até pelo fato da imprensa brasileira estar em franca decadência (um patrão incompetente nunca iria contratar gente melhor que ele) - sempre acompanha os noticiários de manhã. Veem isso como ociosidade inútil.

Essa confusão moralista acaba influindo nas más energias. Recentemente, o irmão do filho jornalista foi estudar para um concurso público, com o esforço mais hercúleo possível, memorizando o máximo de um programa de estudo. Ele se esforçou para fazer a melhor prova, marcando as questões com o máximo de correção possível.

Mas, como num desses aspectos surreais, o rapaz viu o resultado do concurso e notou que sua pontuação foi medíocre. Como em vários resultados que revelam obstáculos pesados demais para dois rapazes com grande potencial.

É certo que na vida nada cai do céu, que há muitos fracassos na vida, mas os dois rapazes sofrem infortúnios em doses cavalares, mais da conta e acima de suas condições. Se o máximo de esforço e até mesmo a mudança de pensamentos para trabalhar a esperança não encontram resultado, sendo tudo feito em vão, é sinal que há algo de errado fora desses rapazes.

É é o acúmulo da energia negativa trazida por uma doutrina que, por trabalhar de forma errada o legado de Allan Kardec, torna-se uma religião com as portas abertas para os espíritos levianos, que praticamente tomam as rédeas do "espiritismo" brasileiro.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

"Espiritismo" brasileiro tem preconceito contra deprimidos


Um texto publicado no blogue Escreva Lola Escreva, a partir de um e-mail enviado por uma adolescente, nos faz pensar em relação ao sofrimento humano, que leva muita gente à depressão, um fenômeno visto com discriminação por uma boa parcela da sociedade.

"Sorria mais! Saia Mais! Depressão não existe", é o título da postagem. Isso lembra alguma coisa? Lembra Chico Xavier, que dizia que, na pior das desgraças, a pessoa deveria sorrir e agradecer a Deus pelas bênçãos que virão. Lembra Divaldo Franco, corroborando Joana de Angelis, que pedia para as pessoas serem felizes e não ficarem tristes por mais de quinze minutos.

Isso é muito grave e mostra o verdadeiro objetivo do "espiritismo" feito no Brasil, um igrejismo medieval muito mal disfarçado por uma falsa apreciação do legado de Allan Kardec: a retrógrada Teologia do Sofrimento, originária dos períodos trevosos da Idade Média.

O "espiritismo" condena o suicídio. Mas o condena não como um erro que pode desperdiçar uma encarnação diante de um ato precipitado e irreversível. O condena como se fosse um crime hediondo, pior do que o homicídio, já que, muitas vezes, o homicida é visto como um "justiceiro moral" pelos "espíritas" e que só "vai pagar pelo que fez" na próxima encarnação (é o "fiado espírita").

O moralismo "espírita" chega a mostrar a felicidade humana não como uma qualidade salutar, mas como uma obrigação na qual as pessoas são obrigadas a esconderem seus sofrimentos e fingirem que estão felizes, sentindo esperança do nada.

Chico Xavier disse com estas palavras: ""Precisamos aprender a sofrer sem mostrar sofrimento, atravessar dificuldade sem passar na pauta dos outros... Estamos matriculados na prova; vamos ver qual será a nota". É a Teologia do Sofrimento, na mais explícita concepção pelo "médium" mineiro.

Daí o desprezo à desgraça humana, e que mostra também uma cruel discriminação. No livro Reportagens de Além-Túmulo, de 1943, em que Chico Xavier usa o nome de Humberto de Campos, há um conto perverso, "A Queixosa", que trabalha uma imagem discriminatória dos contestadores, um prato cheio para Chico levar vantagem no processo que o colocou no banco dos réus no ano seguinte.

O texto é divulgado pelos "espíritas" como uma "lição de otimismo e de esperança", mas é na verdade uma perversidade sem tamanho. Se fizermos uma outra interpretação desse texto, veremos que a cruel lição que este texto dá, não bastasse o dado perverso de Chico Xavier ter usado o nome de Humberto de Campos (que, com certeza, não mandaria um texto destes, prolixo e cansativo, do além), é de que temos que ser felizes à força.

A realidade mostra que, nesse conto "A Queixosa", não é sua protagonista a vilã da estória, mas aqueles que a abandonam. Isso porque, quando alguém reclama, supostamente "em excesso", muitas vezes está chamando a atenção das pessoas para os problemas acumulados.

É como alguém que aponta as muitas sujeiras acumuladas em uma casa, deixadas por negligências, descuidos e descasos anteriores. Imagine as pessoas ficarem felizes com a casa suja e romperem a amizade com alguém que aponta a sujeira que se acumulou. E olha que o "queixoso" muitas vezes se dispõe a ajudar os outros a resolver os problemas.

A PESSOA NÃO SE ATORMENTA PORQUE QUER

Isso quer dizer que o "espiritismo" prega para ficarmos felizes com o "mundo cão", com os retrocessos acumulados, com a sujeira que se juntou no decorrer de anos, com a decadência que veio aos poucos mas que gerou um resultado desastroso.

A verdade é que esse discurso de Chico Xavier revela perversidades e omissões. Além do fato de que Chico muitas vezes escrevia em causa própria, e esse papo de condenar os "queixumes" tem um aspecto um tanto cafajeste de forçar as pessoas a aceitar as fraudes que o "médium" fazia e textos como o aqui mencionado, que Humberto de Campos em verdade nunca escreveria isso, até porque ele claramente foge da boa fluência e da prosa ágil e acessível do autor maranhense.

Por outro lado, os "espíritas", com seu modo medieval de enxergar as coisas, imagina que pessoas cometem suicídio por pura diversão, que pessoas se deprimem porque isso dá um êxtase exótico e as pessoas reclamam da vida porque não têm outra coisa a fazer ou dizer.

Grande engano. Até porque, observando bem, as pessoas mais resmungonas estão por trás daqueles que falam em "felicidade a qualquer preço", que de vez em quando falam da "maravilhosa arte de extrair alegria da dor".

São justamente as pessoas que, com desespero dissimulado, falam demais em "felicidade", "otimismo" e "esperança" que são as mais atormentadas, as mais resmungonas, as mais mal-humoradas e as mais ranzinzas. São elas que, reagindo com rispidez ao menor questionamento dos problemas da vida, desmascaram a sua ilusão forjada da "alegria sem limites".

Enquanto isso, as pessoas que se deprimem e pensam em suicídio adotam tais posturas porque simplesmente não conseguem resolver os problemas. Os obstáculos lhes são demais. Elas se esforçam, fazem sua parte, tentam dar um sorriso, enchem seus corações de esperança, metem a cara para vencer na vida. Mas nenhum esforço, nenhuma alegria, nenhum jogo de cintura consegue fazê-las conquistar as metas desejadas. Daí a depressão, o desejo suicida etc.

O "espiritismo" prefere aceitar as injustiças e achar o sistema de privilégios e desigualdades "irreversível". Tentam argumentar que os abusadores da época presente terão "o que merecem" na "verdadeira vida" ou na "vida futura", enquanto defendem o sofrimento dos desafortunados como se fosse uma gincana para obter o prêmio duvidoso das "bênçãos futuras".

Isso mostra o quanto pessoas que querem "felicidade a todo custo" escondem suas neuroses, muito mais cruéis e preocupantes do que as dos deprimidos e suicidas. São pessoas que se escondem no conforto das ilusões vãs, do elitismo vazio, do deslumbramento da fé religiosa, do egoísmo disfarçado em caridades paliativas e superficiais.

São as pessoas que se dizem "plenamente felizes", no conforto da vida material e religiosa, indiferentes ao sofrimento alheio, que escondem as pessoas mais atormentadas e ranzinzas. E muitos deles nos "centros espíritas", demonstrando uma devoção feliz e enchendo a boca com o mel vocabular cheio de "amor", "caridade", "fraternidade", "humildade" etc.

Tire dessas pessoas dessa situação desconfortável e lhes apresentem os infortúnios de dificílima solução. Teremos também outras pessoas reclamando demais da vida, sentindo depressão profunda e pensando em suicídio. E muitas dessas pessoas podem ser justamente aquelas que se julgam protegidas pela roupagem "espírita".

sábado, 21 de maio de 2016

Estranho mercado de trabalho que subestima o talento

PARA MUITAS EMPRESAS, O EMPREGADO PADRÃO DEVE TER, ANTES DE MAIS NADA, O HUMOR CÍNICO DE DANILO GENTILI.

