quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O Brasil se comporta como se vivesse numa caverna


Observando os meios de comunicação, o Brasil há muito tempo não se cerca de grandes personalidades. Quando pessoas que contribuíram valiosamente para o país falecem, lacunas irreparáveis ocorrem, o que é pior ainda diante do "mar" de mediocridade que cerca todos os âmbitos da vida social.

Recentemente, morreu o historiador Joel Rufino dos Santos, ativista negro e importante intelectual da cultura popular de nosso país. Mas, tempos atrás, figuras como o geógrafo Milton Santos, o ator José Wilker e a windsurfista Dora Bria, para não dizer personagens hoje históricos como Leila Diniz, Glauber Rocha, Sylvia Telles e Renato Russo, faleceram sem deixar herdeiros à altura dos mesmos.

A mediocrização do Brasil atinge graus extremos. Se nos EUA é preocupante o quase monopólio que a família de subcelebridades, o clã Jenner / Kardashian, tem na mídia de lá, aqui a multidão de ídolos popularescos e subcelebridades diversas faz comprometer nossa cultura.

Que identidade cultural se tem, quando se consegue fama fácil sem ter o talento necessário e vivemos a era dos fakes nas mídias sociais? Que valores sociais e culturais poderemos desenvolver, se não há consciência real desses valores?

A mediocrização é tanta que os canastrões de 25 anos atrás são vistos como "geniais", como os cantores "sertanejos" e "pagodeiros" que fizeram sucesso na Era Collor e hoje tentam soar como arremedos forçados de MPB. Ou então as "boazudas" de outrora que tentam "sensualizar" na marra com seus corpos exageradamente siliconados.

O Brasil se comporta como se estivesse numa caverna, acreditando numa "modernidade" e numa "amplitude sócio-cultural" que não passa do reflexo de suas convicções sociais. Coisas dramaticamente retrógradas são lançadas como moda e não são poucas as pessoas que acreditam que isso seja "a última novidade do universo".

O deslumbramento dos brasileiros para os ídolos hasbeen (decadentes) como se eles fossem novidade ou, quando muito, "clássico dos clássicos", é chocante, devido à visão provinciana que faz com que o eterno "complexo de vira-lata" dos brasileiros se renovasse em pleno século XXI, quando se imaginava que tal mania tivesse sido superada, mas não foi.

Pelo contrário. Se o Sul e Sudeste passam por violentos retrocessos, a partir do Rio de Janeiro que viu reduzir-se a pó todo o esforço de modernização pós-1905, que chegou a ter seu auge entre 1958 e 1960, tornando-se um dos Estados mais atrasados do país, então o Brasil está muito distante de obter o progresso desejado, mergulhado no seu isolamento narcisista.

As próprias elites, dos empresários a simples internautas - inclusive os chamados trolls, que soam como "cães de guarda" do "sistema" - , puxam o tapete do progresso brasileiro, defendendo pontos de vista retrógrados só porque eles rendem mais dinheiro e garantem a fácil adesão popular.

A acomodação social diante de tudo isso e o desprezo a valores e personalidades realmente importantes é assustador. Se morrem grandes personalidades, elas morrem duplamente, pelo perecimento físico e pelo desprezo público, sem que seu legado fosse devidamente aproveitado.

Mesmo personalidades que continuam lembradas como Renato Russo, Raul Seixas e Elis Regina, ou então Juscelino Kubitschek, Paulo Freire Tom Jobim e Vinícius de Moraes e, num passado mais distante, Machado de Assis, não são valorizadas de forma devida, sendo reduzidos a objetos de adoração bajulatória e vazia, sem que haja uma compreensão digna de seu legado.

Até personalidades no momento vivas e ativas, como a atriz Fernanda Montenegro e o sambista Martinho da Vila, também são alvo dessa adoração bajulatória. Uma adoração que não investe na pesquisa e na avaliação de seus talentos, mas em elogios vagos que só servem como guarida da mediocridade humana às custas do prestígio de quem realmente faz pelo país.

A mediocridade brasileira, infelizmente, tornou-se sustentável. A canastrice humana chega a se fantasiar de "genial" quando se apoia na longevidade do tempo, quando seus astros tentam fazer aquilo que sempre se recusaram a fazer. De que adianta o "aperfeiçoamento de ocasião" se o canastrão deve seu sucesso à mediocridade original?

O Brasil se isola em um atraso cultural que pensa ser original. Se perde em perspectivas e abordagens que nada têm a ver com os tempos que se transformam e com as novas demandas sociais. O provincianismo atinge até mesmo aqueles que se julgam modernos e as mídias sociais da Internet surpreendem com tanta gente retrógrada, que o sinal de alerta ressoa de vez.

Dessa forma, é preciso repensar o Brasil não como um meio de salvar necessariamente convicções pessoais de gente influente, mas repensar valores, totens, ícones, práticas e outros símbolos e pessoas que parecem bem-sucedidos e modernos mas que, na verdade, são antiquados e sem serventia.

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