sábado, 8 de agosto de 2015

A "essência" nada espírita do "espiritismo"

DIZEM QUE ISSO AÍ É CARIDADE...

Nada como continuar misturando o joio com o trigo, usando o trigo para justificar a presença do joio. Pois mais um texto de uma página "espírita", o blogue português "Artigos Espíritas", tenta confundir as coisas e, intitulado "A essência do Espiritismo", tenta a fusão do joio e do trigo em mais uma mistificação feita "em nome de Allan Kardec".

O artigo começa com a nabitual bajulação ao pedagogo francês, narrando brevemente sua trajetória, embora se atrapalhasse já no primeiro parágrafo: "apontando-se a data de 18 de Abril de 1857 como a do aparecimento do Espiritismo, por coincidir com a data do lançamento de 'O Livro dos Espíritos', livro este que contém a parte filosófica do Espiritismo, sendo a base para o seu entendimento".

Como é que uma efeméride pode coincidir consigo mesma? Se eu faço uma coisa em um dia, a tarefa em si não se torna uma efeméride porque "coincide" com a realização dela mesma. Ora, se o Espiritismo surgiu oficialmente em 18 de abril de 1857, não foi porque coincidiu com o lançamento de O Livro dos Espíritos, mas porque surgiu a partir dele.

Outros trechos parecem mais corretos:

"Na sua obra "O que é o Espiritismo", no prólogo, define-o "O Espiritismo é, ao mesmo tempo, ciência experimental e doutrina filosófica. Como ciência prática, tem a sua essência nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos. Como Filosofia, compreende todas as consequências morais decorrentes dessas relações.
Pode ser definido assim:
O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como das suas relações com o mundo corporal".

O artigo segue com sua postura supostamente correta, como se quisesse professar a honestidade doutrinária e a questionar a mistificação dos outros, dizendo-se questionar o religiosismo que normalmente acontece nas formas deturpadas da Doutrina Espírita:

"Convém fazer aqui um parêntesis, que o Espiritismo é aquilo que Allan Kardec legou à Humanidade e não o que muitas vezes os espíritas dizem do Espiritismo, que pode coincidir ou não com a essência do Espiritismo que Kardec compilou.
Uns tentam entendê-lo, outros tentam fazer da Doutrina Espírita mais uma religião, alguns utilizam o Espiritismo para fins obscuros, outros ainda, alterando a definição de Kardec, trocam o termo 'consequências morais' por 'consequências religiosas', adulterando lamentavelmente a essência do Espiritismo.
Pesquisando os factos mediúnicos, encontra-se toda uma filosofia, filosofia esta que  está assente na moral ensinada por Jesus de Nazaré, como sendo a maneira do Homem mais rapidamente se espiritualizar e assim se aproximar de Deus".

Mas eis que o artigo então evoca o anti-médium baiano Divaldo Franco, citado porque ele havia recebido uma nobre condecoração na Assembleia Legislativa da Bahia, em Salvador, pelo "revolucionário" trabalho que ele realizou em sua trajetória.

Divaldo é um dos maiores traidores, juntamente com Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier tão lembrado até no Facebook, do pensamento de Kardec, não porque chegaram a professar qualquer identificação com a obra deste, mas porque quiseram ter um vínculo ao pedagogo sem entender direito suas ideias:

"Ciência, filosofia e moral, é o que não se cansa de demonstrar ao mundo, Divaldo Pereira Franco, exemplificando no seu quotidiano, deixando um rasto de luz para que amanhã possamos segui-la nas nossa vidas".

Simplesmente deplorável. Afinal, um anti-médium que só conseguiu ajudar 0,08% da população de Salvador e fica realizando excursões para deturpar e distorcer o pensamento de Allan Kardec, uma crueldade inadmissível por se tratar de uma grande desonestidade literária, não bastasse suas fraudes de supostas psicografias e psicofonias, nem de longe pode ser discípulo do professor lionês.

Pelo contrário, o que Divaldo Franco fez e ainda faz é coisa das mais nocivas, das mais abomináveis, que é usar uma desonestidade de ideias, posturas e atitudes, contrariando o pensamento de Kardec o tempo todo, enquanto diz ser fiel a ele. A desonestidade não pode usar a bondade e a filantropia para se proteger. Um ato desonesto já é uma crueldade, na medida em que prejudica pela mentira.

