terça-feira, 4 de novembro de 2014
Passeatas pró-ditadura e o lado sombrio do projeto "Coração do Mundo"
Palavras dóceis, retórica pseudo-profética, falsas advertências, argumentação pseudo-científica. A "profecia" de Chico Xavier, que nunca passou de um devaneio onírico comum, mas que virou até documentário, intitulado Data Limite, Segundo Chico Xavier, anuncia um suposto "reino de luz" simbolizado pela supremacia política e religiosa do Brasil no mundo inteiro.
Segundo o documentário, o Brasil se tornaria a maior potência mundial enquanto o Velho Mundo (Europa, Ásia e, num certo sentido, os EUA) se arruinaria com tempestades, cataclismas e atos terroristas.
A depender dessa crença, o mundo desenvolvido seria varrido do mapa para abrir alas à hegemonia política do Brasil. Nos EUA, o Estado da Califórnia sumiria do mapa, de preferência com a nata de famosos de Hollywood morrendo sob escombros ou afogada no Oceano Pacífico.
Só que o que está por trás dessa "maravilhosa profecia" dada pelo "insuspeito" Chico Xavier - que os incautos nas mídias sociais adoram relembrar com suas frases adocicadas - é que o Brasil se tornaria um novo império mundial e o "espiritismo" da FEB, fingindo-se "fiel às bases doutrinárias de Allan Kardec", se tornaria a religião dominante no planeta.
Isso não é bom. Só porque a "profecia" de Chico Xavier colocaria o Brasil numa posição aparentemente vantajosa na comunidade das nações, isso não quer dizer que isso seria uma opção benéfica para o povo brasileiro. Não raro, pode ser o contrário.
Vide o caso do futebol, cujas vitórias de times não necessariamente trazem a prosperidade social esperada. E, no caso do Brasil, jornalistas investigativos sérios já apontam que as vitórias da Seleção Brasileira de Futebol, longe de representar o anúncio da "prosperidade" e da "solidariedade dos povos", não passaram de trapaças habilidosamente planejadas pelos dirigentes esportivos envolvidos com a FIFA e a CBF.
Transformar o Brasil em um centro das atenções do mundo inteiro não garante a prosperidade nem o equilíbrio social. Além disso, sabemos por outros exemplos, como o Império Romano e a atual supremacia estadunidense, o quanto colocar países para "comandar o mundo" pode representar um processo mais nocivo do que benéfico.
O Império Romano e sua tardia supremacia religiosa - o Catolicismo medieval que só agora começa a ser revisto em larga escala - causaram diversos danos à humanidade, mesmo se efetivando em prol dos "princípios cristãos" e da "integração mundial das nações do mundo inteiro" (como eles entendiam ser a Europa e a Ásia).
PASSEATAS PEDINDO INTERVENÇÃO MILITAR: O "REINO DE LUZ" CITADO POR CHICO XAVIER EM 1971
No último dia 01, ocorreu, em São Paulo e em outras cidades do Brasil, passeatas pedindo a saída de Dilma Rousseff, presidenta reeleita na última votação de segundo turno, mesmo que seja através de uma intervenção militar, nos moldes da que foi feita contra o presidente da República, João Goulart, em 1964.
A passeata é resultado de uma campanha de setores ultraconservadores da sociedade brasileira, que ganham adeptos entre as elites indignadas com as transformações ocorridas no país. A ascensão desses setores é um grande risco para o equilíbrio social do país e expressa o lado sombrio das tais "previsões" tão apreciadas pelo "movimento espírita" brasileiro.
Por trás das "carinhosas advertências" das "palavras de amor" que anunciam o "eldorado de paz e fraternidade" simbolizado pela nação brasileira, há, sabemos, todo um projeto de supremacia religiosa e política que pode apresentar rumos bastante nocivos para a humanidade.
Afinal, falar é fácil. Dizer que haverá um "reino de amor e de luz", onde dominará a fraternidade e os princípios cristãos é muito fácil. Só que, em muitas vezes, se enfeitam intenções maléficas com palavras doces feito mel, ou então projetos políticos e religiosos maléficos se dão para zelar toda a promessa retórica.
A passeata golpista e os textos inflamados que pessoas como Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino, jornalistas de Veja, escrevem, assim como posturas e opiniões transmitidas por gente como o roqueiro Lobão e o político Jair Bolsonaro, revelam esse obscurantismo ideológico oculto pela dócil "previsão".
É muito estranho usar a supremacia do Brasil como condição de progresso para a humanidade. Sobretudo através de uma instituição como a FEB, que defendeu o golpe militar de 1964 e o auge da ditadura, através de um Chico Xavier que foi seu porta-voz e defendeu com gosto seus princípios roustanguistas.
Mesmo momentaneamente cortejando o governo Dilma, nada impede que os dirigentes da FEB venham defender movimentos conservadores e reacionários, mas dentro do "espírito" (não se fala aqui em almas do outro mundo, mas em um padrão de comportamentos e crenças) de controle de corações e mentes em prol de uma paz controlada e restritiva.
Por isso a passeata ocorrida em São Paulo dá um sinal amarelo para aqueles que se interessam em ver o documentário sobre as "profecias" de Chico Xavier. Primeiro, porque Chico nada tem de confiável, por ser uma personalidade contraditória e dissimulada. Segundo, porque se trata da interpretação de um sonho banal.
Com toda a certeza, esse sinal amarelo se reverterá em dado momento num sinal vermelho, diante desse projeto de "coração do mundo" que esconde um novo Império Romano e um novo catolicismo "espírita".
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