domingo, 13 de setembro de 2015

Rio de Janeiro governado pelas elites e contra o povo

EDUARDO PAES E LUIZ FERNANDO PEZÃO GOVERNAM O RIO DE JANEIRO COMO SE O ESTADO E SUA CAPITAL FOSSEM UMA REPUBLIQUETA DE BANANAS.

Que o Rio de Janeiro teve suas crises e problemas sérios, isso é verdade. Mas o Rio de Janeiro da marchinha carnavalesca - "Rio de Janeiro / Cidade que seduz / De dia falta água / De noite falta luz" - foi passado para trás, porque hoje a decadência ocorre não só pelo que ocorre de explicitamente errado, mas pelas decisões aparentemente "acertadas".

Da violência nas UPPs até a caricatura de cultura rock trazida pela Rádio Cidade, as autoridades e o empresariado associado pensam o Rio de Janeiro como se fosse uma cidade isolada numa bolha de plástico, projetada para ser a Disneylândia brasileira em que roqueiros caricatos e favelados abobalhados pelo "funk" se consentem com as arbitrariedades e omissões do poder público-privado.

O Rio de Janeiro passa por uma decadência que não pode ser vista como "coisa normal". Infelizmente, o comodismo da maioria das pessoas é assustador. Pessoas "felizes demais" se reunindo nos calçadões das praias ou "brincando" com as bobagens que vê na Internet através do WhatsApp. Gente que passou a ler "livros para colorir" e ver vídeos de bebês dublando cantores veteranos.

São pessoas que leem notícias de tiroteios em áreas da UPP e trata isso como se fosse uma "piada corriqueira". "Ah, essa desordem o Rio sempre teve", ironiza essa pessoa. Outros, forjando falsa sensatez, argumentam: "É um exagero falar em decadência do Rio. Tudo isso sempre ocorreu, e a cidade está melhor do que nunca", dizem essas pessoas, no conforto de seus apartamentos.

O grande problema é que o Rio de Janeiro passou a ser governado pelas autoridades do PMDB carioca como se fosse uma República das Bananas. O mais grave disso, além do sucateamento que se faz a um Estado cada vez voltado para elites e turistas estrangeiros, é que o Rio ainda se impõe como referência para o país, um "modelo a ser seguido" pelos brasileiros.

Só as medidas como a pintura padronizada nas empresas de ônibus, a dupla função do motorista-cobrador e a extinção de trajetos longos mas exclusivos de ligação entre bairros por conta de trajetos mutilados de "alimentadoras", foram adotadas de forma "suicida" por capitais como Recife e Florianópolis, que já assistem a decadência vertiginosa de seus sistemas de ônibus.

A reboque de tudo isso, o subsecretário de Planejamento, Alexandre Sansão, anunciou o fim das linhas que ligam a Zona Norte à Zona Sul, obrigando as pessoas a pegarem mais de um ônibus, isso para não dizer pagar mais uma passagem, porque os trajetos Centro-Zona Sul e Centro-Zona Norte já "comem" o tempo de duas horas e meia do Bilhete Único, ainda mais sob trânsito congestionado.

VIOLÊNCIA E DEGRADAÇÃO CULTURAL

As Unidades de Polícia Pacificadora, pequenas guaritas que nunca conseguiram estabelecer segurança nas complicadas favelas - ninguém fala numa política habitacional justa, que deslocasse os favelados para residências populares dignas - , só fizeram, com o tempo, agravar a violência, que mata até mesmo os próprios policiais e os inocentes que estiverem no meio do tiroteio.

Mas aí o internauta que vive no conforto de seu apartamento, brinca com o WhatsApp, vê vídeos de bobagens no YouTube e "lê" livros para colorir - para não dizer as estórias de cachorros com nomes de roqueiros, clichê no comercialismo literário de hoje - , na sua pretensão de ser "o juíz definitivo" do mundo em volta, acha que isso tudo são "coisas pequenas".

Claro, não é ele que, na volta para sua casa no subúrbio, diante de sons de tiros de revólver ou metralhadora, e de repente é atingido nas costas e morre, encerrando a vida depois de um dia tranquilo de trabalho. Não é o internauta acomodado que é atingido por um bueiro que explode por causa da péssima estrutura de saneamento que é feita no Rio de Janeiro.

A coisa é tão grave que no aspecto cultural, não bastasse a mídia retrógrada que é simbolizada pela Rede Globo e jornal O Globo, com seu conservadorismo midiático e suas figuras de valor social duvidoso, como Luciano Huck, Galvão Bueno, Fausto Silva ou mesmo Merval Pereira, outros projetos mais sutis trabalham para a degradação não só dos pobres, mas também da classe média.

O "funk carioca" foi defendido com uma campanha ferrenha de intelectuais, cientistas sociais, jornalistas, celebridades, como se fosse uma "vanguarda cultural", com todos os argumentos e desculpas possíveis, baseadas na falácia do "combate ao preconceito".

Tudo isso acobertava o que ocorria por trás desse discurso "maravilhoso": pobres e negros tratados como débeis-mentais consumistas, valores retrógrados como a apologia à ignorância, à violência e até à pedofilia e ao machismo, eram transmitidos e inseridos nas periferias como se fossem "novos valores" e uma "nova moralidade trazida (?!) pelas periferias".

A pedofilia era consentida pela intelectualidade influente - e dotada de muito prestígio e visibilidade - como se fosse "a descoberta sexual das meninas pobres" e o machismo das "popozudas" era visto como um "novo tipo de feminismo", mais "provocativo" e "polêmico".

