sexta-feira, 10 de julho de 2015
"Espiritismo" brincou com espíritos e dissimulou com religiosidade
Infelizmente, a mediunidade tornou-se uma prática desmoralizada no Brasil. Presa ao improviso e ao faz-de-conta, ela ocorreu quase sempre à margem da Ciência Espírita, sem a cautela e a disciplina necessárias para sua execução.
Mesmo os maiores astros do "espiritismo", Chico Xavier e Divaldo Franco, deram seus maus exemplos com uma suposta mediunidade que apresentou irregularidades sérias, fontes de escândalos que o coitadismo "espírita" atribui levianamente à "campanha de perseguição aos homens de bem".
A mediunidade nunca foi devidamente estudada. Uma coisa é fazer um desfile textual de teorias da mediunidade, jogadas em periódicos "espíritas" como palavras soltas, outra coisa é estudar o assunto antes de arriscar qualquer prática.
O que se observa, aliás, é que o que se entende como "mediunidade" no Brasil é uma prática que nada tem a ver com a teoria estudada por Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, mas tem tudo a ver com o espírito improvisado, clandestino e, em muitos casos, fraudulento, das práticas hereges de feitiçaria e curandeirismo.
O "espiritismo", na verdade, se formulou não através do pensamento de Allan Kardec, mas de uma combinação de conceitos moralistas, místicos e míticos do Catolicismo medieval com as práticas hereges ligadas à feitiçaria, curandeirismo e pseudociência. Elimina-se, dos primeiros, o caráter coercitivo, e, dos segundos, os aspectos mais traiçoeiros.
É montada então uma doutrina "limpa", em que o Catolicismo medieval e os movimentos heréticos eliminam a sua "acidez" e se apresentam, integrados, com um repertório religioso "enxuto", que se apresenta como "novo" mas é velho e sem qualquer relação prática com o pensamento de Allan Kardec, que viveu num contexto de ampla movimentação de ideias e inventos na Europa.
BRINCANDO COM ESPÍRITOS
O desprezo ao pensamento de Kardec faz com que a prática "espírita" seja mais uma brincadeira de evocar espíritos. A falta de controle - e olhe que Kardec lançou o Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos - dos "espíritas" brasileiros é notória, pela produção de pastiches, mensagens apócrifas, falsetes, pinturas que falsificam estilos de artistas falecidos, tudo entre o improviso e o faz-de-conta.
Das mensagens apócrifas que só expressam o estilo do "médium" à mania de supostos curandeiros receberem supostos espíritos de médicos alemães ou coisa parecida, a farra "mediúnica" do "espiritismo" brasileiro faz com que sua conduta seja caótica e contraditória.
E tudo isso é mascarado pelo verniz que junta fé religiosa, numa clara, mas nem sempre assumida, herança católica, com arremedos de filantropia, usando a desculpa do bem para dissimular todos os erros abusivos de suas práticas.
E aí entra aquela desculpa: "fulano não é um médium perfeito, mas pelo menos ele só faz o bem". Manipula-se o discurso para atribuir como "grandes multidões" os "gatos pingados" beneficiados por algum projeto "espírita".
Vide o caso de Divaldo Franco, em que, com a ajuda da Rede Globo, muito burburinho se fez com a Mansão do Caminho, que mal consegue beneficiar 0,08% da população de Salvador, um índice, para usar uma definição mais gentil, medíocre, e seguramente nulo para ser alardeado como uma "façanha mundial".
Para um anti-médium que vende a imagem de "cidadão do mundo", como Divaldo Franco, beneficiar 0,08% de soteropolitanos, dentro de um programa educacional chinfrim, que até ensina a ler, escrever e fazer as contas mas transforma o "beneficiado" num cidadão submisso a se perder no anonimato dos cidadãos medíocres, e festejar por isso não é outra coisa senão uma gafe.
A "mediunidade" expressa pelos "espíritas" brasileiros, portanto, chega ao nível da irresponsabilidade, usando os nomes dos mortos para fazer propagandismo religioso em mensagens que os finados em questão nunca escreveriam em vida.
A maioria esmagadora dos "médiuns" não tem concentração suficiente para receber espíritos do além, daí que existe o pretexto da religiosidade, das mensagens com apelos "fraternais", "mendigando" caridade e religiosidade como se isso resolvesse alguma coisa na sociedade complexa e tensa que vivemos. E nunca resolve.
Com isso, o "espiritismo" vive no ciclo vicioso de mascarar a má mediunidade (ou "mentiunidade") com religiosismo e filantropia. Mas o que se percebe é que a "bondade" soa tendenciosa e leviana demais diante da desonestidade que os "espíritas" têm em desprezar o pensamento de Allan Kardec e fingir que são fiéis a ele.
A prática revela o que os discursos tentam esconder ou negar: o "espiritismo" brasileiro peca por nunca exercer a prática rigorosamente vinculada à doutrina de Allan Kardec. Diante desse lapso gravíssimo, o "espiritismo" tenta dissimular esse grave erro se passando por "bonzinho".
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