quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
Os atropelos do PMDB carioca
Não bastassem os terríveis ônibus padronizados que escondem diferentes empresas de ônibus sob uma mesma pintura, causando confusão, desconforto e insegurança para os passageiros de ônibus e favorecendo a corrupção político empresarial, e não fossem suficientes a demissão de cobradores de ônibus por causa do acúmulo da função para os motoristas e a extinção ou esquartejamento de linhas de ônibus importantes para forçar a baldeação, o grupo político de Eduardo Paes se atropela em mil incidentes.
Há o conflito do grupo com seu ex-aliado, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que tenta mexer as varetas para evitar sua cassação, algo insólito no país, porque se fosse no Primeiro Mundo, Eduardo Cunha nem deputado mais seria, e sim um presidiário e cumprir o resto de seus dias numa cela.
Há, também, a tendenciosa mudança de postura da família Picciani, uma das mais ricas do Estado do Rio de Janeiro, que, depois de ter feito campanha para Aécio Neves em 2014 e manter alianças quase simbióticas com Eduardo Cunha, passou a se opor a este e a defender Dilma Rousseff. De repente, Leonardo Picciani virou o "herói da pátria" que vai desenhar o ocaso político do seu antigo protetor.
O perigo é que essa postura "progressista" de Leonardo Picciani possa se transferir para o irmão Rafael, que, como secretário de Transportes do município do Rio de Janeiro, impõe medidas dignas de um Eduardo Cunha da mobilidade urbana. E não é só para impedir o povo da Zona Norte de frequentar as praias da Zona Sul, se contentando (Chico Xavier iria adorar!) com a pequena praia de Rocha Miranda, uma aberração que tem horário limitado, de 9h às 20h, tempo que foge às recomendações médicas, já que 9h é horário de intensificação de raios ultravioleta. A praia de Rocha Miranda já começa o expediente (?!) sob o risco do câncer de pele.
Os estudantes da PUC que moram na Zona Norte e os estudantes da UERJ que moram na Zona Sul agora têm que pegar dois ônibus, viajar no segundo ônibus quase sempre a pé, e, se o Bilhete Único se esgotar, pagar duas passagens, cerca de R$ 3.040 por mês (mal dá para o salário dos trabalhadores de classe média), ida e volta, o que é capim para um Rafael Picciani com um patrimônio de quase dez milhões de reais.
A opinião pública de esquerda deve, portanto, tomar muito cuidado com a família Picciani, para que não veja como "progressista" medidas como impedir que moradores do Méier e da Penha continuem se deslocando diretamente para Copacabana e Ipanema, mesmo que seja a trabalho.
O grupo político de Eduardo Paes, prefeito da cidade do Rio de Janeiro, e Luiz Fernando Pezão, governador do correspondente Estado, é marcado por uma centena de atitudes desastrosas, que dariam um grande livro, só para citar todas. E o próprio grupo começa a se desentender, quando o secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório - que, dizem, é capaz de impor padronização visual até para uniformes de futebol - , está sendo sondado por Aécio Neves para migrar para o PSDB e virar candidato tucano à sucessão de Paes.
Paes chegou a pedir para Aécio Neves barrar a mudança de partido a Osório, o que seria uma compensação para a perda do apoio de Picciani - que, para não perder sua fortuna, passou a elogiar Dilma Rousseff para que ela pagasse os custos da crise financeira nos cofres cariocas - , mas o ex-governador de Minas Gerais disse não.
Enquanto isso, o Rio de Janeiro é denunciado por diversas instituições estrangeiras e até pelos meios de comunicação no exterior por causa da poluição da Baía da Guanabara, da violência policial que mata moradores da favela inocentes, do descado geral das autoridades cariocas, que tudo falam e prometem mas nada fazem de realmente positivo, e da expulsão de moradores, sem aviso nem indenização devidos, de áreas destinadas às Olimpíadas.
Enquanto isso, os incautos não percebem a decadência vertiginosa que atinge o Estado do Rio de Janeiro, que não pode ser encarada como efeito natural da complexidade urbana. Até porque a decadência é resultado de retrocessos graves que, em muitos aspectos, deixam a cidade do Rio de Janeiro com um provincianismo comparável ao de capitais nordestinas no auge do coronelismo. E isso, em boa parte, se deve ao PMDB carioca, em sua atuação simplesmente vergonhosa e desastrosa.
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