Estranho país em que os medíocres se dão melhor do que as pessoas de talento. Salvo honrosas exceções, o mercado de trabalho no Brasil está tão tomado de mediocridade que hoje o que importa, para se obter um emprego, não é o talento nem a vocação, mas o "jogo de cintura".

Depois da onda do "veterano júnior", aquele critério maluco de exigir pessoas com baixa idade e muita experiência de trabalho - só faltava contratar bebês de seis meses que tivessem, no mínimo, três anos de experiência profissional (não se leva em conta encarnações passadas, vale lembrar) - , agora se tem o profissional-humorista, não necessariamente talentoso, mas dentro do padrão "sociável".

No Sul e Sudeste, regiões que estão tomadas de profundos e acelerados retrocessos sociais - o Estado do Rio de Janeiro sucumbiu a uma decadência vexaminosa de fazer matuto do Acre ficar boquiaberto - , o mercado de trabalho parece não ligar muito para pessoas talentosas, geralmente mais talentosas que gerentes, diretores de empresas e membros do departamento de recursos humanos.

O desemprego é grande e, nesse contexto de suposta crise econômica - em que as elites escondem o dinheiro que roubaram (sim, é a mesma elite que tomou o poder, com Michel Temer) e inventam que há crise para tirar dinheiro do povo ainda mais com as tais privatizações e cortes nos gastos públicos - , as pessoas que têm talento para uma coisa são obrigadas a se especializar em outra.

No "espiritismo", isso é moleza. Para os "bondosos espíritas", pimenta nos olhos dos outros é refresco. Faltou o "divino" Chico Xavier dizer coisas do tipo "quando a pimenta arde dolorosamente nos olhos de alguém, é sinal que uma nova visão se clareia no horizonte, e se a pessoa é impedida de enxergar o mundo, ao menos poderá enxergar a luz maior de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo".

Segundo o "espiritismo", tanto faz a pessoa ter vocação para X e ter que trabalhar na função Y. E não se fala em busca de versatilidade ou de variação de atividades, mas sim da pessoa que é forçada a fazer algo que não sabe fazer, porque o que sabe não encontra oportunidade de realização.

É a vida "qualquer nota". O "espiritismo" despreza a vida material, ignora a individualidade humana, até pelo fato das "psicografias" e "psicofonias", além das pinturas "mediúnicas", que produz não têm, nem de longe, os estilos pessoais dos autores falecidos alegados.

Para o "espiritismo", tanto faz perder uma encarnação com infortúnios pesados e sacrifícios exaustivos. Tanto faz encarar tragédias à toa, desgraças surgidas do nada. Achando que a "verdadeira vida" é no além-túmulo - o que é verdadeiro - , isso todavia não significa que a pessoa possa perder uma encarnação inteira virando "capacho do destino".

Isso mostra o quanto a religião é insensível. Ela fala em ajuda, fraternidade, solidariedade, mas o circo das palavras bonitinhas não é a prática dos atos concretos e firmes. Até porque se pede demais "fraternidade", mas não se dá. E, vendo o caráter moralista e igrejista do "espiritismo", dá para perceber o quanto esta religião não ajuda.

E, neste contexto ruim de recessão extrema, em que se exige demais do que não tem enquanto quase nada se cobra do que têm demais, o mercado de trabalho é reflexo de um país com overdose de fé e níveis anoréxicos de razão e bom senso.

O mercado de trabalho quer um trabalhador comediante, que não necessariamente seja criativo. Seja, sim, uma pessoa de acordo com o perfil da empresa, que obedeça uma lógica de trabalho, sem acrescentar muito de talento pessoal, mas que tenha senso de humor um tanto cínico para contar piadas com os colegas.

É um cara que tem que torcer por futebol, ter uma anedota pronta, o que distorce a natural descontração que um profissional, como em qualquer ambiente social, deve ter com os amigos. Porque não se trata mais de uma descontração espontânea, mas uma obrigação de trabalho, de ser brincalhão não pela natural situação do momento, mas como uma regra de trabalho.

O mercado de trabalho é "mão de vaca", e muitos "nãos" são ditos para quem tem talento e poderia salvar as empresas de falência ou cortes de gastos. A empresa que rejeita um rapaz que parece tímido numa entrevista de emprego ou se atrapalha num teste psicológico acaba rejeitando justamente aquele que iria fazer a companhia crescer, atrair mais renda, se destacar no mercado.

Perdidas em clichês como a "boa aparência" - um "mauricinho" branco tem mais chance de obter emprego do que um "nerd" mulato ou um branco de cabelos crespos - ou a "experiência" - um bully com mais tempo de emprego leva mais vantagem, assim como o boçal de pouca idade - , as empresas acabam ficando confusas na hora da crise, e contratam profissionais insossos em detrimento dos talentosos que ficam no olho da rua.

Isso é mal, porque o vício do Brasil de manter o jogo das aparências - no "espiritismo" temos o endeusamento de espertalhões como Chico Xavier e Divaldo Franco, por causa da aparência "dócil" e das palavras "com sabor de mel" - faz com que as pessoas obtenham prejuízos diversos, com péssimas escolhas mediante o sabor das conveniências.

Desta forma, as pessoas colhem pedras pintadas de ouro e acham que levam preciosidades. Fazem escolhas motivadas pelo status, pela posição social e pela aparência "bonita", achando que isso protegerá suas rendas e privilégios, quando na verdade isso lhes traz prejuízos diversos. Acabam evitando o melhor e sucumbindo ao pior, apegados às aparências e ao status social.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Embalagem nova e conteúdo velho, a mania do Brasil


Seja à esquerda ou à direita, o Brasil tem uma mania muito antiga: a de travestir o velho com embalagem nova, Sempre o novo construído sobre bases velhas, sempre uma novidade filtrada e deturpada pela corrente que aquela deveria superar e romper.

Sim, porque o novo chega aqui sem romper com o velho, o obsoleto resiste nas condições que impõe ao novo que quer substitui-lo. E é isso que cria uma tradição muito ruim para o país, que depois de uma completa rebeldia popular, trocou uma presidenta progressista por um político que parece viver nos tempos da República Velha.

O próprio "espiritismo" brasileiro surgiu assim. Em vez de assimilar por completo o cientificismo de Allan Kardec - que só foi tardiamente bajulado e falsamente apreciado (e de maneira superficial) pelos membros da doutrina brasileira - , herdou aspectos do Catolicismo do Brasil colonial, de herança portuguesa e conteúdo medieval.

O mais preocupante é que uma segunda reembalagem está sendo usada para salvar o "espiritismo" em crise, se apoiando num projeto humorístico moldado nos fenômenos recentes da Internet - como o grupo Porta dos Fundos - , uma embalagem nova sobre uma outra embalagem que havia sido nova e que começa a apodrecer.

É muito preocupante ver que humoristas se baseiam em linguagens mais recentes da Internet para tentar salvar a reputação de um Divaldo Franco, um sujeito ultrapassado, professor dos moldes da República Velha, com seu estilo verborrágico, prolixo e rebuscado, que de maneira empolada deturpa o pensamento kardeciano através de mistificações e fantasias de valor muito duvidoso.

É o Brasil do machismo travestido de feminismo das mulheres siliconadas, verdadeiras mercadorias eróticas. Mulheres que, só pelo fato de não estarem casadas (ao menos, aparentemente), se acham "feministas", ainda se dizendo portadoras de um "direito ao corpo" que é desculpa vaga para quem não tem personalidade própria se promover com um falso ativismo.

É o Brasil em que emissoras FM de perfil pop - a paulista 89 FM e a carioca Rádio Cidade - se passam por "rádios de rock" mantendo a linguagem mofada de FMs reacionárias como Transamérica e Jovem Pan, e um formato obsoleto como o do hit-parade (as duas rádios "roqueiras" só tocam os chamados "grandes sucessos"), criando um perfil tão esquisito (e claramente anti-roqueiro) que existe até programa sobre futebol, esporte que nada tem a ver com a essência do rock.

É por isso que, depois dos "revoltados" que clamavam com um país "livre e independente", o antiquado Michel Temer tomou o poder. Ele, que já no seu lar estabelece, com uma esposa 43 anos mais jovem, uma relação conjugal típica do século XIX, comanda um ministério digno da Era Geisel e propõe um projeto político que já era antiquado até na década de 1960.

