segunda-feira, 12 de outubro de 2015
Bondade não pode ser vista como algo excepcional
Desconfie daqueles que dizem que a bondade é diferencial de alguma pessoa ou instituição. Isso mostra o quanto a vida foi nivelada por baixo e a regra geral é ser traiçoeiro, corrupto, ganancioso e interesseiro.
Na vida amorosa, por exemplo, há aqueles hipócritas que dizem que aquela moça que não tem afinidade com alguém serve para ele só porque é boazinha. E o bom-mocismo chega a ser uma estratégia de autopromoção de muitos oportunistas.
O "espiritismo" vive também dessa mania. A mania de bom-mocismo acoberta a incompetência doutrinária em relação ao pensamento de Allan Kardec. Há quem diga que o "espiritismo" é a "doutrina da bondade", dedicada a ensinar as pessoas a "serem boazinhas".
A bondade não posse ser diferencial de coisa alguma. Ela não pode ser vista como algo excepcional, porque ela deveria ser regra social para todo tipo de extrato social. Ela é que poderia ser lugar comum, ser um hábito banalizado, e deveria ser um compromisso de todo ser humano.
Em vez disso, a bondade é vista como exceção, e não regra. E, o que é pior, acaba sendo o gancho para muitos oportunistas. Se a bondade é vista como algo excepcional, ela é vista também como um hábito raro, incomum, o que tanto pode fazer certos canalhas e canastrões mascararem suas ações como pode fazer os incompetentes levarem vantagem para si mesmos.
O "espiritismo" usa a "bondade" como forma de mascarar sua prática irregular. Sem compreender direito a Ciência Espírita, a doutrina brasileira bajula Allan Kardec mas dá preferência ao igrejismo confuso de Chico Xavier, com toda a incompetência que se tem em relação à mediunidade e à compreensão da vida espiritual.
E aí, o que ela faz? Banca a boazinha. Fala em ações filantrópicas, que não passam de atos paliativos, como dar esmolas e relativa assistência, sem resolver de fato os problemas das pessoas. Fala em assistência moral, que é aquele consolo frouxo de pessoas que não conseguem compreender a complexidade dos dilemas morais dos outros.
Aí, o discurso "espírita" faz destacar, no desfile ornamentado de palavras bonitinhas, expressões como "fraternidade", "solidariedade", "amor" e "caridade". E, o que é pior, crente na ilusão de que sabe completamente os assuntos de natureza espiritual que, no fundo, desconhece totalmente, o "espiritismo" brasileiro se acomoda falando somente em "bondade".
Isso se torna vago, vazio, superficial e sem efeito. É porque o "espiritismo" tenta mascarar sua ignorância ao pensamento de Allan Kardec, há muito abordado de forma corrompida e presa a igrejismos do catolicismo medieval que era vigente no Brasil nos primórdios da Federação "Espírita" Brasileira, com alegações de bom-mocismo.
A ideia é essa: os "espíritas" admitem que a vida espiritual existe, que iremos para um outro plano quando termina nossa vida material e, pronto, basta sermos bonzinhos e acabou. Soa simples, mas é inútil dentro da complexidade da vida que vivemos. E simplesmente tolo, diante dos compromissos que deveriam ser assumidos e não são.
Os "espíritas" desconhecem o assunto de vida espiritual. Fora admitir que existe o "outro lado", o que se vê são ideias meramente especulativas e fantasiosas, feitas pela ausência de estudos sérios. Supõe-se um mundo espiritual que não conhecemos e nem mesmo a ciência em geral consegue supor.
O mundo espiritual é um campo de golfe com crianças brincando e pessoas vestindo pijamas brancos? Ou é um monte de nuvens em que as pessoas, reduzidas a espectros sem formato, observam como um vazio dotado de ideias individualmente imaginadas? Até que ponto o mundo espiritual pode ser parecido com o nosso mundo material ou até que ponto ele pode ser totalmente diferente?
