MALCOLM MUGGERIDGE, CHICO XAVIER E ROBERTO MARINHO - TUDO A VER.
O Brasil tem dessas tristes peculiaridades. Tem uma "cultura popular" surreal, controlada por uma elite de empresários do entretenimento que ditam o "gosto popular" por intermédio de executivos de rádio e TV. E temos ainda uma religiosidade extrema que teima em exercer monopólio sobre a realidade.
Muitos de nós ainda pensam a realidade como se fosse uma novela de televisão. Vemos as coisas de maneira institucionalizada, materialista ou mediante velhos preconceitos morais. Até o "funk" é um reflexo desses preconceitos e dessa imagem estereotipada e idealizada do "bom pobre" que as classes médias, ditas "esclarecidas", se mantém ideologicamente.
Há quinze anos, um ídolo religioso festivo e supostamente ecumênico, símbolo de aparente caridade e portador de uma mitologia ao mesmo tempo contraditória e fantasiosa, faleceu depois de anos doente. O "médium" Francisco Cândido Xavier, aliás, o primeiro anti-médium do Brasil, faleceu com 92 anos de idade, causando comoção entre seus fanáticos seguidores.
Popularmente conhecido como Chico Xavier, seu mito, aparentemente associado a qualidades positivas como "bondade", "humildade", "sabedoria" e "simplicidade", foi na verdade construído, e muiot bem construído, criando uma linearidade ideológica que agrada muitas pessoas, mesmo aquelas que não são consideradas "espíritas".
Mas mito bem construído não quer dizer necessariamente um mito realista. Afinal, é como diz o ditado: "é bom demais para ser verdade". O mito que hoje se conhece de Chico Xavier esconde aspectos bastante sombrios, a partir do fato dele ser um grande e gravíssimo deturpador da Doutrina Espírita.
Como uma versão brasileira de J. B. Roustaing, Chico Xavier difundiu, sob o rótulo de "espiritismo", conceitos extremamente contrários aos que foram originalmente difundidos pela obra de Allan Kardec. O caso aberrante de uma doutrina que renega os ensinamentos de seu precursor já é um atestado de desonestidade doutrinária, que faz desmerecer a alta reputação que o "espiritismo" brasileiro possui oficialmente.
Chico Xavier começou causando muitas confusões. Poeta mediano, ele preferiu investir numa suposta prosa e poética que se dizia "de autores já mortos", trazidas por alegada "comunicação espiritual".
Isso se constituiu numa farsa, na qual Chico Xavier evidentemente não participou sozinho, mas contou com uma multidão de editores e consultores literários, a serviço da FEB e sob a orientação do presidente da entidade, Antônio Wantuil de Freitas.
A farsa pode ser facilmente diagnosticada pelas irregularidades extremas de estilo, identificadas até mesmo em pequenos trechos, às vezes, mas, em outras, evidenciada por textos inteiros. Nomes como Auta de Souza e Humberto de Campos eram creditados em "obras espirituais" que nem de longe lembravam seus estilos originais. Soavam como os fakes da Internet soam hoje.
Só os enganos que Chico Xavier, que personificava o mito mineiro do "come quieto" (referência à imagem dos mineiros como "astuciosos") e, por isso, foi uma espécie de Aécio Neves religioso no seu tempo (o próprio Aécio manifestou profunda admiração pelo "médium"), no qual "fazia das suas" que nunca era punido, já desmerecem tanta idolatria, que chega ao nível da emotividade cega e viciada, uma espécie de masturbação com os olhos pela busca da comoção fácil.
Chico Xavier cometeu muitos males, além de deturpar a Doutrina Espírita e criar psicografias fake. Cometeu juízos de valor cruéis contra pessoas humildes que eram vítimas de infortúnios, acusadas de terem sido "romanos sanguinários". O juízo de valor, ao mencionar encarnação muito distante, era feito à revelia de qualquer teoria da Ciência Espírita e indicava, também, falta de misericórdia e descumprimento do ensinamento kardeciano do "esquecimento de vidas passadas".
O anti-médium - assim considerado por romper com o status de intermediário próprio do ofício de médium - de Pedro Leopoldo e Uberaba também cometeu outras crueldades: expôs demais as tragédias familiares, prolongando-as e alimentando o sensacionalismo midiático, combinado ao fanatismo religioso.
Ele evitou que pessoas encarassem a dor da perda de entes queridos na privacidade e num luto rápido, e, o que é mais grave, ainda enviou mensagens "espirituais" que soavam fake, produzidas por diversas fontes de pesquisa e interpretação, como a "leitura fria", alegando serem "mensagens espirituais" dos entes queridos, um trote comparável ao dos sequestradores que imitam as vozes de suas vítimas em sinistros estelionatos telefônicos.
O "médium" também difundiu valores ultraconservadores, vários deles próprios da Teologia do Sofrimento, corrente medieval do Catolicismo que fazia apologia da desgraça humana como meio de obter rapidamente as "bênçãos futuras". Com isso, criava mitos perigosos como "inimigo de si mesmo", que contraditoriamente incitava os sofredores a cometer suicídio, prática reprovada pelo próprio "espiritismo" brasileiro.
Há também trechos dos livros de Xavier que sugerem preconceitos sociais graves, como o racismo (quando, em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, índios e negros eram classificados como "selvagens") e o machismo ("o verdadeiro feminismo é feito dentro do Lar e na prece", ironizava Emmanuel), além do juízo de valor contra pessoas pobres (Cartas e Crônicas).
Não bastasse isso, Chico Xavier pedia para o povo, no auge da ditadura militar, "orar em favor dos militares", que construíam um "reino de amor" sob o sangue de muitos inocentes. E o anti-médium mineiro defendia a censura, ao dizer que "é no silêncio que Deus ouve os apelos dos sofredores".
Obscurantista, Xavier contrariava o legado kardeciano reprovando o questionamento. Odiava ver pessoas reclamando. Mas, quando lhe convinha, ele reclamava, também, como quando chamou de "bobagem da grossa" a desconfiança dos amigos do falecido engenheiro Jair Presente diante de irregularidades em supostas psicografias.
Xavier foi um mito ultraconservador que conseguiu ser empurrado até para a aceitação, um tanto ingênua, de pessoas progressistas, iludidas com a "boa imagem" de seu mito, aliando paradigmas de religiosidade muito retrógrados, mas ainda vistos como tradições a serem mantidas pelos brasileiros.
MITO DO "MÉDIUM BONDOSO" FOI PARA CONCORRER COM NEOPENTECOSTAIS
O que poucos percebem é que o mito de Chico Xavier mais conhecido hoje, o de suposto "símbolo de bondade e amor ao próximo", foi construído mediante uma necessidade de relançar o mito, antes associado a uma paranormalidade confusa e sensacionalista.
Deixou-se de enfatizar o suposto contato com os "literatos do além" e eliminou-se o envolvimento em supostas façanhas como psicofonia e materialização. Sem o tino sensacionalista de Wantuil, Chico Xavier, um mito sempre fabricado à maneira de um popstar, originalmente para enriquecer a FEB com as vendas de livros, sua imagem tinha que ser reciclada para um perfil mais clean, que permitisse a adoração religiosa sem causar tantas confusões.
E aí temos o seguinte contexto, em meados dos anos 1970: convulsões sociais com a crise da ditadura militar, ascensão de pastores eletrônicos (Edir Macedo e R. R. Soares) e desejo arrivista da Rede Globo em estabelecer um monopólio midiático. No "espiritismo", com a morte de Wantuil, veio a "fase dúbia" no qual os "espíritas" professavam um "roustanguismo sem Roustaing e com Kardec".
A FEB e a Rede Globo romperam com a animosidade e iniciaram um casamento feliz. Chico Xavier virou queridinho da Globo e seu mito foi reconstruído a partir de uma fonte internacionalmente conhecida: o documentário sobre Madre Teresa de Calcutá, Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), de Malcolm Muggeridge, produzido pela BBC em 1969.
Muggeridge, católico de direita, reconstruiu o mito de Madre Teresa de Calcutá - depois acusada de deixar seus assistidos em condições degradantes - como um "símbolo da caridade plena", criando um roteiro digno de novela televisiva, com a "filantropa" posando com bebês no colo e falando frases de efeito que os incautos pensam ser "filosofia".
Todo esse roteiro foi feito para Chico Xavier através de noticiários da Globo, como o Fantástico e o Globo Repórter. Foi um longo trabalho desenvolvido a partir dos anos 1970, o que comprova que a concepção que os brasileiros têm de "doutrina espírita" vem da visão deturpada que a FEB desenvolveu e que foi lapidada pelo discurso da Rede Globo, rede tão poderosa que exerce influência até em parte de seus detratores, que lhe herdam até os hábitos e as formas de ver o mundo.
O mito "ecumênico" de Chico Xavier, associado a suposta filantropia (na verdade Assistencialismo, a caridade que não se interessa em combater os problemas sociais, mas antes minimizá-los sem mexer nos privilégios das elites, as mesmas que premiam os "médiuns" com medalhas e condecorações, tais como ditadores, tiranos e corruptos fizeram com Madre Teresa), foi construído pela Globo para evitar que concorrentes criassem seitas religiosas com forte aparato midiático.
A Globo não conseguiu evitar que a Rede Record, cuja cabeça-de-rede, a TV Record de São Paulo, é remanescente das primeiras emissoras de TV surgidas no Brasil, fosse adquirida por Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. Mas teve de se consolar por ter conseguido transformar Chico Xavier numa "unanimidade", algo que nos faz lembrar de Nelson Rodrigues, quando certa vez associou a ideia de "unanimidade" a uma estupidez.
Faz sentido. Afinal, a adoração a Chico Xavier revela uma sociedade subserviente às paixões religiosas, com medo de esclarecer sobre a realidade nem sempre agradável da vida, e medo sobretudo de romper com paradigmas conservadores.
Reunindo paradigmas de religiosidade e moralismo bastante conservadores, Chico Xavier virou "santo" pelas "bênçãos" da Globo, e se os brasileiros adoram o "médium", eles expressam um conservadorismo que nem sempre se encorajam a assumir, tão apegados à pretensões e dissimulações que ocultam o lado beato e reacionário de muitos brasileiros, mesmo os ditos "modernos".
sexta-feira, 30 de junho de 2017
quinta-feira, 29 de junho de 2017
Grupo religioso se reúne em Brasília para vigílias e orações
Na noite de ontem, um grupo de vinte religiosos se reuniu em Brasília para fazer uma "vigília". A reunião ocorre toda terça-feira e o grupo, aparentemente sem fins ideológicos nem bandeiras, tem como único objetivo "pedir bênçãos para o Brasil". O grupo reúne católicos, evangélicos e "espíritas".
A coisa, a princípio, parece bem intencionada. Pessoas dotadas com alguma esperança, se reunindo sem se preocuparem com desavenças pessoais, para pedir que vibrações positivas cerquem o Brasil e permitam criar energias psíquicas para superar a crise. Seria muito bom se não fosse um detalhe: as religiões costumam também participar em movimentos que pedem soluções golpistas.
Segundo o historiador Jorge Ferreira, até "espíritas kardecistas" participaram da Marcha da Família Unida com Deus pela Democracia, movimento que impulsionou o golpe civil-militar de 1964. Recentemente, as manifestações pelo "Fora Dilma" tiveram adesão sobretudo de seitas neopentecostais e o aval do "movimento espírita".
Quem não se lembra de nomes como Janaína Pascoal, a juíza que participou da elaboração do pedido de impeachment de Dilma Rousseff? E nomes como Marco Feliciano e Jair Bolsonaro, comprometidos com causas moralistas retrógradas? E o ator Alexandre Frota, depois da ascensão de Michel Temer ao poder, sendo divulgador da Escola Sem Partido? Todos eles são evangélicos.
E o "movimento espírita"? Robson Pinheiro escreveu "psicografias" atribuindo forças astrais à suposta corrupção do PT. Robson e o "Correio Espírita" chegaram a atribuir "começo de uma era" para manifestações de "coxinhas" vestidos com a camiseta da (corrupta) CBF que, em parte, queriam até "intervenção militar" (eufemismo para um novo golpe militar).
Essas manifestações, nas quais se viu jovens fazendo grosseria, baixando as bermudas para mostrar seus glúteos nus para ridicularizar a presidenta Dilma, além de cartazes com símbolos nazistas e até senhoras descansando com o cartaz "Por que não mataram todos em 64?", foram definidas como "momentos de despertar político da juventude" e há quem tenha suposto que o Brasil estava inaugurando um "período de regeneração".
Os católicos é que parecem mais moderados, tanto pelo conservadorismo mais ameno de alguns setores e pelo progressismo de outros setores. Eles passaram os "espíritas" para trás em termos de visão progressista e a Igreja Católica hoje assumiu uma abordagem mais moderna, que os "espíritas" nem de longe conseguem mais fazer.
