quinta-feira, 23 de outubro de 2014
Pistas sobre a "decadência" de Roustaing no "movimento espírita" brasileiro
Diante das eventuais campanhas de botar na conta de Allan Kardec todo o religiosismo viscoso do "movimento espírita" brasileiro, ficamos perguntando por que Jean-Baptiste Roustaing, o deturpador da Doutrina Espírita tão querido pela FEB, de repente passou a ser descartado como se tivesse sido hostilizado pelos seus antigos e apaixonados defensores.
O estranho viracasaquismo de alguns dirigentes - e não se fala de Luciano dos Anjos, roustanguista radical que teve a coragem de mudar de lado - e a suposta defesa da fidelidade a Allan Kardec, sem abrir mão no entanto das convicções religiosas, requer uma investigação bastante cuidadosa.
Antes que possamos levar adiante a nossa investigação sobre esses bastidores, vale aqui trazer ao público algumas pistas do que poderia ter sido a crise do roustanguismo, que teria atingido o ponto limite entre 1973 e 1975, época dentro da qual faleceu o antigo presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, que havia sido um dos chefões da entidade.
PODER CONCENTRADO DA FEB
Durante muito tempo a Federação "Espírita" Brasileira esteve surda aos interesses e direitos das entidades "espíritas" regionais, estabelecendo suas decisões de caráter nacional sem consultar as lideranças estaduais e sem dar a elas sequer um direito de voto.
Talvez esse poder concentrado e centralizado da FEB, que detinha a supremacia de sua orientação ideológica, baseada na defesa radical de Roustaing, pudesse ter provocado uma crise e uma série de conflitos de interesses de lideranças regionais contra as lideranças nacionais.
PONTOS EXTREMAMENTE POLÊMICOS DE ROUSTAING
Provavelmente, o que também pode ter provocado a crise é a antiga polêmica extrema trazida pelos volumes de Os Quatro Evangelhos, em que Roustaing defende três pontos absurdos que vão contra a lógica mais elementar da realidade espiritual.
Primeiro, é a tese do Jesus "fluídico", que não teria tido corpo físico, teria nascido da "virgindade" de Maria e não teria sofrido as dores de seu martírio na cruz. Embora ainda haja defensores dessa tese, ela provocou uma séria crise quando a tese é confrontada com as análises de Kardec, que desmentem a hipótese de Roustaing.
Segundo, é a tese do retrocesso do espírito. Se um espírito falhou em uma encarnação, ele regride na encarnação seguinte. É uma interpretação equivocada da necessidade de espíritos que reencarnam experimentarem condições sociais atrasadas para desenvolver progresso espiritual, pois neste caso o espírito não regride, apenas reforça seu aprendizado conhecendo situações de atraso.
Terceiro, é a tese dos insólitos "criptógamos carnudos", que é a "possibilidade" dos espíritos humanos reencarnarem até mesmo como lesmas ou micróbios, ou talvez até mesmo como glóbulo branco no sangue do seu inimigo. A tese torna-se absurda, na medida em que, sendo animais racionais, humanos não poderiam reencarnar em seres irracionais ou mesmo em invertebrados ou micróbios.
HESITAÇÕES E OUTROS PROBLEMAS DO ASTRO CHICO XAVIER
O que pesou também é em relação ao maior astro do "espiritismo" brasileiro, o anti-médium Francisco Cândido Xavier, que se envolveu em sérios problemas que quase puseram a perder a reputação do "movimento espírita", tamanhos os escândalos e controvérsias.
Xavier havia aderido ao roustanguismo, mas sujeitou-se à exploração da FEB, o que, diante de sua popularidade e fama, o fez hesitar diante de pressões contraditórias de amigos de vários lados, seja José Herculano Pires ou Antônio Wantuil de Freitas.
Isso fez com que o já muito contraditório Chico Xavier - contraditório demais para ser considerado líder de qualquer coisa - hesitasse muitas vezes na sua postura roustanguista, embora sabemos que, na prática, ele sempre foi fiel às ideias de Roustaing, talvez só ficando um tanto temeroso em se assumir admirador do advogado de Bordeaux.
Ele era mineiro, vindo portanto de um outro Estado brasileiro, o que poderia ter sido uma espécie de vitrine para as entidades espiritólicas regionais, mas era também símbolo do poder nacional da FEB e seu principal propagandista.
Em várias obras, Chico Xavier ora endeusava Roustaing ou, ao menos, exaltava suas ideias, mas em outras, ele tentava cortejar Allan Kardec, como se prometesse fidelidade a este, mas expressando um religiosismo impróprio do professor lionês.
NECESSIDADE DE INVESTIGAÇÃO
Portanto, a crise do roustanguismo é um tema que deveria voltar à tona. Afinal, o problema não se resolveu quando, aparentemente, Roustaing foi deixado de lado. Pelo contrário, ele se agravou quando a suposta reabilitação de Allan Kardec tornou-se pretexto para manter o religiosismo sem que fosse preciso recorrer à figura do autor de Os Quatro Evangelhos.
Os jogos de interesses, as intrigas e os escândalos necessitam de maior análise e pesquisa, recorrendo a fatos antigos que, embora aparentemente superados, podem explicar por que o roustanguismo foi teoricamente deixado de lado, mas na prática mantido em quase toda sua essência.
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