terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Hipersexualização do corpo feminino, "padrões de beleza" e estupro
"Liberdade do corpo", "direito à sensualidade", "expressão do sexo". O "universo" adocicado de musas "sensuais" que ocorre na mídia dita "popular" apela para ilusões que escondem o lado sombrio da situação, motivo para tantas tragédias e traumas que atingem muitas mulheres no Brasil.
O Brasil registra, segundo dados divulgados ontem na imprensa, uma ocorrência de um estupro a cada três horas, motivo de muitas mortes de mulheres, sobretudo jovens, ou da ocorrência de casos indesejáveis de gravidez, que se tornam um dos motivos aceitáveis para a prática de aborto, um tema bastante controverso na sociedade e radicalmente reprovado pelo "movimento espírita".
Por outro lado, o Brasil, em pleno século XXI, ainda apela para o mercado de "mulheres-objetos", mulheres que, com seus corpos exagerados pelo silicone, vivem somente, e tão somente e de forma repetitiva até a exaustão, para mostrar suas "formosuras". São as mulheres que "mostram demais", como se conhece na mídia do entretenimento dito "popular".
Além disso exprimir uma visão fortemente machista, que trata a mulher como uma mera mercadoria de consumo simbólico de homens sexualmente afoitos, embora essas mulheres tentem se afirmar falsamente como "feministas" só porque não têm maridos ou namorados, isso pode significar um contexto muitíssimo perigoso para a sociedade.
Afinal, esse "sensualismo sem freios" se destina a homens com baixo poder aquisitivo ou baixa consciência moral, se caso for de classe média. São homens com apetite sexual voraz, que acreditam na ilusão de que no Brasil a liberdade sexual é plena e ilimitada.
A própria profusão de "boazudas" na mídia - principalmente na proximidade do Carnaval em que várias delas, patrocinadas até por banqueiros do jogo-do-bicho, desfilam como "musas da bateria" - estimula essa ilusão da "liberdade plena" que a "liberdade do corpo" e o "direito à sensualidade" mostram na mídia "popular" normalmente associada à glamourização do grotesco e do aberrante.
Elas, se dirigindo a um público sem uma educação moral relevante, independente de ter uma boa renda ou não, acabam inspirando neles uma sensação de que eles, sexualmente, "podem tudo", porque é "tudo liberdade", uma visão que se torna bastante perigosa.
Afinal, recentemente tivemos o fenômeno dos troleiros (trolls) na Internet, um subproduto monstruoso da ilusão da libertinagem de opinião sem controle. Pessoas que defendiam o "estabelecido" e se irritavam quando contrariadas, reagindo com ofensas e calúnias a pessoas que questionam valores que os troleiros acreditam como "tradicionais" e "sagrados".
Hoje a liberdade desenfreada de mulheres apelarem para a "sensualidade", só mostrando seus corpos, sem fazer outra coisa ou, quando muito, vinculando outras situações ao seu "apelo sensual", parece não "incomodar" muito a mídia do entretenimento.
No entanto, esse mercado da "sensualidade plena", que impulsiona a busca de um "padrão de beleza" feminino que, no âmbito do "popular", causa uma adesão desesperada de muitas mulheres, já oferece grave perigo e já resultou em várias tragédias.
Várias mulheres morreram por causa de plásticas, uso de substâncias como silicone e hidrogel, por liposapirações em clinicas pouco confiáveis, tudo por causa de um padrão "perfeito" de formas corporais arredondadas e rosto de estátua. Recentemente, uma finalista do concurso Musa do Brasil teria morrido por uso de remédios para o aprimoramento estético.
DESCASO INTELECTUAL
Enquanto isso, há o descaso da intelectualidade de classe média, mesmo de uma parcela de mulheres que são ativistas e feministas, quanto aos problemas no âmbito "popular". Fora o episódio de uma dançarina de "funk" e outra de "forró eletrônico" que foram assassinadas por namorados ciumentos, há na intelectualidade uma ilusão de que tudo "está maravilhoso" nas chamadas "periferias".
A "sensualidade" compulsiva de mulheres siliconadas - Solange Gomes, Mulher Melancia, Mulher Melão, Geisy Arruda, Aline Riscado, Priscila Pires etc - , que impulsionam o culto da "mulher-objeto" por parte de homens sem noção de limites para sua excitação sexual e impõem um padrão de beleza às mulheres das classes populares é ignorada pelas intelectuais que se dizem tão socialmente empenhadas.
Elas só reclamam a "ditadura da beleza" quando ela é difundida por veículos conservadores da grande mídia, como as revistas Cláudia, Boa Forma e Marie Claire, ou quando aparece em comerciais de televisão. Em ambos os casos, o problema só é considerado quando atinge a mulher de classe média, que não pode ser depreciada como mulher-objeto e nem empurrada para seguir padrões de beleza física.