Já o "espiritismo" brasileiro parece acompanhar, à sua maneira, o ultraconservadorismo dos neopentecostais. Se estes pretendem retroceder o Brasil aos padrões moralistas do tempo de Moisés, os "espíritas" sonham em ver o Brasil num contexto sócio-religioso e místico dos tempos do imperador Constantino.
Na prática o "espiritismo" está se formatando para ser a versão atualizada do velho Catolicismo jesuíta português, que vigorou no Brasil no período colonial, e que entrou em declínio depois que o então primeiro-ministro português Marquês do Pombal, adotando um rígido corte de gastos para fazer Portugal recuperar-se de um violento terremoto, decidiu cortar as atividades da Companhia de Jesus na então colônia sul-americana.
Daí que há uma certa incoerência em muitas atividades "espíritas", na verdade com forte ranço católico, como a obsessão por preces. A religião abraçou a causa medieval da Teologia do Sofrimento e o governo Temer contava com uma agenda política bem ao gosto dos "espíritas", como as reformas trabalhista e previdenciária e a Escola Sem Partido, cujo projeto não difere muito do que já é adotado na Mansão do Caminho de Divaldo Franco.
Deste modo, a religião que pede para as pessoas aceitarem o sofrimento - como fazia Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier - e definiu o momento atual como "início de regeneração" deveria se repensar antes de apelar para preces por um país melhor. Afinal, o que o país sofre hoje em provações está muito de acordo com o velho moralismo adotado pelos "espíritas".
terça-feira, 27 de junho de 2017
Provas que os "médiuns" brasileiros não podem ser filósofos
FILÓSOFOS OFERECEM PERGUNTAS, ENQUANTO "MÉDIUNS ESPÍRITAS" SE SUPÕEM POSSUIR RESPOSTAS PARA TUDO.
Muitas pessoas, tomadas pela emotividade cega e pelas paixões religiosas, não conseguem discernir as coisas e contraem a mania de certos preciosismos. Uma delas é atribuir aos "médiuns" brasileiros a errônea reputação de "filósofos", uma grande bobagem sem pé nem cabeça.
A atribuição se dá sob desculpas bastante falaciosas. Só porque filosofia quer dizer "amiga da verdade" e aos "médiuns" brasileiros se associa a suposta imagem de superioridade moral e ao pretenso intelectualismo, as pessoas tendem a achar que eles são "verdadeiros filósofos" por causa da suposta inclinação à "verdade" e à "sabedoria".
Essas pessoas nunca leram um livro filosófico e pensam que filosofia é um punhado de frases curtas que se joga nas redes sociais como se fosse "lição de vida", uma prática confusa que pode alternar depoimentos coerentes de intelectuais autênticos como pregações moralistas ou mistificadoras de ídolos religiosos.
Essa atribuição de "filosofia" nada tem de racional, mas é típica do pretensiosismo preciosista de muitos brasileiros, que sempre arrumam uma desculpa "nobre" para seus caprichos e interesses individuais.
Por exemplo, se gostam de tal cantor pop, não é porque suas músicas agradam, mas porque ele é "um grande poeta", mesmo quando suas letras são verdadeiras bobagens. Ficam superestimando o astro, quando o que ele faz não é um amontoado de sucessos comerciais interpretados à custa de muita coreografia e alimentados por factoides de sua vida pessoal.
Os ídolos religiosos são beneficiados por esse pretensiosismo, no qual a emotividade cega se julga substituta da razão. Mas ignora, no caso dos "médiuns espíritas" brasileiros, a grande incoerência que é atribuí-los como "filósofos", que não é difícil de ser diagnosticada por quem entende da verdadeira Filosofia. Vejamos:
1) OS "MÉDIUNS" SE PRETENDEM A TER A RESPOSTA PRONTA PARA TUDO - Os verdadeiros filósofos não têm essa pretensão. O pensamento autenticamente filosófico não tem a pretensão de mostrar respostas, mas questões, procurando instigar o pensamento questionador, enquanto os "médiuns espíritas" têm por tarefa promover a conformação sem estimular o raciocínio crítico das pessoas.
2) OS "MÉDIUNS" EXPRESSAM IDEIAS MISTIFICADORAS - Por mais que um raciocínio filosófico apresente equívocos, seu propósito original é apresentar uma linha coerente de apresentação de ideias. Mas aí os seguidores dos "médiuns espíritas" vão dizer que o que estes falam é "claro, simples e coerente" e "dotado de muita lógica", mas essa alegação, além de ser mais emotiva que racional, revela uma falta de atenção. Se perguntarmos a esses seguidores sobre que razões eles têm, eles responderão de maneira confusa e expressarão sua constrangedora ignorância.
3) OS TEXTOS DOS "MÉDIUNS" SÃO PROLIXOS E REBUSCADOS - Não é próprio do filósofo autêntico o embelezamento de textos, mas o desenvolvimento de ideias. Em muitos casos, seus textos podem até serem difíceis de ler mas eles não tendem a serem prolixos ou rebuscados. Já os textos dos "médiuns" valem mais pelo adornamento de palavras, nas quais o pretexto das "mensagens de amor" e "lições de vida" só servem para dissimular ideias confusas e tentativas vãs de argumentação que divagam demais para apresentar ideias, havendo o risco constante de contradição e falta de lógica.
Com isso, facilmente se questiona a atribuição dos seguidores dos "médiuns" de que seus ídolos são "verdadeiros filósofos". Nem as alegações de "elevada condição moral" justificam, porque os três equívocos apresentados já comprovam que os "médiuns" não se comprometem com a busca da verdade, mas antes a posse de uma pretensa verdade à qual eles acham que não pode ser analisada.
Muitas pessoas, tomadas pela emotividade cega e pelas paixões religiosas, não conseguem discernir as coisas e contraem a mania de certos preciosismos. Uma delas é atribuir aos "médiuns" brasileiros a errônea reputação de "filósofos", uma grande bobagem sem pé nem cabeça.
A atribuição se dá sob desculpas bastante falaciosas. Só porque filosofia quer dizer "amiga da verdade" e aos "médiuns" brasileiros se associa a suposta imagem de superioridade moral e ao pretenso intelectualismo, as pessoas tendem a achar que eles são "verdadeiros filósofos" por causa da suposta inclinação à "verdade" e à "sabedoria".
Essas pessoas nunca leram um livro filosófico e pensam que filosofia é um punhado de frases curtas que se joga nas redes sociais como se fosse "lição de vida", uma prática confusa que pode alternar depoimentos coerentes de intelectuais autênticos como pregações moralistas ou mistificadoras de ídolos religiosos.
Essa atribuição de "filosofia" nada tem de racional, mas é típica do pretensiosismo preciosista de muitos brasileiros, que sempre arrumam uma desculpa "nobre" para seus caprichos e interesses individuais.
Por exemplo, se gostam de tal cantor pop, não é porque suas músicas agradam, mas porque ele é "um grande poeta", mesmo quando suas letras são verdadeiras bobagens. Ficam superestimando o astro, quando o que ele faz não é um amontoado de sucessos comerciais interpretados à custa de muita coreografia e alimentados por factoides de sua vida pessoal.
Os ídolos religiosos são beneficiados por esse pretensiosismo, no qual a emotividade cega se julga substituta da razão. Mas ignora, no caso dos "médiuns espíritas" brasileiros, a grande incoerência que é atribuí-los como "filósofos", que não é difícil de ser diagnosticada por quem entende da verdadeira Filosofia. Vejamos:
1) OS "MÉDIUNS" SE PRETENDEM A TER A RESPOSTA PRONTA PARA TUDO - Os verdadeiros filósofos não têm essa pretensão. O pensamento autenticamente filosófico não tem a pretensão de mostrar respostas, mas questões, procurando instigar o pensamento questionador, enquanto os "médiuns espíritas" têm por tarefa promover a conformação sem estimular o raciocínio crítico das pessoas.
2) OS "MÉDIUNS" EXPRESSAM IDEIAS MISTIFICADORAS - Por mais que um raciocínio filosófico apresente equívocos, seu propósito original é apresentar uma linha coerente de apresentação de ideias. Mas aí os seguidores dos "médiuns espíritas" vão dizer que o que estes falam é "claro, simples e coerente" e "dotado de muita lógica", mas essa alegação, além de ser mais emotiva que racional, revela uma falta de atenção. Se perguntarmos a esses seguidores sobre que razões eles têm, eles responderão de maneira confusa e expressarão sua constrangedora ignorância.
3) OS TEXTOS DOS "MÉDIUNS" SÃO PROLIXOS E REBUSCADOS - Não é próprio do filósofo autêntico o embelezamento de textos, mas o desenvolvimento de ideias. Em muitos casos, seus textos podem até serem difíceis de ler mas eles não tendem a serem prolixos ou rebuscados. Já os textos dos "médiuns" valem mais pelo adornamento de palavras, nas quais o pretexto das "mensagens de amor" e "lições de vida" só servem para dissimular ideias confusas e tentativas vãs de argumentação que divagam demais para apresentar ideias, havendo o risco constante de contradição e falta de lógica.
Com isso, facilmente se questiona a atribuição dos seguidores dos "médiuns" de que seus ídolos são "verdadeiros filósofos". Nem as alegações de "elevada condição moral" justificam, porque os três equívocos apresentados já comprovam que os "médiuns" não se comprometem com a busca da verdade, mas antes a posse de uma pretensa verdade à qual eles acham que não pode ser analisada.
domingo, 25 de junho de 2017
"Caridade espírita" quase nada ajudou o Brasil
Principal argumento para blindar a deturpação da Doutrina Espírita e proteger a reputação dos "médiuns" que vivem do culto à personalidade, a "caridade espírita" não faz jus a sua fama de "transformadora" e "revolucionária" que seus adeptos tanto alardeiam por aí.
A "caridade" praticada pelo "espiritismo" brasileiro se limita a tarefas pontuais, dentro das definições do Assistencialismo. Até aí, nada demais, diante de "casas espíritas" que fazem projetos assistenciais e acolhem um grupo de pessoas pobres. O problema é o fato de que a medida é usada para proteger os deturpadores e tentar abafar qualquer questionamento, além de servir para a propaganda e promoção pessoal de seus ídolos religiosos, sobretudo "médiuns".
Para começar, nem tudo que é considerado oficialmente "caridade" no "espiritismo" brasileiro deve ser considerada como tal. As "cartas dos mortos" de Francisco Cândido Xavier, por exemplo, foram um processo pernicioso e perigoso que mistura fraudes com obsessão, além de alimentar o sensacionalismo através da divulgação da grande mídia.
Em primeiro lugar, isto é um ato de obsessão, na qual se evoca o nome do falecido sem muita necessidade, dentro de um clima de emotividade ao mesmo tempo piegas e mórbida, e ignorando se o espírito do falecido realmente está ou não disponível para trazer tal mensagem. Em certos casos, mas poucos, talvez estivesse disponível, não fosse o fato do "médium" Chico Xavier produzir mensagens fake, da mente do próprio mineiro.
A fraude foi diagnosticada por diversas fontes, e se torna, para desespero dos chiquistas, verídica. Há o estranho aspecto de muitas mensagens começarem com "Querida mamãe" e apresentarem propagandismo religioso explícito. Além do mais, muitas das mensagens apresentam claramente problemas de caráter pessoal do respectivo autor, como assinaturas diferentes das originais e aspectos de personalidade que contradizem com o que a respectiva pessoa foi em vida.
É a mesma queixa que se dá em relação aos autores famosos, quando Humberto de Campos, Olavo Bilac, Auta de Souza, Casimiro de Abreu, Augusto dos Anjos e outros "aparecem" nos livros de Chico Xavier com graves falhas quanto aos respectivos estilos e personalidades, praticamente refletindo, invariavelmente, a mesma linguagem e o mesmo pensamento pessoal do "médium", trazendo fortes indícios de terem sido obras fake.
As "mensagens dos mortos" não podem ser consideradas "caridade" porque acabam prolongando as tragédias humanas. Em vez das pessoas poderem encarar as tragédias de seus entes queridos no sossego da privacidade e num luto que poderia ser mais curto, a situação se prolonga e se complica com a exploração pitoresca e sensacionalista dessas supostas mensagens e pelo fato delas apresentarem indícios de fraudes, alimentados pela "leitura fria".
Para quem não sabe, a "leitura fria" é um método psicológico no qual o entrevistador colhe informações do entrevistado por meio de uma conversa em tom intimista. Com isso, o entrevistador não colhe apenas as informações que são ditadas pelo entrevistado, mas colhe também outras, mais sutis ou subliminares, que são trazidas pelo modo com que as pessoas falam ou reagem a respeito de alguma ideia.
