segunda-feira, 6 de abril de 2015

"Espiritismo" brasileiro, curas espirituais e Ciência Espírita

O "MOVIMENTO ESPÍRITA" CONSIDERA O MÉDICO ADOLFO BEZERRA DE MENEZES COMO SEU "CURANDEIRO ESPIRITUAL".

Existem curas espirituais? Espiritismo e a Medicina terrena podem conviver harmoniosamente? As curas espirituais dão mais certo do que as curas materiais da Medicina? A "medicina do além" prescinde de procedimentos médicos terrenos?

Como o "movimento espírita" se valeu da própria ignorância e de toda a deturpação da Ciência Espírita de Allan Kardec, isso estabeleceu um preço muito caro de uma doutrina cheia de irregularidades, que, a pretexto de curar, adoece, ou quando tenta curar de um modo, faz adoecer de outro, vide as energias sombrias que cercam seus membros.

Isso faz com que até mesmo a "medicina espírita" feita no Brasil, em que pesem seus aparentes êxitos, sejam uma prática irregular que utiliza métodos e critérios indevidos, improvisados pela força da ignorância. E isso vem desde o começo, quando os primeiros focos de "movimento espírita", bem antes de Chico Xavier, eram conhecidos pelo seu curandeirismo.

As acusações de charlatanismo e exercício ilegal da Medicina atingiam os "espíritas" daqueles tempos, as primeiras três décadas do século XX, que deram sequência ao final do século XIX com a fundação da Federação "Espírita" Brasileira. Atividades do tipo eram reprimidas pela polícia, que prendia seus praticantes e quem estivesse ali apoiando tudo isso.

Os "espíritas" se julgavam "perseguidos" com essa repressão. É certo que havia o lado da intolerância religiosa e também da influência monopolística do Catolicismo propriamente dito no Brasil. Mas a verdade, também, é que muitas dessas práticas se inspiravam mais em correntes esotéricas do que em procedimentos realmente científicos que evocassem a ajuda do além.

Vieram os passes, prática do "movimento espírita" desprovida dos conhecimentos necessários do Magnetismo de Franz Anton Mesmer, e os tratamentos espirituais, que se limitavam a dar um receituário homeopático ou banhos de ervas, para complementar os atos de mãos sacudindo pelo ar, sobre pessoas deitadas e um fundo musical "relaxante".

Não há estudos sérios e vieram fenômenos que se valiam de sensacionalismo, misticismo ou de espíritos inferiores, ainda endurecidos, que vieram sob o pretexto de "ajudar os doentes" com seus métodos duvidosos. Até facas sujas eram usadas para perfurar corpos sob a desculpa de retirar tumores através da cirurgia "mediúnica".

Casos assim se refletem no fenômeno "Dr. Fritz" que envolveu alguns supostos médiuns. Mas há também o caso do antigo presidente da FEB, Adolfo Bezerra de Menezes (que carece de uma biografia realmente imparcial sobre sua pessoa), médico, militar e político, que está associado a um suposto espírito que faz curas espirituais e lança cheiro de éter para anunciar sua presença.

Bezerra popularizou o processo e representou um contraponto ao seu quase xará, o Dr. Adolph Fritz, que teria influído nas mortes de alguns "médiuns" vistos como malcriados. Aparentemente mais dócil e sensível, pelo menos de acordo com a imagem deixada na posteridade através dos arranjos da FEB, dr. Bezerra representa a face "amorosa" das curas espirituais.

Embora as curas atribuídas a Bezerra (que na verdade podem ser de espíritos desconhecidos simpatizantes, já que o ex-presidente da FEB teria reencarnado e já está duas encarnações após seu falecimento em 1900) pareçam bem intencionadas, elas não fogem à regra do misticismo religioso que distorce as compreensões médicas e terapêuticas.

Afinal, a fé religiosa corrompe o sentido das curas mediúnicas e reduz seu processo a um misticismo placebo, já que o processo medicinal se torna praticamente inócuo, enquanto a cura toda vem de um paciente que acaba criando suas próprias condições de cura às custas do seu próprio sossego e aparente sensação de alívio.

EFEITO PLACEBO

É o efeito placebo. Os tratamentos medicinais, neste caso, tornam-se inócuos e ineficazes em si, mas a pessoa tem a impressão de estar tão aliviada e sossegada que acaba se curando. Ela acredita tanto na sua cura que é curada mais pela sua crença do que pelo tratamento em si, cuja única participação na cura está em dar a falsa impressão de que faz algo e afirmar ao paciente que ele será curado.

É como naqueles remédios vendidos pelos antigos mascates, muito comuns em meados do século XIX, que não passavam de água com açúcar ou mel de abelha misturado com alguma tintura, que seus vendedores prometiam a cura definitiva para as piores doenças, e isso numa época em que a Medicina ainda se servia de práticas ainda toscas de tratamento contra enfermidades.

A pessoa saía aparentemente curada, mais por suas sensações do que pelo remédio em si, que nada influiu na mudança. Quando muito, o remédio, se tinha sabor delicioso, só agradava o paladar (aquele misto de água de bica com pó de gelatina e mel de abelha era realmente uma delícia), mas outros remédios nem sempre têm esse sabor e são igualmente inócuos.

O grande problema é que, no "espiritismo" brasileiro, todo o processo de "curas espirituais" é feito sem qualquer conhecimento da Ciência Espírita, nem do Magnetismo de Franz Mesmer, nem de outras ciências associadas direta ou indiretamente à doutrina de Allan Kardec.

