sábado, 4 de abril de 2015

A "religião do BRT"

 CARLOS ROBERTO OSÓRIO, O "ARCEBISPO CARIOCA" DA "RELIGIÃO DO BRT".

O Brasil tem a mania de "religiosizar" as coisas. Tem a "religião" do futebol, a "religião" das "rádios rock" 89 FM e Rádio Cidade, a "religião" do "funk", a "religião" do PT, a "religião" do anti-petismo, a "religião" da cerveja, a "religião" do vinho, a "religião" do Jornalismo. Sem falar do "deus" dinheiro que mede todas as coisas.

E tem a "religião" do BRT. A "divindade" em questão são ônibus articulados ou bi-articulados, esteticamente parecidos com foguetes, de ampla mas evidentemente limitada capacidade de ocupação de passageiros e supostamente destinado a viagens mais rápidas e com menos lotação.

A "religião" do BRT envolve medidas antipopulares que são impostas por secretários de transportes que se acham dotados de poderes "divinos". Só por uma relativa, ou em muitos casos, apenas simbólica, capacidade técnica, eles se acham no direito de impor medidas prejudiciais à população e que só atendem aos interesses particulares desses tecnocratas.

No Brasil das "desculpas", em que há argumentos maravilhosos usados para justificar as piores atrocidades, os tecnocratas da "religião" do BRT (Bus Religion Transit?) geralmente tentam justificar medidas impopulares e nada funcionais como a pintura padronizada de ônibus ou a redução drástica da quantidade de ônibus em circulação.

ÔNIBUS PADRONIZADOS SÓ SERVEM PARA EXPOR O LEIAUTE DO GRUPO POLÍTICO QUE GOVERNA UMA CIDADE OU REGIÃO.

A "religião" do BRT tem seu papa, que é o arquiteto e político (originário da ditadura militar) Jaime Lerner e, no Rio de Janeiro, teve seu "messias" o ex-secretário de Transportes de Eduardo Paes, Alexandre Sansão, que passou sua "profissão de fé" para sucessores como Carlos Roberto Osório, convertido agora a "arcebispo do Rio de Janeiro" dessa "seita".

Assim como o Catolicismo se fundamenta nos Dez Mandamentos de Moisés, mas nem sempre obedecendo seus artigos (o Catolicismo medieval não seguia, por exemplo, o quinto mandamento), a "religião do BRT" diz seguir a Lei de Licitações (8666/93) mas descumpre grosseiramente alguns de seus artigos.

E aí autoridades e tecnocratas ficam inventando vantagens que, na prática, são improcedentes e só são usadas para perpetuar medidas que contrariam o interesse do povo, mas que os mandantes alegam que são feitas "pelo interesse público".

Aí a pintura padronizada dos ônibus, que amarra diferentes empresas de ônibus em "consórcios", grupos empresariais politicamente aglomerados pelo Estado, como se não bastassem as oligarquias empresariais privadas, adotam uma mesma imagem para elas com a clara ênfase do logotipo da prefeitura ou do órgão estadual, atitude cheia de irregularidades legais, que violam gravemente os principios de concessão de linhas de ônibus.

A secretaria de Transportes "competente" concede as linhas, mas não dá às empresas o direito de usar sua própria identidade visual (direito que garante mais transparência no serviço de ônibus). A concessão fica pela metade, porque o órgão estatal impõe "sua imagem", quer se fazer "representado" pelas frotas em circulação nas cidades ou regiões, o que é, em si, irregular e nocivo à população.

Afinal, a pintura padronizada faz as pessoas confundirem os ônibus, podendo correr até riscos ou atrasos. No Rio de Janeiro, as pessoas pegam o 254 da Acari pensando ser o 232 da Matias e, em vez de ir ao Lins, têm que saltar no Jacaré, que até em horários diurnos têm ocorrência de assaltos. Em outros casos, pegar ônibus errado pode significar atraso no trabalho e provável demissão.

Mas isso também serve para acobertar a corrupção de empresas de ônibus e políticos, e a estrutura político-empresarial dos consórcios é um pano de fundo para isso, fazendo piorar o sistema. No cotidiano dos passageiros, isso se reflete principalmente quando empresas de pior desempenho têm a mesma pintura das de melhor qualidade, dificultando a identificação para possíveis reclamações contra o péssimo serviço.

