sábado, 31 de outubro de 2015
Divergências dentro dos "espíritas" brasileiros já contrariam o CUEE
Posturas nobres e discursos serenos são inúteis. Lideranças "espíritas" que se afligem diante de uma multitude de críticas que a doutrina brasileira recebe procuram falar em "coerência de conduta" com todo o malabarismo discursivo a que têm direito.
Tentando forjar humildade, são esses líderes os "possuidores da verdade", não assumidos no discurso mas comprovados pela concepção ideológica que fazem do que eles entendem ser a "verdade": um misto de devoção religiosa, pretensa erudição intelectual e filantropia associada a um aparente contato com os pobres, além de mensagens supostamente fraternais e esperançosas.
Essa embalagem da "verdade", expressa em "boas palavras", "caridade sincera" e "moral elevada", apenas esconde um engodo de contradições, confusões e divergências graves, porque não pontuais e, frequentemente, com forte e danoso impacto, que é o "movimento espírita" brasileiro, cujas críticas não surgem pelo fruto da inveja e da cobiça, mas pela observação cautelosa e comparativa dos fatos.
Se os aspectos doutrinários do "espiritismo" brasileiro contrariam o Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos, que é um roteiro de investigações e cautelas a serem tomados diante dos fenômenos espíritas, desenvolvido com muito cuidado e critério por Allan Kardec, as divergências que se observam dentro da doutrina brasileira só reforçam e confirmam essa contrariedade.
A própria trajetória confusa de Francisco Cândido Xavier é típica. Ele é o anti-CUEE por excelência, às vezes usado como marionete da Federação "Espírita" Brasileira, em outras como traiçoeiro oportunista e usurpador do prestígio dos mortos. Em muitos casos Chico Xavier era mandado, mas em outros e não poucos ele fazia de propósito, e isso gerou muitos escândalos e confusões.
Daí as críticas duras e severas. Afinal, os mais renomados críticos literários não iriam reagir de forma enérgica a Parnaso de Além-Túmulo e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho porque foram lançados por um "homem de bem". Tal alegação seria completamente ridícula, por razões bastante óbvias, mas renegadas pelos "injustiçados espíritas".
Isso porque as duas obras mostraram irregularidades graves de expressão poética, se comparados ao que os escritores fizeram em vida. Um Olavo Bilac que se esqueceu do rigor métrico dos versos? Uma Auta de Souza que deixou de escrever com sua habitual doçura de jovem menina? Um Humberto de Campos que deixou de ser membro da Academia Brasileira de Letras para se tornar um sacerdote do "Vaticano do além-túmulo"?
Críticos literários justificavam com análises e comparações, davam provas de seus pareceres e apresentavam argumentos para comprovar os pastiches identificados nos livros e textos de Chico Xavier que levam os nomes "espirituais" dos escritores. Se eles estavam revoltados, era com razão, afinal Chico Xavier tirava vantagem dos nomes de personalidades literárias que dizia evocar.
Os "espíritas" imploram, até chorando de raiva, que respeitemos Chico Xavier, mas ele em verdade nunca respeitou os mortos. Criava mensagens de próprio punho e creditava a autoria a eles. A manobra era jogar uma mensagem "positiva", de apelo religioso, para anestesiar as pessoas que acabam atribuindo autenticidade apenas porque a mensagem "fala de amor".
Isso expressa o alerta de Erasto, que havia falado dos inimigos da Doutrina Espírita, que se inseriam dentro dela e que procuravam enganar as pessoas justamente com os mais belos discursos, temperando a peçonha do engano e da mistificação com o mel de fácil e deliciosa digestão das palavras mais floridas e harmoniosas.
Ao confuso repertório de ideias e à podridão das intenções, cria-se um "multirão" de palavras arrumadas e unidas em prol de mascarar ideias ilógicas e intenções traiçoeiras com o mais belo e organizado discurso.
Por isso o discurso ideológico em torno de Chico Xavier, bem mais confuso do que Madre Teresa de Calcutá, em que o "médium" tinha seu mito trabalhado de forma atrapalhada pela mídia até mais ou menos 40 anos atrás, quando o exemplo de Malcolm Muggeridge, o falecido jornalista inglês, ensinou muito sobre o marketing religioso que o repórter da BBC fez com a missionária.
Daí que, de um paranormal sensacionalista entre 1932 e 1944 a um "porta-voz dos mortos" entre 1944 e 1975, Chico Xavier só passou a ser trabalhado para valer como um pretenso filantropo depois que produtores do jornalismo da Rede Globo viram Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God) que Muggeridge apresentou, reportou e co-produziu para a BBC.