Além disso, há várias denúncias de que as supostas mensagens espirituais seriam compostas de diversas informações colhidas não só da "leitura fria" ou das fontes diversas (imprensa, diários pessoais, conversas informais durante eventos "espíritas"), mas até mesmo dos formulários preenchidos pelos pacientes quando recorrem ao "auxílio fraterno".
Foi aí que veio uma pegadinha, num "centro espírita" em Campo Grande, Rio de Janeiro, em que a atriz Márcia Brito - que foi a Flora Própolis da Escolinha do Professor Raimundo - afirmou ter se impressionado quando a suposta mensagem atribuída ao falecido filho Ryan Brito citou o celular e RG da mãe. Ela se esqueceu que forneceu essas informações quando preencheu o formulário que sempre se faz num "auxílio fraterno".
Há muitas estranhezas nisso, não bastasse o fato do Brasil ter mais "médiuns" do que naturalmente se poderia ter. E também pelo fato dos "médiuns" não terem o caráter intermediário, mas serem sempre as atrações principais, com direito ao culto à personalidade, apesar de toda a roupagem de pretensa humildade. Além disso, os "médiuns", no Brasil, viram dublês de pensadores e de filantropos, garantindo assim seu estrelato.
E isso se reflete também na forma como os "espíritas" veem a "caridade", mais preocupados com o prestígio religioso do "benfeitor espírita", quase sempre um "médium", do que com os resultados alcançados, que, através de minuciosas pesquisas, se revelam bastante medíocres.
As próprias ações apresentam caraterísticas de Assistencialismo e não de Assistência Social. Só para entender a diferença dos dois, Assistência Social é uma caridade que transforma e o Assistencialismo é apenas uma caridade paliativa, que minimiza efeitos drásticos. Numa comparação mais metafórica, a Assistência Social elimina a doença da pobreza, o Assistencialismo apenas alivia suas dores e seus sintomas, sem no entanto trazer a cura.
O que vemos é o aspecto constrangedor de todo o estardalhaço que se faz com a "caridade espírita" diante de tão pouca coisa. As "caravanas" de Chico Xavier foram um espetáculo bastante ostensivo, exibicionista, mas cujo objetivo é muito frouxo: doar roupas e cestas básicas e oferecer sopas, um ato meramente paliativo, só considerado urgente em situações de calamidade pública.
Há muita diferença entre calamidade pública e pobreza extrema, porque na calamidade pública - recentemente houve um trágico incêndio num edifício residencial em Londres, mas a História registra o drama da Segunda Guerra Mundial - as perdas são inevitáveis em situações drásticas, de graves conflitos e catástrofes naturais.
Na pobreza extrema, o que ocorre são distorções sociais consequentes do descaso político, mas próprias de situações de aparente paz social e que podem ser resolvidas não pela caridade paliativa, mas por políticas profundas de emprego, educação e assistência social que instituições não-religiosas, envolvendo sindicatos e entidades de trabalhadores rurais, estão mais preparadas para fazer.
O grande problema dessa "caridade espírita" é que os mantimentos que a população recebe se esgotam em três semanas, se levarmos em conta que muitos pobres compõem famílias numerosas. Enquanto os "espíritas" saem comemorando por meses uma "caridade" feita num fim de semana ou numa efeméride, seus "beneficiados" voltaram à mesma situação carente de antes.
Há também outro problema, que se refere ao estrelato dos "médiuns". Enquanto a Mansão do Caminho não consegue ajudar, ao longo de seus 65 anos de existência, sequer 1% da população de Salvador (em índices nacionais, a coisa seria pior), Divaldo Franco faz turismo para fazer palestras para ricos e poderosos no Primeiro Mundo, promovendo a deturpação e espalhando as traições doutrinárias que o baiano fez ao legado kardeciano.
A realidade em que vive o Brasil não conseguiu superar a pobreza extrema e os moradores de rua só crescem, diante desse quadro político neoconservador que promove a exclusão social através das reformas trabalhista e previdenciária do governo Michel Temer.
Por sua pretensão de grandeza e pelo alto prestígio dos "médiuns", que se autoproclamam "os maiores ativistas sociais" do Brasil, se a "caridade espírita" tivesse realmente funcionado, o Brasil teria atingido níveis impressionantes de desenvolvimento social.
Não adianta os "espíritas" dizerem que a "tarefa é complexa", ou que "houve obstáculos no caminho", "os espíritos inferiores não deixaram" ou coisa parecida, porque a pretensão de grandeza faz com que muitos palestrantes "espíritas" digam, num dia, que "estão vencendo os obstáculos", mas, no dia seguinte, desmentem dizendo que "não foi possível realizar a tarefa".
O que concluímos é que a "caridade espírita", seja de forma quantitativa e qualitativa, só trouxe resultados medíocres. Houve ajuda, mas ela está bem abaixo das expectativas e ela não traz mérito algum à doutrina deturpadora, porque não se pode usar a "caridade" como escudo para trair Allan Kardec, porque usar o "pão dos pobres" como justificativa para a deturpação é rebaixar a "bondade" como um ato permissivo a qualquer leviandade. Isso não é "bondade" verdadeira.
sexta-feira, 23 de junho de 2017
"Espiritismo" e a analogia da consulta médica
O seguinte texto pode esclarecer como reagem os "espíritas" brasileiros em relação ao sofrimento humano.
Um paciente no consultório médico faz sua queixa de uma grave doença que lhe causa dores insuportáveis. Ele recorreu ao doutor confiante de que pudesse obter alguma receita ou remédio para cura, e por isso estava ali na sua exposição.
- Eu não consigo andar, de tanta dor!! Não consigo fazer as coisas do dia a dia, mas também tenho dificuldades para descansar. Perco o sono todas as noites, diante da dor que eu sinto, preciso de sua ajuda para me dar um remédio para a cura. Faço todas as recomendações que o senhor lhe der.
O médico, porém, responde com uma pergunta:
- Amigo, eu acho que você deve conviver com a dor. Deve aceitá-la, talvez até gostar dela, e ter paciência o máximo que puder.
- Como assim, doutor? Eu peço a cura e tento me esforçar para aguentar as dores que sinto agora, com a força da minha mente para evitar gemer, e você me diz para eu gostar da dor?
- Meu amigo, isso é um desafio que você tem que ter. Se eu curar você da doença, como é que você irá aprender com a vida?
- Eu estou deixando de fazer até as coisas mais desafiadoras, doutor! Só estou sentindo dor! Até as coisas mais simples estou tendo dificuldade para fazer! Perco sono toda noite!
- Já reservou um tempo para preces?
- Olha, doutor, faço preces o tempo inteiro. Digo sempre para Jesus me ajudar a suportar a dor, mas a coisa é difícil, é angustiante. Nem dá para mentalizar direito, com tanta dor no corpo!
- Amigo, confie e tenha paciência. Aguente a dor. Aguente quantos anos forem necessários. Se morrer, é porque você recebeu o abraço de Deus.
- Mas eu sinto dor. Eu gastei transporte e reservei um tempo para sua consulta, para você dizer para eu aceitar a dor até não se sabe quando, ou talvez até o fim da vida? E acha que vou perder essa vida, na qual eu nasci para alguma missão, assim de bandeja, jogando a vida no lixo?
- Entenda, amado amigo. Sua missão é sentir dor, que irá moldar sua alma. Se eu lhe desse a cura, como você se comportaria com isso?
- Eu me comportaria bem, seria feliz e prestativo, faria todo tipo de atividade, não teria medo de desafios, aprenderia a vida da melhor forma.
- Por que você não faz tudo isso sentindo dor? Veja o céu azul, os pássaros cantando, o rio mantém seu curso mesmo com os gritos de dor e os conflitos das espécies.
- Por que está me dizendo isso?
- Veja bem. Todos sentem os piores flagelos e a Terra gira, as flores nascem, crescem e morrem, os passarinhos voam e os belos ruídos da Natureza ressoam harmoniosamente.
- Mas eu sinto dor. Como é que posso me relaxar para ver o céu azul e os passarinhos? Meu corpo sofre de intensa dor.
- Mude seus pensamentos que a dor logo sai.
- Não dá. É orgânico. Tento mentalizar o fim da dor e ela só se agrava. Só para andar até aqui tive dificuldades, e ainda vim de longe, pegando mais de um ônibus!
- Meu amigo, tenha paciência e fé em si mesmo...
- Não posso. Tentei tudo. Que médico é esse que tem a cura nas mãos mas prefere que eu fique aguentando a dor? Depois eu critico o seu trabalho e o senhor não gosta e sai chorando. Se eu soubesse a sua resposta, nunca teria vindo aqui. Teria ficado em casa convivendo com a dor.
quarta-feira, 21 de junho de 2017
PSDB, "espiritismo" e as blindagens que os beneficiaram
O PSDB, assim como o PMDB, soam partidos "espíritas" não assumidos. Como o "espiritismo" brasileiro, prega o maior número de sacrifícios para os mais pobres e uma maior misericórdia aos privilegiados. Defende um progresso social limitado, prega um moralismo austero, protege a supremacia da pirâmide social e ainda apresenta uma imagem de pretenso "vanguardismo" ideológico.
O PMDB é um partido amorfo e nada carismático, que não tem sucesso nas urnas. Mas é "espírita" no seu propósito de defender a lei do mais forte impondo sacrifícios demais aos fracos. As reformas trabalhista e previdenciária, assim como a terceirização generalizada, parecem terem surgido da mente de Emmanuel. Até a frase citada pelo presidente Michel Temer, "não reclame da crise, trabalhe", tem muito a ver com a frase do jesuíta: "não reclame, trabalhe e ore".
Mas, em termos de blindagem, o PSDB, que defende essas mesmas ideias do PMDB, é "espírita" quanto à blindagem. Há um paralelo entre o prestígio de Fernando Henrique Cardoso, por suas aparentes qualidades acadêmicas, com a de Divaldo Pereira Franco, e ambos têm também suas manias de pretensos profetas, tentando supor o futuro da humanidade, pelo menos no Brasil.
Já Aécio Neves lembra muito o jovem Francisco Cândido Xavier, não só pelo fato de ser mineiro. Da mesma forma que Chico Xavier, Aécio se meteu em muitas e muitas confusões, mas nada acontecia com ele. Chico também fez suas fraudes, combinando com um grupo de editores da FEB através de seu descobridor, Antônio Wantuil de Freitas, então presidente da federação, a realização de obras literárias fake que seriam atribuídas a suposta criação espiritual de personalidades mortas.
Mas o "espiritismo" brasileiro tem até exemplos de falsificadores de quadros que nem de longe podem ser desmascarados, apesar das pinturas "mediúnicas" apresentarem graves problemas de estilo em relação aos alegados pintores falecidos. E a aberrante facilidade de chamar tudo quanto é pintor para sessões de pintura "mediúnica", coisa completamente fora de lógica, também causa estranheza, mas tudo é aceito em nome do "pão dos pobres"...
A blindagem é absoluta, e os "espíritas" gozam de uma imunidade que o PSDB não tem. Chico Xavier também viveu seus dias de "seletividade da Justiça", e os juízes que cuidavam do processo do caso Humberto de Campos em 1944 tiveram a mesma omissão dos juízes atuais, seja da "República de Curitiba", seja do Judiciário de Brasília.
Da mesma forma que Michel Temer (peemedebista a serviço do projeto político do PSDB derrotado nas urnas em 2014), que escapou da cassação no julgamento de irregularidades de campanha presidencial de três anos atrás, Chico Xavier também foi beneficiado pela omissão dos juízes, que se recusaram a verificar o ponto mais explícito do processo: os textos do "espírito Humberto de Campos" REALMENTE destoam do estilo pessoal original do autor maranhense.
O "espiritismo" brasileiro é uma grande tragicomédia de erros. Optou originalmente pelo roustanguismo em detrimento das ideias originais de Allan Kardec. Depois, dissimulou tal postura prometendo "respeito às bases doutrinárias", mas manteve seu igrejismo roustanguista praticamente intato. Tudo isso às custas de práticas, procedimentos e ideias que foram feitas em total arrepio à Ciência Espírita.
De conceitos religiosos de um moralismo retrógrado - como defender a aceitação do sofrimento humano - a falsas mediunidades que mais parecem propaganda religiosa (dando a falsa noção de que os mortos viram sempre colaboradores de igreja), o "espiritismo" brasileiro caminhou para ser tão somente uma versão repaginada do velho Catolicismo jesuíta vigente no Brasil-colônia, e que mantivera seu caráter ideológico medieval.