Mas a Era Geisel era a menina dos olhos da sociedade conservadora, plutocrática, patriarcalista, elitista, racista e machista. Uma sociedade que tem medo de ver um Doca Street morrer, mesmo já idoso, quando pessoas bem mais valiosas que o Brasil já teve morreram com menos idade que o empresário que matou a namorada Ângela Diniz. Renato Russo, por exemplo, morreu aos 36 anos.

A Era Geisel era uma ligação entre uma promessa de uma democracia "equilibrada" e o ufanismo do "milagre brasileiro". A cultura popular era deturpada e reduzida a um pastiche americanizado. A economia era marcada pela perda do poder aquisitivo e pela "erosão" da cesta básica dos brasileiros. A opinião pública era uma ficção montada pelos juízos de valor da grande mídia reacionária.

Esse período era um misto de conservadorismo social e concessões parciais. Virou a pauta do PMDB, famoso por impor decisões sem consultar a população e comprovadamente nocivas, que vão desde a pintura padronizada nos ônibus do Rio de Janeiro, que escondem as empresas de ônibus da população (uma antiga empresa da Zona Oeste foi extinta pegando a população de surpresa), à extinção do Ministério da Cultura, mal compensada por uma secretaria subordinada ao Ministério da Educação.

O Ministério das Comunicações também foi extinto por Michel Temer pelo mesmo motivo, decidir sem consultar as pessoas, e prejudicar de propósito, embora cedendo parcialmente sem no entanto abrir mão das arbitrariedades.

Com o fim do Ministério das Comunicações, a grande mídia e os empresários da telefonia recebeu carta branca para tratarem os brasileiros como "gatos e sapatos", com a telefonia prestando um péssimo serviço e veículos como a Rede Globo e a revista Veja fazendo "lavagem cerebral" do povo brasileiro.

Esse é o país que teima em manter o velho sob a embalagem nova. E isso não trará o progresso almejado. O país do "funk" - ritmo que expressa o grotesco midiático - , do fisiologismo político, do machismo vingativo, do fanatismo religioso e futebolístico, das rádios que tocam sempre os mesmos "sucessos" e da imprensa extremamente reacionária, voltou a estar em alta com um governo Michel Temer que já se instaurou exalando forte cheiro de mofo.

E os igualmente mofados "espíritas" pedem apenas para que oremos em favor dos governantes. O que é esperado numa doutrina religiosa que tenta representar a vanguarda científica de Allan Kardec, mas na prática sucumbe ao obscurantismo católico que nem a Igreja Católica segue mais.

Deste modo, o "espiritismo" brasileiro tem tudo a ver com o Brasil de Michel Temer, na medida em que a doutrina brasileira representa, ao lado dos evangélicos, a porção mais retrógrada da religiosidade brasileira, ainda apegada a princípios, práticas e valores medievais.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Modelo religioso de "bondade" esconde controle social


O modelo "religioso" de bondade, que tanto fascina muitos, revela um dado sutilmente cruel: o do controle social, que está por trás de projetos assistenciais e educacionais que, sob o manto da fé religiosa, ajudam apenas nos aspectos mais básicos, mas sob o preço da manipulação e do domínio.

Observa-se que o Brasil é uma sociedade conservadora, com um sistema democrático frágil e irregular, e com pessoas que não são inteiramente progressistas, sempre escondendo algum aspecto conservador que, em dado momento, se manifesta de alguma forma.

Daí que o impeachment de Dilma Rousseff se efetivou sob o respaldo de uma sociedade supostamente "moderna", de jovens "raivosos" que faziam até trolagem nas mídias sociais e, em boa parte, ouviram a "sonzeira" do "rock radiofônico" das FMs Cidade e 89, ou, em outra, apreciavam "sertanejos" e funqueiros de visual "arrojado", como MC Guimê e Lucas Lucco, e falavam palavrão e se comportavam com a histeria jocosa e agressiva dos skinheads.

Mas mesmo pessoas cordatas, como ativistas sociais de esquerda, como artistas pós-modernistas e outros, também escondem aspectos sombrios e nada progressistas. Uma blogueira de esquerda, assumidamente comunista, expressou seu entusiasmo pelo filme As Mães de Chico Xavier, sobre o conservador "médium espírita", e ainda reclamou do "boicote da grande mídia", se esquecendo que o filme é uma co-produção da Globo Filmes e tem até elenco de novela da Rede Globo.

É esse o Brasil que permitiu que o governo Michel Temer, de perfil bastante sombrio envolvendo acusados da Operação Lava-Jato - uma ironia para uma sociedade que se aparovou diante do ex-presidente Lula sendo empossado ministro da Casa Civil, semanas atrás - , se instaurasse com um projeto político tão conservador que o ministério é composto apenas de homens brancos, como se fosse um ministério dos tempos do general Ernesto Geisel.

Os retrocessos envolvem sobretudo um plano de combate à recessão econômica que "trará mais sacrifícios" para os trabalhadores. A idade da aposentadoria será prolongada, haverá muitas privatizações e as relações trabalhistas deixarão de ter a mediação da lei, fazendo prevalecer os interesses patronais sobre os dos empregados.

Há uma intenção de combater o desemprego, mas muitos especialistas dizem que ele se dará com a nivelação por baixo das ofertas de emprego, havendo diminuição de salários e extinção de alguns encargos.

"BONDADE" PALIATIVA

Mas o que são "sacrifícios" se a "maravilhosa" doutrina de "amor e luz" que é o "espiritismo" brasileiro encanta a todos com esse mesmo discurso: "sacrificar para uma vida melhor". A forma com que Francisco Cândido Xavier defendeu a Teologia do Sofrimento, apelando para um "sofrer sem queixumes", encanta as pessoas com essa cicuta moral (não seria "chicuta"?).

A ideia, ao mesmo tempo moralista e paternalista, de "bondade", cria um paradigma ideológico sobre o que muitos consideram "transformador": fazer prostrados se levantarem, fazer pessoas deprimidas darem um sorriso forçado e superficial, num contexto em que sofredores têm que ser mantidos sempre inofensivos, passivos e resignados.

Só que muitas vezes esse "amor" intimida mais do que anima. É o figurão religioso que, com sua "bondade", constrange o sofredor, que, com a alma esmagada pelos infortúnios, é assistida da maneira mais melancólica possível, sendo mais "consolada" do que reanimada.

O religioso expõe sua "superioridade" moral. No rito de "assistência", ele estabelece seu poder sobre o sofredor. Há um gesto paternal, "benevolente", na qual o religioso é o "bem" e o sofredor um "portador do mal" que precisa ser "curado".

Sofredores, miseráveis e outras vítimas da "má sorte" se tornam uma multidão que, no processo religioso, têm que ser mantidos resignados, infantilizados e, em certos casos, abobalhados. A "admirável bondade" da religião sempre traz o triunfalismo de seus chefes e palestrantes, seus ídolos e celebridades, eles que são os "portadores do bem" que "doam" para os outros.

Tudo isso não resolve com profundidade. Apenas minimiza o sofrimento extremo, os efeitos extremos das desgraças humanas. Só que as pessoas postas em situações confortáveis, como os internautas que endeusam Chico Xavier e Divaldo Franco, confundem o "menos ruim" com o "bem melhor", e acham que a caridade só transforma quando feita sob o selo da religião.

Daí que atribuições surreais são feitas. Divaldo Franco é o "maior filantropo do Brasil" por ajudar, anualmente, 0,00012% da população brasileira, apenas porque seu projeto assistencial e educativo da Mansão do Caminho está associado a paradigmas agradáveis de religiosidade, fé e compaixão, ligados a aspectos simbólicos do comportamento maternal e paternal.

Não imaginamos que a bondade tem mais a ver com resultados de benefícios, e não pela associação simbólica a aspectos de religiosidade que transformam o carinho paternal e maternal em um ritual místico e hipnótico, quase sensualizado para o êxtase dos devotos da fé religiosa.

As pessoas não conseguem ver os resultados, criando desculpas. Falam que seus ídolos religiosos são "corajosos" e prometem um projeto "transformador". Se o resultado é ínfimo, argumentam que "dificuldades impediram a ampliação do projeto". E arrumam qualquer desculpa para dizer que seus ídolos são "grandiosos exemplos de amor e caridade".

