sábado, 11 de outubro de 2014

Origem do moralismo punitivo do "movimento espírita" está em Roustaing


No "movimento espírita", seu estranho moralismo condena severamente os suicidas enquanto relativiza a ação de homicidas, tidos estes como "justiceiros das leis de causa e efeito", dentro de seu julgamento punitivo da moral espiritual.

Essa verdadeira "liberdade condicional" do além, que reserva o "mérito" daquele que tirou a vida de outrem para sofrer apenas uma ou duas encarnações adiante, esse verdadeiro "fiado" espiritual, é uma concepção bastante sombria para uma doutrina que se autoproclama "iluminada" e "acolhedora".

Mas isso tem raízes. Afinal, o "movimento espírita" é roustanguista, embora nos últimos anos essa postura tenha sido mais enrustida. Mesmo assim, de uma forma ou de outra o roustanguismo aparece, mesmo travestido de "fidelidade kardecista", e um e outro conceitos originários de Os Quatro Evangelhos permanecem na ideologia "espírita".

Pois o jeito Herodes / Pôncio Pilatos de julgar os méritos humanos - se bem que o famoso "julgamento de Cristo" nunca existiu, como havíamos descrito antes - , que contagiou até Chico Xavier na acusação impiedosa às vítimas do incêndio de um circo em Niterói, no final de 1961, de terem sido "romanos sanguinários", encontra origem no famoso livro de Jean-Baptiste Roustaing.

Roustaing, o advogado de Bordeaux, havia descrito o episódio do massacre de três mil homens ordenado por Moisés como se fosse um processo "apoiado" por "espíritos protetores" e não uma circunstância movida pelos conflitos humanos, principalmente naqueles tempos embrutecidos anos antes de Jesus. Roustaing, na sua sede de sangue, escreveu o seguinte trecho:

"Foi assim e nenhum golpe se perdeu, porque, em circunstâncias tais, como deveis compreender, os Espíritos protetores, prepostos a vigiar as provas e expiações de cada um, para que elas se cumprissem, impelindo os culpados ou dirigindo as espadas dos que acutilavam, faziam que aqueles recebessem o golpe que os prostraria. Deu-se ali o que se dá com a bala que deve ferir a este ou àquele e que segue a sua trajetória, mesmo quando toda a probabilidade era de que se perdesse".

O trecho aberrante é explicado por Gélio Lacerda, um dos críticos enérgicos da religião de Roustaing, no livro Conscientização Espírita, publicado pela editora Opinião E, em 1995:

"Desta forma, o 'Espiritismo Cristão' roustainguista da Federação Espírita Brasileira modifica o 5º mandamento da Lei de Deus e lhe dá a seguinte redação":

'Não matar, salvo se por determinação dos Espíritos protetores'".

Por isso os suicidas se tornam muito mais abomináveis e condenáveis do que os homicidas, embora o homicídio seja o ato mais extremo de egoísmo humano, em que o desprezo ao próximo é levado às mais derradeiras consequências.

Para o moralismo espiritólico do "movimento espírita", numa herança das ideias ainda preservadas do hoje dissimulado legado de Roustaing, o homicídio é apenas uma atitude "lamentável", um "mal necessário" para testar as provações espirituais e promover o resgate moral com o "pagamento", por parte da vítima, de suas faltas espirituais em outras vidas.

Esse método punitivo geralmente coloca os homicidas na "doce vida" da culpabilidade "branda", pois, sob a ótica desse "espiritismo" que está aí no Brasil, quem tira a vida de outrem é amenizado por ser considerado "agente de ajustes morais" e se priva, em tese, de dores e sofrimentos maiores, apenas "sofrendo", na encarnação presente, leves angústias ou dificuldades moderadas, o que é uma ilusão.

O "espiritismo" de raiz roustanguista tenta tirar a responsabilidade individual do homicida ou, quando muito, diminui-la. Tira de sua prática o sentido do livre-arbítrio e faz do homicida, mesmo o doloso, um agente "culposo" a serviço das "orientações espirituais" e, por isso, tido como isento de consequências dramáticas graves. Daí a ilusão que esconde uma realidade oposta.

HOMICIDAS PRODUZEM SUA PRÓPRIA TRAGÉDIA

Sendo um ato extremo de prática egoísta, o homicídio quase sempre causa em seu praticante uma pressão confusa e pesada sobre sua consciência, mesmo quando ele sente prazer por essa tarefa feita. Homicídio é quase sempre uma atitude de risco, e o próprio organismo físico é duramente abalado pela emoção cruelmente intensa de tirar a vida de outrem.

