quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Artigo tentou legitimar "cientificamente" livro de "André Luiz"

WALDO VIEIRA TRABALHOU SEU PEDANTISMO CIENTÍFICO SOB O CODINOME "ANDRÉ LUIZ".

O "movimento espírita" havia comemorado a "entrada de Chico Xavier na literatura científica" através de um artigo publicado numa revista científica pouco conhecida em seu meio, a Neuroendocrinology Letters, de pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora, que analisou várias obras atribuídas ao espírito de André Luiz, priorizando, no entanto, Missionários da Luz, de 1945.

Segundo os autores - entre eles Jorge Cecílio Daher Jr. e Giancarlo e Alessandra Luccheti - , o livro Missionários da Luz incluiria informações científicas "complexas", principalmente sobre a glândula pineal, pequena glândula localizada no centro do cérebro e cujas funções seriam de regular o sono e as atividades sexuais e reprodutivas.

O artigo, de cerca de dez páginas e escrito em inglês, tenta afirmar que os conhecimentos que o suposto André Luiz teria transmitido no referido livro de 1945 eram "pouco conhecidas" da comunidade médica, alegando que havia poucos artigos referentes ao tema publicados na época.

Sem querermos detalhar aspectos científicos que não são de nossa especialidade, podemos no entanto questionar várias contradições acerca da suposta complexidade de tais informações, levando em conta que o fato de haver uma bibliografia escassa, na época do livro, não significa que elas não trabalhem tais conhecimentos.

Sabe-se que a glândula pineal foi um assunto estudado desde a Antiguidade grega, a partir do século 31 a. C., por Herófilo e Erasístrato, avançando significativamente no século XVII, através do filósofo e cientista francês René Descartes (1596-1650), o mesmo que via na dúvida um processo de busca da verdade e por isso apreciado por Allan Kardec.

Entende-se que, ao longo do século XIX, os estudos sobre glândula pineal tiveram sequência, e muitos deles eram privativos da comunidade científica. No século XX, evidentemente, essa continuidade se manteve, principalmente com estudos referentes às ondas eletromagnéticas que agem dentro da área da glândula.

Teóricos como Frantisek Karel Studnicka já estudaram a glândula pineal no começo do século XX, sobretudo em um livro lançado em 1905. Em 1940 já houve um livro dos autores Gladstone e Wekeley, e outro autor, Bargmann, já havia publicado um livro em 1943.

Portanto, é duvidoso que "André Luiz" teria lançado "conhecimentos complexos" em 1945, se já havia uma significativa bibliografia sobre a glândula pineal, do contrário que os acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora, vinculados ao Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (NUPES), tentaram afirmar.

ONDE ESTAVA WALDO?

Aparentemente, Waldo Vieira era um adolescente que "só em 1955" entraria em contato direto com Francisco Cândido Xavier, embora haja o crédito de que sua produção junto ao anti-médium de Pedro Leopoldo tenha oficialmente começado em 1950.

Embora aparentemente Waldo tenha começado a trabalhar com Chico depois de 1945, nada impede que o então jovem discípulo não tenha colaborado para a concepção do personagem André Luiz, pelos conhecimentos médicos e de ficção científica de Waldo.

Waldo era interessado em "espiritismo" e admirador de Chico desde a infância. Já tinha uma agenda de trabalhos "mediúnicos" a partir dos 13 anos. Waldo também era um ávido leitor de quadrinhos, e muito provavelmente um dos maiores fãs de ficção científica do país e havia doado sua coleção com milhares de títulos a uma biblioteca.

Sabe-se que Waldo Vieira, formado em Medicina e Odontologia, possui conhecimentos científicos mas não a ponto de se tornar um cientista sério, mas alguém que se inclinou a misturar ciência com esoterismo, tratando informações científicas com misticismo e mistificação, o que, na prática, é anti-científico.

Ainda está para verificar se Waldo esteve por trás dos primeiros trabalhos sob o nome de André Luiz, mas há um sentido na hipótese dele ter criado o suposto espírito, pela afinidade de ideias pseudo-científicas mostradas desde Nosso Lar e, neste caso, reafirmadas em Missionários da Luz.

Mas é possível que, se caso Waldo já estabelecesse contato com "espíritas" em Uberaba, onde Chico Xavier passou a viver depois de sofrer problemas com padres católicos de Pedro Leopoldo, tivesse tentado correspondência com o famoso anti-médium, certamente já era admirado pelo futuro parceiro.

A formação de Waldo se deu como naqueles casos de filhos aconselhados pela família a seguir tal profissão. Talvez, como adolescente, fã de ficção científica e interessado por medicina - por influência possível de algum familiar - , ele tenha elaborado os elementos que passaram a compor o personagem André Luiz.

Com isso, o que se sabe é que as "teses cientificas" do suposto André Luiz, que os "espíritas" festejam como "visionárias" e atribuem a elas "60 anos de antecedência" em relação às descobertas científicas atuais, são extremamente discutíveis.

A título de comparação, os conceitos de patrimônio imaterial regulamentados por lei e apreciados pelo IPHAN desde 2000 eram de conhecimento do poeta modernista Mário de Andrade (1893-1945) na época em que concebeu o então SPHAN, em 1936, mas elas não foram implantadas porque eram consideradas muito ousadas e onerosas.

As ideias "visionárias" do suposto André Luiz, certamente, já eram discutidas na década de 1940 pelos estudiosos da glândula pineal. As ideias podem até não terem sido difundidas ou lançadas oficialmente, mas já eram discutidas e analisadas por seus especialistas e lançadas por periódicos que, embora "raros", eram influentes no meio.

Com isso, há uma certeza. Os acadêmicos da UFJF erraram e "André Luiz" não foi "visionário", tendo apenas procurado "popularizar" entre os "espíritas" teses já conhecidas pelos especialistas científicos e que não eram difundidas pelo senso comum. Dizer que tais ideias foram "antecipadas" por "André Luiz" é, no mínimo, uma tolice.

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