sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
Barão de Itararé demonstrou ceticismo no caso Humberto de Campos
Aparício Torelly (1895-1971), mais conhecido como Barão de Itararé - em alusão a uma batalha que não chegou a ocorrer - , foi um conhecido jornalista, humorista e ativista de esquerda que nos últimos anos tornou-se patrono de um movimento pela redemocratização da mídia, o Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé.
Conhecido pela sua sessão no jornal A Manhã, "A Manha" (num claro e divertido trocadilho com o nome do periódico), o Barão de Itararé fez coro a vários escritores que preferiram se abster sobre o caso da apropriação de Humberto de Campos por Francisco Cândido Xavier.
Essa abstenção, que expressa o ceticismo neutro de vários escritores, é usada, de maneira oportunista pela FEB, como falsa comprovação de que Chico Xavier teria psicografado os livros Parnaso de Além-Túmulo e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, pivôs de intensa polêmica durante a década de 1940.
É um erro de interpretação. Há escritores que não negam nem afirmam, mas a FEB tenta nos fazer crer que esses mesmos autores afirmam, quando se sabe que eles estão em dúvida, mesmo que considerem aparentemente alguns aspectos que pareçam favoráveis a Chico Xavier.
Mesmo um Agripino Grieco que havia sido convidado a ver sessões com Chico Xavier, ou, antes de morrer, o próprio Humberto de Campos ter apontado semelhanças entre os poemas "espirituais" e os estilos que os falecidos poetas fizeram em vida, não indicam que eles tenham admitido veracidade em Chico, antes manifestassem um profundo ceticismo.
Barão de Itararé faz parte desse grupo, manifestando seu ceticismo e sem dar um parecer definitivamente favorável a Chico Xavier. Tal como Grieco, Campos, Monteiro Lobato, Raimundo de Magalhães Júnior e outros, eles não davam um questionamento seguro à mediunidade de Chico, mas também se recusaram a comprovar a veracidade de seus atos.
Segue então um texto, reproduzido por Miguel Timponi, advogado da FEB, no livro A Psicografia Ante os Tribunais, no Diário de Notícias de 13 de julho de 1944, em que o Barão de Itararé manifesta o ceticismo que Timponi, como é de praxe na instituição que representa, tentou creditar como "favorável" à tese de "psicografia" dos referidos livros de Xavier.
Segue o referido texto:
"Dentro em breve a Justiça terá que se manifestar a respeito da autenticidade ou falsidade das obras atribuídas ao Espírito de Humberto de Campos. O pronunciamento dos nossos tribunais sobre o assunto está sendo provocado pela família do saudoso escritor, que, com isso, deseja fazer cessar essas publicações ou participar de possíveis proventos materiais decorrentes da venda dos livros que circulam como sendo da autoria do estilista de "Roseiras e Carvalhos" (sic).
A questão, como se vê, gira em torno da identificação de um Espírito. Mas este é justamente o grande problema, que tem sido objeto de acurados estudos, não apenas de indivíduos isolados, mas também de associações científicas da mais alta reputação em todo o mundo.
A Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres, por exemplo, já tem realizado famosas experiências, sob a direção de notáveis sábios, que se valeram do controle dos mais aperfeiçoados instrumentos de Física. Esses homens, com a colaboração de um médium, conseguiram não somente a materialização de um Espírito, mas, ainda, a descrição de todo o mecanismo dessa materialização. Muitas documentações foram colhidas desses trabalhos.
Verificaram que, durante o fenômeno de materialização, o médium perdia uma parte do seu peso, porque cedia uma boa porção de seus fluidos, que eram utilizados pelo Espírito para se tornar fisicamente visível, podendo, portanto, ser também fotografado.
Para a grande maioria da Humanidade, que é como São Tomé, essas demonstrações seriam mais do que suficientes para uma crença inabalável. Mas os homens de ciência são piores do que São Tomé. Este queria ver, para crer, mas os cientistas nem vendo acreditam.
A materialização não basta para uma prova de identidade. A fotografia não é suficiente para se afirmar que se trata deste ou daquele Espírito. Nem as declarações categóricas do Espírito podem constituir por si a expressão da verdade.
Nós vimos no cinema a vida de Pasteur. Acompanhamos, cheios de emoção, os episódios culminantes das suas grandes lutas pelo bem da Humanidade. Naquele filme estava o espírito que animou a existência do apóstolo do bem. Mas aquela figura que nós víamos não era, afinal, a de Pasteur, mas a de Paul Muni.
Mas Paul Muni teve a intenção de nos mistificar?
Ou Paul Muni realizou uma obra sincera, encarnando, como um médium cinematográfico, o Espírito de Pasteur?
Diante destas perguntas, é-nos lícito indagar se a Justiça poderá se manifestar de maneira definitiva sobre a identidade do Espírito de Humberto de Campos.
Se tal fizer, provocará a maior revolução espiritual de todos os tempos, porque é atrás da solução dessa questão que de há muito se batem as vanguardas que murcham à frente da evolução.
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Embora pareça sinalizar que admite haver veracidade na atribuição ao espírito de Humberto de Campos - cujo livro teve o nome trocado, de Carvalhos e Roseiras para Roseiras e Carvalhos - , o autor não traz uma conclusão fechada, apenas citando uma das hipóteses.
No entanto, quando se comenta a respeito da cinebiografia de Louis Pasteur (The Story of Louis Pasteur, de 1936), o famoso cientista francês, o Barão de Itararé compara a mediunidade a uma encenação - citando Paul Muni, o ator do filme Scarface, versão original de 1931 - , dentro de um discurso no qual trabalha com hipóteses, e não com certezas.
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