quinta-feira, 16 de julho de 2015

"Protegido" de Emmanuel, Fernando Collor se irrita ao ser investigado


A Operação Lava-Jato, que investiga denúncias de corrupção envolvendo políticos, empresários (sobretudo de empreiteiras) e diretores da Petrobras, entrou em novas etapas aprofundando ainda mais as investigações.

Desta vez, a Procuradoria Geral da República ordenou, entre outras coisas, busca e apreensão de bens e documentos nas empresas administradas pelo senador Fernando Collor de Mello e seus familiares, em Alagoas, incluindo carros de luxo e vistorias feitas na TV Gazeta de Alagoas, afiliada da Rede Globo de Televisão, e na Organização Arnon de Mello.

Três carros foram apreendidos, um Porsche, um Ferrari e um Lamborghini, considerados carros caríssimos por simbolizar o luxo e a imponência financeira. Outros políticos também tiveram seus bens e residências vistoriados.

Fernando Collor se irritou com a investigação e, posando-se de vítima, fez um discurso furioso no Congresso Nacional anteontem, alegando, com sua habitual arrogância que marcou seu breve mandato como presidente da República, que o Supremo Tribunal Federal "extrapolou os limites do Estado democrático". No discurso, Collor disse se sentir "humilhado" com a investigação.

Alguns trechos do inflamado discurso de Fernando Collor são reproduzidos aqui, para perceber o quanto a arrogância e os malabarismos discursivos fazem com que os hipócritas mais habilidosos façam constantes discursos condenando a hipocrisia. Aqui estão:

"[A nova fase da Lava Jato] extrapolou todos os limites do estado de direito, extrapolou todos os limites constitucionais, extrapolou todos os limites da legalidade. Sem apresentar um mandado da Justiça, confrontando e invadindo a jurisdição da polícia legislativa do Senado Federal e, portanto, a soberania de um Poder da República, os agentes, sob as ordens de Rodrigo Janot, literalmente arrombaram, este é o termo, arrombaram o apartamento de meu uso funcional como senador da República".

"Uma operação espetaculosa, midiática, com vários helicópteros, dezenas de viaturas, absolutamente desnecessários, e maldosamente orquestrada pelo PGR, com único intuito mesquinho e mentiroso de vincular a uma investigação criminosa, bens e valores legalmente declarados e adquiridos nos anos, ou antes, de qualquer investigação, muito antes do suposto cometimento de pretensos crimes maldosamente a mim imputados".

"O argumento da operação, vejam só, foi o de evitar a destruição de provas. Depois de dois anos, evitar a destruição de provas, como se lá houvesse algum tipo de prova? E provas de que, afinal? E, por acaso, um veículo é um documento? Por acaso um veículo é um computador? Qual seria o objetivo, então, a não ser o de constranger, de intimidar e, principalmente, o de promover uma cena de espetáculo".

"Ferir direitos individuais, invadir propriedade alheia, recolher bens declarados, tudo isso de uma pessoa que nem sequer responde a um processo, e que sequer prestou depoimento, e que sequer foi ouvida, é, no mínimo, violar a Constituição Federal. Buscas, apreensões, invasões, arrombamentos como esses com objetivos atropelados, sejam eles contra qualquer pessoa, é um retrocesso".

EMMANUEL, PELO JEITO, FOI COM A CARA DE COLLOR

É conhecida na Internet a história do tratamento desigual que o "espiritismo" acabou trazendo para os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Fernando Collor, pesando muito mal justamente para aquele que só queria ajudar o país, o que põe em xeque o suposto caráter caridoso da doutrina.

Juscelino Kubitschek, que investiu na urbanização e industrialização do país, mas também procurava adotar medidas reformistas em prol das classes populares, era amigo do anti-médium Chico Xavier e, em 1960, declarou como "instituição de utilidade pública" a Federação "Espírita" Brasileira.

Mesmo com tanta generosidade, Juscelino acabou contraindo azar. Foi um dos primeiros políticos cassados pela ditadura militar. Não pôde concorrer para a Presidência da República em 1965. Não pôde levar adiante um movimento pela redemocratização do país, a Frente Ampla. Não pôde concorrer à Academia Brasileira de Letras e ainda morreu num estranho acidente de carro que legistas influentes tentam insistir que não foi atentado.

O azar contagiou até mesmo a filha, que não sobreviveu a um câncer mesmo estando bonita e jovial aos 56 anos, em 2000. E sobrou até para o ator José Wilker, que interpretou JK numa minissérie da Globo, um ateu que foi só consultar um "centro espírita" para morrer de infarto pouco depois,

Já Fernando Collor apenas acolheu Chico Xavier durante sua campanha eleitoral, quando visitou o anti-médium mineiro. Apesar das relativas simpatias mútuas (Chico acabou virando eleitor do dito "caçador de marajás"), a amizade não foi profunda, mas Collor ganhou uma sorte grande como se tivesse sido "amigo de infância" do figurão "espírita".