O "espiritismo" brasileiro fala tanto em "caridade" e até se proclama a "religião da solidariedade". Mas os resultados de sua ajuda são muito medíocres, em qualidade e quantidade, enquanto os palestrantes "espíritas" ficam excursionando pelo país e até pelo mundo, espalhando a Deturpação, participando de eventos pomposos, usando bons aviões e bons hotéis não se sabe com que dinheiro, enquanto o Brasil nunca sai de sua situação de miséria, pobreza e violência.
Apelos ideológicos dos mais levianos e manipuladores, como o Assistencialismo - a "caridade" que traz poucos resultados para os mais necessitados, mas garante a promoção pessoal do "benfeitor" que comemora demais pelo quase nada que faz - e o Ad Passiones (todo tipo de discurso emotivo), assim como o vitimismo que os "espíritas" costumam reagir quando recebem duras críticas, também mostram o quanto a doutrina igrejeira é cheia de irregularidades graves.
Apesar disso, todos aceitam qualquer desculpa dada por qualquer "espírita" que a gente até imagina que faltou o PSDB se declarar oficialmente adepto do "espiritismo" brasileiro. Aécio Neves já chegou a dar altos elogios ao seu mestre Chico Xavier, mas faltou assumir de vez o vínculo "espírita", que lhe garantiria a blindagem mais completa. Em sua vida, Chico Xavier fundia as "qualidades" de Aécio Neves e Luciano Huck, como a capacidade de ser blindado e o Assistencialismo.
Afinal, se até falsificadores de quadros recebem a mais absoluta blindagem, a ponto de juízes e policiais só se dirigirem a eles para abraçar e até pedir conselhos, tucanos poderiam ter abraçado esse "espiritismo" igrejeiro que temos no Brasil para talvez vibrarem para o delator Joesley Batista, empresário da JBS, ter um pouco de misericórdia com os "irmãozinhos" de "plumagem azul".
O "espiritismo" brasileiro contraria seu nome oficial remetendo seu conteúdo a uma versão reciclada do Catolicismo jesuíta de herança medieval. Neste sentido, se afina com o PSDB, cuja sigla evoca o nome de "social-democrata" (termo que se refere a um capitalismo com reformismo social) mas seu conteúdo remete a um capitalismo que gradualmente caminha para os primórdios de 1750, através da defesa das reformas trabalhista e previdenciária.
Durante tempos, antes das delações de Joesley para a Operação Lava Jato, o PSDB tinha a mesma blindagem dos "espíritas". Isso gerava até uma piada, um trocadilho cacófato: "Solta o cano que não cai" (que, dito rápido, soa "Só tucano é que não cai"). No "espiritismo", podemos dizer "Só espirre, tá, que não cai" (soa "Só espírita que não cai").
A blindagem que os "espíritas" recebem não é meritória e só é motivada porque há muita complacência movida pelas paixões religiosas. Sabe-se claramente que o "espiritismo" brasileiro comete traições vergonhosas em relação ao legado de Allan Kardec, mas os traidores tentam a todo custo jurar fidelidade.
Enquanto isso, a sociedade brasileira, como na anedota do marido "corno manso" que acredita que sua voluptuosa esposa sai de casa para "ver os priminhos", acha que o "espiritismo" pode trair Kardec "em nome da fé cristã" e fraudes "mediúnicas" podem ser feitas "pelo pão dos pobres". Como eles acreditam que o amor "pode tudo", então pode-se "mentir por amor" e promover a "fraternidade" entre o Bom Senso e o Contrassenso. Na esperteza, os "espíritas" voam mais alto que os tucanos.
segunda-feira, 19 de junho de 2017
A bajulação dos deturpadores aos espíritas autênticos
Nada como um deturpador igrejeiro do "movimento espírita" sair bajulando e exaltando os espíritas autênticos. Não bastassem as bajulações um tanto tendenciosas a Allan Kardec e seus espíritos relacionados - de Jesus de Nazaré a Erasto - , as adulações envolvem também espíritas brasileiros autênticos, como José Herculano Pires e Deolindo Amorim.
Na crise em que vive o "espiritismo" brasileiro, não são poucos os "médiuns" e os palestrantes que deturpam o Espiritismo a correr para o barco adversário, como piratas que migram para o navio inimigo. Assim, tentam "exaltar" a sabedoria e a coerência dos autênticos batalhadores da Doutrina Espírita, como se isso representasse um serviço exemplar para a propagação do verdadeiro Espiritismo.
Mas não é. A bajulação a Herculano, Deolindo, Carlos Imbassahy e outros não é garantia que o deturpador aprendeu realmente a lição e vai se tornar "espírita para valer". A aparente confraternização esconde, sob a beleza do seu discurso e a aparente pureza de seus gestos, objetivos bastante levianos de arrivismo e até de vínculo com causas que lhes são contrárias.
Quantas vítimas dessa adulação viscosa, essa baba de ovo, essa saliva escorrendo pela boca, de pessoas que deturpam o sentido de fraternidade, pregando uma espécie de "fraternidade para mim mesmo", na qual se exalta todo mundo que representa algo positivo e avançado para se obter vantagens pessoais e estabelecer vínculo com as personalidades realmente valiosas que passaram pela Terra.
Quantos bajuladores baratos se escondem em livros, palestras e títulos tão nobres. No "espiritismo" brasileiro, abrigo para tantas mentes medíocres, trapaceiras e canastronas, tantos são os que bajulam todo mundo que estiver ligado a algo positivo. Há aqueles que bajulam até mesmo Ernesto Che Guevara e Jimi Hendrix, talvez para causar impressão no público mais jovem.
Ah, quanta falta de observação de muitos brasileiros, iniciantes, leigos ou mesmo habituais no "espiritismo" brasileiro, de quantas incoerências existem em muitos palestrantes, em parte "médiuns", em outra parte apenas pretensos intelectuais, que com seu balé de palavras bonitas veiculam ideias que se chocam entre si, sendo capazes de escrever uma coisa num texto e outra completamente diferente em outro.
Quantos bajuladores arrancam aplausos com suas belas palavras! Ah, que veneno pode representar um elogio vindo de um bajulador barato, ferindo mais do que uma maledicência aberta! Quantos traidores não estão por trás daqueles que apertam a mão de pessoas de perfil mais avançado, dando-lhe os mais elaborados louvores verbais, para depois apunhalá-los pelas costas praticando ideias contrárias as dos bajulados.
Os brasileiros não observam isso com cautela e aceitam que escritores e palestrantes "espíritas" digam uma coisa num momento e outra depois. Num momento, ficam com o cientificismo de Kardec e juram fidelidade absoluta. Num outro momento, o traem com igrejismo extremado, e ficam com os deturpadores que usam a "caridade" como escudo para seus trabalhos de catolicização do Espiritismo.
Quanta podridão há nos bastidores do "movimento espírita". Quantos roustanguistas de carteirinha se dizem "absolutamente fiéis" a Kardec. Quantos exércitos de palavras são feitos para mostrar o bom mocismo dos deturpadores, que pensam que se pode falar em "caridade" e "fraternidade" para legitimar ideias contrárias à Codificação.
Diante desse esforço hercúleo dos Golias da palavra, dos Constantinos da fé a pregar mistificação, o "espiritismo", que tanto se gaba em "valorizar o Conhecimento", ainda condena o questionamento aprofundado, que tão levianamente define como "falta de perdão", usando expressões fortes como "tóxico do intelectualismo" para esconder seu medo de ser questionado.
Pois Kardec, que aceitava o debate e a controvérsia, nunca aprovaria esse engodo doutrinário, essa "lavagem de porco" a que se reduziu o "espiritismo" no Brasil, misturando igrejismo e cientificismo, ideias fantasiosas e outras realísticas, teorias mediúnicas corretas com mediunidade fake, e pregando a Teologia do Sofrimento sem assumir no discurso essa teoria medieval. O amor não pode proteger a hipocrisia.
sábado, 17 de junho de 2017
Confusão no "espiritismo" não é diversidade
De alguma forma, o governo Michel Temer serviu para trazer as pessoas a gravidade de muitas confusões e erros que eram consentidos por serem associados a elites antes associadas à qualidades positivas referentes à administração, moderação política, austeridade e transparência.
Neste caso, o atual cenário político, manchado por uma série de gravíssimos escândalos que deixam o Brasil numa posição vulnerável, é revelada a podridão que o topo da pirâmide social tanto escondeu e que era fruto de um método ilícito de ascensão social, que ia do clientelismo ás propinas.
Isso ensina às pessoas o fato de que os erros não se medem pela posição social de quem pratica. Graves erros não recebem como atenuantes o prestígio social de seu praticante e as pessoas comuns também não podem ficar indiferentes a eles, porque em muitos casos os erros podem afetar a vida das pessoas.
No "espiritismo", há um monte de aspectos bastante sombrios e extremamente negativos. O pecado original do "movimento espírita" foi a preferência dada ao igrejismo de Jean-Baptiste Roustaing, que criou uma série de problemas, confusões, dissimulações. Ele criou as bases catolicizadas das quais o "espiritismo" brasileiro finge ter superado, mas que pratica até com maior intensidade do que antes.
Os arrivismos e jogos de interesses aqui e ali passaram a ser ainda mais perniciosos e levianos do que antes, há cem anos. Pelo menos a catolicização do Espiritismo no Brasil tinha como justificativa atrair o apoio da Igreja Católica para proteger a outra doutrina da repressão policial que sofreu naqueles tempos.
Hoje, porém, nada justifica o "outro Catolicismo" a que se rebaixou o legado de Kardec no Brasil. E o mais grave é que uma parcela de igrejeiros, incluindo influentes palestrantes e, em parte, "médiuns espíritas", se diz "rigorosamente fiel" a Allan Kardec, mesmo traindo com seus postulados.
Tem gente que fala mal da "vaticanização da Doutrina Espírita" mas elogia todo tipo de igrejeiro. Elogia até a Legião da Boa Vontade, uma espécie de neo-catolicismo enrustido e "eclético". Elogia até Roustaing, mas depois pede para que "se valorizem" os espíritas autênticos como José Herculano Pires e Deolindo Amorim.
É tanta confusão no "movimento espírita" que mesmo os adeptos de Francisco Cândido Xavier não se entendem completamente. Uns acreditam que Chico Xavier fez a "profecia da Data-Limite", outros dizem que isso é absurdo, uns dizem que Chico foi reencarnação de Kardec, outros acham isso improcedente etc.
Divaldo Franco havia feito um falsete, tido como psicofonia, atribuído ao marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente da República no Brasil. Mas Chico Xavier havia dito que Deodoro havia se reencarnado na pessoa do hoje senador Fernando Collor de Mello.
Chico Xavier era defensor explícito da Teologia do Sofrimento, embora não assumisse essa denominação. Divaldo era mais sutil na defesa dessa corrente medieval. Já o conterrâneo e amigo de Divaldo, José Medrado, se aproxima mais da Teologia da Prosperidade dos neopentecostais, até porque a Cidade da Luz é vizinha a uma filial da Igreja Universal do Reino de Deus, em Pituaçu, em Salvador.
Confusão não é diversidade e contradição não é equilíbrio. Os bastidores do "espiritismo" brasileiro ocorrem de forma que poderia chocar os seguidores que forem informados de tais deslizes. Mas a postura do "deixa pra lá", movida pelo prestígio social dos "espíritas" - o prestígio religioso, que, apesar do verniz de "humildade", os coloca no "alto da pirâmide", como braço religioso da plutocracia - , sempre consente com esse engodo doutrinário.
Essa confusão até poderia fazer sentido se não fosse a pretensão dos deturpadores da Doutrina Espírita em geral de defender "não vários espiritismos, mas um único Espiritismo, o de Allan Kardec". Essa pretensão invalida qualquer consentimento com os erros cometidos pelos "espíritas", porque no discurso se pede "respeitar" o Espiritismo original, mas na prática comete-se traições de arrancar os cabelos.
Ter coerência não é questão de estufar o peito, falar grosso e firme e escrever com aparato de erudição em belas palavras. Quantas terríveis incoerências, omissões, fraudes, dissimulações foram feitas pelos "espíritas", da literatura fake das pretensas psicografias de Chico Xavier - que mostraram um suposto Olavo Bilac que perdeu seu talento poético - , de fantasias materialistas (colônias espirituais) feitas para justificar o sofrimento na Terra, e tantas coisas aberrantes?
Esse é o problema que faz o "espiritismo" brasileiro entrar numa aguda crise e que pode fazer os "espíritas" terem que assumir que romperam com Allan Kardec. Eles poderiam se assumir neo-católicos, roustanguistas, se associar à Legião da Boa Vontade, só não podem mais dizer que "defendem totalmente Kardec" porque isso já causou muito vexame e pode piorar as coisas.
quinta-feira, 15 de junho de 2017
"Médiuns" acabam ofendendo mortos ao se apropriar deles para propaganda religiosa
ATRAVÉS DE OBRAS FAKE, HUMBERTO DE CAMPOS E RAUL SEIXAS PASSARAM A DEFENDER IDEIAS QUE NÃO DEFENDERIAM.