No aspecto qualitativo, então, as pessoas acham que o "melhor" projeto filantrópico é aquele que ensina religião em vez de despertar a consciência crítica do mundo em volta. Só que isso não tem sentimentos práticos para a melhoria da pessoa, por um motivo bem simples.

Diante dos dogmas religiosos, a pessoa que sofre não tem consciência de lutar por seus direitos, se limitando à oração para resolver seus problemas. Com a consciência crítica, ela tem maior capacidade de ver os motivos de sua dificuldade e agir contra eles.

Com isso, a educação religiosa faz as pessoas não interferirem no sistema de privilégios existente. A educação questionadora representa esse "risco" que incomoda os privilegiados e cria "conflitos". Daí que os religiosos, amigos dos privilegiados, atuam numa "bondade" controladora, em que os infortunados sempre são tratados de maneira domesticada e controladora.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Ao sofredor, cobra-se tudo, ao privilegiado, nada


A Teologia do Sofrimento faz sucesso no Brasil e poucos percebem. Sobretudo em regiões antes consideradas desenvolvidas, como o Sul e Sudeste - em especial o Estado do Rio de Janeiro - , que simplesmente pararam no tempo.

O politicamente correto cria um véu nas pessoas e poucos percebem o quanto o "mundo cão" é fruto de um moralismo severo e um modelo um tanto autoritário de "vencer na vida" ou de "viver feliz". A indiferença ao sofrimento dos infortunados e a complacência com os abusos dos privilegiados dá o tom dessa sociedade ultraconservadora que sempre foi a brasileira.

A situação é insólita: a Teologia do Sofrimento, que descreve o sofrimento humano como "meio de purificação espiritual", é apoiada até pelo "movimento espírita". Chico Xavier, com suas próprias palavras, falava em "sofrer sem queixumes", "sofrer sem demonstrar sofrimento" e coisas parecidas. Mas ninguém assume isso.

Enquanto isso, vemos uma sociedade autoritária e enérgica, que exige demais do que não tem e cobra menos do que tem demais. E isso não é só uma questão de dinheiro, mas questão de humor, de vida, de situações vividas.

As pessoas não costumam ser amigas com os sofredores. Nas horas difíceis, multidões abandonam as pessoas. Poucos prestam assistência, como o bom samaritano. Muitos se afastam, horrorizados e aborrecidos com a desgraça alheia.

Extrovertidos exigem dos introvertidos que estes tenham extroversão, em vez de fazer sua parte para tornar pessoas carmurras mais comunicativas. Exige-se do depressivo uma alegria e uma descontração que ele não tem. Exige-se do infortunado sacrifícios que ele já faz, e não obteve resultado algum.

Enfim, o "outro" é sempre vítima da velha mania de exigir demais dele do que da pessoa exigente. Mas é muito confortável que, diante do sistema moralista em que vivemos, o "eu" que exige e cobra não é "eu", mas "nós, vós e eles".

O "eu", situado em uma posição confortável, não é o "eu", mas uma força invisível que tanto pode ser uma divindade, um ídolo religioso ou o senso comum. "Não sou eu que exijo, é a sociedade que exige", tenta o "eu" eximir-se da culpa.

Já o "outro" tem que "meter a cara" por nada. É o afogado pedindo socorro até que venha alguém de barco não para lhe salvar, mas para enfiar a cabeça mais para dentro d'água, ao mesmo tempo em que pede para o afogado deixar a água e subir.

Somos peixes obrigados a dar um grande salto para uma árvore. E não podemos reclamar. Temos que compartilhar toda uma ilusão de "felicidade", que existe mesmo quando há alguma consciência sobre os problemas cotidianos. Só é proibido reclamar.

Chico Xavier, usando o nome de Humberto de Campos, em Reportagens do Além-Túmulo, de 1943, criou uma personagem chamada "Queixosa", que, por reclamar da vida e não aceitar ser "capacho do destino", vê ser abandonada por amigos, crianças e colegas de trabalho.

Só que essa estória esconde um lado sombrio, contrário ao propósito do "médium": as pessoas que abandonam a queixosa não suportam as queixas porque elas escondem responsabilidades e compromissos que as pessoas "de bem com a vida" se recusam a assumir e executar.

Há uma ilusão de que as pessoas que reclamam da vida são sempre mal-humoradas ou intolerantes, ou que pessoas deprimidas são apenas uns chatos preguiçosos. Como há também a ilusão de que "estar sempre de bem com a vida" possa ser sempre um paraíso de virtudes, mesmo entre pessoas às quais se admita serem imperfeitas.

As trolagens na Internet comprovaram que pessoas que parecem "sempre de bem com a vida" e se expressavam de forma "divertida" nas mídias sociais eram justamente pessoas intolerantes, violentas, preconceituosas e desrespeitosas. Em muitos casos, defendendo de arbitrariedades políticas a valores racistas e machistas.

As pessoas que não suportam ouvir os outros reclamando são justamente as mais mal-humoradas, impacientes e pessimistas, por trás da máscara da "aceitação da vida". Pessoas muito mais revoltadas do que os queixosos aparentes, que não raro apenas querem chamar a atenção sobre problemas que a sociedade tem dificuldades em assumir.

Os privilegiados não recebem cobranças, embora eventualmente sejam criticados aqui e ali. Mas até as encrencas em que eles se metem são fáceis de serem contornadas, mesmo quando alguma perda acaba havendo.

Já os infortunados, mesmo quando se sacrificam em dobro, encontram obstáculos diversos. E, para quem pensa que são os "pensamentos negativos" que fazem a desgraça crescer, é muito bom lembrar que os infortunados costumam investir numa oportunidade com as vibrações mais positivas, com esforço e perseverança. As circunstâncias é que tornam a oportunidade frustrada e é muito fácil botar culpa nos infortunados.

As pessoas que se dizem amigas não socorrem os infortunados em suas piores dificuldades. Em compensação, custam a romper amizade com pessoas consideradas privilegiadas que cometem erros gravíssimos de diversos tipos, mantendo-as em algum nível de contato amistoso sem que o infrator sofra punições sociais definitivas.

Daí o Brasil que adere a Teologia do Sofrimento e faz se manter uma sociedade que é injusta na sua essência. Uma sociedade que exige demais de quem não tem e não pode fazer muito, mas que nada exige de quem tem demais e comete abusos. A partir disso, vemos privilegiados cometendo abusos sem freio e infortunados se sacrificando por nada.

domingo, 15 de maio de 2016

O verdadeiro corrupto


Existe um homem que adora fazer corrupção. Cria mensagens para as pessoas e põe na conta de outros autores, inclusive ilustres. Mente afirmando sobre um futuro que não passa de especulação, inclusive descrevendo cidades com elevada qualidade de vida que, simplesmente, não existem nem jamais existiram.

O homem aprontou muitas confusões. Suas falsas mensagens agradavam uns e desagradavam outros. Uns ficaram muito deslumbrados mas outros ficaram irritados de tanta indignação. Controvérsias pesadas resultavam em escândalos, nos quais o seu responsável era justamente o menos atingido, saindo sempre de fininho.

O homem procurava ser simpático com as pessoas, mas às vezes tem surtos de juízo de valor e certa vez afirmou que as vítimas de um trágico incêndio tinham sido gente sanguinária no passado. Mas, para não pegar mal, o esperto homem alegou que foi um falecido intelectual que lhe disse isso, lhe contando, como quem espalha um rumor com status de verdade, quem teriam sido as vítimas.

Numa outra vez, os amigos de um jovem falecido duvidavam que o corrupto iria mesmo transmitir o recado dele. O corrupto se irritou com o ceticismo dos jovens e fez uma maledicência, em tom bastante ríspido. Os amigos alegavam que a primeira mensagem lembrava a de um inocente coroinha de igreja, noutras parecia um psicótico depois de um coquetel de heroína e LSD.

Certa vez, o corrupto declarou para milhares de pessoas que defendia um governo autoritário, por mais repressivo que seja, porque é assim que o Brasil poderia ter mais solidariedade, mesmo sob a ameaça de um cacetete ou de um fuzil. Com seu habitual juízo de valor, ele via naqueles que lutavam por justiça social um bando de desordeiros.

O corrupto também esteve junto com os chefões da grande mídia manipuladora, apoiou um político que depois confiscou dinheiro dos brasileiros, e, em suas mensagens, foram identificadas visões sociais sombrias, como dizer que negros e índios eram "socialmente inferiores" e que os judeus eram culpados pela morte de Jesus.

