segunda-feira, 31 de agosto de 2015
Brasil ficou refém de medidas e posturas surreais
Infelizmente, uma geração de pessoas atrasadas tomou o poder e impõe projetos e perspectivas que elas acreditam serem eternas, duradouras e inabaláveis, mesmo que elas não sejam benéficas para a população e apontem irregularidades e mostrem absurdos diversos.
Essas pessoas tomaram conta das instituições, controlam até os meios acadêmicos, lideram a política e ditam os valores e procedimentos que devem ser aceitos para a população, a pretexto de que aceitando tudo isso se obtém sucesso econômico e até garantia de entretenimento pleno e permanente.
Em nome de uma Disneylândia brasileira de praças olímpicas, BRTs pomposos e vinda cada vez mais constante de atrações estrangeiras, o povo brasileiro se transformou num bando de patetas. O autoritarismo político, a pompa economicista e a glamourização tecnocrática tornam-se processos que fazem a sociedade brasileira se tornar refém de valores decadentes que são impostos em todo o território nacional, mesmo quando revelam um grande fracasso.
Para piorar, se eles se demonstram problemáticos e danosos, causando efeitos trágicos e tudo, seus tecnocratas, na promessa de "resolverem" os problemas, "admitindo" a existência deles, buscam soluções mirabolantes que tentam resolver tudo, menos o problema. É como se tentasse curar um câncer com remédio contra tosse.
Muitas dessas medidas, que envolvem do jornalismo à mobilidade urbana e passam até pela cultura rock e outros âmbitos, são constrangedoras, mas prevalecem pelo seu verniz de "novidade" e "modernidade", e pela não-assumida complacência com defeitos, imperfeições e erros.
Geralmente esses projetos e ideias escondem falhas que são inerentes a eles, porque eles se baseiam na mediocrização da competência, da ética ou mesmo da utilidade pública. Em outras palavras, tratam-se de expressões sutis de incompetência e de violação da ética e do interesse público em geral.
Na mobilidade urbana, isso é ilustrativo. Afinal, que mobilidade é essa que desmobiliza, que complica, que discrimina, que restringe? Um sistema de ônibus que adota a pintura padronizada que dificulta os passageiros de diferir uma empresa de ônibus de outra, coisa que não se resolve exibindo logotipos pequenininhos de empresas ou nomes em letreiros digitais. Isso é mobilidade urbana?
Ou então a dupla função do motorista-cobrador que elimina empregos e compromete o conforto e a segurança dos passageiros, sendo um dos fatores que influenciam os diversos acidentes que mataram e feriram muitas pessoas nas ruas das cidades?
E que mobilidade é essa em que percursos longos de linhas, que eram mais rápidos, eficientes e eram únicos no atendimento a certos bairros e logradouros, foram substituídos por "linhas alimentadoras" que, não obstante, escondem processos de dificultar as populações pobres a irem para bairros da Zona Sul ou mesmo para bairros de classe média na Zona Norte?
No âmbito cultural, o que se nota é toda a campanha para forçar a popularização ou mesmo a falsa respeitabilidade do "funk carioca", um ritmo que pela sua própria essência trabalha uma visão caricatural da pobreza e nunca passou de um fast food sonoro, sem valor artístico algum.
O "funk" defende valores morais retrógrados, embora tente dar uma impressão contrária a isso. Tratado como "cultura autêntica", mal consegue esconder seu caráter meramente mercadológico e consumista, através de propaganda enganosa que esconde até mesmo todo o esquema cruel de exploração de "artistas" pelos "humildes" empresários do gênero. Mesmo os MC's tidos como "engajados" estão apenas a serviço do mercado e do marketing.
E se o rock é considerado o "santo remédio" para as baixarias do "funk", o problema maior está nos seus canais de divulgação. Sua divulgação está entregue emissoras de rádio como a 89 FM, em São Paulo, e a Rádio Cidade, no Rio de Janeiro, feitas por profissionais, sobretudo locutores, sem qualquer competência para o rock.
Caso mais grave é o da Rádio Cidade, sem tradição para o gênero e cuja origem está consagrada em contextos opostos ao do público roqueiro. Tratando o público jovem de maneira caricata, trabalhando o perfil de roqueiro de novela de TV, a emissora não tolera concorrentes no segmento transmitidas em FM e sua existência só se justifica pelo fato de seus donos serem amigos e parceiros dos grandes empresários do entretenimento.
A conduta da Rádio Cidade chega níveis patéticos na cobertura do rock, com repertório repetitivo e superficial que nem atende às necessidades do segmento, mesmo as mais básicas. Sua linguagem e mentalidade destoam do perfil roqueiro e sua incompetência chega a fazê-la depender de programa de TV da Globo para lançar novas bandas de rock, que só repetem os piores modismos dos anos 90.
Culturalmente, isso traz uma diferença negativa, na medida em que emissoras de rádio ditas "roqueiras", sem ter pessoal realmente especializado no gênero, só servem para promover o consumismo do gênero, criando públicos sem uma visão crítica do mundo e que se apegam apenas aos estereótipos do rock feitos para estimular gastos com produtos e serviços diretamente associados ao gênero, mesmo que com preços caros.
No jornalismo, também a incompetência chega aos níveis surreais. A cobertura de reportagens e os artigos analíticos deram lugar ao panfletarismo mais rabugento, em que comentaristas políticos expressam seu profundo ódio contra os movimentos sociais e seus representantes.
Um claro exemplo está na revista Veja, em São Paulo, marcada pela presença de comentaristas extremamente reacionários como Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino, o roqueiro Lobão e, em outros tempos, Diogo Mainardi, hoje no Manhattan Connection da Globo News.
Outros jornalistas reacionários são Eliane Cantanhede, da Globo News, Marco Antônio Villa e Rachel Sheherazade, da Jovem Pan. Mas, no Rio de Janeiro, a Rede Globo oferece exemplos típicos como Carlos Alberto Sardenberg e Merval Pereira, embora se diga que o Jornal Nacional tenha a missão de misturar pregações reacionárias com interpretações fantasiosas da realidade noticiada.
O jornalismo é outro problema que também segue seu aspecto surreal, porque a informação deixa de ter espaço em nome da visão fantasiosa do mundo, geralmente em favor dos mais ricos e traindo a coerência quando a opinião passa a expressar preconceitos sociais e paranoias moralistas.
Esses são vários exemplos de como o Brasil anda surreal, quando pessoas que se envolvem com decisões e com processos de formação de opinião e cultura adotam posições absurdas e incoerentes, em muitos casos contrárias ao interesse público e piorando as coisas na medida que suas atitudes e posicionamentos têm a pretensão de serem eternos e permanentes, mesmo que sejam retrógrados e prejudiciais de qualquer forma.
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