terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Brasileiros não sabem que Espiritismo que prevalece no país é deturpado


Sabe o que é levar gato por lebre? Ou então viver num país onde um produto de uma marca só existe na versão pirata? Pois é, o que se conhece como "espiritismo" no Brasil é a versão deturpada, que combinou a influência do deturpador francês Jean-Baptiste Roustaing com elementos resgatados do Catolicismo jesuíta que prevaleceu no período colonial.

O "movimento espírita" nasceu fundado por dissidentes católicos. Com as transformações do Catolicismo nos últimos séculos, a ala mais conservadora, no Brasil, resolveu migrar para uma nova religião que, apenas na fachada, evoca a herança do pedagogo francês Leon Hypollite Denizard Rivail, conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec.

Ao longo dos anos, disputavam a liderança do movimento os "místicos", ligados à Deturpação, e os "científicos", fiéis à Codificação original. Os "místicos" levaram mais vantagem, e durante anos a catolicização do Espiritismo foi mais escancarada, como forma de evitar que ações policiais invadissem os chamados "centros espíritas".

Com o tempo, as conveniências e o jogo de interesses, que inventaram a figura do "médium espírita" como um dublê de filantropo e de pensador e um equivalente informal do sacerdote católico, para vender livros e faturar com palestras, sob a desculpa da "caridade". A tal "caridade", embora denominada oficialmente "Assistência Social", corresponde ao Assistencialismo, que é aquela "filantropia" de baixos resultados mas que rende uma forte promoção pessoal ao "benfeitor".

O que percebe-se é que o assunto da deturpação do Espiritismo é desconhecido até mesmo entre setores de esquerda na mídia brasileira, que poderiam muito bem alertar a sociedade de que Allan Kardec está sendo traído pelos brasileiros, que não medem o mínimo escrúpulo sequer para vender gato por lebre, deturpar o legado espírita e sair por aí posando de "fiel discípulo" do professor lionês.

HISTÓRIA SIMPLÓRIA DO ESPIRITISMO

Se nem a mídia de esquerda, que costuma dar um contraponto às narrativas oficiais da mídia hegemônica, foge da narrativa oficial do Espiritismo, simplória e bastante superficial, então o problema está extremamente sério. Como a conservadora e direitista Federação "Espírita" Brasileira (FEB), que apoiou os golpes civil-militar de 1964 e político-jurídico de 2016, tem as esquerdas na palma da mão é algo que até agora não conseguimos entender.

A narrativa oficial é risível: era uma vez um pedagogo francês com carreira renomada que, de repente, estuda os fenômenos espíritas e usa o pseudônimo Allan Kardec, fundando o Espiritismo que, no Brasil, foi acolhido por religiosos de inclinação filantrópica e recebeu o tempero da religiosidade, criando uma doutrina equilibrada que mistura fé, ciência e filosofia.

Tudo muito fácil e muito simples. Só que a história não foi assim e, infelizmente, poucos conhecem o lado sombrio do que se reduziu o Espiritismo no Brasil. Mesmo os tão adorados "médiuns espíritas", associados a imagens, conceitos e apelos emocionais tão agradáveis, possuem um passado bastante sombrio no qual seus seguidores, tão tolamente, se recusam sequer a conhecer. É bem mais fácil uma criança deixar de acreditar em Papai Noel.

Isso é da mais extrema gravidade e não faltaram oportunidades para que os deturpadores do Espiritismo fossem desmascarados, mesmo os "médiuns". Houve processo do caso Humberto de Campos, a ameaça de denúncia de um sobrinho que teria sido morto por "queima de arquivo", escândalos como o da farsante Otília Diogo e as defesas em torno da ditadura militar.

Nada conseguiu desmascarar os "médiuns espíritas", e, do contrário que se imagina, não foi porque eles realmente eram pessoas amorosas, iluminadas ou acima de tudo ou de todos, como seus seguidores tanto espalham por aí com um turbilhão de textos e de palavras.

MANIPULAÇÃO DO DISCURSO

O que se vê é que o "espiritismo" brasileiro foi a mais sofisticada técnica de manipulação do discurso e de dominação da mente humana. Consegue transformar uma mentira vergonhosa numa suposta verdade indiscutível, e dá verniz de racionalidade ao mais fantasioso e piegas apelo emotivo, com uma habilidade que até agora não recebeu uma reação crítica com mais firmeza e visibilidade. E, com isso, os "espíritas" arrumam desculpa para fazerem o que quiserem. Vejamos:

1) O "ESPIRITISMO" BRASILEIRO DETURPOU O LEGADO DE ALLAN KARDEC?

Desculpa mais comum: "O Brasil possui tradições religiosas ligadas ao Cristianismo, que permitiram acolher a Doutrina Espírita acrescentando nelas elementos comuns ao do Catolicismo".