Muitos se recusam a admitir, mas o "espiritismo" brasileiro cometeu deslizes e equívocos da mais extrema gravidade, como a mediunidade fake e as ideias fundamentadas no livro Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing.
Esconder Roustaing e o articulador de muitos erros, o ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, debaixo do tapete, não resolve as coisas, porque muitos dos ídolos do "movimento espírita" foram e ainda são cúmplices de muitos procedimentos levianos e até ilícitos. No histórico do "espiritismo" brasileiro, existe até uma morte suspeita, do sobrinho de Francisco Cândido Xavier, Amauri Xavier, possivelmente envenenado por "queima de arquivo".
Isso é muito chocante para os leitos que recorrem à grande imprensa para conhecer o que é o "espiritismo" e observa um "céu de brigadeiro" no qual coexistem com supostas paz e equilíbrio o cientificismo de Allan Kardec e o igrejismo de Chico Xavier.
Muitos se recusam a perceber o quanto esses erros diversos nos bastidores do "espiritismo" brasileiro são muito graves, desmoralizando o legado trabalhoso que o pedagogo francês teve para difundir e explicar a Codificação. Mesmo quando admitem os erros, os seguidores, simpatizantes e leigos do "espiritismo" brasileiro chegam mesmo a acreditar que pode haver coerência numa seita de tantas confusões, impasses e até mentiras.
Como um PSDB da religião, blindado ao máximo e evitando a denúncia de uma tosse que venha de um "espírita", o "espiritismo" brasileiro se valeu de uma mediunidade fake, constatação esta que pode assustar e indignar muitos, mas é feita pela análise comparativa das obras "mediúnicas" com os estilos e outros aspectos pessoais dos mortos alegados, famosos ou não.
Essa pretensa mediunidade mostra irregularidades imensas que o fato de deixar "certos problemas" debaixo do tapete, sob a desculpa dos "mistérios da espiritualidade", não demonstra uma cautela no tema da manifestação espiritual, mas antes uma perigosa e irresponsável omissão.
As irregularidades de muitas pretensas psicografias e psicopictografias, para não dizer as psicofonias que mais parecem falsetes de stand up comedy, podem ser facilmente identificadas por análises de conteúdo, da mesma forma que podemos identificar fraudes em cartas apócrifas de sequestradores imitando a caligrafia de suas vítimas.
No caso das supostas psicografias de Chico Xavier, que o marketing religioso fez vender uma falsa imagem de "caridade plena", com toda a mitificação própria das paixões religiosas, as irregularidades podem ser identificadas por uma simples atenção nos textos dos supostos autores mortos e compará-los com o que eles haviam deixado em vida.
No caso de Auta de Souza, jovem poetisa potiguar que viveu no final do século XIX, o estilo peculiar da artista desaparece diante das supostas mensagens espirituais trazidas por Chico Xavier. Em vez do estilo feminino e quase infantil de Auta, observa-se o estilo masculino e igrejeiro do "médium" e, em certos momentos, a suposta Auta expressa pensamentos próprios de Chico em relação à Teologia do Sofrimento, da qual o "médium" foi sempre devoto.
Humberto de Campos também fez desaparecer seu estilo, em que pese eventuais pastiches que parodiam sua forma de narrar. Note-se que, no lugar do autor de escrita culta, mas acessível, de prosa coloquial e descontraída, há um moralista religioso de texto melancólico e rebuscado, com um estilo totalmente diferente. Através de Chico Xavier, o nome de Humberto também foi usado para vínculo com a Teologia do Sofrimento defendida pelo "médium".
No caso de Raul Seixas, outro suposto médium, Nelson Moraes, tentou imitar, mas de forma grosseira e caricatural, o estilo do roqueiro, em suposta psicografia usando o pseudônimo Zílio, que claramente não condiz ao estilo do roqueiro baiano. Além disso, a "mensagem espiritual" força a barra ao acentuar uma mística religiosa que Raul havia abandonado nos últimos anos de vida.
Nelson cometeu um grande erro que derruba qualquer hipótese de autenticidade na atribuição do seu Zílio à identidade de Raul Seixas, apelando também para a Teologia do Sofrimento na parte do não-questionamento da vida, algo que vai contra os ensinamentos kardecianos que buscam o questionamento como meio de resolver os problemas:
"Antes de questionar a vida, questione a si mesmo, analise seus conceitos, seus sentimentos, sua gratidão por aqueles que o ajudaram a renascer na Terra e, com certeza, você encontrará uma grande razão para viver e lutar contra o único inimigo que pode derrotá-lo: você mesmo!".
Muitos se recusam a admitir, mas o "espiritismo" brasileiro cometeu deslizes e equívocos da mais extrema gravidade, como a mediunidade fake e as ideias fundamentadas no livro Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing.
Esconder Roustaing e o articulador de muitos erros, o ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, debaixo do tapete, não resolve as coisas, porque muitos dos ídolos do "movimento espírita" foram e ainda são cúmplices de muitos procedimentos levianos e até ilícitos. No histórico do "espiritismo" brasileiro, existe até uma morte suspeita, do sobrinho de Francisco Cândido Xavier, Amauri Xavier, possivelmente envenenado por "queima de arquivo".
Isso é muito chocante para os leitos que recorrem à grande imprensa para conhecer o que é o "espiritismo" e observa um "céu de brigadeiro" no qual coexistem com supostas paz e equilíbrio o cientificismo de Allan Kardec e o igrejismo de Chico Xavier.
Muitos se recusam a perceber o quanto esses erros diversos nos bastidores do "espiritismo" brasileiro são muito graves, desmoralizando o legado trabalhoso que o pedagogo francês teve para difundir e explicar a Codificação. Mesmo quando admitem os erros, os seguidores, simpatizantes e leigos do "espiritismo" brasileiro chegam mesmo a acreditar que pode haver coerência numa seita de tantas confusões, impasses e até mentiras.
Como um PSDB da religião, blindado ao máximo e evitando a denúncia de uma tosse que venha de um "espírita", o "espiritismo" brasileiro se valeu de uma mediunidade fake, constatação esta que pode assustar e indignar muitos, mas é feita pela análise comparativa das obras "mediúnicas" com os estilos e outros aspectos pessoais dos mortos alegados, famosos ou não.
Essa pretensa mediunidade mostra irregularidades imensas que o fato de deixar "certos problemas" debaixo do tapete, sob a desculpa dos "mistérios da espiritualidade", não demonstra uma cautela no tema da manifestação espiritual, mas antes uma perigosa e irresponsável omissão.
As irregularidades de muitas pretensas psicografias e psicopictografias, para não dizer as psicofonias que mais parecem falsetes de stand up comedy, podem ser facilmente identificadas por análises de conteúdo, da mesma forma que podemos identificar fraudes em cartas apócrifas de sequestradores imitando a caligrafia de suas vítimas.
No caso das supostas psicografias de Chico Xavier, que o marketing religioso fez vender uma falsa imagem de "caridade plena", com toda a mitificação própria das paixões religiosas, as irregularidades podem ser identificadas por uma simples atenção nos textos dos supostos autores mortos e compará-los com o que eles haviam deixado em vida.
No caso de Auta de Souza, jovem poetisa potiguar que viveu no final do século XIX, o estilo peculiar da artista desaparece diante das supostas mensagens espirituais trazidas por Chico Xavier. Em vez do estilo feminino e quase infantil de Auta, observa-se o estilo masculino e igrejeiro do "médium" e, em certos momentos, a suposta Auta expressa pensamentos próprios de Chico em relação à Teologia do Sofrimento, da qual o "médium" foi sempre devoto.
Humberto de Campos também fez desaparecer seu estilo, em que pese eventuais pastiches que parodiam sua forma de narrar. Note-se que, no lugar do autor de escrita culta, mas acessível, de prosa coloquial e descontraída, há um moralista religioso de texto melancólico e rebuscado, com um estilo totalmente diferente. Através de Chico Xavier, o nome de Humberto também foi usado para vínculo com a Teologia do Sofrimento defendida pelo "médium".
No caso de Raul Seixas, outro suposto médium, Nelson Moraes, tentou imitar, mas de forma grosseira e caricatural, o estilo do roqueiro, em suposta psicografia usando o pseudônimo Zílio, que claramente não condiz ao estilo do roqueiro baiano. Além disso, a "mensagem espiritual" força a barra ao acentuar uma mística religiosa que Raul havia abandonado nos últimos anos de vida.
Nelson cometeu um grande erro que derruba qualquer hipótese de autenticidade na atribuição do seu Zílio à identidade de Raul Seixas, apelando também para a Teologia do Sofrimento na parte do não-questionamento da vida, algo que vai contra os ensinamentos kardecianos que buscam o questionamento como meio de resolver os problemas:
"Antes de questionar a vida, questione a si mesmo, analise seus conceitos, seus sentimentos, sua gratidão por aqueles que o ajudaram a renascer na Terra e, com certeza, você encontrará uma grande razão para viver e lutar contra o único inimigo que pode derrotá-lo: você mesmo!".
OFENSA À MEMÓRIA DOS MORTOS
Agindo desta forma, usurpando os nomes dos mortos para produzir imagens fake, os "médiuns" fazem dois tipos de oportunismo. Um é quando os mortos foram pessoas famosas, a apropriação tem por objetivo chamar a atenção com um nome ilustre, um tipo de pretensiosismo fraudulento que havia sido previsto no século XIX pela obra O Livro dos Médiuns, de Kardec.
Neste caso, a apropriação de um nome famoso rende sensacionalismo e atrai para o "movimento espírita" a adesão de muitos fãs da celebridade morta, criando assim um sucesso literário que rende dinheiros para a federação "espírita" nacional (FEB) ou regional, dando também publicidade para o suposto médium de plantão, que garante assim o seu estrelato.
No caso do morto não-famoso, o oportunismo é outro, desenvolvendo um outro sensacionalismo através da exploração ostensiva da comoção familiar, assim como serve para propaganda do suposto médium, que tenta se passar por alguém mais confiável e familiar para seus seguidores e adeptos. Isso também atrai muitas pessoas que desenvolvem uma devoção ao "médium", que se transforma em ídolo religioso, desenvolvendo um perigoso tipo de estrelato e presunção.
Mas o que chama a atenção, tanto em um quanto em outro tipo, é que a memória dos mortos acaba sendo alvo de séria ofensa. Afinal, se as mensagens "espirituais" destoam dos aspectos pessoais dos mortos alegados, isso é bem mais do que um simples deslize, mas uma desonestidade que não raro causa sérios danos à memória do falecido.
No caso de Chico Xavier, caso gravíssimo envolve Cartas e Crônicas, de 1966, quando o juízo de valor pessoal do "médium" contra as humildes vítimas do incêndio em um circo de Niterói, cinco anos antes, já era gravíssimo por si mesmo e piora ainda mais quando Chico põe a responsabilidade toda para Humberto, mal disfarçado pelo pseudônimo Irmão X.
Neste caso, ofende-se seriamente a memória de Humberto de Campos, avacalhado por Chico Xavier da maneira mais leviana possível. E Chico ainda praticou aquela farsa toda de atrair, em 1957, Humberto de Campos Filho para uma exibição de Assistencialismo e Ad Passiones, incluindo um tendencioso abraço "fraternal" na qual o anti-médium mineiro arriscou até um falsete, depois de hipnotizar e forçar o filho do autor maranhense a chorar de maneira copiosa, se usando do perigoso recurso do love bombing ("bombardeio de amor", um tipo de manipulação da mente humana).
Mas ofensas são feitas da parte de outros "médiuns", seja pelo juízo de valor, seja pela apropriação indébita, seja pela suposição de encarnações antigas através do "achismo", já que, sabemos, o "espiritismo" brasileiro nem está aí para a Ciência Espírita. Ou então pela malandragem do "médium" usar os nomes dos mortos de sua escolha para "forçá-los", simbolicamente, a "concordarem" com ele.
Transformar um morto em garoto-propaganda da religião "espírita" é muito comum, tal como botar na conta do falecido ideias que este nunca defenderia. Raul Seixas, por exemplo, nunca iria defender ideias medievais como a do "inimigo de si mesmo". Quem acompanhou as últimas entrevistas de Raul Seixas sabe muito bem que Zílio era uma fraude construída a partir de estereótipos que o roqueiro baiano recebeu das páginas de fofocas e de programas de variedades da TV aberta.
Isso é terrível e traz uma falsa impressão de que toda pessoa, quando morre, vira funcionário de igreja. E isso desmoralizou e arruinou completamente com a atividade mediúnica no Brasil, transformada numa terrível brincadeira de faz de conta, e fez também os espíritos do além-túmulo se tornarem praticamente incomunicáveis com os brasileiros, diante da desconfiança quanto a fraudes e receio de promover as vaidades pessoais dos "médiuns".
terça-feira, 13 de junho de 2017
Por que o Brasil deprecia tanto a mulher solteira?