ACIDENTES COM BRT - "REAJUSTES ESPIRITUAIS" NA MOBILIDADE URBANA?

Mas o aspecto surreal está no fato de que as autoridades defendem a drástica redução de ônibus em circulação. Não se trata na redistribuição racional de frotas nas linhas (que na verdade têm "excesso de ônibus" porque seus percursos são iguais, enquanto faltam linhas para outras ruas e bairros), mas de redução de ônibus, mesmo.

Sim, o problema que faz as pessoas esperarem até mesmo por mais de uma hora a chegada do ônibus desejado e, quando chega, está superlotado, é visto como "virtude" e algo "positivo" pelas autoridades "mais respeitadas". O próprio Jaime Lerner, que as pessoas esquecem que foi político da ARENA (o partido da "situação" na ditadura), também pensa assim.

E o que acontece com tudo isso? A "religião do BRT" impõe todos esses transtornos por causa do "milagre" do BRT (Bus Rapid Transit), e de valores "divinizados" que incluem ônibus com ar condicionado ou chassis de marcas suecas (Volvo e Scania), considerados mais possantes.

BILHETE ÚNICO - O "bônus-hora" por suportarmos, no "silêncio da prece", os transtornos do transporte público?

E há ainda o "milagre" do Bilhete Único, um cartão eletrônico em que a pessoa, em tese, pode pegar duas linhas de ônibus em prazo de duas horas pagando uma passagem. Só que o cartão constantemente enguiça e os congestionamentos nas ruas fazem com que o "benefício", uma das supostas vantagens da "religião do BRT", percam o sentido. Mas ninguém pode perder a fé e todos devem reclamar sem "queixumes", rezam seus "mandamentos".

Em prol de tudo isso, aceitamos pegar ônibus padronizados cuja empresa temos dificuldade de reconhecer - logotipos pequeninos ou nomes de empresas expostos em letreiros ou janelas não resolvem - , e isso depois de esperar mais de meia-hora ou mesmo quase duas horas, em troca de ônibus de concepção avançada em corredores exclusivos e "rápidos".

Ônibus longos que parecem foguetes, com ar condicionado e chassis de marca sueca não são garantia de transporte mais eficiente ou de transparência no sistema de ônibus. Como também construir corredores expressos nem sempre agem em harmonia ou adequação à mobilidades urbana, até porque nem toda cidade tem estrutura urbana para essas avenidas exclusivas para ônibus.

Em muitos casos, estruturas urbanas das cidades são sacrificadas e, no Rio de Janeiro, parte de um terreno ecologicamente protegido foi destruída para extensão de um corredor de BRT. Patrimônios históricos e áreas ambientais podem ser destruídos para a construção de corredores exclusivos.

Da mesma forma, também pode haver o desvirtuamento do trânsito de avenidas, como a problemática mão única das avenidas Roberto Silveira e Amaral Peixoto, em Niterói, que só beneficia o uso abusivo de automóveis, os maiores vilões do trânsito nas grandes cidades.

Só o assunto da mobilidade urbana, através desses exemplos acima, mostra o quanto persiste uma mentalidade retrógrada, de cunho autoritário e antipopular, nos políticos e tecnocratas que estão no poder. O povo é obrigado a aceitar "bovinamente" as medidas, em troca de medidas paliativas como BRT e seu corredor expresso, que na prática só causaram problemas e até acidentes fatais.

E isso é ruim. Afinal, é uma sina triste no Brasil aceitar qualquer coisa em troca de supostos benefícios que não sabemos o que são e que, depois, se revelam não tão benéficos assim. Muitos entes queridos morrem sem necessidade e será que temos que aceitar todo prejuízo com a desculpa de "reajustes espirituais"?

Enquanto isso, delega-se "superioridade", sob qualquer critério, a egoístas que se valem do privilégio do diploma, do poder político, da visibilidade ou de outro tipo de prestígio para imporem seus abusos e explorarem a população indefesa que sofre todo tipo de prejuízo porque é "necessário". E tudo isso em troca de "benefícios" que nada trazem de muito vantajoso ou realmente benéfico, e que até chegam com mais prejuízos.

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