Além disso, ele havia doado dinheiro supostamente à caridade, mas garantiu o enriquecimento de seus patrões, que aumentaram seu poder de maneira vertiginosa e criaram uma administração centralizadora, que prejudicou o trabalho das unidades regionais, impedindo-as de até terem poder de decisão nos debates.

De repente, diante disso, você visita o corrupto e ele mostra todo um aparato de seus projetos sociais: criancinhas tomando sopa, velhinhos em camas modestas com lençóis limpos, reuniões com canções piegas de amor e pessoas fascinadas, e um ritual de aparentes gentilezas e confraternizações.

E aí você, vendo todo esse espetáculo, pensa que fulano não é corrupto. Pois é o verdadeiro corrupto que lhe seduziu com esse teatro da "bondade" que você acredita ter sido realista.

sábado, 14 de maio de 2016

Nenhuma bondade compensa a desonestidade doutrinária


A desonestidade doutrinária é um dos males do "espiritismo" brasileiro. Antes sua doutrina tivesse assumido o roustanguismo de vez, porque ninguém vai para a cadeia ou para o umbral por achar Allan Kardec um chato hermenêutico. No entanto, as pessoas praticam a deturpação mas juram que estão sendo "rigorosamente fiéis" ao pedagogo francês.

Sejamos exatos. Se alguém corteja Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, já está traindo Allan Kardec. Não se acende vela para dois lados diferentes, e este aviso foi dado pelo próprio Jesus de Nazaré, que, do contrário que muitos imaginam, reprovaria severamente os dois "médiuns", chamando-os de hipócritas.

Isso não é uma constatação de gente invejosa, Nem de gente querendo a desunião, a confusão e a guerra. É só ver as obras de Chico Xavier e Divaldo Franco, e se verá que eles são deturpadores da pior espécie, não cabendo qualquer relativização.

Bondade não é desculpa para aceitar a deturpação. A bondade não pode estar a serviço da mentira, da mistificação. O corrupto que investe em filantropia está cometendo "lavagem de dinheiro" e nem por isso ele se transformou em filantropo. Mas o deturpador que finge falar com mortos e despeja ideias moralistas e igrejeiras retrógradas é glorificado pela suposta imagem de "bondade".

Aceitar os deturpadores pela suposta bondade - que, analisando bem, não trouxe resultados concretos para a humanidade, mas são exaltados pela roupagem religiosa que apresentam - é compactuar com a mentira e com as ideias levianas.

É assustador que o "movimento espírita" se beneficie com a desonestidade doutrinária, obtendo uma imunidade e uma impunidade colossais, nas quais ninguém tem coragem de investigar nem averiguar a sério.

Quando muito, finge-se investigar ou analisar, seja uma reportagem do Profissão Repórter, da Rede Globo, ou projetos acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora, tudo para fazer de conta que admite existir polêmicas e controvérsias, mas depois legitimam toda a farsa "espírita" da "mediunidade de faz-de-conta" e das pregações igrejistas.

Imagine a situação. Alguém assume um compromisso de representar e difundir um sistema de ideias. Decide depois distorcer esse sistema e transmitir ideias contrárias às originais. Ganha prestígio com tamanha enganação. Depois, mostra supostos projetos de caridade que investe ou apoia e ganha a imagem de "bonzinho". O pessoal então acredita e o deturpador passa a ter imunidade social.

Vamos comparar então com um político. Ele assume um compromisso de executar um projeto de governo que afirmou ser benéfico para a população. Eleito, descumpre muitas promessas e lesa seus eleitores. Ganha prestígio diante do status que alcançou como autoridade. Depois, mostra supostos projetos sociais que a fortuna acumulada pela corrupção aplica como "lavagem financeira".

Será que as pessoas vão aceitar? A bondade realmente está acima de tudo? Ela está acima da ética, da honestidade, da transparência? A bondade é um subproduto da moral religiosa? Este é o grande problema da ideia de bondade, estar ela subordinada à mística religiosa. O que mostra que muitos acreditam que a bondade está abaixo da religião, a virtude é apenas um artifício da fé.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Eduardo Cunha e o afastamento apenas de gente "incômoda demais"


Há uma semana, o deputado federal Eduardo Cunha teve seu mandato suspenso pelo Supremo Tribunal Federal, além de ter perdido, por essa iniciativa, o cargo de presidente da Câmara dos Deputados, perdendo a chance de ser o suplente de Michel Temer na presidência da República, durante as viagens deste.

O Brasil sempre tem "inocentes" ou "encrenqueiros" úteis para determinadas ocasiões, em que há necessidade de impor ideias ou medidas impopulares ou injustas, criando encrenqueiros de ocasião para criar baderna e, uma vez conquistada a causa retrógrada, eles são tirados do poder e até punidos de certa forma, depois que o estrago foi feito.

Eduardo Cunha, símbolo da decadência do Estado do Rio de Janeiro da decadência cultural do "funk", dos ônibus com pintura padronizada, das "rádios rock" incompetentes e de um povo que ri dos próprios problemas e já nem sente o fedor de fezes de cachorros nas calçadas ou de caminhões de lixo parando até diante de restaurantes, é um exemplo dessa tendência.

Ele foi eleito como símbolo de uma suposta moralidade reivindicada pelos cariocas, nesse cenário de decadência generalizada que atinge o Estado e sua capital. Cunha lançou ou apoiou propostas retrógradas que foram feitas em função de preconceitos moralistas religiosos ou pela ganância dos detentores do poder econômico, propostas conhecidas como "pautas-bombas".

Cunha tornou-se o "encrenqueiro útil", na medida em que se assumiu opositor da presidenta Dilma Rousseff, até comandar, em 17 de abril, a votação pela abertura do processo de impeachment. Assim que cumpriu o ritual, comandando uma votação na qual políticos corruptos deram seu voto ao "sim" (abertura do processo de impeachment), Cunha foi afastado da presidência da Câmara Federal.

É um fenômeno típico no Brasil. Escolhe-se pessoas reacionárias e desordeiras para defender uma causa reacionária e, assim que ela cumpre o papel, é dispensada quando a causa é conquistada e tida como "irreversível". E isso se dá por dois aspectos.

Primeiro, o encrenqueiro da hora agiu apenas em função de afastar os contestadores e qualquer mobilização contra a causa retrógrada em jogo. Era como um "cão-de-guarda" usado para afastar os manifestantes. Estando estes longe, ou então detidos ou mortos, o "cão-de-guarda" pode ser depois sacrificado.

Segundo, o encrenqueiro pode ser, contraditoriamente, a raiz de um futuro problema. Ele não pode ter autonomia plena, já que ele pode, depois, ameaçar os interesses do grupo que o utilizou em dada ocasião, em defesa da causa desejada, por causa de sua arrogância e prepotência que pode fazê-lo ir "longe demais".

Um exemplo dessa segunda hipótese está na política dos EUA, que primeiro apoiaram ou treinaram tiranos e terroristas como Adolf Hitler, Sadam Husseim e Osama Bin Laden. Todos eles foram protegidos do capitalismo dos EUA, conforme registram dados da imprensa das referidas épocas.

No entanto, quando eles passaram a agir por conta própria e desenvolver sua prepotência e projeto pessoal de domínio, os EUA agiram para combatê-los. Os facínoras "úteis" passaram a ser inimigos, e com isso eles foram perseguidos até serem acuados e mortos (Hitler teria se suicidado).

ROUSTAING

No "movimento espírita", o "encrenqueiro útil" foi Jean-Baptiste Roustaing. O primeiro deturpador da Doutrina Espírita havia lançado o duvidoso Os Quatro Evangelhos, livro de três volumes publicado em 1866 na França. A edição da FEB, no Brasil, conta com quatro volumes, devido ao acréscimo de notas e textos do tradutor Guillon Ribeiro.

A preferência por Roustaing era tanta que houve falsas psicografias e falsas psicofonias do espírito de Allan Kardec apelando para a "revelação da revelação" (subtítulo da obra roustanguista), divulgando mensagens que não condizem ao estilo claro e objetivo do pedagogo francês.

O conflito entre os "místicos" e "científicos" nos primórdios do Espiritismo fez com que, no Brasil, a opção mística prevalecesse, devido aos interesses de seus partidários de não fazer afronta com a Igreja Católica, havendo até artifícios para agradar os católicos, com a adaptação de muitos de seus ritos.