Collor chegou a ser investigado e condenado por corrupção, expulso do poder como presidente da República e proibido, durante oito anos, de exercer direitos políticos. Eram prejuízos sérios, mas contornáveis. Daí que Collor, depois disso, passou a reconstruir sua carreira política sem problemas.

Se Juscelino atraiu tragédias para si, Collor se livrou dos obstáculos a seu caminho. Seu principal denunciador, o irmão Pedro Collor de Mello, faleceu pouco após as denúncias do esquema de corrupção do tesoureiro Paulo César Farias (rival de Pedro no mercado de imprensa alagoano). Até parece que o "mentor" de Chico Xavier, Emmanuel, gostou de Fernando Collor.

O próprio Paulo César Farias foi misteriosamente assassinado, ao lado de sua então namorada Suzana Marcolino, em 1996, e as provas do crime foram apagadas por um aparentemente acidental trabalho de faxina no quarto de hotel onde os corpos foram encontrados.

Dessa forma, se perderam para sempre investigações que seriam fundamentadas nos depoimentos de PC Farias e nas ligações criminosas que envolveriam o tesoureiro e o próprio Fernando Collor, que, segundo o jornalista Lucas Figueiredo no livro Morcegos Negros, teriam relações com a máfia italiana e o narcotráfico internacional.

Além dessas manobras do destino, Collor foi favorecido pela blindagem que o fez ser eleito senador em 2006. Passou a ter o apoio de seus rivais, Lula e Lindbergh Farias. É blindado por setores flexíveis da mídia de esquerda. É ovacionado pelas mídias sociais como o "presidente que modernizou o país". Virou símbolo do "estadista destemido e desafiador".

Para piorar mais as coisas, Fernando Collor, cujo mandato como presidente do Brasil foi marcado pelo confisco das poupanças dos brasileiros para alimentar a corrupção dele e de PC Farias, realizou um plano econômico ultraconservador e ameaçou até privatizar as universidades públicas e demitir servidores públicos para "enxugar o Estado", um revisionismo histórico ameaça favorecê-lo.

REVISIONISMO FARIA "GLORIFICAR" DÉCADA PERDIDA DO BRASIL

Sim, porque silenciosamente adeptos de Collor tentam criar um lobby entre intelectuais e jornalistas para desenhar, aos poucos, um revisionismo histórico que definisse seu mandato como presidente do Brasil como "moderno, progressista e desafiador" e que o impeachment se deu porque Collor tinha "relações problemáticas" com o Congresso Nacional.

Esse revisionismo teria como pano de fundo promover a década de 1990 como uma "década positiva" e classificar tudo que aconteceu na década como "totalmente genial e genuíno". De início, o período da Era Collor seria manipulado nessa "reinterpretação" histórica e valores não-políticos seriam exaltados para depois colocar o presidente como "líder político" desses pretensos "anos dourados".

Era uma forma de elites interessadas promoverem o período que foi considerado a "década perdida" do Brasil, marcado pela violenta degradação sócio-econômica e cultural semelhante ao que ocorreu nos EUA da Era Reagan, como se fosse a "época de ouro para o Brasil", atribuindo levianamente o período a uma missão pretensamente futurista e falsamente progressista.

Nomes que simbolizavam, na época, as baixarias musicais, como a geração brega de "pagodeiros" e "sertanejos" que fizeram sucesso na época, são tidos agora como "gênios injustiçados da MPB (?)". Até Michael Sullivan, que queria destruir a MPB, tentou um retorno posando-se de vítima e se promovendo às custas de suas próprias vítimas.

Mas o período tenta reabilitar todo mundo que provocou a bagunça dos anos 90. Gugu Liberato tentou ser promovido como um "grande comunicador". Até o ex-ator Guilherme de Pádua, que assassinou a colega Daniella Perez (filha da dramaturga Glória Perez), tentou voltar na condição de "polêmica sub-celebridade", tratado com carinho pela grande imprensa.

É verdade que isso é um ensaio para a tentativa de reabilitar a Era FHC, outro período de degradação sócio-econômica e cultural do país. Mas o gradual revisionismo que querem fazer usando a década de 90 para reabilitar um Fernando e depois outro através da "reavaliação positiva" de tudo que aconteceu de ruim na época é uma forma de reciclar estruturas de poder por trás de tudo isso.

E, no caso espiritual, nota-se que Fernando Collor foi beneficiado pela sorte ao representar um perfil de político e personalidade que se encaixa nos desígnios defendidos pelo ultraconservador jesuíta Emmanuel, que, dizem, "voltou à Terra" antes de Collor ver a sorte grande bater à sua porta. Mas o jesuíta deve ter adiantado e mandou seus amigos do além irem proteger o marajá das Alagoas.

Collor, com seu "triunfante" discurso, se protege de sua reputação de senador para se posar de vítima e acusar seus investigadores de "violarem o Estado democrático". E, empresário de uma afiliada da Rede Globo, ainda têm o descaramento de desqualificar a grande mídia. Triste termos pessoas assim na condição de pretensos líderes e oradores.

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