Ninguém sabe. Não há estudos sérios. O que há é uma verborragia pseudo-científica de nomes supostamente espirituais, como André Luiz, que tomam como certo o não só incerto, mas meramente duvidoso, já que, na verdade, a Ciência, com inicial maiúscula, nunca confirmou coisa alguma do suposto médico que protagoniza o livro Nosso Lar.
A "bondade" acaba sendo uma desculpa para legitimar falsos médiuns. E vira até mesmo um desvio de foco. Quando começamos a questionar os dons paranormais de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, os "espíritas" mudam de assunto e ressaltam a "missão de caridade" dos dois anti-médiuns, promovidos a "apóstolos da fraternidade" numa clara adoração igrejista.
Isso é desviar o foco. Os "espíritas" não sabem a diferença entre objetividade e subjetivismo. Daí a grande gafe que se observa num texto como este, em que "espíritas" reagem com a mais chorosa pieguice diante de uma tendenciosa suposição de que André Luiz "deu uma contribuição inusitada para a ciência", juntamente com Chico Xavier.
É simplesmente patético. E isso porque Chico Xavier e seus amigos imaginários - com exceção do traiçoeiro espírito Emmanuel, que muito provavelmente foi atraído pelo fervoroso "médium" católico de crenças medievais - são considerados "bonzinhos", às custas de uma "caridade" que, em certos momentos, não foi mais que paliativa, e, em outros, tendenciosa e traiçoeira.
No caso de traiçoeira, são as supostas cartas espirituais, que representam a obsessão de Chico Xavier pelos mortos, sobretudo precoces. A glamourização das mortes prematuras, sobretudo de pessoas de aparência atraente, torna-se o aspecto mais mórbido do "espiritismo" brasileiro, e tão perniciosa é a suposta mediunidade que, na verdade, só usa os nomes deles para mensagens de propaganda religiosa trazidas pelo suposto médium num mesmo estilo de mensagem.
Daí que é uma "bondade" que tira o sono das famílias, despertando a ansiedade sob o véu da falsa consolação. "Bondade" que se transforma em sensacionalismo religioso, e que faz prevalecer um paradigma de mediunidade que tem muito mais a ver com a mídia "mundo cão" do que com os conhecimentos trazidos por Chico Xavier.
Pois é uma "bondade" que prejudica, porque cria sensacionalismo, dá publicidade e ostentação aos "médiuns", que viram anti-médiuns porque se transformam em centros das atenções, diferentes dos prestadores de serviços mediúnicos que Allan Kardec conheceu em seu tempo, que nunca saíam de suas condições de intermediadores.
Aqui os "médiuns" viram dublês de pensadores e corrompem todos os sentidos de conhecimento e sentimento humano. Transformam a "bondade" num produto de marketing, num artigo de consumo simbólico nas atividades "espíritas" e ela deixa de ser vista como uma virtude natural dos homens para ser uma "qualidade excepcional" do "espiritismo" brasileiro.
E aí vimos que essa "bondade" não procede. Além de esconder vaidades e ganâncias pessoais, é uma "bondade" que faz menos pelo próximo e mesmo assim comemora demais. É muita festa para pouco benefício, vide o caso da Mansão do Caminho de Divaldo Franco, que em 63 anos de existência nunca ajudou mais do que 0,08% da população de Salvador, o que, em dimensões mundiais, é o mesmo que nada.
Além do mais, dar esmolas - como cestas básicas para alimento e higiene pessoal - e apenas ensinar a ler e escrever são apenas medidas genéricas que qualquer um pode fazer. Dos "filantropos espíritas" deveria se exigir mais, como se exige de um professor de Doutorado que não adote a mesma metodologia de ensino de um professor de jardim de infância.
Mas o "espiritismo" não quer saber de responsabilidades. Acha que lhes basta bajular Allan Kardec, jurando falsa fidelidade a ele, enquanto se entrega totalmente ao igrejismo viscoso de Chico Xavier, Emmanuel e companhia.
O que se nota é que a "bondade" é apenas uma desculpa para os "espíritas" continuarem na sua incompetência doutrinária e serem aceitos até nos seus graves erros. Eles acham que podem ignorar o pensamento de Allan Kardec, bastando apenas serem "bonzinhos".
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