Assim, a "água benta" católica, por exemplo, virou "água fluidificada". O "confessionário" virou "auxílio fraterno". "Santos" viraram "espíritos benfeitores" ou "espíritos de luz", enquanto "centros espíritas" se estruturavam como verdadeiras igrejas. A reboque disso tudo, jargões católicos como "seara", "viajor", "caminheiro" e outros eram introduzidos no vocabulário "espírita".

Durante muito tempo, Roustaing era endeusado pelo "movimento espírita". Adolfo Bezerra de Menezes, em seu tempo, preferiu Roustaing a Kardec, contrariando a fama de "Kardec brasileiro" atribuída ao médico cearense. Os Quatro Evangelhos se tornaram item obrigatório de leitura segundo o Estatuto da FEB, que até hoje publica e vende seus volumes.

O roustanguismo durou muito tempo como tendência prevalecente no "movimento espírita". Figuras conhecidas como Yvonne Pereira, Luciano dos Anjos, Guillon Ribeiro ou mesmo Francisco Cândido Xavier, fizeram parte dessa fase. Sim, isso mesmo, Chico Xavier sempre foi roustanguista, embora um tanto envergonhado.

O roustanguismo de Chico Xavier era tão explícito que ele adaptou de forma surpreendente ao contexto brasileiro as lições da obra de Roustaing. Até a Teologia do Sofrimento (que faz apologia do sofrimento como "caminho para a purificação da alma") é influenciada pelo roustanguismo. Até a controversa ideia do "Jesus fluídico" (que acredita que Jesus nunca encarnou) Chico Xavier manifestou um certo interesse.

Xavier apenas descartou os "criptógamos carnudos", ideia muito desagradável (consiste em humanos reencarnarem como insetos, plantas ou mesmo vermes e micróbios), pelos animais domésticos do além. descritos no livro Nosso Lar, de 1943, inspirado em A Vida Além do Véu (The Life Beyond the Veil), do inglês George Vale Owen (provável roustanguista), lançado na FEB no calor do entusiasmo pelo autor de Os Quatro Evangelhos.

RAZÃO POLÍTICA

A crise do roustanguismo se deu por uma razão política. A FEB, com o Pacto Áureo em 1949, criou um seminário no qual só valeram as decisões centralizadas pelo presidente Antônio Wantuil de Freitas ("mentor" terreno de Chico Xavier e primeiro criador de seu mito), que não consultou as federações regionais.

Evidentemente, as causas de Chico Xavier, mineiro, e de Divaldo Franco, baiano, foram depois prejudicadas. Para piorar, um dos braços direitos de Wantuil, Luciano dos Anjos, denunciou que os primeiros trabalhos "psicográficos" de Divaldo Franco plagiavam os de Chico Xavier, que já eram em si pastiches e plágios. Chico e Divaldo quase ficaram brigados. A postura fez com que parte dos "místicos" se voltasse contra a postura centralizadora da FEB.

Dessa forma, o nome de Roustaing, vinculado à cúpula da FEB, passou a ser visto como um "palavrão". O nome de Allan Kardec passou a ser utilizado por interesses políticos, mais como um "partido dos regionalistas".

Até supostas mensagens espirituais de Adolfo Bezerra de Menezes alegando "arrependimento" com o roustanguismo foram divulgadas. O "dr. Bezerra" aparecia falando em "kardequizar", dando a deixa de que a opção por Allan Kardec não era gratuita, pois o termo usado é uma corruptela com "catequizar", o que mantém o propósito igrejeiro dos "místicos" que romperam com a cúpula da FEB.

Roustaing passou a ser um "problema" e foi então oficialmente descartado. Só o "alto clero" da FEB o aprecia, à revelia do público "espírita" que desconhece esse autor. E os dirigentes "espíritas" em geral viram que não precisavam mais de Os Quatro Evangelhos: a essência de seus volumes já havia sido devidamente adaptada à realidade brasileira por Chico Xavier e Divaldo Franco.

A deturpação da Doutrina Espírita, desta forma, sobreviveu sem o autor que causava controvérsia afirmando que humanos poderiam reencarnar até como baratas ou protozoários ou, quem sabe, o vírus da Zyka. Sem esse incômodo, permite-se hoje que se deturpe o pensamento de Allan Kardec em ideias igrejistas, mas finja-se ter "total fidelidade e respeito" ao legado do pedagogo de Lyon.

Daí vemos o surgimento da fase "dúbia" do "movimento espírita", ainda resistente a todo custo, com suas falsas juras de amor a Kardec e com sua falsa rejeição ao igrejismo (entendido como "vaticanização espírita", termo usado para desqualificar o "alto clero" da FEB), enquanto, na prática, adota uma postura abertamente igrejista e catolicizada.

A ideia de decartar uma pessoa "incômoda demais" se reflete no desprezo a Roustaing. Além dele, os "espíritas" criticam também os "peixes pequenos", que levam sozinhos a culpa das irregularidades "espíritas" (tanto na apreciação das ideias kardecianas quanto na suposta prática de mediunidade) que até Chico e Divaldo tanto praticaram, mas das quais saem "completamente inocentados", apesar das muitas provas.

Dessa forma, atribui-se o "mau espiritismo" apenas a "centros espíritas" pequenos, instituições de menor porte, iniciativas de "fundo de quintal", sem o respaldo da FEB nem de federações regionais (sobretudo estas). Os deturpadores de menor status levam a culpa, mas os deturpadores de grande porte (os "peixes grandes") continuam aí, bajulando Kardec e professando o igrejismo.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Imitando Porta dos Fundos, grupo humorístico tenta salvar "espiritismo" brasileiro


A ideia parece boa. Um grupo humorístico que promete explicar situações do Espiritismo com esquetes engraçadas, em linguagem dinâmica e situações cômicas. É o que, à primeira vista, se observa com o grupo de comediantes Amigos da Luz, que tem um canal no YouTube.

Admite-se o avanço do domínio da linguagem lançada pelo canal Porta dos Fundos, até pelo fato de que dois dos comediantes desse grupo, Fábio Porchat e Gregório Duvivier, terem participado do longa-metragem Chico Xavier - O Filme, de 2010. É possível que o próprio Porta dos Fundos tivesse feito consultoria para os humoristas "espíritas".

No entanto, o que se observa, indo mais fundo para as esquetes, que o humorismo é apenas um recurso para tentar salvar o combalido "espiritismo" brasileiro, cuja fase "dúbia" sofre uma grave crise, diante da impotência em esclarecer as contradições existentes.

Sabe-se que a fase "dúbia", que se ascendeu há 40 anos diante da crise do roustanguismo da FEB, consiste em adotar, no discurso, uma postura supostamente fiel aos ensinamentos de Allan Kardec, enquanto, na prática, se realiza a mesma deturpação igrejeira da Doutrina Espírita, uma espécie de neo-roustanguismo enrustido, dissimulado por pretensas apreciações da Ciência e da Filosofia.

As contradições envolvem sobretudo uma entusiasmada inclinação à devoção religiosa, herdada da Igreja Católica, que os "espíritas" mal conseguem disfarçar e nem se esforçam para isso. A exaltação de figuras como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco e a emotividade que se vê, por exemplo, em parentes de pessoas mortas, com uma histeria que lembra a de beatos diante de milagres católicos, é um típico exemplo dessa atitude.

Misturam-se conceitos trazidos por livros de Allan Kardec - geralmente as traduções da editora IDE, diante da má reputação da antiga cúpula da FEB (Wantuil de Freitas, Francisco Thiesen, Luciano dos Anjos e, mais atrás, Guillon Ribeiro, tradutor das edições febianas da obra kardeciana) - com pretensos ensinamentos de livros de Chico Xavier e Divaldo Franco, numa clara contradição de ideias, apesar do cuidado de não expor as mesmas de forma a vazar tais conflitos.

O grupo humorístico Amigos da Luz não atua diferente dessa tendência. Numa esquete sobre mediunidade, um médium atrapalhado tenta falar com espíritos e, de repente, aparece um tentando dar "ensinamentos" ao outro. Em dado momento, o "espírito" se comporta com o ar solene conhecido de Emmanuel, num momento em que a esquete perde seu caráter divertido para dar lugar à pregação "espírita" conhecida.

