quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

"Espíritas" ainda esperam pela retratação de seus questionadores


O "espiritismo" vive um ciclo vicioso. A cada contestação, uma campanha de defesa e uma forte blindagem. A deturpação da Doutrina Espírita, alertada pelo espírito Erasto nos tempos de Allan Kardec, teve um terreno fértil na sociedade brasileira, emocionalmente mais fraca e dotada de uma capacidade limitada de compreensão do mundo em volta.

Isso favorece o vai-e-vem das crises do "movimento espírita". Se um ídolo "espírita" é denunciado e isso vira escândalo, é só ele exibir fotos de crianças pobres tomando sopa e velhinhos doentes para ele ser blindado e as críticas serem abafadas.

O Brasil fechou os ouvidos a Erasto, que alertava para as vigilâncias serem ainda mais rigorosas quando os deturpadores da Doutrina Espírita mostrarem coisas boas. Não foi por falta de aviso que os brasileiros sucumbiram a um balé de palavras bonitas que tomou conta do "movimento espírita" brasileiro e toda sorte de dissimulações.

Em vez disso, giramos em círculos. Nos esforçamos para denunciar as irregularidades do "movimento espírita", e no entanto elas são facilmente rebatidas porque os "espíritas" são...bonzinhos. Uma complacência a tantos erros e tantos equívocos que nem mesmo a lógica e o bom senso alertados por Allan Kardec são levados a sério.

Somos induzidos a aceitar que "todo mundo erra e os 'espíritas' são bonzinhos", engolindo qualquer falácia que transforma os deturpadores do legado de Kardec em proprietários da verdade, em muitos casos estando até acima dos próprios conceitos trabalhosamente trazidos pelo pedagogo francês.

É muito preocupante. Os deturpadores tiveram suas vitórias no Brasil, vivem na impunidade, a ponto de duas condições únicas para alguém nunca ser punido no Brasil é ser filiado ao PSDB e ser "espírita".

Se é do PSDB, pode criar seu esquema de corrupção gigantesco que, se um delegado chamar um tucano, é só para tomar um cafezinho e jogar conversa fora. Se um sujeito cria um pastiche literário grosseiro, usurpa o nome de algum ilustre falecido e diz que é "mensagem espírita", não há indício de plágio, pastiche ou falsidade ideológica que faça um juiz dar uma sentença judicial contra o farsante, se ele é declarado "espírita".

A ideia de "espiritismo" como pretensa bondade mais cria prejuízos do que lucros. Afinal, é aquele padrão conservador de "bondade", preso ao institucionalismo religioso e dotado de efeitos sociais limitados, tanto quantitativos como qualitativos. É a "caridade paliativa" que mais serve para propaganda do aparente benfeitor do que para realizar uma ajuda mais efetiva aos necessitados.

Isso cria uma "carteirada" que permite qualquer deturpação. E não se limita apenas a uma abordagem "catolicizada" na qual as queixas mais pedestres sobre a deturpação na Doutrina Espírita se limitam à inserção de fantasias milagreiras, ritualísticas ou fantasiosas que inexistem na obra deixada por Kardec.

A deturpação vai mais longe e vai sobretudo na suposta mediunidade produzida por gente na verdade sem concentração para um contato mais aprofundado com os espíritos do além. Mesmo os "conceituados" e "confiáveis" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco apresentaram gravíssimas irregularidades nas suas "obras mediúnicas" que desmereceriam, sem a menor hesitação, toda a reputação em dimensões divinas que os dois recebem de seus seguidores.

O vitimismo e o triunfalismo são sempre as "cartas do Coringa" nas mangas dos deturpadores do Espiritismo. Qualquer denúncia de irregularidade, gerando escândalos e impacto negativo, é rebatida com o suposto médium ficando cabisbaixo e fingindo tristeza, fazendo todo tipo de drama e geralmente não reagindo. Seus seguidores é que acabam espumando raiva e disparando comentários furiosos, enquanto seus "líderes" ficam calados, cabisbaixos, encenando vitimismo.

Em 2010, uma peça sobre as polêmicas do meio intelectual relacionadas a Parnaso de Além-Túmulo, o fraudulento livro de poemas de Chico Xavier que foi remendado cinco vezes, contradizendo a aura de "obra de benfeitores espirituais" (que, esperaríamos, tivesse sido acabada na primeira edição), mostrava atores encenando debates acalorados quando, de repente, de maneira piegas e chorosa, surgem imagens de Chico Xavier com sorriso tristonho, "psicografando" ou em cenas de "caridade".

As pessoas se deixam levar a tais sensações, o que mostra que mesmo muitos ditos "ateus" ainda têm uma "pedagogia" emocional herdada do Catolicismo mais devoto. Ainda se apegam a perspectivas emocionais e dogmáticas que aprenderam através de paradigmas católicos e pelas fantasias dos contos de fadas, que atrofiam a compreensão da realidade.

O mais grave é que tudo isso é dissimulado, as pessoas justificam sua pieguice com desculpas "objetivas" e "racionais" aqui e ali, o que faz do Brasil o paraíso da "pós-verdade", quando convicções das mais delirantes são impostas como se fossem "verdades indiscutíveis". E isso garante a prevalência do "espiritismo" deturpador, suas fraudes "mediúnicas", seu misticismo igrejeiro e seu moralismo conservador. E tudo isso às custas de um bom-mocismo.

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