É até contraditório que, numa sociedade em que as mulheres de classe média querem proibir o assédio sexual a elas, mesmo que esta seja uma paquera respeitosa, as mulheres pobres são empurradas para a mais abjeta ostentação física - com traseiros siliconados em close para as câmeras e tudo - , sob a desculpa do "direito à sensualidade" e da "liberdade do corpo".

As mesmas ativistas que aplaudiam o "chega de fiu-fiu" desejavam, para as mulheres das periferias - que eram trabalhadas ideologicamente pela imagem estereotipada e depreciativa de "oferecidas" - , a legalização da prostituição e a imposição dessa ocupação como uma "profissão definitiva", obrigando moças pobres que gostariam de sair da prostituição a ficarem nelas pelo resto da vida.

Só isso mostra o quanto as elites tratam pobres e abastados de forma desigual. Se as elites querem proteger as mulheres abastadas do assédio masculino e fazem o contrário com as mulheres pobres, expostas abertamente à libido masculina, é bom se preocupar com o que a "boa sociedade" está fazendo com o povo.

É o caso também da juventude rebelde, que agora tornou-se refém da máquina publicitária da Rádio Cidade, que nunca teve tradição nem vocação para a cultura rock, mas se impõe como "rádio de rock" favorecida pelas circunstâncias. A rádio se originou no pop convencional e só "aderiu" ao rock de vez em 1995, querendo faturar em cima do fim da Fluminense FM, de Niterói, no ano anterior.

A equipe da rádio não tem pessoas ligadas à cultura rock, trabalha com locutores de estilo escancaradamente pop e comete sérios deslizes que nenhuma rádio de rock, mesmo imperfeita, iria fazer. No entanto, a "permanência" da Cidade FM no rock é respaldada porque seu dono, o Sistema Rio de Janeiro de Rádio, é aliado dos grandes empresários de eventos realizados no Brasil.

Aqui a gravidade da situação está no fato de que os antigos adeptos da Fluminense FM não se dispõem a reagir contra o império mercadológico da Rádio Cidade. Isolados nas lembranças saudosas trazidas pelo evento Maldita 3.0 e nos sinais digitais da Cult FM, eles não imaginam que o decadente FM tem na Rádio Cidade uma carta na manga, e impor como "padrão oficial" de cultura rock um sistema de estereótipos e caricaturas relacionados ao jovem roqueiro de classe média.

Isso é grave. Afinal, nos anos 80, eram os adeptos da Fluminense que reagiam contra a ação oportunista da Cidade e outras concorrentes, de forma a fazê-las recuar de vez. Hoje, infelizmente, são os adeptos da Rádio Cidade que são capazes de fazer até trolagem para caluniar pessoas que cobram um radialismo rock autêntico como nos tempos da emissora niteroiense.

Juntos, o "funk carioca" e a Rádio Cidade estabelecem como pólos de desmobilização social, se empenhando para eliminar a essência da rebeldia juvenil, reduzindo-a apenas a uma catarse consumista que só dura no entretenimento, enquanto a consciência dos problemas sociais se limita a ser uma resignada noção dos mesmos, sem qualquer interesse de resolvê-los ou eliminar os males.

O "funk" e a Cidade se inserem num contexto ainda maior, dos eventos esportivos, como as Olimpíadas, ou musicais, como o Rock In Rio, das praças pomposas como a Praça 15 e a Praça Tiradentes, caricaturas de praças de Barcelona. Ou então de eventos "positivos" mas demagógicos, como o Piscinão de Madureira, que afastará o povo da Zona Norte das principais praias cariocas.

O Estado do Rio de Janeiro e, em especial, sua capital, estão sendo feitos apenas para atender às elites, enquanto impõem para o povo em geral infortúnios e sofrimentos. O povo pobre já sofre a tirania de traficantes, banqueiros de bicho e milicianos, que fazem dos subúrbios cariocas verdadeiros latifúndios urbanos, num ambiente de coronelismo e pistolagem à maneira fluminense.

Já as elites, de empresários do entretenimento, dirigentes esportivos, executivos de mídia, burocratas acadêmicos, tecnocratas em geral e políticos, desenham um Rio de Janeiro vindo de suas próprias imaginações. Eles falam o tempo todo em "atendimento ao interesse público", em "melhorias sociais" e até na "exaltação das culturas popular e alternativa", mas agem em completa oposição a tudo isso.

Se o Carnaval já sofre a influência, direta ou indireta, de um antigo torturador da ditadura, o hoje bicheiro Ailton Guimarães, a mobilidade urbana tem agora a colaboração direta de Jaime Lerner, que foi prefeito-biônico na ditadura militar, na "licitação" de linhas de ônibus intermunicipais com destino Rio de Janeiro.

Assim ocorre a decadência do Rio de Janeiro, cuja crise vai muito além da imagem jocosa das "piadas corriqueiras", em que os internautas mais influentes que acham engraçado até tiroteio na UPP e do sumiço misterioso de trabalhadores como o pedreiro Amarildo, na Rocinha.

Para estas pessoas, tudo é maravilhoso no Rio de Janeiro. Não pode haver decadência para gente que está ocupada em ver vídeos engraçados no YouTube ou memes hilários no WhatsApp, ou se dedicar à "leitura" de livros para colorir ou às biografias de cachorros com nomes de roqueiros. O Rio de Janeiro vai mal, mas não é com essa moçada de vida confortável.

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