domingo, 9 de agosto de 2015
Só a falta de discernimento para definir Divaldo Franco como discípulo de Allan Kardec
Nota-se que o "movimento espírita", desesperado com sua mais grave crise em seus 101 anos, parte para duas estratégias tendenciosas. Uma é alegar a "absoluta fidelidade" a Allan Kardec, enquanto na prática rompe com todo o pensamento. Outra é o "bom mocismo", que é compensar irregularidades na prática espírita com aparente filantropia.
Observa-se que Divaldo Franco tenta a todo custo se livrar das encrencas em que se envolveu o amigo Francisco Cândido Xavier. Diferente deste, Divaldo adota um discurso verborrágico, segue clichês do orador rebuscado, falso sábio, pseudo-intelectual e dublê de "filósofo" num país sem grandes filósofos.
Acusado de seguir as ideias de Jean-Baptiste Roustaing, o anti-médium baiano, um dos fundadores da Mansão do Caminho, localizada em Pau de Lima, subúrbio de Salvador, sempre tentou argumentar que "nunca teve tempo" para conhecer a obra do autor de Os Quatro Evangelhos.
Nós, que observamos a contradição de posturas e ideias praticadas pelo "movimento espírita", preferimos considerar que Divaldo Franco não teve tempo, ou melhor, não teve o menor interesse de conhecer a fundo o pensamento e a obra do pedagogo Allan Kardec, já que o baiano é carregado de profundo igrejismo, por vezes esotérico, que contraria frontalmente a obra do francês.
Divaldo personifica os clichês bastante populares, sobretudo entre os brasileiros idosos ou aqueles que ainda vivem no interior rural e são carregados de religiosidade e conservadorismo ideológico, do antigo professor de escola, com discurso rebuscado em que a beleza das palavras nem sempre corresponde à honestidade ou mesmo a beleza do conteúdo.
Nada de Divaldo Franco corresponde ao caráter e ao modo e qualidade de pensar de Allan Kardec. Só a falta de discernimento existente no Brasil e, infelizmente, muito comum, faz do baiano um "legítimo seguidor" de Kardec, mais verossímil que Chico Xavier, mas dependente deste na tentativa de incluí-los numa pretensa e deficitária recuperação das bases originais kardecianas.
O que se observa é que, curiosamente, apesar de Divaldo Franco parecer "convincente" como um suposto seguidor de Allan Kardec, caprichando sobretudo nos discursos de pretensa fidelidade ao mestre lionês, mesmo assim ele só é "aproveitado" pelos kardecianos hesitantes juntamente com Chico Xavier que estes espíritas autênticos mas invigilantes não decidem o que aproveitar.
Afinal, Divaldo posa de intelectual, com seu discurso prolixo e complicado, com seus trejeitos de eruditismo forçado, com suas vestimentas que lembram os velhos professores das escolas que haviam até os anos 1950, ou de antigos catedráticos famosos por suas oratórias. Isso faz os incautos confundirem sua pseudo-intelectualidade com o cientificismo do pedagogo francês.
Juntando-se isso tudo com a aparente filantropia, embora sabemos que a Mansão do Caminho, em seus 63 anos de existência, só ajudou 0,08% da população de Salvador com um projeto educacional e profissional mediano, Divaldo torna-se um mito mais "organizado" que Chico Xavier, que teve muito mais contradições mal-resolvidas e cujos escândalos repercutiram muito na mídia brasileira.
Mesmo assim, Divaldo tem suas sérias e graves contradições. Afinal, ele compartilha do mesmo religiosismo católico de Chico Xavier. Tem como mentora a medieval Joana de Angelis que, do contrário do Emmanuel de Chico Xavier, espírito que havia sido o Padre Manuel da Nóbrega, não havia sido a sóror Joana Angélica que dava aulas no Convento da Lapa, em Salvador.
Isso porque Joana de Angelis era uma pessoa autoritária e cuja personalidade teve o grave problema de não suportar ver pessoas tristes por muito tempo. Joana Angélica, diferente de sua "xará espiritual", era mais compreensiva, e seu jeito enérgico não pode ser confundido com autoritarismo.
Joana Angélica era uma ativista, pedagoga, tinha uma mentalidade avançada para a época, questionando o poder colonial e tudo o mais. Já Joana de Angelis era mais conservadora, medieval, defendia a "resignação do sofrimento" como se via em todo o "espiritismo" igrejista, e condenava, da mesma forma que Emmanuel, o ativismo e a contestação.
Outro exemplo é que Divaldo Franco só é "sábio" por causa dos estereótipos tão adorados pelos brasileiros. Isso porque Divaldo contradiz a verdadeira figura do sábio, pois este nunca se pretende poder responder tudo nem usa palavras rebuscadas e discursos prolixos para tentar provar inteligência.
Não parou por aí. Divaldo Franco concordou com a visão católica do Deus antropomorfizado, sob a forma humana e do sexo masculino, sugerindo uma interpretação machista. A visão é severamente contestada por Allan Kardec, que falava da ideia de Deus como uma "inteligência superior", mas nunca numa forma antropomorfizada e muito menos masculina.
Sabe-se que Divaldo Franco não só seria reprovado pelo professor Allan Kardec, pelos desvios que ele tem em relação à Doutrina Espírita - Divaldo se acha "profeta" e acredita numa farsa chamada "crianças-índigo", ideias que Kardec em nenhum momento defenderia - , e Jesus de Nazaré o veria como uma forma atualizada dos pretensos sábios que condenava em seu tempo.
Divaldo Franco já se aposentou das atividades "mediúnicas". tem 88 anos de idade e se encontra num contexto em que seus contemporâneos estão morrendo. O anti-médium está recebendo homenagens, da Rede Globo à Assembleia Legislativa da Bahia, como forma de fechar um ciclo.
Caso Divaldo venha a falecer, o "movimento espírita" procurará "santificar" sua imagem, como foi feito com Adolfo Bezerra de Menezes (beneficiado com uma biografia parcial e fantasiosa) e Chico Xavier. Será mais um a usurpar postumamente o carisma de Allan Kardec, enquanto deixa um legado extremamente contrário à obra do professor lionês.
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