sexta-feira, 7 de agosto de 2015
A preocupante polarização política entre Eduardo Cunha e Fernando Collor
Enquanto se observa, na sociedade brasileira, a polarização entre a raiva da "sociedade civil" contra o Partido dos Trabalhadores (PT) e o atrapalhado neoliberalismo do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), outra polarização, bem mais perigosa, se trabalha nos bastidores da política.
Tentando ganhar tempo, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o senador e ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello (PTB-AL), tentam reagir com arrogância diante de respectivas adversidades.
Ao ser denunciado pela ex-advogada Beatriz Catta Preta, que revelou o esquema de propinas que o envolveu, Cunha ameaçou "responsabilizar" a denunciante caso ela não "desse detalhes" sobre as ameaças que ela sofreu. Um dos antigos clientes de Beatriz, o empresário Júlio Camargo, acusou o parlamentar de ter recebido cerca de US$ 5 milhões em propina.
Num país desigual em que corruptos são tratados "diferencialmente", a recente prisão do ex-chefe da Casa Civil do governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, José Dirceu - antiga figura histórica do movimento estudantil de 1968 - é comemorada como uma revanche pela mídia corporativa, que no entanto subestima a arrogância da perigosa figura de Eduardo Cunha.
No outro lado do ringue, o senador Fernando Collor, agora convertido em "aliado" de antigos rivais - como Lula e o ex-líder estudantil Lindbergh Farias, também senador - xingou Rodrigo Janot, que concorre à reeleição no comando da Procuradoria Geral da República, com uma expressão que, em significado mais educado, quer dizer "filho de sua mãe".
Fernando Collor é um político conhecido por sua demagogia, que mescla uma mentalidade conservadora, um apelo populista e um pretensiosismo de oratória. Eduardo Cunha é um político do PMDB carioca levado às últimas consequências, com manias típicas do partido no Estado do Rio de Janeiro: impor medidas e atropelar as leis, mas jurar que está de acordo com elas e com o interesse público.
O que preocupa é essa quase discreta ascensão dos dois no jogo político, que hoje atuam como se fossem coadjuvantes que aspiram serem futuros protagonistas de aventuras políticas que hoje podem ser inimagináveis, mas em breve podem se tornar irreversíveis.
Eduardo Cunha está associado a agendas sociais retrógradas, entre as quais está a redução da maioridade penal, a terceirização do mercado de trabalho e a defesa do fator previdenciário para prolongar o tempo de serviço. Evangélico, ele também adota posições contrárias a causas como o homossexualismo.
Isso significa que, através de sua ascensão política - ele chegou a defender causas parlamentaristas no seu projeto de reforma política para aumentar seu poder, não bastasse sua condição de poder se tornar presidente da República quando a titular Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, se ausentarem do país - , Cunha irá colocar até furtadores de frutas na cadeia, fazer trabalhadores receberem pouco e deixados à própria sorte se sofrerem um acidente de trabalho e idosos exaustos obrigados a trabalhar para não ficarem sem o dinheiro da Previdência Social.
Já Collor, que confiscou as poupanças dos brasileiros e lançou um programa neoliberal socialmente excludente e economicamente devastador para o Brasil, foi surpreendentemente reabilitado por setores da esquerda que normalmente nunca iriam valorizar uma figura como o hoje senador.
Pior: Collor faz parte de um pacote tendencioso em que ideólogos pretendem "reabilitar" os anos 90, considerada "década perdida" no Brasil, tentando manter em alta personalidades da época, convertendo a Era Collor em pretensos "anos dourados".
Assim, não só Fernando Collor como personalidades diversas que variam de Guilherme de Pádua (ex-ator que depois assassinou a colega Daniella Perez e depois passou a viver como sub-celebridade) a Solange Gomes, ex-participante da Banheira do Gugu e hoje pretensa "musa sensual", passando por cantores comprometidos com a degradação musical, como Michael Sullivan, Alexandre Pires e Chitãozinho & Xororó.
Até na Bahia tentou-se reabilitar personagens da Era Collor, como Bell Marques, ex-vocalista do Chiclete Com Banana, e o ex-prefeito de Salvador, Mário Kertèsz, "filhote da ditadura militar" convertido a um pretenso radialista "progressista", e querido dos "espíritas" por ter o anti-médium José Medrado como um de seus contratados.
Isso quer dizer que existe um movimento organizado, envolvendo jornalistas, publicitários, empresários do entretenimento e acadêmicos, tentando transformar o período 1990-1992, na verdade uma época de muitos retrocessos no Brasil - parecidos com os que ocorreram nos EUA durante o governo de Ronald Reagan - , em "período de grandes realizações".
Daí o esforço sutil desses ideólogos em trazer uma "imagem positiva" daqueles que estavam envolvidos de alguma forma com os retrocessos de caráter moral, cultural, político, econômico e musical, quando seus envolvidos retornam à posteridade com a falsa imagem de "admiráveis" e "geniais" ou, no caso de Guilherme de Pádua, "admiravelmente polêmicos".
Imagine então um país em que Eduardo Cunha e Fernando Collor se polarizarão como "grandes líderes", cada um com seus retrocessos, travando o progresso do Brasil e deixando a sociedade ainda mais confusa, desinformada e desnorteada? Que evolução esperaríamos do país, com esses dois comandantes do jogo político no futuro? Nenhuma, é verdade.
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