No Brasil, ocorre uma coisa estranha. Mulheres associadas a ideias independentes, de perfil mais classudo e sem a obsessão de serem objetos sexuais são geralmente comprometidas, em muitos casos sendo esposas de empresários, médicos, engenheiros, advogados, economistas e outras posições masculinas associadas ao poder e ao sucesso.
Enquanto isso, o paradigma da solteira é o da falsa hedonista. A da mulher que só se ocupa em noitadas, no culto ao corpo físico, no exagero de colocar silicones e tatuagens gigantescas ou se tornar um símbolo de hipersexualização, ainda que disfarçado de "causa feminista" e desculpas como "liberdade do corpo" e "direito à sensualidade".
No Brasil, pelo menos quatro mulheres expressam constantemente essa imagem mercadológica da "mulher solteira" trabalhada pela mídia corporativa: as funkeiras Andressa Soares, a Mulher Melancia, Renata Frission, a Mulher Melão e Valesca Popozuda e a ex-competidora da Banheira do Gugu do programa Viva a Noite, Solange Gomes.
Através delas, a imagem da mulher solteira acaba sendo depreciada através de um conteúdo ideológico bastante confuso e contraditório. Num dia, a mulher é uma "solteira feliz". Noutro, ela reclama da falta de um "príncipe encantado". No terceiro, quando encontra o "príncipe encantado", ela o descarta porque ele é "tudo de bom, mas ele é só um bom amigo".
Isso reflete em efeitos negativos à mulher que quer ser independente, e que é convencida pelo discurso da grande mídia "popular" - que transmite frequentemente uma visão bastante preconceituosa e depreciativa das classes populares - de que a mulher solteira é uma "desocupada", uma "vadia", uma "vendida" e uma "permissiva", e acaba preferindo correr atrás do primeiro marido que simbolizar algum "sucesso" na vida profissional.
No Primeiro Mundo, há uma maior permissão para mulheres serem solteiras sem se vincularem à hipersexualização. Mas, no Brasil, mesmo quando a "solteira" estereotipada pela grande mídia assume diversos assuntos, ela sempre se associa à agenda sexual, seja o sensualismo obsessivo ou a apropriação da causa LGBT.
Situações que exemplificam isso são, por exemplo, tratamentos de beleza e cosmética, aparição em exposições de carros (sugerindo a presença de "aviões", como são chamadas as mulheres consideradas atraentes). Ou então apropriações tendenciosas como em obras como Madame Bovary de Gustave Flaubert ou na vida da atriz Leila Diniz (1945-1972), para não dizer na de Marilyn Monroe (1926-1962).
Por que o Brasil insiste em explorar uma imagem bastante pejorativa ou depreciativa da mulher solteira, mais preocupada em se tatuar, botar piercing, silicone ou ficar "sensualizando demais", enquanto pouco está se preocupando com o intelecto ou com valores culturais mais relevantes?
Há uma combinação de interesses comerciais. Afinal, a hipersexualização é um filão que está vinculado a setores reacionários da grande mídia dita "popular" (mas, não raro, controlada por ricas oligarquias regionais e nacionais) e das redes sociais, antro do mais extremo conservadorismo social, que nos últimos 25 anos contagia uma boa parcela da juventude brasileira. Não por acaso, é nestas redes que há um grande público das mulheres siliconadas.
O mercado é bastante rentável e movimenta muitos e muitos reais só por visualizações na Internet e vendas de revistas. Em muitos casos, as funkeiras se destacam menos por suas músicas (por sinal, ruins) e mais pelo "apelo sensual". O mercado também permite ao poder midiático fazer parcerias com dirigentes esportivos e carnavalescos, além das indústrias de cerveja, entre outros empreendimentos.
O sexo torna-se um mercado que o poder midiático usa para controlar as mentes dos homens e, frequentemente, serve como "analgésico social" para frear os ímpetos de mobilização social. No período ditatorial, o erotismo nas revistas pornográficas de segundo escalão foi estimulado para evitar que os homens possam pensar em protestar contra a ditadura.
A solteirice feminina, associada à hipersexualização, torna-se então um mercado bastante promissor e que traz lucros exorbitantes aos detentores deste mercado, executivos homens que estão por trás dessas mulheres "sensuais" que insistem em não ter vínculos com qualquer figura masculina. Existe até a regra de que "ser solteira vende mais", no que se refere ao mercado "sensual" predominante no Brasil.
Nos últimos anos, porém, a suposta associação de nomes como Valesca Popozuda ao ativismo social cria entre o público uma visão politicamente correta desse mercado machista. Mas isso nem de longe minimiza o grau de hipersexualização nem o apelo machista, por mais que seja desenvolvido um discurso pretensamente feminista e pró-LGBT.
Isso até piora as coisas, já que a causa LGBT passa a ser trabalhada, no Brasil, de maneira estereotipada e espetacularizada, como se gays e lésbicas se limitassem aos protótipos caricaturais das drag queens e das mulheres-sapatão, ignorando os novos aspectos de comportamento sexual que existem nos países desenvolvidos.
No caso da imagem da mulher solteira, a coisa ainda se torna mais prejudicial, uma vez que a imagem da mulher que vive sem a companhia do homem é insistentemente associada a um estereótipo de pretenso hedonismo, que trabalha uma imagem depreciativa da mulher "libertina", "irresponsável" e "oferecida", causando um grande desestímulo das mulheres emancipadas que passam a ficar horrorizadas com esta triste projeção da imagem da solteirice feminina.
Daí que isso se torna mais um ponto para o machismo brasileiro, e a mulher que quer viver de maneira emancipada, mas não quer ser objeto sexual, vai correndo a uma festa chique buscar um marido "poderoso" e "influente", para não ficar com a imagem de "oferecida" e "sensual demais". A sociedade machista é a maior beneficiada do mercado de depreciação da mulher solteira pela mídia.
domingo, 11 de junho de 2017
"Espiritismo", Assistencialismo e Escola Sem Partido
O que salva os deturpadores do Espiritismo é a alegação de "caridade plena", erroneamente associada a eles. A ajuda que os "médiuns", em seu culto à personalidade, supostamente estão associados é exaltada com certo exagero, mais parecendo uma publicidade para a promoção pessoal desses pretensos pensadores do "espiritismo" brasileiro.
Se os festejados "médiuns", ou melhor, anti-médiuns, tivessem realmente ajudado muita gente, o Brasil teria atingido padrões escandinavos de qualidade de vida, se observarmos a pretensão de grandeza - mesmo sob o pretexto da "humildade" - que ídolos como Divaldo Pereira Franco e Francisco Cândido Xavier possuem entre seus fanáticos seguidores.
Mas isso não ocorreu. E não há como usar como desculpa falácias como "os amiguinhos pouco esclarecidos não deixaram", "dificuldades impediram" ou coisa parecida, porque a grandeza com que Divaldo Franco e Chico Xavier, tão tidos como "triunfantes" a tudo, estão associados em sua idolatria religiosa tinha esse compromisso de mudar a sociedade.
Tudo não passa, portanto, de uma grande falácia. A "caridade" dos dois sempre foi medíocre, para não dizer, em certos aspectos, bastante traiçoeira. As "cartas dos parentes mortos" de Chico Xavier se revelou uma grande armação para sua promoção pessoal de pretenso filantropo, dentro de uma perspectiva que a grande mídia, em especial a Rede Globo, desenvolveu bem no imaginário das pessoas.
O que muitos pensam ser "caridade transformadora" ou "filantropia revolucionária" são apenas atitudes inexpressivas que, na melhor das hipóteses, são apenas ajudas pontuais. Analistas sérios definem tal "filantropia" como Assistencialismo e seus projetos educacionais se equiparam aos padrões ideológicos que vimos na Escola Sem Partido proposta pela direita sócio-política nos últimos anos.
O Assistencialismo é definido como uma "caridade" que são resolvidos apenas casos pontuais. Doação de roupas e alimentos, atendimento a um número limitado de pessoas etc. Será preciso uma comparação ligeira para definir a diferença entre Assistencialismo e Assistência Social.
No âmbito da saúde, existe a cura de uma doença e o efeito paliativo da doença que não é curada mas a dor é aliviada. A Assistência Social "cura" doenças. O Assistencialismo alivia a dor. O que vemos no "espiritismo", embora ele se gabe em praticar "Assistência Social", é apenas Assistencialismo. Mesmo quando as pessoas se "emancipam", os efeitos, mesmo assim, são socialmente os mais inócuos possíveis.
O projeto pedagógico, que tornou-se a publicidade da Mansão do Caminho de Divaldo Franco, é na verdade algo que não difere muito da Escola Sem Partido: uma educação "básica", que apenas ensina tarefas e princípios inócuos para as pessoas, como ler, escrever e exercer algum trabalho, mas sem estimular o senso crítico e a compreensão questionadora da vida.
Embora os "espíritas" se assustem com tal comparação, a própria Escola Sem Partido promete um ensino "comprometido com a cidadania e as boas qualidades do indivíduo", apenas estimulando o aprendizado de coisas básicas como saber fazer contas, saber falar etc. Parece um projeto completo e bem intencionado, mas ele desencoraja a compreensão crítica da sociedade e permite a crença em fantasias religiosas.
A sociedade brasileira, mesmo uma parcela que se define "progressista", não consegue entender o problema disso. Acha que a associação da ideia aparente de "caridade" a uma religião só pode representar algo positivo e transformador, e chega-se ao absurdo das pessoas pouco se importarem com os resultados, apegadas à idolatria cega a um figurão religioso.
Nas redes sociais, um seguidor de Divaldo Franco infiltrado numa comunidade de ateus insistiu que a "caridade" dele era "transformadora", e a persistência dele em rebater questionamentos - sabe-se que a Mansão do Caminho não ajudou sequer 1% da população de Salvador - revela uma preocupação em defender um ídolo religioso, pouco importando se os resultados da "caridade" foram inexpressivos ou não. Os "beneficiados" são apenas um detalhe, diante dos holofotes a um ídolo religioso.
O Assistencialismo e o projeto pedagógico tipo Escola Sem Partido (ensinar a ler, escrever e trabalhar com alguma "eficácia", mas sem estimular o pensamento crítico e, todavia, permitindo crenças religiosas das mais surreais como se fossem a "realidade") refletem o quanto boa parte dos brasileiros ainda tem uma noção bastante conservadora de "bondade".
Isso é ruim. O que está por trás disso são conceitos igrejeiros, moralistas, elitistas e uma série de preconceitos sociais, nas quais se prefere que as classes populares sejam domesticadas por uma religião do que avançassem em qualidade de vida.
A "qualidade de vida" da "caridade" religiosa é apenas uma situação mediana, dentro dos limites tolerados pelas elites do dinheiro e do poder, que até aceitam que pessoas possam viver por conta própria, mas de maneira que não represente riscos aos privilégios abusivos que as classes mais ricas possuem e que aumentaram desde que a onda conservadora retomou o Brasil e o mundo.
sexta-feira, 9 de junho de 2017
Teor da mensagem derruba de uma vez o mito de que Zílio foi Raul Seixas
RAUL SEIXAS CANTANDO "CARIMBADOR MALUCO" NO ESPECIAL 'PLUNCT, PLACT ZUM' DA REDE GLOBO.
Observando o teor das supostas mensagens de Raul Seixas, que, segundo o "médium" e radialista Nelson Moraes, teria adotado, no mundo espiritual, o pseudônimo Zílio, concluímos que a atribuição não é verdadeira, ao verificarmos análises de conteúdo e pesquisarmos os contextos relacionados com seus últimos anos de vida e a natureza da personalidade do roqueiro baiano.
O que se vê, em tais mensagens, narradas num tom infantilizado e com um apelo igrejeiro que nunca seria próprio de Raul, é um apelo moralista que contraria severamente o pensamento pessoal consagrado pelo músico, que, se vivo estivesse, iria divergir até dos "ventos direitistas" que atingem uma parcela do Rock Brasil, principalmente da parte dos músicos Lobão e Roger Rocha Moreira (Ultraje a Rigor, banda de apoio do programa The Noite, do reacionário comediante Danilo Gentili).
Reproduzimos a imagem abaixo, que com certeza destoa do recente ceticismo cáustico que Raul Seixas teve no final de sua vida. Em suas últimas entrevistas, Raul Seixas combinava lucidez e senso crítico, desconfiado dos rumos do Brasil que se preparava para eleger Fernando Collor de Mello. Raul questionava a hipocrisia da vida política, da mídia e do show business, fato comprovado em registros lançados pela imprensa entre 1987 e 1989.
