domingo, 12 de outubro de 2014
Espiritolicismo traz azar
Uma senhora idosa que entra no "centro espírita" e ouve uma palestra, canta musiquinhas, sai de lá feliz e compra um livro de Chico Xavier para ler as mensagens de Emmanuel. Separada, a senhora vive com sua filha mais querida, que, num prazo de alguns meses, morre precocemente num acidente de automóvel.
Um homem frequenta um "centro espírita" e, incapaz de se livrar do alcoolismo por conta própria, resolveu fazer um tratamento espiritual. Consegue superar o vício, mas em compensação, na saída de um evento especial do "centro", é assaltado e esfaqueado. Sobrevive, mas perdeu dinheiro e documentos.
Um outro homem é um assíduo adepto de palestras "espíritas" e também resolveu fazer um tratamento espiritual. De repente, num debate na Internet, o "espírita" deste caso lança uma polêmica inofensiva que desagrada outro internauta que, irritado, passa a fazer galhofas, ofensas violentas e ameaças, chegando a rondar a cidade onde o "espírita" mora para intimidar ou, quem sabe, se vingar.
Uma universitária frequenta um "centro espírita" e é devota de Emmanuel e André Luiz, lendo todos os seus livros com muito prazer. De repente, quando faz uma pesquisa universitária para sua tese de sociologia, a respeito, por exemplo, do nível de nutrição da população de favelas vizinhas, ela entra num site que parece insuspeito, seu computador é infectado e o conteúdo da tese é perdido.
Há outros casos, e pode até ser um exagero que essas ocorrências tenham relação direta com o Espiritolicismo. Mas, de forma indireta, o "espiritismo" brasileiro contribui, sim, para a transmissão de más energias, o que faz com que a leitura de livros de Emmanuel seja muito mais perigosa do que passar debaixo de uma escada.
GLAMOURIZAÇÃO DO SOFRIMENTO
O que faz o "espiritismo" brasileiro ser tão baixo astral assim, só "beneficiando" aqueles que se submetem e compartilham da pieguice masoquista e quase depressiva dessa doutrina, dessa "alegria" um tanto sofrida e triste, desse sentimentalismo ao mesmo tempo melancólico e fantasioso?
Simples. O "espiritismo" brasileiro, na sua mania de juntar misticismo e moralismo religiosos, herdados de diversos elementos do Catolicismo medieval, acaba glamourizando o sofrimento humano, sob a desculpa de se preparar para a "vida futura".
Esse moralismo é um dos aspectos mais tipicamente medievais do "espiritismo" brasileiro. É herdado do Catolicismo medieval ao traduzir a teologia punitiva no "mundo de provas e expiações", o que faz com que, sem qualquer tipo de ironia, as pregações "espíritas" se assemelhem às anedotas "cordiais" do Amigo da Onça.
Para piorar, isso não é ironia. Se, por exemplo, o "espiritismo" brasileiro declara que, quando alguém sofre extremamente, ele é o mais beneficiado pelas bênçãos a anunciar glórias futuras, isso mais parece um Amigo da Onça levado a sério demais.
Ironia, sim, é saber que o criador do Amigo da Onça, Péricles Maranhão, havia cometido suicídio no final de 1961, e suicídio é considerado, pela moral torta dos "espíritas", um "crime hediondo", mais do que o homicídio porque este, apesar de ser o egoísmo humano levado às mais extremas consequências, é visto pelo "espiritismo" brasileiro como uma "justiça pelas leis de causa e efeito".
A ideia do "espiritismo" é fazer as pessoas sofrerem para obterem o esperado "aperfeiçoamento espiritual". Não é o sofrimento de que fala Allan Kardec, mais um desafio para as pessoas buscarem soluções, mas um sofrimento moralista, punitivo, do qual até mesmo os esforços para buscar soluções se tornam inúteis, e não raro até mesmo condições para altruísmo são dificultadas.
Muitas tragédias chegam mesmo a serem glamourizadas. Em muitos casos, há o êxtase da transformação de pessoas belas e jovens em "anjinhos no céu". É quase um sadismo, dentro daquele sentimento hipócrita de forjar alguma tristeza que mal consegue disfarçar o prazer de ver alguém morrendo cedo, não raro da pior maneira e entristecendo demais gente tão querida e carente.
Sim, porque as tragédias precoces são acidentais, involuntárias, mas chegam os "espíritas" com sua morbidez transformando tais tragédias em algo quase voluptuoso, transformando os jovens falecidos em fetiches e alvos de adoração fútil e oportunista.
O que os "espíritas" não conseguem entender é que não é porque existe vida espiritual que vamos sorrir por ver muitos entes queridos morrendo prematuramente ou sem completar sua missão de vida. Chega desse papo de "fulano faleceu, mas foi para um reino de amor e luz".
Por isso há essa energia pesada. Moralismo punitivo herdado do Catolicismo medieval, glamourização do sofrimento humano, fora as deturpações e até fraudes cometidas. O "espiritismo" brasileiro primeiro menospreza a Ciência em prol da Religião (no sentido de "cultos, templos e sacerdotes") para depois brincar de Ciência em palestras ou procedimentos "terapêuticos".
Só pode dar errado. Quem se dá bem é quem adere a esse clima de pieguice, de amor-daçamento da alma, da criminalização da vontade individual, da absolvição de práticas homicidas, de proselitismo religioso e do abuso da falsidade ideológica nas manifestações ditas "espirituais".
Daí que o "espiritismo" brasileiro traz azar. É muita palavra de amor para nenhuma prática realmente de amor ao próximo. É como diz o ditado popular, adaptado para este contexto: "De mensagens de amor e luz, o umbral está cheio".
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