Há também uma outra esquete na qual Divaldo Franco é convidado, o que mostra o propósito do grupo, que é tentar salvar, pela via humorística, a deturpação da Doutrina Espírita e seus ídolos, como um último recurso, embora sintonizado com a atual linguagem da Internet, de manter a fase "dúbia" que tanto bajula Allan Kardec quanto esquece de seus ensinamentos mais urgentes.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Governo Michel Temer: República Velha rediviva?


Diante da campanha pelo impachment de Dilma Rousseff, cujo processo aprovado na Câmara dos Deputados foi barrado pela imprevista decisão do presidente interino, Waldir Maranhão (PP-MA), criou uma confusão política sem solução, até o momento da edição deste texto.

Há tempos anuncia-se o fim do governo de Dilma Rousseff, no seu segundo mandato como presidenta da República. Diante de uma crise econômica que, na verdade, é um reflexo da crise do mundo capitalista, Dilma, seu antecessor Lula e o Partido dos Trabalhadores tornaram-se bodes expiatórios de uma série de crises que culminou na campanha do impeachment.

O desejado novo titular, Michel Temer, vice de Dilma nos dois mandatos, revelou-se um político conservador, não bastasse ele ser um patriarca à moda antiga, um marido de uma mulher 43 anos mais jovem com uma relação conjugal típica do século XIX.

Como político do PMDB, o advogado paulista Temer também reflete o perfil asséptico do partido, na verdade o único remanescente da ditadura militar - é o antigo MDB, apenas com a letra P, de "partido", acrescida à sigla - , cujo projeto político não era muito definido, oscilando entre um populismo paliativo e um liberalismo austero.

A ascensão de Temer, antes um "decorativo" vice-presidente cujos eventuais momentos como presidente em exercício se deu desde o governo Fernando Henrique Cardoso, na condição de presidente da Câmara dos Deputados, se dá dentro de uma retomada conservadora da sociedade brasileira, que já tinha frágeis conquistas no âmbito progressista.

Era um Brasil que, culturalmente, lutava para manter paradigmas da ditadura militar, como o comercialismo da música brega e do sensacionalismo midiático "popular", através de pastiches de ritmos regionais brasileiros - o "sertanejo", por exemplo, parodia a música caipira - , musas siliconadas e apresentadores de programas policialescos de TV.

Esse mercantilismo populista era empurrado para a aceitação forçada de ativistas de esquerda, sob influência de intelectuais originalmente vinculados ao PSDB, como o jornalista paulistano nascido no Paraná, Pedro Alexandre Sanches - curiosamente, conterrâneo do juiz midiático Sérgio Moro - , travando os debates sobre cultura popular e obrigando o povo pobre a se submeter a paradigmas de pobreza, ignorância e inferioridade social, como morar em favelas e praticar a prostituição.

Embora travestida de "progressista", essa campanha em favor da bregalização cultural - feita com a ajuda de monografias e documentários - defendia uma imagem caricatural do povo pobre, "idealizada" por interesses mercadológicos e até político-ideológicos, usando o entretenimento popularesco para desmobilizar as classes populares sob a desculpa de que a diversão "já é um ativismo" em si, devido ao "mau gosto" e à "provocatividade".

Esse cenário cultural era um complemento ao poderio midiático que, mesmo ameaçado - a Rede Globo, por exemplo, perde audiência e a Veja tem um histórico recente de milhares de exemplares encalhados, influindo na crise empresarial do Grupo Abril, que desfez de boa parte de seu espólio - , aumentou seu poder de influência através de uma campanha difamatória contra Dilma, Lula e o PT.

Havia também o vandalismo na Internet através dos chamados "troleiros", espécie de "cães de guarda" de valores e fenômenos vigentes na mídia, na política e no mercado, que humilhavam pessoas que discordavam desses paradigmas. Juntamente ao zelo por valores retrogrados, os troleiros também defendiam valores racistas e machistas, causando problemas até em gente famosa.

Suas práticas, como divulgar mensagens ofensivas em série, com diferentes pessoas despejando mensagens num mesmo horário combinado, eram conhecidas como cyberbullying, e seus responsáveis acabaram chamando a atenção da polícia, por conta do teor violento dessas postagens. Alguns, mais atrevidos, chegavam mesmo a criar blogues ofensivos contra as vítimas.

A ação dos troleiros - cuja ascensão, ainda no primeiro mandato de Lula, era dissimulada por um falso esquerdismo feito para conquistar a simpatia de jovens mais avançados - impulsionou as passeatas anti-Dilma, que se multiplicaram no país, criando personagens insólitos como Batman do Leblon (que misturava o traje do herói estadunidense com um cocar de índio brasileiro) e mascotes como o Pato da FIESP.

Combinando a ação de troleiros, intelectuais pró-bregalização e jornalistas reacionários, criou-se então um contexto para enfraquecer o governo Dilma Rousseff e afastar o PT do cenário político nacional. através de um processo de inquéritos confuso e precipitado, a Operação Lava-Jato, que revelou o sucesso midiático do jovem juiz Sérgio Moro.

Diante disso, uma histeria anti-PT cresceu e usou como pretexto a crise econômica - na verdade, reflexo de um cenário mundial, combinado com os gastos excessivos do empresariado para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016 e o confisco do dinheiro pelas elites - para pedir a queda de Dilma.

Com isso, entra em cena o governo de Michel Temer e há muito é anunciado seu programa de governo, com propostas que supostamente não afetarão as conquistas sociais, mas irão impor "muitos sacrifícios", o que significa, por exemplo, um declínio da política salarial e das relações de trabalho, em que os interesses patronais terão maior prioridade sobre o dos trabalhadores.

Investimentos na Educação e na Saúde também podem ser reduzidos, não fosse o suficiente tais setores serem sempre os que menos recebem recursos públicos. Privatizações poderão atingir instituições públicas estruturais, num contexto em que o setor de telefonia, carro-chefe das privatizações dos governos de FHC, demonstram serviço bastante deficitário, ameaçando restringir as conexões de Internet.

Fala-se que o governo de Michel Temer adotará pautas apoiadas pelo político carioca Eduardo Cunha, que perdeu a função de presidente da Câmara dos Deputados e teve suspenso seu mandato de deputado federal pelo hoje decadente Estado do Rio de Janeiro, por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Aspectos da terceirização do mercado de trabalho - que promete aumentar empregos com a diminuição de salários, eliminação de encargos e fim das punições e de custos contra os abusos patronais - serão adotados por Temer, mesmo com o afastamento da influência de Cunha, aceito pelo establishment como um agressivo opositor de Dilma Rousseff, mas descartado diante do risco do então presidente da Câmara perder o controle e ir longe demais com sua prepotência política.

Fala-se em retrocesso em relação a muitas conquistas trabalhistas. A Consolidação das Leis de Trabalho, lançada em 1943 por Getúlio Vargas, será prejudicada em muitos pontos. Conquistas progressistas sofrerão recuo. Preços poderão aumentar drasticamente, prejudicando o abastecimento de famílias e indivíduos em geral. A classe média corre o risco de se pauperizar.

Muitos perguntam se o governo de Michel Temer será a República Velha rediviva. A farra política dos decadentes Estados do Rio de Janeiro e São Paulo poderá reproduzir a "política do café-com-leite" de 100 anos atrás. O paulista Temer e o prepotente e neocoronelista PMDB carioca, não mais representado por Cunha, mas dando um jeito para exercer alguma influência forte, mesmo indireta.

O que se sabe é que a crise do governo Dilma Rousseff não acabará. Pode acabar o governo, mas a crise continua, até pelo golpe político que foi feito sob o simulacro da legalidade e da ação do Judiciário.

A farra pelo fim do comando do PT no Governo Federal dará lugar a uma ressaca sócio-política que inevitavelmente criará decepções futuras e deixará a sociedade conservadora à mercê de novos impasses. Até porque a reconquista do poder lhe significará novas cobranças e responsabilidades.

terça-feira, 10 de maio de 2016

"Fascinação" pelo "espiritismo" brasileiro é risco de subjugação

O MERCADO LITERÁRIO É UM EXEMPLO DE COMO INSTITUIÇÕES ESTÃO SUBJUGADAS À MISTIFICAÇÃO "ESPÍRITA".

Há um tipo de obsessão, analisado por Allan Kardec, chamado "fascinação". Nela a pessoa é tentada a seguir uma influência espiritual através do encanto, se submetendo, embora mantendo o próprio controle da consciência, aos mitos, dogmas e práticas feitas pelo espírito dominador, encarnado ou desencarnado.

