domingo, 11 de junho de 2017
"Espiritismo", Assistencialismo e Escola Sem Partido
O que salva os deturpadores do Espiritismo é a alegação de "caridade plena", erroneamente associada a eles. A ajuda que os "médiuns", em seu culto à personalidade, supostamente estão associados é exaltada com certo exagero, mais parecendo uma publicidade para a promoção pessoal desses pretensos pensadores do "espiritismo" brasileiro.
Se os festejados "médiuns", ou melhor, anti-médiuns, tivessem realmente ajudado muita gente, o Brasil teria atingido padrões escandinavos de qualidade de vida, se observarmos a pretensão de grandeza - mesmo sob o pretexto da "humildade" - que ídolos como Divaldo Pereira Franco e Francisco Cândido Xavier possuem entre seus fanáticos seguidores.
Mas isso não ocorreu. E não há como usar como desculpa falácias como "os amiguinhos pouco esclarecidos não deixaram", "dificuldades impediram" ou coisa parecida, porque a grandeza com que Divaldo Franco e Chico Xavier, tão tidos como "triunfantes" a tudo, estão associados em sua idolatria religiosa tinha esse compromisso de mudar a sociedade.
Tudo não passa, portanto, de uma grande falácia. A "caridade" dos dois sempre foi medíocre, para não dizer, em certos aspectos, bastante traiçoeira. As "cartas dos parentes mortos" de Chico Xavier se revelou uma grande armação para sua promoção pessoal de pretenso filantropo, dentro de uma perspectiva que a grande mídia, em especial a Rede Globo, desenvolveu bem no imaginário das pessoas.
O que muitos pensam ser "caridade transformadora" ou "filantropia revolucionária" são apenas atitudes inexpressivas que, na melhor das hipóteses, são apenas ajudas pontuais. Analistas sérios definem tal "filantropia" como Assistencialismo e seus projetos educacionais se equiparam aos padrões ideológicos que vimos na Escola Sem Partido proposta pela direita sócio-política nos últimos anos.
O Assistencialismo é definido como uma "caridade" que são resolvidos apenas casos pontuais. Doação de roupas e alimentos, atendimento a um número limitado de pessoas etc. Será preciso uma comparação ligeira para definir a diferença entre Assistencialismo e Assistência Social.
No âmbito da saúde, existe a cura de uma doença e o efeito paliativo da doença que não é curada mas a dor é aliviada. A Assistência Social "cura" doenças. O Assistencialismo alivia a dor. O que vemos no "espiritismo", embora ele se gabe em praticar "Assistência Social", é apenas Assistencialismo. Mesmo quando as pessoas se "emancipam", os efeitos, mesmo assim, são socialmente os mais inócuos possíveis.
O projeto pedagógico, que tornou-se a publicidade da Mansão do Caminho de Divaldo Franco, é na verdade algo que não difere muito da Escola Sem Partido: uma educação "básica", que apenas ensina tarefas e princípios inócuos para as pessoas, como ler, escrever e exercer algum trabalho, mas sem estimular o senso crítico e a compreensão questionadora da vida.
Embora os "espíritas" se assustem com tal comparação, a própria Escola Sem Partido promete um ensino "comprometido com a cidadania e as boas qualidades do indivíduo", apenas estimulando o aprendizado de coisas básicas como saber fazer contas, saber falar etc. Parece um projeto completo e bem intencionado, mas ele desencoraja a compreensão crítica da sociedade e permite a crença em fantasias religiosas.
A sociedade brasileira, mesmo uma parcela que se define "progressista", não consegue entender o problema disso. Acha que a associação da ideia aparente de "caridade" a uma religião só pode representar algo positivo e transformador, e chega-se ao absurdo das pessoas pouco se importarem com os resultados, apegadas à idolatria cega a um figurão religioso.
Nas redes sociais, um seguidor de Divaldo Franco infiltrado numa comunidade de ateus insistiu que a "caridade" dele era "transformadora", e a persistência dele em rebater questionamentos - sabe-se que a Mansão do Caminho não ajudou sequer 1% da população de Salvador - revela uma preocupação em defender um ídolo religioso, pouco importando se os resultados da "caridade" foram inexpressivos ou não. Os "beneficiados" são apenas um detalhe, diante dos holofotes a um ídolo religioso.
O Assistencialismo e o projeto pedagógico tipo Escola Sem Partido (ensinar a ler, escrever e trabalhar com alguma "eficácia", mas sem estimular o pensamento crítico e, todavia, permitindo crenças religiosas das mais surreais como se fossem a "realidade") refletem o quanto boa parte dos brasileiros ainda tem uma noção bastante conservadora de "bondade".
Isso é ruim. O que está por trás disso são conceitos igrejeiros, moralistas, elitistas e uma série de preconceitos sociais, nas quais se prefere que as classes populares sejam domesticadas por uma religião do que avançassem em qualidade de vida.
A "qualidade de vida" da "caridade" religiosa é apenas uma situação mediana, dentro dos limites tolerados pelas elites do dinheiro e do poder, que até aceitam que pessoas possam viver por conta própria, mas de maneira que não represente riscos aos privilégios abusivos que as classes mais ricas possuem e que aumentaram desde que a onda conservadora retomou o Brasil e o mundo.
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