O "Raul Seixas" construído pela mente de Nelson Moraes se revela moralista, conservador e expressa uma linguagem mais ingênua e até tola em relação ao que Raul realmente foi. E o trecho final da mensagem - que até o portal de rock Whiplash publicou - , que fala no "inimigo de si mesmo", derruba de vez qualquer tese, por mais condescendente e relativizadora que fosse, de que o suposto espírito Zílio era realmente Raul Seixas.
Raul nunca falaria coisas como "inimigo de si mesmo", um conceito oriundo da Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica que foi assimilada pelo "espiritismo" brasileiro. Isso em si já é uma ofensa ao legado de Raul, pensar numa leviandade medieval dessas, que em nada ajuda no desenvolvimento da autoestima humana.
A mensagem abaixo causa desconfiança pela construção de trocadilhos fáceis, pela citação aleatória e fora de contexto dos sucessos de Raul e pelo apelo igrejeiro que o faz mais próximo de um católico (seria relação com a paródia brega de Raul, o cantor Sílvio Brito, mais tarde militante católico?) do que de um roqueiro rebelde que chegou a romper com a idolatria a Elvis Presley ao saber que ele se inscreveu no serviço militar dos EUA.
A impressão que se tem é que Nelson Moraes "construiu" um Raul Seixas fictício, a partir das impressões que o "médium" teve ao ver as coberturas da morte do músico baiano em programas como Fantástico, da Rede Globo de Televisão, da divulgação banalizada de seus sucessos e da abordagem um tanto preconceituosa dada por revistas como Contigo e Amiga. Portanto, Zílio se mostra muito falso como uma suposta representação espiritual de Raul Seixas.
Leiam a mensagem com atenção e com muito cuidado para não sucumbir às tentações das paixões religiosas, que entorpecem os instintos emotivos e bloqueiam o raciocínio. A mensagem deixa claro que foge completamente da natureza pessoal de Raul Seixas, parecendo mais um pastiche igrejeiro e moralista sem qualquer relação sequer com a superada aventura mística que o roqueiro baiano teve em vida.
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Mensagem atribuída ao espírito Zílio
Por Nelson Moraes
“Frente à realidade que me surpreendeu, a metamorfose agora é outra! A Sociedade Alternativa não acontece no embalo dos sonhos mal sonhados, nasce na individualidade daqueles que vivem na real.
Vivi como um cometa que passa e causa espanto, não consegui ajustar-me na órbita que poderia sustentar-me na trajetória rumo a felicidade que sonhei para mim e para os outros. Porém, ainda não apaguei, vou continuar entre a luz e a sombra, procurando minha própria luz em constante metamorfose.
Voltei sem alarde, faço da mente do médium o meu telégrafo para revelar ao mundo das ilusões a verdadeira Sociedade Alternativa, que nos aguarda no universo infinito e que deve ser construída no universo íntimo de cada um, aí e agora.
Depois de atravessar os vales escuros da dor e do sofrimento, minha visão ampliou-se e pude compreender que aqueles que buscam afogar suas ansiedades e frustrações nas drogas químicas e alcoólicas são como epiléticos criados artificialmente, os quais sofrem e fazem sofrer. Por isso, vejo-me na obrigação consciencial de informar aos companheiros que estão a caminho que o sofrimento não pára aí, ele se estende pelos vales espirituais, onde a epilepsia se torna real, processando a duras penas os elementos venenosos inseridos no corpo perispiritual.
Muitas vezes, embalados pelo sonho e pelo lirismo dos poetas e pelo modismo estimulado pela sociedade de consumo, deixamos de enxergar a realidade à nossa volta e buscamos distrair a nossa consciência das responsabilidades inerentes à verdadeira finalidade da vida. Conseqüentemente, alteramos o valor das coisas e os conceitos sobre juventude, lar, família e objetivos, deixando cair vertiginosamente o nosso amor próprio e o amor por aqueles que nos são caros.
Nesse conceito equivocado, tudo se torna lícito, até mesmo o que não convém. Os que viveram esse tipo de liberdade na Terra, como eu, hoje superlotam os vales das sombras à semelhança de larvas, arrastando-se entre o limo e as escarpas dos abismos espirituais, situação que, em alguns casos, pode se prolongar por longos séculos.
Antes de questionar a vida, questione a si mesmo, analise seus conceitos, seus sentimentos, sua gratidão por aqueles que o ajudaram a renascer na Terra e, com certeza, você encontrará uma grande razão para viver e lutar contra o único inimigo que pode derrotá-lo: você mesmo!”
Observando o teor das supostas mensagens de Raul Seixas, que, segundo o "médium" e radialista Nelson Moraes, teria adotado, no mundo espiritual, o pseudônimo Zílio, concluímos que a atribuição não é verdadeira, ao verificarmos análises de conteúdo e pesquisarmos os contextos relacionados com seus últimos anos de vida e a natureza da personalidade do roqueiro baiano.
O que se vê, em tais mensagens, narradas num tom infantilizado e com um apelo igrejeiro que nunca seria próprio de Raul, é um apelo moralista que contraria severamente o pensamento pessoal consagrado pelo músico, que, se vivo estivesse, iria divergir até dos "ventos direitistas" que atingem uma parcela do Rock Brasil, principalmente da parte dos músicos Lobão e Roger Rocha Moreira (Ultraje a Rigor, banda de apoio do programa The Noite, do reacionário comediante Danilo Gentili).
Reproduzimos a imagem abaixo, que com certeza destoa do recente ceticismo cáustico que Raul Seixas teve no final de sua vida. Em suas últimas entrevistas, Raul Seixas combinava lucidez e senso crítico, desconfiado dos rumos do Brasil que se preparava para eleger Fernando Collor de Mello. Raul questionava a hipocrisia da vida política, da mídia e do show business, fato comprovado em registros lançados pela imprensa entre 1987 e 1989.
O "Raul Seixas" construído pela mente de Nelson Moraes se revela moralista, conservador e expressa uma linguagem mais ingênua e até tola em relação ao que Raul realmente foi. E o trecho final da mensagem - que até o portal de rock Whiplash publicou - , que fala no "inimigo de si mesmo", derruba de vez qualquer tese, por mais condescendente e relativizadora que fosse, de que o suposto espírito Zílio era realmente Raul Seixas.
Raul nunca falaria coisas como "inimigo de si mesmo", um conceito oriundo da Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica que foi assimilada pelo "espiritismo" brasileiro. Isso em si já é uma ofensa ao legado de Raul, pensar numa leviandade medieval dessas, que em nada ajuda no desenvolvimento da autoestima humana.
A mensagem abaixo causa desconfiança pela construção de trocadilhos fáceis, pela citação aleatória e fora de contexto dos sucessos de Raul e pelo apelo igrejeiro que o faz mais próximo de um católico (seria relação com a paródia brega de Raul, o cantor Sílvio Brito, mais tarde militante católico?) do que de um roqueiro rebelde que chegou a romper com a idolatria a Elvis Presley ao saber que ele se inscreveu no serviço militar dos EUA.
A impressão que se tem é que Nelson Moraes "construiu" um Raul Seixas fictício, a partir das impressões que o "médium" teve ao ver as coberturas da morte do músico baiano em programas como Fantástico, da Rede Globo de Televisão, da divulgação banalizada de seus sucessos e da abordagem um tanto preconceituosa dada por revistas como Contigo e Amiga. Portanto, Zílio se mostra muito falso como uma suposta representação espiritual de Raul Seixas.
Leiam a mensagem com atenção e com muito cuidado para não sucumbir às tentações das paixões religiosas, que entorpecem os instintos emotivos e bloqueiam o raciocínio. A mensagem deixa claro que foge completamente da natureza pessoal de Raul Seixas, parecendo mais um pastiche igrejeiro e moralista sem qualquer relação sequer com a superada aventura mística que o roqueiro baiano teve em vida.
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Mensagem atribuída ao espírito Zílio
Por Nelson Moraes
“Frente à realidade que me surpreendeu, a metamorfose agora é outra! A Sociedade Alternativa não acontece no embalo dos sonhos mal sonhados, nasce na individualidade daqueles que vivem na real.
Vivi como um cometa que passa e causa espanto, não consegui ajustar-me na órbita que poderia sustentar-me na trajetória rumo a felicidade que sonhei para mim e para os outros. Porém, ainda não apaguei, vou continuar entre a luz e a sombra, procurando minha própria luz em constante metamorfose.
Voltei sem alarde, faço da mente do médium o meu telégrafo para revelar ao mundo das ilusões a verdadeira Sociedade Alternativa, que nos aguarda no universo infinito e que deve ser construída no universo íntimo de cada um, aí e agora.
Depois de atravessar os vales escuros da dor e do sofrimento, minha visão ampliou-se e pude compreender que aqueles que buscam afogar suas ansiedades e frustrações nas drogas químicas e alcoólicas são como epiléticos criados artificialmente, os quais sofrem e fazem sofrer. Por isso, vejo-me na obrigação consciencial de informar aos companheiros que estão a caminho que o sofrimento não pára aí, ele se estende pelos vales espirituais, onde a epilepsia se torna real, processando a duras penas os elementos venenosos inseridos no corpo perispiritual.
Muitas vezes, embalados pelo sonho e pelo lirismo dos poetas e pelo modismo estimulado pela sociedade de consumo, deixamos de enxergar a realidade à nossa volta e buscamos distrair a nossa consciência das responsabilidades inerentes à verdadeira finalidade da vida. Conseqüentemente, alteramos o valor das coisas e os conceitos sobre juventude, lar, família e objetivos, deixando cair vertiginosamente o nosso amor próprio e o amor por aqueles que nos são caros.
Nesse conceito equivocado, tudo se torna lícito, até mesmo o que não convém. Os que viveram esse tipo de liberdade na Terra, como eu, hoje superlotam os vales das sombras à semelhança de larvas, arrastando-se entre o limo e as escarpas dos abismos espirituais, situação que, em alguns casos, pode se prolongar por longos séculos.
Antes de questionar a vida, questione a si mesmo, analise seus conceitos, seus sentimentos, sua gratidão por aqueles que o ajudaram a renascer na Terra e, com certeza, você encontrará uma grande razão para viver e lutar contra o único inimigo que pode derrotá-lo: você mesmo!”
quarta-feira, 7 de junho de 2017
O maior lesado do "espiritismo" brasileiro: Allan Kardec
Qual o maior lesado, o maior prejudicado e o maior esculhambado pelos "espíritas" brasileiros? Qual é a vítima mais humilhada, depreciada, desmoralizada pelo "movimento espírita" em toda sua trajetória?
Com toda a certeza, é o pedagogo Hippolyte Leon Denizard Rivail, o Allan Kardec, o maior prejudicado pelo "movimento espírita" brasileiro. O "espiritismo" que se faz no Brasil é marcado pela profunda hipocrisia e pelas dissimulações diversas, e a erosão doutrinária é maquiada pelo receituário moral e pelo Assistencialismo (caridade paliativa que só atende casos pontuais e parciais), que muitos acham natural e até admirável.
O "espiritismo" que se faz no Brasil nada tem a ver com a "embalagem" bonita e agradável que se apresenta principalmente ao público leigo, que adere sem despertar um pingo de desconfiança. O "espiritismo" virou um rol de contradições, escândalos, confusões e fraudes, que são mascarados de todo e qualquer jeito.
Tudo isso é feito para iludir e enganar as pessoas, e não são poucos os "médiuns" que chegam com mensagens fake que não refletem a natureza pessoal dos autores mortos alegados. Podem apresentar até um grande número de semelhanças, mas sempre existe uma diferença que derruba qualquer indício de veracidade.
Para piorar, muitos palestrantes, que realizam turnês para promover seu balé de belas palavras, estufam o peito dizendo serem "fiéis seguidores" de Allan Kardec e "rigorosos cumpridores" de seus ensinamentos. Dizem isso para depois praticarem o mais derramado igrejismo roustanguista, tão praticado quanto tão convictamente renegado, expressando falta de sinceridade.
Hoje a crise do "espiritismo" brasileiro é tão grande que se encontra num grave impasse. A doutrina que prometia melhorar a sociedade brasileira se perde em intermináveis contradições, sem poder resolvê-las, e entregue a eterna promessa de "compreender melhor Kardec". Sim, como cães correndo atrás dos próprios rabos, os "espíritas" deturpadores, mais uma vez, apelam para promessas de "conhecer melhor a obra de Kardec", coisa que já vimos antes e que deu na crise que se vive hoje.
É a promessa que tenta fazer os deturpadores manterem as rédeas. O Brasil virou refém desse "espiritismo" deturpado, que se transforma até num engodo, numa grande porcaria religiosa na qual se mistura a podridão do roustanguismo com a boa teoria de Kardec, criando teorias e práticas que se chocam em um conflito grave e insustentável.