DESPREZO À CIÊNCIA E CONFLITO COM A "MEDICINA DOS HOMENS"

A prática das "curas" da "medicina espírita" ocorrem em claro conflito com a chamada "medicina dos homens", espécie de denominação pejorativa que os "espíritas" fazem a tudo de científico que vai contra os limites religiosos de sua doutrina. Sabemos que o "espiritismo" brasileiro só aceita a Ciência quando ela não contraria seus dogmas, totens e práticas.

O que há é um arremedo de consulta médica, quando um tipo de "auxílio fraterno" - réplicas de confessionário de igreja fantasiados de consultórios psicológicos - se expande em um simulacro de consulta médica, feita geralmente por um não-médico mas sempre um "espírita", que estabelece um receituário que inclui repouso, esquecimento de assuntos sobre sexo e remédios homeopáticos.

Evidentemente, diante da aparente condição "conciliadora" do "espiritismo", que não pode se voltar contra as práticas terrenas, irá "recomendar" ao paciente que esteja em tratamento médico com os "homens da Terra" que continue com o tratamento, até porque seria forçar a barra demais o "espiritismo" substituir a medicina terrena e deixar os pacientes morrerem à própria sorte.

No entanto, quando "não há necessidade" de um tratamento médico, o "espiritismo" faz seu "espetáculo de medicina" - em inglês, os mascates que vendem remédios são conhecidos através da denominação medicine show - , que às vezes incluem seus próprios produtos "homeopáticos" (como comprimidos pequenos e simpáticos com gosto de hóstia só que com mais açúcar e um talco ou pomada).

Os tratamentos envolvem geralmente colocar as pessoas numa sala, não raro uma sala coletiva com vários leitos, em que há um aparato que imita os quartos hospitalares. Neles há, geralmente, uma luz azul que é acesa quando as demais são apagadas, sendo um ponto azul enquanto um mediador faz a oração e seus assistentes fazem o ato de abanar as mãos, que os "espíritas" denominam "passe".

Tudo ritualístico, pretensamente terapêutico, mas a julgar pelas irregularidades do "movimento espírita", um processo bastante perigoso e sem qualquer segurança. Eles podem curar num aspecto, mas trazer má sorte na vida. Ou então curar em primeira instância e agravar a doença em outra.

Se não é a força psicológica de certas pessoas, que acidentalmente praticam autocura, sem perceberem, de tão envoltas num otimismo que, por uma coincidência de ocasião (e não em função da fé religiosa, como muitos acreditam) acaba curando suas doenças. É um processo até agora misterioso, mas que com toda a certeza não é um milagre da fé.

É POSSÍVEL HAVER CURAS ESPIRITUAIS. MAS OS "ESPÍRITAS" NÃO DEIXAM

Haver curas espirituais e intervenção do além para a Medicina terrena é uma hipótese possível. O que se nota, porém, é que o "movimento espírita", que por suas irregularidades corrompe a ideia de contatos com o mundo espiritual através de um vale-tudo da imaginação fértil de seus líderes e "médiuns", impede que essa hipótese seja estudada e conhecida.

Isso compromete o desenvolvimento do processo de curas espirituais, e reduz tudo ao âmbito do misticismo, do esotérico, sem que a Ciência fosse devidamente valorizada. Não existem estudos sobre como a ação de espíritos do além-túmulo pode influir na cura de alguma doença, sobretudo grave, ou como se carateriza esse processo.

É uma coisa lamentável, e ela não se esclarece através do exemplo "bondoso" do dr. Bezerra de Menezes. Primeiro, pelo fato de que ele provavelmente nem está no mundo espiritual, porque pela sua natureza espiritual ele reencarnou alguns anos após morrer e, pelo prazo normal de seu físico, ele já esteja em encarnação ainda posterior, sendo hoje um rapaz encarnado de uns vinte e tantos anos.

Segundo, porque a simples devoção religiosa e o simples misticismo sentimental não garantem as condições científicas para possibilitar a cura de doenças, o fim das dores e a extinção dos sintomas e dos efeitos da enfermidade. Paciência, esse processo religiosista é uma questão de fé e não de ciência.

O "espiritismo" brasileiro acaba impedindo que estudos sérios fossem feitos nesse sentido. A bajulação à Ciência e o fingimento de que segue seus procedimentos não resolve. Seria necessário haver pesquisas sérias sobre o contato com o mundo espiritual, coisa que os "espíritas" brasileiros fingem que fazem e até trazem "descobertas" e "certezas", mas se recusam a realizar.

É uma pena, porque talvez fosse louvável que houvesse uma parceria entre a medicina terrena e a do além-túmulo na criação de técnicas e condições de curas, sem sucumbir ao esotérico, ao místico, ao religioso e ao sentimental. Se houvesse uma coisa séria, em vez desse "mundo do faz-de-conta espírita", podemos aproveitar até as autocuras dos próprios pacientes.

Mas dizendo assim fica muito fácil. E fica fácil quem é acusado de descaso afirmar que vai fazer tudo direito e cumprir todas as promessas. Só que o estudo da Ciência Espírita é bastante complexo, e escapa das convicções da fé e desvia-se completamente do sentimentalismo religioso e, principalmente, vai longe do todo-fingimento "espírita" que tudo diz fazer e não faz.

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