sábado, 7 de junho de 2014

"Anjo" Ismael teria sido o mentor do Espiritolicismo


Há, no "espiritismo" brasileiro, a crença de um mentor maior que estabeleceu as diretrizes da doutrina adotada no país, chamado Ismael e considerado "anjo". Como acredita o Espiritolicismo, Ismael seria oficialmente o guia espiritual do Brasil.

Figura estranha e sinistra, Ismael teria aparecido pela primeira vez em 1873, na reunião do grupo de Estudos Espíriticos Confúcio, dirigido por Antônio da Silva Neto e por Francisco Leite de Bittencourt Sampaio (homenageado por uma rua na altura do Parque União), divulgando uma mensagem dizendo-se guia espiritual do país.

O grupo Confúcio foi um dos embriões da Federação "Espírita" Brasileira e uma das primeiras orientações dadas por Ismael é de que a Doutrina Espírita deva ser abordada com prioridade nos aspectos religiosos divulgados a partir do livro Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing.

A recomendação criava um desvio da linha de raciocínio iniciada por Allan Kardec, que priorizava o método científico e o raciocínio filosófico, e limitava o aspecto religioso às questões de ordem ética e moral da vida humana.

Embora o discurso de Ismael - que, entre outras coisas, cria uma prece, é evocado no livro Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho e envia mensagem posterior em 1941 - pareça bem intencionado no "amor e caridade" dos ensinamentos de Jesus, ele escondia a implantação de uma reciclagem do antigo docetismo do Catolicismo medieval.

O docetismo data do século II. Sua base teórica está em afirmar que Jesus Cristo era uma ilusão, pois nunca teve corpo físico e suas dores não teriam sido ilusões, principalmente o trágico caminho para a cruz. Essa tese é abertamente defendida por Roustaing, sob o codinome "Jesus fluídico".

Roustaing, às custas de uma única médium (a senhora Emilie Collignon), afirma ter recebido mensagens dos quatro evangelistas e de Moisés, lançou questões que iam contra os princípios lançados por Kardec, como creditar a reencarnação como castigo. Kardec via a reencarnação como um aprendizado, num sentido positivo ignorado por Roustaing.

Através da ação de Ismael, o "espiritismo" brasileiro construiu sua base teórica através deste livro de Roustaing (que tinha três volumes, no original; a FEB o lançou com quatro). Mas como Roustaing causou séria polêmica por conta da tese do "Jesus fluídico", a FEB adotou a esperteza de ocultar o nome de Roustaing e colocar suas ideias na "conta" de Kardec.

O misterioso Ismael é até hoje evocado, como "mestre" do "espiritismo" brasileiro, tendo sido citado em mensagem atribuída a José do Patrocínio. Roustaing continua no mercado - Os Quatro Evangelhos são publicados até hoje - mas as ideias roustanguistas são hoje "atribuídas" a Allan Kardec, Chico Xavier, Ismael ou Emmanuel, conforme as conveniências da FEB.

QUEM FOI ISMAEL?

O "anjo" Ismael, que ainda por cima também induziu o médium Edgard Armond a criar um programa de "evangelização" (termo considerado "alienígena" no Espiritismo autêntico) na Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP, a mesma envolvida numa tradução grotescamente deturpada dos livros de Kardec), tem seu nome atribuído a um personagem bíblico.

Ismael teria sido, na suposta encarnação antiga, um personagem homônimo, filho de Abraão com a criada deste, Agar, e que teria vivido entre os séculos XXI e XVIII antes da era cristã. Viveu na Mesopotâmia e teria sido um dos ancestrais do povo árabe.

Ismael teria se casado com uma egípcia, com quem teve doze filhos, e aparentemente ele viveu até a idade de 137 anos, um dado bastante controverso. Afinal, era raro na época pessoas atingirem idade tão elevada e pode ser que a idade seja atribuída a um cálculo que não corresponde aos critérios etários adotados hoje, que correspondem a um ano com doze meses e cerca de 30 dias cada.

Os dados sobre Abraão e seus descendentes - Ismael teria sido seu primogênito - são ainda misteriosos e imprecisos, e não há fontes que ofereçam informações relativas fora da Bíblia. Mas, a julgar pelo perfil do "anjo" Ismael, também é duvidoso que ele tenha sido o tal personagem bíblico.

Afinal, o docetismo defendido por Ismael em função de Roustaing data da Idade Média, bem diferente do messianismo que os textos do Velho Testamento descreviam, que eram mais próximos do povo judeu. O docetismo deriva de conceitos agnósticos medievais, cujo misticismo é apenas um derivado excêntrico do Catolicismo, embora não exatamente uma seita.

O que se pode inferir é que o "anjo" Ismael, na verdade, seria um membro da falange de Emmanuel, o astuto deturpador da Doutrina Espírita através dos livros registrados por Chico Xavier e outros. Há quem diga que seja o próprio Emmanuel, mas a hipótese de Ismael ser um cúmplice do jesuíta tem maior probabilidade.

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