sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O oportunismo de Chico Xavier e Divaldo Franco


Divaldo Franco e Chico Xavier são dois exemplos típicos de anti-médiuns, que usaram de suas limitadíssimas habilidades mediúnicas - praticamente só se comunicavam com antigos militantes católicos (tendo sido Emmanuel o antigo Padre Nóbrega, mas Joana de Angelis não teria sido Joana Angélica) - para estabelecer seu estrelismo que prejudicou seriamente a Doutrina Espírita.

Só o que os dois fizeram de nocivo à Doutrina Espírita, subvertendo de maneira negativa a função discretíssima e meramente serviçal do verdadeiro médium, a ponto de se tornarem dublês de pensadores com suas "filosofias" baratas, é algo que deveria deixar qualquer um estarrecido e apavorado. Mas não deixa. Por quê?

Porque no Brasil existe aquela mania chamada condescendência. Se o sujeito é farsante, mas é dotado de uma fala envolvente e um carisma incrível, ele é visto como honesto. Nem mesmo as ações judiciais se voltam contra ele. Na política, nota-se a facilidade com que políticos corruptos, como Fernando Collor e Beto Richa, atraem votos nas urnas e saem vitoriosos.

Até nas práticas de bullying nas escolas, a condescendência era quase total. Os valentões atraíram muitos aliados e seguidores, e os tristes espetáculos de humilhações contra jovens inocentes mas pouco inclinados às convenções sociais mais rijas, infelizmente, eram respaldados por gente de perfil neutro, mas que se divertia com tais "brincadeiras", rindo junto com o valentão.

Se não tivessem sido as ocorrências policiais, em que vítimas de bullying se suicidavam ou provocavam chacinas por vingança contra as humilhações recebidas antes, essa prática teria continuado nas mesmas humilhações graves respaldadas por plateias desavisadas que riam muito sem ter noção do "espetáculo" a que assistiram.

No Brasil, a mentira tem pernas curtas, mas usa muletas longas. Pessoas que cometem crueldades diversas,das docilmente maliciosas às mais abertas agressões, chegam a ficar anos e anos com êxito, e se não fossem os traidores ou traídos que aparecem no caminho das disputas por privilégios maiores, eles não seriam denunciados ou desmoralizados por antigos parceiros que se sentiram lesados.

No caso religioso, nota-se que nos EUA é mais fácil banir o charlatanismo religioso do que no Brasil. Ou então no Reino Unido, onde se chegou a barrar o expansionismo da Igreja Universal do Reino de Deus proibindo a instituição de adquirir certos prédios ou casas históricas.

No Brasil em que Ricardo Teixeira não pode ser investigado pela Justiça nacional, faz sentido que as fraudes e irregularidades em torno do "espiritismo" brasileiro sejam vistas com relativismo e condescendência por seus adeptos, que ainda se acham ao luxo de dizer que se sentem "apavorados" quando se acusa seus ídolos de cometerem charlatanismo.

Nota-se que Divaldo e Chico obtiveram uma espécie de reputação pétrea, aparentemente inabalada por denúncias de seus erros graves, mesmo quando se sabe que os dois foram os que mais prejudicaram a Doutrina Espírita, porque emprestavam seus carismas a uma série de irregularidades e desvios doutrinários diversos.

Como é que os dois, formados numa cartilha roustanguista - apesar de Divaldo alegar que "nunca leu" ou "não teve tempo" para ler Os Quatro Evangelhos de Jean-Baptiste Roustaing - , teriam, no auge da crise da FEB, largado o barco para pegar carona nos que reivindicavam o retorno às bases de Allan Kardec?

Que vantagens pessoais não estariam em jogo por trás dessas duas figuras que, lá pelos anos 80, vendo o barco roustanguista da FEB perfurado por crises sucessivas, tentaram agradar os militantes que cobravam a maior proximidade possível da federação com o pensamento de Allan Kardec?

Católicos, Divaldo e Chico nunca se inclinaram genuinamente para as ideias de Kardec. Desvirtuaram até mesmo o sentido de médium, que era o intermediário, o "canal" entre a pessoa falecida e o mundo dos vivos, não o "astro principal" para o qual nem os recados dos entes mais saudosos têm mais serventia, pois basta qualquer um se passar pelo morto da vez e mandar uma "mensagem de amor".

Eles são apenas embelezadores de palavras, as palavras desencarnadas tão doces quanto o delicioso bombom na boca de um diabético, com uma doçura tão nociva que mata. Por trás dessas lindas palavras, faladas de forma mansa e tenra, desvia-se das ideias mais elementares que o pedagogo de Lyon, com seus sacrifícios individuais, tão duramente pôde analisar e desenvolver.

Divaldo e Chico foram péssimos alunos do professor Kardec, ótimos oradores que no entanto desconheciam até do mais básico das obras básicas. Recheavam seu vazio de ideias kardecistas com todo uma retórica igrejista, moralista, um pretenso eruditismo, uma falsa simplicidade de gestos, um respaldo direto ou indireto nos atos menos honestos.

A eles se associam plágios literários ou falsetes pseudo-psicofônicos, não bastassem os desvios drásticos do caminho da Codificação kardeciana. Eles se perderam no caminho das ideias de Kardec, e não havia como crer que eles estivessem empenhados sinceramente na campanha pela fidelidade à Doutrina Espírita.

Eles foram beneficiados pelas manobras feitas no auge da crise do roustanguismo na FEB, nos anos 70, em que o "movimento espírita" passou a ser desenhado - ainda falta descobrir definitivamente como isso se deu - para ser um "roustanguismo light com Kardec".

Com isso, permaneceu o igrejismo de Roustaing mas sem a evocação de seu nome - que virou tabu na Igreja Espírita - , enquanto Allan Kardec passava a ser alvo de bajulações e todo o religiosismo espiritólico era camuflado com falsas apreciações de assuntos científicos, não raro misturados com esoterismo de terceira categoria.

Sabe-se, portanto, que Xavier e Franco foram espertos o suficiente para driblarem os efeitos da crise roustanguista sobre eles, passando a defender uma suposta proximidade a Allan Kardec, mas dentro de seus limites ideológicos igrejistas dissimulados pelo pedantismo pseudo-científico.

Com isso, os dois dificultaram completamente a ampliação e popularização dos estudos originais de Allan Kardec, que foi deturpado sem piedade por conceitos católicos retrógrados, vindos do jesuitismo, que nem a Igreja Católica hoje tem a coragem de assumir e apreciar de forma convicta.

Perdemos muito com o Espiritolicismo, e os dois anti-médiuns fizeram todo o trabalho errado, apesar de sua aparente "filantropia", e os estudos das descobertas divulgadas por Kardec, que poderiam se expandir nas pesquisas científicas, se estagnaram no moralismo religioso e no misticismo, não trazendo benefícios reais para a população.

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