Ninguém percebe que a imagem ideológica de Chico Xavier, trabalhada sob o mesmo roteiro de Muggeridge até nas tomadas em que o pretenso filantropo aparece ao lado de crianças e velhinhos carentes, e tudo isso para mascarar seu trabalho irregular e sua "caridade" ora meramente paliativa, ora sutilmente perniciosa.
O que ele fez com Humberto de Campos e com Irma "Meimei" de Castro é bastante deplorável. Chico Xavier, cujo Parnaso de Além-Túmulo foi criticado por um irônico Humberto de Campos em vida, se vingou e, depois que o autor morreu, transformou-o em "padre católico" a dizer chorosas baboseiras, distante do talento e da temática típicos do autor maranhense.
Quanto a Meimei, ver que Chico seduziu o viúvo dela, Arnaldo Rocha, para estar a seu lado é algo lamentável. Usurpar a memória de uma jovem professora, que, mesmo católica fervorosa, não se daria ao humilhante papel de reduzir-se a uma ideóloga da forma como se atribui aos livros e textos tidos como de sua autoria espiritual, é um processo leviano mascarado de caridade.
E aí vem Chico Xavier sendo promovido a "profeta" por uma corrente - corroborada por Divaldo Franco o pseudo-intelectual de trejeitos "professorais" - que queria ver o anti-médium transformado num "homem de 1001 utilidades", aspirante "intuitivo" a cientista, além de filósofo, analista político, sociólogo, psicólogo, astrônomo e o que vier por aí.
Nessa corrente, em que participam desde Geraldo Lemos Neto, que divulgou um sonho que Chico Xavier teria tido em 1969 e que virou a "previsão da Data-Limite", até Alexander Moreira-Almeida, integrante de um lobby de acadêmicos ligados a universidades de Juiz de Fora e São Paulo, além de membros da Associação Médico Espírita do Brasil (AME-Brasil), tenta empurrar o anti-médium para a intelectualidade, forçando o vínculo, já duvidoso, entre Chico e Allan Kardec.
Mas há também uma outra corrente encabeçada por "espíritas tradicionais" e que inclui o "médium" Ariston Teles (que diz receber Chico Xavier pela psicofonia), além de ser corroborada pelo "filho" do anti-médium, Eurípedes Higino, que quer apenas que Chico seja visto como filantropo e como consolador de pessoas.
Só esses dois conflitos, que se disputam feito um Fla X Flu "espírita", mostram o quanto o Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos é violado. Ele é desobedecido o tempo todo, mesmo quando manifestações de "diferentes lugares" acontecem no Brasil, como no caso de supostas mensagens de vítimas do trágico incêndio na boate Kiss, na cidade gaúcha de Santa Maria, em 2013.
Isso porque, apesar das mensagens serem difundidas em lugares diferentes - interiores de São Paulo e Minas Gerais - , elas possuem o vínculo nada recomendável pelos critérios de Allan Kardec, porque compartilham da mesma ideologia "espírita", dos mesmos métodos e interesses e ainda têm um vínculo histórico com a Federação "Espírita" Brasileira, por mais indireto que fosse.
O CUEE reprovaria Chico Xavier em praticamente tudo, do contrário que Alexander Moreira-Almeida, Jorge Cecílio Daher Jr. e companhia, que procuram forçar a inclusão do anti-médium no clube dos cientistas, como se ele tivesse sido um primo perdido do Stephen Hawking.
As trajetórias confusas, as atividades duvidosas, o legado contraditório, as disputas de interpretações divergentes, tudo isso contraria a essência da temática espírita que o Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos aconselha e defende. O "espiritismo" brasileiro faz tudo o que o CUEE queria evitar.
Por isso é que não faz sentido lideranças "espíritas" estufarem seus peitos e, aparentemente "entristecidos" com aquilo que definem ser "lamentável campanha contra as obras do bem", pedirem respeito à "coerência espírita". Quem são eles para falar em coerência diante de um festival de erros?
Esses erros foram tão grandes, bastante numerosos e muito graves, vários com ampla repercussão, que não dá para minimizá-los e dizer que são "casos isolados". E se Chico Xavier e Divaldo Franco participarem de muitos desses escândalos, a princípio com muito gosto e propósito, antes de encararem a vergonha por cada escândalo denunciado, é sinal de que o "espiriismo" é, definitivamente, a péssima morada para a coerência e o bom senso.
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