É como se misturassem a comida podre do dia anterior com a comida nova, mesclando conceitos igrejistas com ideias científicas e filosóficas, emporcalhando com o legado de Allan Kardec, que com certeza não merece essa avacalhação toda que se faz com o seu trabalho.
Allan Kardec fez sozinho todo o trabalho de divulgação da Doutrina Espírita. Diferente dos festejados "médiuns" e "intelectuais" do "espiritismo" brasileiro, que viajam em aviões de primeira classe e se hospedam em hotéis de luxo para fazer palestras tolas sobre temas emocionais e receber medalhinhas, o pedagogo de Lyon pagava suas próprias viagens, não tinha patrocínios e só as fazia para realizar pesquisas e entrevistar pessoas a fins de estudo dos fenômenos espíritas.
É um horror o que ocorre no "movimento espírita", em que os próprios deturpadores, sob o pretexto de "aprenderem melhor as lições", reciclam seu igrejismo, apenas expondo uma teoria "kardecista" politicamente correta, imaginando que uma mera exposição da teoria espírita autêntica pudesse resolver as contradições.
Afinal, tudo o que se viu foi essa interminável contradição entre prática igrejista e um falso aprendizado da Doutrina Espírita. Essa promessa de "aprender Kardec" já foi estada há mais de 40 anos e resultou nesse lodo religioso que hoje vemos. Será que temos sempre que ser "fraternos" na deturpação, diante dessa postura "dúbia" que tanto envergonha o trabalhoso legado de Kardec?
A crise no "movimento espírita" só tende a se agravar com tantos impasses. Não se trata de uma crise provocada pela "maledicência dos outros" mas das más escolhas que os próprios "espíritas", sejam eles dirigentes, "médiuns" e autoridades, fizeram ao longo dos anos, acumulando as sujeiras que se tornam mais evidentes, por mais que o discurso da "união fraterna" tente mascarar.
segunda-feira, 5 de junho de 2017
Por que o "espiritismo" pouco liga para o remorso humano
No "espiritismo", parece haver a crença do princípio do "fiado espírita". Consiste na pessoa dotada de um atraso moral ter uma encarnação inteira para fazer suas maldades, só pagando na próxima encarnação.
Mesmo quando o facínora da hora enfrenta profundas derrotas, encrencas e até perdas trágicas - no meio do caminho ele pode perder um sobrinho, um tio ou um amigo de infância - , seus privilégios permanecem intatos, mesmo quando, na velhice, o velhaco que se entretinha em abusos se torne um idoso angustiado e cabisbaixo, querendo um ostracismo com "maior sossego possível".
A questão é complicada, porque na encarnação posterior a pessoa paga em doses maiores aquilo que sonegou. Quando cometia maldades e necessitava do infortúnio para barrar os caprichos de sua ambição desmedida, nada lhe ameaçava de forma real, e mesmo as encrencas no caminho eram contornadas como a habilidade de um craque do futebol que dribla os adversários.
Já quando a pessoa se arrepende, os infortúnios se tornam mais pesados. A pessoa não consegue ter controle do seu destino e todos os sacrifícios que ela faz são em vão. E o mais irônico disso é que, em várias situações, para ela vencer na vida, precisa compactuar com um arrivista ou algoz de ocasião, praticamente entregando o ouro a bandido em troca de umas migalhas.
O "espiritismo", que se mostra inclinado à Teologia do Sofrimento de forma que esta ideologia medieval católica prevaleça até mesmo sobre a própria deturpação dos ensinamentos de Kardec, ignora que o remorso humano poderia ser um atestado para o alívio das desgraças.
O verdadeiro remorso não vem do algoz que abusa demais de seus atos desumanos e que, na menor encrenca, faz pose de tristonho, criando drama sobretudo no banco dos réus. Ele vem do sofredor extremo, que vê as barreiras se aumentarem à sua frente, sem que qualquer esforço feito pudesse derrubá-las, e com isso se arrepende dos erros e pede clemência ao Destino.
O sistema de valores retrógrados prevalecentes no Brasil, em que coexistem princípios de moralismo rigoroso com outros de desonestidade arrivista, permite o quadro injusto que se mostra. E a crise política do governo Michel Temer é apenas a demonstração dos prejuízos que a complacência aos algozes e o pouco caso com os infortunados fazem em nome de um moralismo que protege quem está no alto da pirâmide social.
Evidentemente que temos o topo da pirâmide em chamas, mas até agora os moralistas não querem largar o osso. Conflitos dos mais sérios envolvem as pessoas que antes se protegiam pelo status da idade, do dinheiro, da fama, do clã familiar, do porte de armas, do diploma, da visibilidade, do prestígio tecnocrático, do prestígio religioso, de vários tipos de privilegiados que se achavam portadores da Razão a ponto de poderem até errar, sob a desculpa de que "todo mundo erra".
Mas os impasses ainda não sensibilizam as pessoas e o "espiritismo", que enfrenta crises sérias de fazer as de certos movimentos neopentecostais parecerem aviões voando em céus de brigadeiro, se mantém num padrão moral bastante austero, que influi na inutilidade e até no prejuízo que tratamentos espirituais exercem nas pessoas sem privilégios.
O "espiritismo" se perde em velhos padrões moralistas, numa "caridade" bastante frouxa, num misticismo extremo e num igrejismo obsessivo, além de apostar numa crença de que o algoz pode ter a vida toda para cometer seus abusos, mas em outra encarnação terá que pagar caro demais pelo que fez. Estimula-se o calote moral num momento, promove-se o estelionato moral em outro.
A situação torna-se tão desumana que os sofredores extremos, não bastassem serem "aconselhados" a aguentar suas desgraças, precisam fingir felicidade até para si mesmos. É como se, quando um prego atinge as palmas de nossas mãos, em vez de gemermos de dor extrema, diante do sangue disparando pelo furo do prego, termos que sorrir de felicidade e agradecermos a Deus pela desgraça obtida.
Temos sofredores demais, pessoas não podendo resolver seus problemas senão pela alegria fingida e pela compactuação com algozes e arrivistas, enquanto o topo da pirâmide social precisa ser reparado e recuperado, apesar do seu estado avançado de decomposição. Algo precisa ser mudado e os ocupantes do topo tenham que descer alguns degraus para não serem queimados pelo incêndio que atinge o velho cume.
sábado, 3 de junho de 2017
Retórica "emotiva" faz brasileiros serem reféns do "espiritismo" deturpado
Os brasileiros se tornam reféns do "espiritismo" deturpado praticado no país. Os apelos retóricos adotados pelos deturpadores, armadilhas pouco percebidas no Brasil, revelam a grande dificuldade de superar a deturpação roustanguista, porque mesmo o processo de recuperação das bases doutrinárias de Allan Kardec foram praticamente apropriados por seus próprios deturpadores.
A retórica "emotiva", baseada no chamado "bombardeio de amor" - uma overdose de apelos sentimentais que parecem "mensagens positivas e amorosas", mas são sutis e traiçoeiros processos de dominação e manipulação das mentes humanas - , começa a ser questionada no exterior, mas no Brasil ainda é vista como "mimimi" de gente "de mal com a vida".
O Brasil é mais vulnerável às armadilhas que lá são assunto de teses acadêmicas. A overdose de informação, a glamourização da pobreza, a espetacularização da sociedade, tudo isso é largamente questionado, sem risco de colocar modismos em xeque.
Aqui, onde as monografias acadêmicas valem mais pela forma do que pelo conteúdo, com textos mais arrumados na sua roupagem "científica" e sem qualquer tipo de questionamento ou análise, ninguém questiona coisa alguma, aceitando as piores armadilhas como se fossem "coisas maravilhosas".
No "espiritismo" brasileiro, a sua prevalência é motivada por apelos aparentemente positivos, que conseguem dominar uma parcela de céticos, pela forma engenhosa que se trabalha. É uma aparência de positividade e beleza, mas que esconde terríveis e perigosos processos de dominação, havendo perversos jogos de interesse arrivistas por trás.
Esses apelos são o Ad Passiones, numa das modalidades mais perigosas, o "bombardeio de amor" (em inglês, love bombing), e o Assistencialismo, ambos aparentemente positivos, agradáveis e que muitos acreditam ser "genuinamente positivos" e "socialmente saudáveis", mas consistem em armadilhas que servem para forçar o apoio das pessoas a arrivistas de qualquer tipo.
O "bombardeio de amor" é um truque discursivo no qual pessoas ou instituições tentam atrair a vítima com um excessivo apelo de mensagens amorosas, sentimentos afetivos etc. O sujeito não lhe conhece e acolhe você com uma afetividade tão exagerada que você, geralmente com alguma fraqueza emocional, se rende facilmente a esse apelo, sem desconfiar que é um truque para seu dominador buscar alguma vantagem por trás disso.
O Ad Passiones, como um todo, é definido por analistas conceituados como um tipo de falácia. Entende-se como falácia uma transmissão de ideia mentirosa como se fosse uma verdade indiscutível. O Ad Passiones virou moda através do fenômeno da pós-verdade, que influiu na vitória inesperada de Donald Trump e da saída da Grã-Bretanha da União Europeia, o "Brexit".
Mas, no Brasil, a pós-verdade teve no "médium" Francisco Cândido Xavier um de seus maiores pioneiros. Deturpador maior do Espiritismo e um dos mais graves, Chico Xavier era um católico ortodoxo que se tornou instrumento dos interesses comerciais da FEB e que virou um pretenso filantropo através de um discurso apelativo armado pela Rede Globo em parceria com a federação, como forma de competir com os pastores eletrônicos R. R. Soares e Edir Macedo.
Chico Xavier foi, numa só pessoa, a expressão do love bombing e do Assistencialismo, que também é considerado um apelo tendencioso e traiçoeiro, embora ele se apoiasse sempre num paradigma de pretensa bondade que muitos pensam ser autêntica e espontânea.
O que se deve lembrar é que o Assistencialismo é um apelo que consiste numa pretensa caridade que em nada resolve de forma aprofundada e definitiva. É uma "caridade" que não mexe nos privilégios abusivos das elites, que acham essa prática até boa, porque assim eles podem despejar roupas velhas, alimentos vencidos e comprar mantimentos de marcas ruins e baratas demais.
O que chama a atenção no Assistencialismo - cujo maior exemplo, na TV brasileira, é o apresentador Luciano Huck - é que se trata de uma "bondade" que traz resultados medíocres, mesmo quando resultam em relativa emancipação social dos necessitados. Ela expõe mais o "benfeitor", glorificado pelo pouco ou quase nada que faz, e com isso se vê que o Assistencialismo é uma "caridade" que só serve para promover o "benfeitor" do que trazer benefícios, que são inexpressivos.
Esse é um dos maiores problemas que fazem com que a deturpação do Espiritismo nunca se desfaça. A "ressalva" de que os supostos "médiuns", que deturparam tudo da Doutrina Espírita, "no entanto vale pela bondade que trazem", sempre representou a complacência com os deturpadores, a ponto de se acreditar que os deturpadores "poderão aprender melhor" os postulados espíritas originais.
Existe, no Brasil, a mania de acreditar que a raposa, quando bem treinada, tenha condições de zelar pelo galinheiro. Mas, assim como a raposa tem a fome natural de devorar galinhas e galos ao seu acesso, o deturpador do Espiritismo tem seus interesses arrivistas por trás do aparente apelo da "bondade", da "caridade", dos "bons sentimentos" e das "mensagens de amor".
O que os brasileiros, que se revoltam com tais questionamentos, não percebem é que, se questionamos figuras como Chico Xavier e Divaldo Franco, é com base nos alertas do espírito Erasto, difundidos há muitas décadas. São alertas que dificilmente agradariam as pessoas que acham mais cômodo serem dominadas pela emotividade fácil do que desfazer fantasias diante do menor escrúpulo da Razão.
E o Brasil, que sempre criminaliza socialmente o ato de raciocinar, quando ele ultrapassa os limites dogmáticos e mitológicos a serem preservados (para os interesses de determinadas elites, vale dizer), se mantém refém da deturpação espírita, mais preocupada em proteger a reputação dos deturpadores do que em melhorar a humanidade sacrificando fantasias e falsidades sem sentido.
Só mesmo no Brasil para acreditar que o coiote irá cuidar melhor do rebanho ovino, à merce dos mais persuasivos apelos emocionais e aparatos pretensamente filantrópicos. Mas se o Ad Passiones permite transformar até um Jair Bolsonaro em "salvador da pátria", isso significa que os brasileiros terão que abrir mão de ilusões e fantasias que durante décadas permanecem no imaginário dos adultos. É mais difícil um adulto abrir mão da ilusão do que uma criança.