Mas quando tudo é sob o manto do "popular", tudo é permitido. Enquanto mulheres de classe média criam campanhas contra assédio sexual (uma delas se intitula "Chega de Fiu-Fiu" e prega o fim das paqueras nas ruas) e reclamam da "ditadura da beleza" e da imagem pejorativa feita pela mídia, no "popular" se permite que tais coisas aconteçam.
A mulher é vista como mero brinquedo sexual? É a "liberdade do corpo". A mulher é tratada de maneira idiotizada? É a "inocência" da "mulher da periferia". Há a "ditadura da beleza"? Atribui-se a isso a "valorização da auto-estima". E se a mulher de classe média modera na exibição do corpo e se afirma por outras qualidades, a mulher "popular" só se afirma pelos "dotes físicos".
Isso é aberrante. O contraste do Brasil do "Chega de Fiu-Fiu", de classe média, com o Brasil da "liberdade do corpo" e da hipersexualização obsessiva, das "periferias", é tão grande que, se uma mulher de classe média fala uma bobagem nas entrevistas, é vista como "retardada", enquanto que a "musa popular" que diz uma besteira é considerada "divertida" e "bem-humorada".
É a expressão de preconceitos de pessoas de classe média alta - como é o caso dessas intelectuais feministas - que ignoram muitas questões vividas no âmbito das classes populares. As intelectuais querem proteger as mulheres de sua elite, mas acreditam que nas "periferias" tudo é paraíso quanto o assunto é hipersexualização.
Nas "periferias", pedofilia é vista como "saudável iniciação sexual" de meninas pobres. A pornografia é "liberdade do corpo e da sensualidade". Imbecilização é vista como "provocatividade". "Mulher-objeto" é tida como "ideal" de sedução feminina. A abordagem caricatural da mulher de elite pelos comerciais de TV, se fosse no "funk" e dirigida à mulher pobre, é vista como "discurso direto" não como abordagem pejorativa.
O abuso nas "periferias" é "liberdade", a caricatura é "auto-retrato", a idiotização é "livre expressão", e todos os preconceitos que a classe média intelectualizada têm dos pobres é vista como "visão generosa e realista".
A intelectualidade em geral ignora que, no caso das mulheres pobres, a prostituição as deixa vulneráveis a patrões (cafetões) perversos, a fregueses violentos e ao risco de contrair doenças infecciosas. A "ditadura da beleza", maligna quando está nas páginas de uma revista feminina das editoras Abril e Globo, vira "motivação de auto-estima" quando aparece na mídia popularesca, mesmo quando entrega mulheres à morte através de clínicas de estética despreparadas.
A erotização excessiva, vista como "direito à sensualidade", estimula a libido de homens sem noção de limites, que podem se tornar estupradores em potencial. A imagem "positiva" das "mulheres-objeto" que "mostram demais", que no contexto do "popular" sugere a ilusão de uma "liberdade do sexo" sem controles, poderá fazer com que os homens achem que podem sair por aí agarrando qualquer mulher desconhecida para transar em um canto qualquer.
E as próprias mulheres de classe média, pelos seus preconceitos e omissões, se tornam vítimas em potencial desse consentimento todo. Afinal, o jovem afoito não vê a diferença entre uma "mulher-fruta" e uma estudante universitária, e, se ele não é dotado de auto-controle, ele avança sobre a universitária e a estupra, e, se puder matá-la, ele mata, mesmo sendo ele de classe abastada.
As mulheres pregam o "Chega de Fiu-Fiu" visando encerrar as paqueras nas ruas, mas não estabelecem cuidados nas paqueras em bares e boates. Segundo dados registrados a partir de noticiários, a maioria dos crimes de violência conjugal contra a mulher é cometida por homens que as mulheres conheceram na "noitada".
A realidade brasileira precisa ser repensada. Haver mulheres cuja única função é mostrar seus corpos, sem privá-los de exibição e sem mostrar outras qualidades (ou, quando tenta mostrar, cometem gafes) é algo aberrante. Haver uma Solange Gomes, Mulher Melão e Geisy Arruda que só vivem de seus corpos silicondos é um horror e o pior é quando elas são bem-sucedidas e a própria mídia incentiva o culto a essas mulheres.
Isso porque a hipersexualização do corpo feminino, quando dirigida a um público de baixo nível escolar e aquisitivo ou, pelo menos, com baixa formação moral, pode formar estupradores em potencial, iludidos com a ideia de "liberdade sexual plena" que a chamada mídia "popular" (que já castiga as classes populares com programas policialescos que glamourizam a violência) transmite para o chamado "povão".
Ignorar problemas assim e achar que tudo que ocorre no lado de baixo da pirâmide social é "legal" contribui para que a violência continue ocorrendo e cria uma suspeita sobre que interesses a intelectualidade tem em permitir tudo isso. Será uma forma de "limpeza social"?
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