O homicida produz sua própria tragédia, quase sempre. É como se ele matasse outrem à vista e si próprio às prestações. Principalmente quando o homicida não é um criminoso carreirista, mas alguém com alguma noção de moral e convívio social normal, como muitos "homens bons" que exterminam suas próprias companheiras, a tragédia lhes torna um risco potencial altíssimo.

O conhecimento moral faz do homicida ocasional uma pessoa consciente de seus riscos. Daí que, quando os homicidas não seguem propriamente a carreira do crime e parecem "pessoas direitas", os efeitos tornam-se mais danosos porque os erros são cometidos com a plena consciência de suas gravidades.

Afinal, eles precisam suportar toda sorte de pressões morais e alterações drásticas de humor, entre a arrogância pelo crime cometido e a vergonha diante das consequências. Um dia se irritam, em outro se deprimem, e isso afeta o organismo.

A impunidade da Justiça, apesar de beneficiar tais pessoas, contraditoriamente as joga numa vida caótica, que é a da sociedade de hoje, e dificilmente alguém que cometeu um homicídio está livre de ser vulnerável, seja a assaltos, acidentes, doenças graves.

Pelo contrário. Muitos dos homicídios são feitos em função de drogas ou álcool, mas mesmo aqueles cometidos na boa saúde podem adoecer por grave desequilíbrio emocional. A imprensa não contribui para informar obituários de homicidas, já que a maior parte deles morre sob o silêncio dos jornalistas, mas se verificarmos bem, veremos que os homicidas acabam também morrendo relativamente cedo.

Os homicidas, em boa parte ainda não acreditando em reencarnação, acabam perseguindo a longevidade, para uns inalcançável, para outros certa mas dramática, achando que poderão se tornar evoluídos no fim de cerca de 85 anos de vida. Apenas poucos conseguem dar a volta por cima nessas condições, atingindo até a melhoria moral, mas a maior parte sucumbe.

Se alguém que já fuma muito e se embriaga demais mata uma pessoa, não é esse ato que lhe livrará de sofrer as consequências trágicas de suas doenças. Da mesma forma, se um homem perdeu a cabeça ao matar sua própria mulher, se ele, na fuga, for rendido por um ladrão e, perdendo a cabeça, for reagir, não será o crime anterior que o livrará de ser morto pelo bandido.

Homicidas sofrem a tragédia de terem ceifado não apenas vidas humanas, mas processos de convívio social com outras pessoas e projetos de vidas, criando indignação, revolta e sofrimento nos entes queridos. Isso gera uma série diversa de pressões emocionais que angustiam, chocam e abatem aos poucos os organismos dos homicidas, que, na melhor das hipóteses, envelhecem cedo na aparência.

Ódios, depressões, gritarias, revoltas, perturbações diversas, seja da parte de homicidas ou daqueles que se comoveram com o falecimento das vítimas, tudo isso transforma a vida de quem tirou a vida do próximo num suplício.

Mesmo a busca de tranquilidade é relativa, porque o crime deixou efeitos sérios, daí que, mesmo quando o homicida vive 90, 95 anos, ainda assim chega nessas idades fragilizado. Além disso, um homem que matou alguém por motivo fútil e que, na sua impunidade prisional, viaja no exterior e lá encontra um parente da vítima, tem alto risco de morrer de ataque cardíaco.

Há tragédias típicas que vitimam homicidas: enfartes, câncer, acidentes de trânsito, ou até outro homicídio praticado por alguém. Não raro, eles não chegam a atingir a velhice, pois sentimentos negativos diversos como alternar ódio e depressão, por vezes associado às drogas, álcool, nicotina, gula e neuroses diversas, ceifam a vida desses criminosos pelos seus conflitos e problemas causados.

São sinas duras para quem é considerado pelos "espíritas" como "justiceiros dos resgates espirituais", e mostram muitas vezes que a "lei de causa e efeito", pelo menos da forma definida pelo moralismo "espírita", não tem prazo nem obrigatoriedade para ocorrer e não há garantia se todos nós havíamos sido romanos sanguinários em antigas encarnações.

Não é rancoroso dizer que os homicidas quase sempre produzem tragédia contra si. É, sim, realista. As provações deles não são "dóceis" como os "espíritas" tentam fazer crer. Mas, se caso um homicida falecer em idade relativamente prematura, pelo menos haverá uma nova chance dele iniciar uma nova encarnação sem ter o "nome sujo na praça".

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