sexta-feira, 6 de junho de 2014
Liberdade de religião não é desculpa para se aceitar fraudes
A Constituição Federal garante a liberdade da fé religiosa. Isso é bastante saudável, em que pese as controvérsias que muitas religiões causam em seus respectivos pontos de vista. Mas, até certo ponto, é muito válido que uma pessoa escolha sua crença religiosa e a condicione como meio de obter a serenidade e o bem-estar espiritual.
O grande problema é quando a fé religiosa vira pretexto para violências, mentiras e atos de intolerância. No Oriente Médio, a religião se transformou, na prática, em "partido político", quando tradições religiosas são deturpadas em movimentos guerrilheiros para enfrentar forças apoiadas pelos EUA, com suas "religiões cristãs".
No caso do "espiritismo" brasileiro, a queixa maior está numa série de fraudes usadas sob o verniz da "mediunidade", não bastassem as distorções ideológicas violentas da doutrina de Allan Kardec, corrompidas por ideias adaptadas do Catolicismo medieval.
A liberdade religiosa não pode servir de estímulo para distorções, fraudes, mentiras, agressões, ou qualquer ato nocivo à integridade moral ou física da espécie humana. Mas, infelizmente, muitos se deixam levar pela "aura de amor, caridade e fraternidade" e caem facilmente em muitas armadilhas armadas pelos exploradores da fé escondidos na doutrina da "espiritualidade avançada".
Isso é pior, porque o "espiritismo", no Brasil, é autoproclamado "a última palavra em religiosidade", e isso traz responsabilidades pesadas que qualquer distorção soa criminosa, vergonhosa, constrangedora.
É como Jesus disse: "dará-se mais àquele que tem". Essa frase não tem a ver com privilégios, mas com responsabilidades, porque a pessoa que sabe de algum princípio moral tem maior responsabilidade para assumi-lo e sustentá-lo. Se ela assim o procede, obtém maior e melhor aprendizado. Mas, se ela trai esse princípio moral, o aprendizado vem da maneira oposta, através da dor e do infortúnio.
Essa é a sina do conhecimento, que os líderes "espíritas" no Brasil desconhecem. Eles têm, pelo menos em tese, um dom mediúnico que não se manifesta a toda hora, e no entanto se acham no direito até mesmo de fingir às vezes que recebem espíritos, usando falsetes em psicofonias, falsificando quadros de maneira grotesca, ou plagiando outros livros apenas trocando as palavras.
E tudo isso é feito sob a desculpa de expressar "palavras de amor", "recados fraternais" e "mensagens de fé e caridade". O quanto há de criminoso nisso, em que amor, caridade e fraternidade são desculpas para que certas pessoas se sirvam das habilidades velhacas da mentira e da falsidade!!
A liberdade religiosa não dá imunidade ao crime, à mentira e a enganação feitas sob o manto da religião e dos projetos filantrópicos. O direito da fé religiosa é até maculado por essas verdadeiras manifestações da demagogia, da sedução e da intimidação, verdadeiras indústrias da vaidade de supostos líderes que usam seu carisma para ludibriar as pessoas e intimidar a reação da Justiça.
Dessa maneira, os líderes "espíritas" esperam que possam sair impunemente de acusações de falsificação de pinturas, de plágios literários, de falsetes pseudo-psicofônicos, alegando que são "vítimas de perseguição" por conta de supostas missões de caridade.
Querem eles que a Justiça dos homens não os condene por seus crimes de enganação e falsidade, e querem, esses mesmos "líderes espíritas", que a Justiça de Deus os acolha como se fossem as pessoas dotadas de perfeição e dispensadas de qualquer responsabilidade de enfrentar futuras provações.
Iludidos pela vaidade, pela presunção que a falsa modéstia da pretensa humildade religiosa lhes garante, eles se apoiam no pretexto da liberdade religiosa, das missões de caridade, para abusarem da boa-fé de seus adeptos e seguidores, que a eles recorrem para obter assistência espiritual.
Isso se torna muito pior. Tanto quanto a escravidão e o arbítrio da tirania. Porque as pessoas sofredoras e necessitadas acabam se tornando reféns de todo um esquema de mentiras, fraudes, autoritarismos, dogmas injustos, e se acham beneficiadas e protegidas por todo esse engodo místico. É extremamente lamentável tudo isso.
A liberdade religiosa pode até se servir de fantasias, de mitos e crenças surreais, que, sob a perspectiva de cultura, podem gerar expressões riquíssimas e admiráveis. Os cultos africanos, as religiões judaica e muçulmana, e até mesmo o Catolicismo em certo ponto, geraram valores culturais bastante admiráveis, belíssimos e muito ricos que produziram bens e identidades sócio-culturais locais.
Mas daí a permitir, por exemplo, que obras e mensagens supostamente "espirituais" sejam legitimadas mesmo quando destoam seriamente dos perfis originais dos autores atribuídos é um abuso dessa liberdade, que compromete até mesmo a credibilidade de uma religião, no caso o "espiritismo" brasileiro, aqui denominado Espiritolicismo.
Liberdade é responsabilidade. Renato Russo havia dito que "disciplina é liberdade". Mas, certamente, não é a "disciplina, disciplina, disciplina" do traiçoeiro Emmanuel, mas a verdadeira disciplina de, antes de cobrar as responsabilidades de outros, deve-se assumir as próprias responsabilidades.
Liberdade religiosa não pode dispensar a honestidade nem a ética. A verdadeira caridade é aquela que não trai a honestidade, a sinceridade. Porque a honestidade é a que garante a confiança necessária em todo ato caridoso. A caridade perde todo o sentido quando é feita para acobertar a mentira.
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