sábado, 10 de setembro de 2016

Por que os casamentos espontâneos se dissolvem com mais facilidade?


Há poucos dias, um dos casais que eram símbolo de cumplicidade e amor sincero, dos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes, chegou ao fim, depois de 26 anos de casamento, com três filhos crescidos. A separação pegou de surpresa a opinião pública, que nunca esperou um desfecho desses. O mais incrível é que a separação já ocorria há alguns meses e só recentemente foi noticiada.

Com bem menos cumplicidade, casamentos que não são movidos por amor tendem a durar mais, mesmo quando existem crises e divergências. Há pelo menos duas ou três apresentadoras de televisão que, casadas com executivos de TV ou empresários, vivem uma relação sem muita cumplicidade e até com eventuais crises, mas que mesmo assim não resultam em divórcio ou separação.

É um fenômeno a ser estudado. Há mulheres aparentemente bem casadas que aparecem na mídia quase sempre sozinhas, abaçando seus filhos ou comparecendo a eventos sociais sem seus maridos. Na busca do Google, há mais fotos dessas mulheres desacompanhadas de seus cônjuges do que juntamente com eles, geralmente vestidos com insossos trajes formais de terno e gravata.

No entanto, há casais marcantes que se separam e, mesmo assim, por mais que as mulheres se tornam solteiríssimas, a maioria das aparições registradas na Internet as mostra com seus ex-maridos, ainda que haja uma quantidade crescente de fotos com elas solteiras e sem as alianças de casamento em eventos mais recentes.

Por que casamentos formados com mais espontaneidade se dissolvem com mais facilidade que os casamentos movidos pelas conveniências? É uma questão tão complicada quanto questionar por que as mulheres que seguem valores machistas tendem a ficar mais solteiras do que aquelas que não os seguem.

No caso do machismo, é reflexo de uma sociedade machista que o Brasil, ainda apegado aos valores retrógrados (vide o governo de Michel Temer e todo o seu projeto político), mantém, e que "premia" às mulheres que obtém fama como meras mercadorias sexuais (como a Mulher Melão e a ex-banheira do Gugu Solange Gomes) com solteirice, enquanto "aconselha" as mulheres que buscarem se emancipar com inteligência e bom senso a viverem "sob a sombra do marido".

Isso quer dizer que a mulher precisa ter seu feminismo "vigiado". A mulher que cumpre seu papel na sociedade machista, sendo mulher-objeto ou fazendo o papel estereotipado da empregada infantilizada que ouve música brega (ou os sucessos radiofônicos "populares" de hoje em dia), personificando estereótipos de mulheres submissas a valores machistas, estão dispensadas de ter a companhia amorosa de um macho, porque elas já seguem sozinhas o machismo.

Já a mulher que tem bons referenciais culturais, não segue papéis impostos pelo machismo e representa até ameaça aos valores machistas, "precisa" da influência "moderadora" do marido, geralmente um empresário ou alguém relacionado a uma posição de comando ou liderança.

Em alguns casos, a mulher não-machista se torna "machista" pela influência do marido. Passa a ter gosto por festas de gala, pela religiosidade conservadora, por uma vida cheia de formalidades, passa a fazer cobranças demais para os outros, deixa de ser a moça de personalidade interessante e divertida que a fazia muito atraente.

No entanto, a mulher machista que se torna solteira por conveniência não aprimora sua personalidade a não ser mediante muita pressão, e mesmo assim de forma relativa, forçada e superficial. Custa a abrir mão de sua imagem de "mercadoria sexual" e resiste a se livrar da imagem "sensual", usando desculpas pseudo-feministas como o "direito à sensualidade" e "a liberdade do corpo".

No casamento espontâneo, o único vínculo é o sentimental. Como os casais se formam com liberdade e de maneira espontânea, o casamento também se dissolve de forma livre e espontânea. Não há outros vínculos sociais obrigatórios, e mesmo que muita gente se decepcione com o divórcio, ele acontece sem "pendências".

Já no casamento por conveniências, o vínculo sentimental nem chega a se dissolver porque, de tão frágil, apenas "cai de podre". Mas há outros condicionadores sociais, como contatos influentes, pensões alimentícias, preocupação maior com a ascensão social dos filhos, a separação se torna mais dolorosa, porque a relação é muito mais um consórcio, um contrato social e não uma simples relação de amor.

Além disso, há o outro lado. Nas relações espontâneas, o vínculo de imagem dos cônjuges como um casal é maior. Nas relações por conveniência, a mulher pode "ficar solteira" e aparecer desacompanhada em quase todos os eventos. O marido é mais um patrocinador que compartilha a cama de casal e acompanha a esposa nos eventos formais ou nos passeios com o(s) filho(s). Até quando cita o homem mais bonito, a mulher dificilmente se lembra do marido.

Só mesmo entendendo as nuances da sociedade de valores conservadores e do pragmatismo das conveniências que é o Brasil para entender esses casos. No mundo dos famosos, diante de tantos casamentos frágeis que perduram e resistem, há casamentos aparentemente sólidos como os de William e Fátima que se encerram de repente.

É porque houve liberdade para se separar da mesma forma que houve liberdade para se unirem. Algo que os casamentos por conveniência não têm, pois, em que pese a superficialidade conjugal, são casamentos muito difíceis de serem dissolvidos, por ser alto o custo social de tais dissoluções.

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