2) O "ESPIRITISMO" BRASILEIRO NÃO ADERIU AO CIENTIFICISMO DE ALLAN KARDEC?

Desculpa mais comum: "A Ciência possui excessos que resultaram nos arsenais e nas bombas e gases de extermínio em massa, além de criar conflitos desnecessários com o debate extremo de tudo" ("espíritas" usam a Segunda Guerra Mundial para botar a ciência como "bode expiatório" para os males da humanidade).

3) AS PSICOGRAFIAS NÃO REFLETEM OS ESTILOS PESSOAIS DOS AUTORES MORTOS ALEGADOS?

Desculpa mais comum: "A personalidade de cada pessoa é movida por caprichos materiais, e, quando o espírito desencarna, eles se anulam e ele passa a ser tomado de um comportamento universal, se interessando em desenvolver um outro estilo mais genérico e compartilhado por inúmeros outros espíritos" (desculpa muito bem construída, mas absurda e à margem da lógica).

4) OS "MÉDIUNS ESPÍRITAS" SÃO CONSERVADORES?

Desculpa mais comum: "Os 'médiuns' são progressistas, apenas reprovando os excessos cometidos pelas forças de esquerda, às quais eles no entanto acolhem com simpatia e afeto" (alguém não se lembrou do comportamento de Luciano Huck em relação às esquerdas?).

5) POR QUE A "CARIDADE" DOS "MÉDIUNS ESPÍRITAS" NÃO FEZ O BRASIL SE TORNAR DESENVOLVIDO?

Desculpa mais comum: "Os 'médiuns' investem em caridade com seus poucos (sic) recursos disponíveis e o fazem com coragem; os resultados ficam longe de serem satisfatórios porque circunstâncias não permitem a ampliação e o fortalecimento de tais ações" (OK, mas se falta dinheiro para a "caridade espírita", por que não falta para "médiuns" fazerem turismo pelo planeta para falar bobagens igrejeiras para plateias ricas em troca de medalhas e outros prêmios ambiciosos?).

6) POR QUE A "FILANTROPIA" DOS "MÉDIUNS" OS COLOCA ACIMA DOS PRÓPRIOS BENEFICIADOS, COMO NUM CULTO À PERSONALIDADE?

Desculpa mais comum: "Os 'médiuns' não vivem do culto à personalidade, porque na mais absoluta simplicidade, humildade e dedicação total ao próximo" (Divaldo Franco, por exemplo, é a personificação do evento Você e a Paz, tornando-se o centro das atenções e isso não é culto à personalidade?).

Outra desculpa mais comum: "O fato de um 'médium', em ação de caridade, se sobrepor ao beneficiado, é porque o 'médium' possui qualidades especiais que garantem o mérito da admiração, devido a uma imagem relacionada ao amor e às mensagens e ações elevadas" (a idolatria religiosa tem cada coisa).

MÍDIA ALTERNATIVA DEVERIA DENUNCIAR ESPIRITISMO DETURPADO

A mídia alternativa deveria aprender as próprias lições quando passou a questionar e investigar os deslizes dos neopentecostais. Os neopentecostais chegaram a ser aliados momentâneos dos esquerdistas e estes souberam reagir quando a aliança foi rompida, em nome da agenda moralista retrógrada assumida por esta variante dos movimentos evangélicos.

Os "espíritas" nunca foram aliados dos esquerdistas e estes, infelizmente, veem no "movimento espírita" de forma semelhante àquele nerd que cobiça a "mina" que o despreza, mas que ele insiste em acreditar que ela está apaixonada por ele.

Os "espíritas" se revelam conservadores, reacionários, associados a ícones do direitismo político-midiático como a Operação Lava Jato, a Rede Globo e Luciano Huck (possivelmente o mais cotado pelos "espíritas" para governar o Brasil) e tudo, e as esquerdas reagem a essa religião como "cornos-mansos", aceitando tudo sem reclamar.

As esquerdas deveriam romper com isso e investigar também os "espíritas". O superfaturamento da "caridade", o mercenarismo dos livros "psicográficos", o caráter fake das supostas psicografias, o obscurantismo ideológico e tudo. As esquerdas não podem paralisar o jornalismo investigativo em prol de apelos emocionais exagerados e duvidosos e o próprio Allan Kardec recomendou que se investigasse e questionasse a deturpação sem meias-palavras, relativismos nem complacências.

Espera-se, portanto, que a mídia alternativa apresente esse lado sombrio do "espiritismo" brasileiro, o da deturpação, em vez de repetir feito papagaio a narrativa complacente trazida pela grande mídia, principalmente a Rede Globo. Não se pode colocar os apelos emotivos "fofinhos" acima da verdade dos fatos, porque nem sempre o que é verdadeiro é agradável e, muitas vezes, o que é mais agradável pode ser uma vergonhosa e escancarada mentira.

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