As pessoas são seduzidas pelo "canto da sereia" de uma influência leviana, atraída pelas promessas de benefícios ou coisas lindas que essa influência nefasta apresenta, criando uma roupagem de algo "atraente" e "admirável". É como se manipulasse um adulto da forma como se manipula uma criança, criando um "mundo de cor e fantasia" ou então prometendo algum "presentinho" ou "aquele sorvete delicioso".

As pessoas não percebem isso e seguem um dos piores cacoetes observados no povo brasileiro, que é o de dar explicações pretensamente racionais para ideias irracionais ou concepções puramente subjetivistas. O cérebro a serviço do umbigo. E aí vemos os "espíritas" deslumbrados usando argumentos "objetivos" para suas convicções pessoais e crenças fantasiosas sobre seus ídolos.

O próprio "espiritismo" se reveste dessa roupagem. Se traveste de doutrina científico-filosófica para pregar igrejismo, moralismo retrógrado e misticismo esotérico. E isso faz com que seus seguidores sempre justifiquem suas convicções pessoais pelos argumentos supostamente objetivos.

E é isso que faz com que se permitam as contradições do "espiritismo" brasileiro. Aceita-se tudo comodamente porque as pessoas têm, em relação a essa doutrina, um sentimento de "fascinação" no sentido do tipo de obsessão que havia sido descrito por Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, capítulo 23, item 239.

O caráter obsessivo se dá pelo fato de que se aceitam fantasias e deturpações em prol do apego à imagem religiosa de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, entre outros. A roupagem de "amor e caridade", perigo já advertido por Kardec, é um fator bastante observado nesses deslumbrados religiosos.

Não há investigação sobre as irregularidades "espíritas", aceita-se a deturpação da Doutrina Espírita como se o próprio Allan Kardec tivesse autorizado que empastelassem seu sistema de pensamentos, jogando o Conselho Universal do Ensino dos Espíritos no lixo, inutilizando o sacrifício árduo do pedagogo francês em prol de uns beatos festivos no Brasil.

Allan Kardec é traído o tempo todo pelos "espíritas" brasileiros. Inteiramente. É traído tanto pela declaração de pretenso respeito ao seu legado, quanto ao igrejismo ao mesmo tempo praticado e (no discurso) reprovado. Todos seguindo um igrejismo pretensamente fraternal, trocando C.U.E.E. por C.N.B.B., mas jurando de joelhos que é "absolutamente fiel" ao pedagogo francês.

E a sociedade brasileira aplaude, sem saber das armadilhas que se armam. Mas, também, só agora que as seitas neopentecostais estão sendo contestadas em larga escala, pelos movimentos sociais ou mesmo pelo poder midiático (a Rede Globo é rival da Rede Record), pois até uns dez anos atrás elas também eram consideradas intocáveis.

A desculpa toda tem como pretexto a "bondade". Virou clichê. "Eles erram, mas praticam caridade", é o que se ouve não só dos "espíritas" mas de alguns simpatizantes "laicos" e "ateus" (?!) de Chico Xavier e Divaldo Franco. Se apegam a clichês publicitários de caridade e bondade e dormem tranquilos porque os deturpadores traem Kardec mas são "bonzinhos".

INSTITUIÇÕES JÁ SÃO SUBJUGADOS AOS "ESPÍRITAS"

A imprensa, o meio jurídico, a classe acadêmica, quase todas as instituições que poderiam denunciar as irregularidades do "movimento espírita" e questionar até mesmo totens e ídolos estão subjugados a sua mística e seus mitos.


Diferente dos EUA, em que a engenhosa Cientologia - que apresenta caraterísticas comuns com o "movimento espírita", principalmente quanto aos aspectos moralistas e pelo misticismo pseudocientífico - é investigada e possuem documentários questionando a seita, o similar brasileiro apenas tem, quando muito, falsas investigações que só servem para legitimar suas práticas de valor ético duvidoso.

A imprensa apenas vai aos "centros espíritas" ver como funcionam as instituições "espíritas" na aparência, como atuam os ídolos "espíritas" e ninguém pergunta o que há nos bastidores. Ninguém fala em "leitura fria", que é a prática sutil de obter informações de parentes de mortos durante o "auxílio fraterno" como matéria-prima para pretensas psicografias.

A classe acadêmica faz monografias que, salvo poucas exceções, apenas descrevem atividades "espíritas" e apreciam teses adversas que apontam para irregularidades em Chico Xavier, por exemplo, apenas para dizer que "analisa" pontos polêmicos e no final legitima tudo o que se faz no "movimento espírita".

Até o mercado literário anda subjugado com o "espiritismo". Enquanto livros como O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, de Attila Paes Barreto, permanece no esquecimento, bobagens sobre Chico Xavier, Divaldo Franco, Bezerra de Menezes e romances "espíritas" da pior qualidade são livremente publicados.

A Justiça apenas tentou investigar irregularidades nas atividades "espíritas" e depois faz vista grossa. No caso de Humberto de Campos, se recusaram a aceitar o caso complexo do processo. E temos um "médium" tipo João de Deus, que se enriqueceu com a "caridade", é latifundiário e tudo, e a Justiça não mexe com ele, porque "faz caridade".

A "caridade" virou uma palavra que vai na contramão do "petismo". É como se "caridade" e "petismo" fossem antônimos. Cometer erros graves, praticar desonestidade, abusar de deturpação e explorar a boa-fé das pessoas com falsa mediunidade, mas se proteger da roupagem "espírita", ocorre de maneira impune, sob o pretexto da "caridade" e "bondade".

Já o "petismo", diferente de se admitir erros nos governos do Partido dos Trabalhadores, é tido cegamente como um "mal" em si, por mais que tenham medidas sociais positivas, permita a diminuição das desigualdades sociais etc.

A "bondade" só é oficialmente associada a "caridades" que "ajudam" sem interferir nas desigualdades sociais, diminuindo a miséria absoluta sem no entanto mexer com os privilégios abusivos das elites dominantes. Se ela mexe, é "guerrilha", é "baderna", é "atitude condenável".

Não se pode redistribuir renda. Isso é que está em jogo na sociedade. E mesmo setores de esquerda não conseguem perceber os malefícios que o "movimento espírita" faz quando defende a Teologia do Sofrimento católica e aposta num modelo de "caridade" que não mexe nas estruturas de poder e privilégio que influem nos grandes quadros de pobreza da humanidade.

Daí que há também essa subjugação. Setores esquerdistas se esquecem que pessoas como Chico Xavier e Divaldo Franco sempre foram extremamente conservadores, católicos à moda antiga, e também são seduzidos pela imagem de "filantropos" a eles associadas.

Ignoram que os locais "protegidos" pelos dois "médiuns", a cidade mineira de Uberaba, onde Chico viveu o resto de seus dias, e o bairro de Pau da Lima, em Salvador, estão entre os locais com maiores índices de violência, em níveis bastante preocupantes.

Se os dois realmente tivessem feito algo relevante em sua "filantropia", essa violência nada teria acontecido. É inútil falar em desprezo de ensinamentos cristãos, falta de religião, deixar de ouvir os "líderes espíritas" etc, porque tanto Chico e Divaldo são muito famosos e prestigiados nesses lugares.

Esses aspectos ninguém diz. As pessoas estão "fascinadas" (no sentido de obsessão) por Chico Xavier e Divaldo Franco. As instituições já estão subjugadas, porque ninguém investiga as irregularidades "espíritas" e existe uma subjugação, uma submissão à mística e à mítica "espírita".

Isso é grave, porque se aceita a desonestidade doutrinária sob a desculpa da "bondade". Na prática, se faz com que a "bondade" seja cúmplice da mentira e da fraude, e a "caridade" a sua serva ou colaboradora. O maior medo é quando as pessoas, "fascinadas" com a mítica "espírita", passem a se subjugarem tal como as instituições.

Jesus de Nazaré ficaria envergonhado com tudo isso, porque ele foi um dos que mais combateu a hipocrisia, mesmo sob a capa da religião e do pretexto da "bondade". Allan Kardec, nem se fala, ele que é o maior prejudicado disso tudo, o maior bajulado e o maior traído, vendo que hoje o que se conhece como Espiritismo está nas mãos impunes dos inimigos internos que são vistos como "bondosos".