O autor do texto de "Artigos Espíritas" fica criticando o "religiosismo" dos "espíritas", mas se esquece que o próprio Divaldo Franco se insere nessa tendência, mesmo quando seu malabarismo discursivo de habilidoso charlatão e suas palavras arrumadinhas tente nos fazer crer o contrário.

Mas para quem acha que as aberrações pararam por aí, eis o que o texto, de forma tão seriamente preocupante, tenta definir a caridade, dentro de uma perspectiva que é mais apropriada ao Catolicismo medieval do que ao cientificismo de Allan Kardec:

"O Espiritismo propõe a caridade que entende, que compreende, que não repudia, que não ostraciza, sem ser obviamente conivente com o erro.
O Espiritismo propõe a caridade que silencia, que não escandaliza, que não se impõe, que exemplifica, que é paciente".

Buscando confundir as pessoas, a caridade que "não repudia" e não é "conivente com o erro" é a mesma que "silencia" e "não escandaliza", tentando, com palavras bonitas e argumentos verossímeis, sair dos rumos de Allan Kardec e fingir que se mantém nos eixos de seu pensamento.

Pois vamos explicar uma coisa, quanto a estes argumentos de "silenciar" e "não escandalizar", que escondem aspectos que contrariam frontalmente o pensamento científico e questionador defendido por Allan Kardec.

Essas duas ideias seguem o receituário moralista de Chico Xavier, o amigo e parceiro de Divaldo Franco, que falava em "sofrer em silêncio", em "não questionar" e "não reclamar", por intuição do mentor Emmanuel. São formas sutis de repressão da alma e expressões da ideologia de submissão defendida pelo "espiritismo" igrejista.

Chico Xavier defendia que o questionamento "escandalizava" e "causava dissabores", se incomodava com as polêmicas e escândalos que o atingiram, seguramente de forma meritória, já que o anti-médium mineiro realizava procedimentos duvidosos e defendia ideias conservadoras que faziam as críticas se voltarem, justamente e de forma justa, contra ele, que defendeu até a ditadura militar.

O "silêncio" é uma maneira de evitar que os erros do "espiritismo" brasileiro sejam divulgados e denunciados e, por conseguinte, enfraquecer o movimento e os interesses de seus chefes, que com seu descarado cinismo estimulam seus membros a criticar o "mau espiritismo" dos outros, enquanto fazem suas deturpações botando tudo na conta do professor lionês.

Allan Kardec, pelo contrário, se opunha à ideologia do "silêncio" que Chico e Divaldo tanto defendiam. O pedagogo de Lyon defendia o debate e a polêmica, e ele mesmo mexia com um assunto complexo, que o fazia necessitar de questionamentos e de polêmicas para aperfeiçoar suas pesquisas.

Kardec pesquisava, desconfiado, cético mas muito atento, a espetáculos como as mesas giratórias e a tábua Ouija. Analisava o tema do contato com espíritos com muito cuidado e, quando recolheu, de diferentes médiuns, mensagens diferentes de espíritos falecidos, descartou a maioria delas por ver nelas a falta de veracidade e verossimilhanças necessárias.

Se Kardec agisse no "silêncio" recomendado pelos pretensos seguidores brasileiros, ele teria prejudicado suas pesquisas, teria aberto mão de boa parte de suas ideias e teria reagido com medo diante da deturpação agressiva de Jean-Baptiste Roustaing, que é o mestre oculto e não-assumido dos "espíritas" brasileiros.

O "silêncio" que os "espíritas" no Brasil tanto defendem é o silêncio da censura, da omissão, da complacência, da aceitação gratuita e resignada de tantos erros aberrantes que o "movimento espírita" faz no país, em que seus líderes e membros principais tentam dizer uma coisa e fazer outra, e tentam compensar a desonestidade doutrinária com a filantropia tendenciosa e oportunista.

Com isso, o artigo de "Artigos Espíritas", na vã tentativa de mostrar a "essência do Espiritismo", mostrou, isso sim, a "essência" nada espírita, mas altamente mistificadora e igrejista, da doutrina deturpada que se professa no Brasil.

Assim, o artigo tentou fazer falsos elogios a Allan Kardec e a manifestar falsa fidelidade doutrinária a ele, mas depois se rende ao igrejismo verborrágico do anti-médium Divaldo Franco, um dos piores traidores que a Doutrina Espírita conheceu em toda sua trajetória. Isso é fidelidade a Kardec? Definitivamente, não.

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