quinta-feira, 2 de julho de 2015

A arrogância e irresponsabilidade dos programas policialescos de TV

JOSÉ LUIZ DATENA, DA TV BANDEIRANTES, NÃO GOSTOU DA REPROVAÇÃO DO PROJETO DE REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL.

A Câmara dos Deputados rejeitou o projeto de lei que prevê a redução da maioridade penal para crimes considerados graves. Eram necessários 308 votos a favor para o projeto passar pela casa legislativa e ir para o Senado, mas apenas 303 votos aprovaram a proposta.

A redução da maioridade penal é reprovada pelos movimentos sociais, porque não resolverá o problema da criminalidade e só causará complicações sociais diversas, além de não conseguir intimidar as crianças e adolescentes criminosos que, pelo contrário, verão na "provocativa" condição de criminosos um estímulo a mais para sua violência que reflete um país em crise de valores.

A grande mídia, que empurrava um mundo de pesadelo e baixarias para o público infantil, é um dos maiores culpados pela aparente barbaridade associada aos criminosos infanto-juvenis. Mesmo quando apresenta a violência como um dado negativo, ela influencia o público mirim e adolescente porque estes acabam vendo o crime como um ato de rebeldia e desabafo.

É a péssima educação dos meios de Comunicação, que inserem programas educativos em horários em que o povo ainda está dormindo, mas jogam programação violenta no horário diurno e vespertino, causando péssima influência em seus telespectadores, sejam adultos, jovens ou crianças.

É o mercado televisivo do pesadelo "realista" de pessoas violentas e rancorosas, ou de gente desonesta e traiçoeira. Novelas, telejornais comuns, noticiários policialescos, programas infantis, tudo isso acaba explorando os instintos primitivos de seus telespectadores ao pregar valores ligados ao consumismo e à libertinagem.

E aí entram os programas policialescos que nem deveriam ser exibidos nos horários em que são transmitidos, no final da tarde, mas no alto da madrugada. Extremamente irresponsáveis e mesquinhos, esses programas, sob a desculpa do "jornalismo investigativo", que não praticam, e do "realismo da informação", que nunca trabalham, fazem uma verdadeira propaganda do crime.

Em muitos casos, a arrogância e o julgamento de valor se expressam de maneira agressiva e apelativa, em muitos casos imperativa. É o caso de José Luiz Datena, apresentador do programa policialesco Brasil Urgente, da TV Bandeirantes.

Datena é tão mesquinho que é conhecido pelo apelido jocoso de "Dapena". Ele reagiu, ontem, à reprovação do projeto de lei da redução da maioridade penal com arrogância e fúria, se comportando como se fosse um "justiceiro eletrônico".

"Menores matam mais do que todos os 007", diz, com cínico exagero, o apresentador que dá pena. Usando como desculpas as notícias de um bando de delinquentes praticando roubos em São Paulo e de supostos assassinos do médico e ciclista Jaime Gold, Datena tentou fazer crer que a solução é transformar crianças e adolescentes criminosos em adultos e sobrecarregar o já sobrecarregado sistema carcerário.

Sabe-se que o mundo adulto é que influencia a criançada nos crimes. Elas podem até serem capazes de planejar atentados e sequestros e matar a sangue frio, mas isso se deve porque o mundo adulto é que lhes disse que praticar crimes é uma catarse, um ato de rebeldia e um desabafo pessoal.

A grande mídia não consegue mais fazer o que fazia em outros tempos, procurando ensinar valores edificantes e dar às crianças um mínimo de esperança e valores que estimulassem a ação para melhorar suas vidas e as de outras pessoas.

Movidas por interesses comerciais, que fazem manter esses tenebrosos programas que mostram a violência gratuitamente para o grande público, mesmo crianças pequenas, os noticiários policialescos são o mais típico exemplo de irresponsabilidade, oportunismo e desrespeito humano vistos pelo comercialismo voraz dos meios de comunicação.

São programas que deveriam ser extintos ou, quando muito, transmitidos de madrugada, entre duas e quatro horas da matina. Mas eles são abertamente transmitidos e a publicidade sensacionalista atrai a audiência, pelos seus ganchos apelativos e pela exploração da catarse humana.

São esses programas, juno com outros tipos de atrações que investem em baixarias e na apologia à violência, que influenciam mal crianças e adolescentes que, sem conhecer valores positivos, se apegam nos atos violentos como uma forma de protestar contra os descasos do mundo adulto, vista pelos menores como uma "selva urbana" que não lhes oferece perspectivas de realização na vida.

O "mundo cão" é que produz menores criminosos, é esse "mundo" de adultos confusos, abusivos, prepotentes, egoístas, espertos e vingativos que contribuem para o vazio de valores positivos que estragam muitos menores.

Se houvesse uma valorização do sistema educacional e uma mídia desapegada ao comercialismo voraz, dedicando-se a promover valores edificantes e instrutivos, não teríamos menores praticando crimes, porque eles teriam em suas mãos valores que os estimulassem não a agir pela violência, mas buscar atitudes que visem melhorias de vida de si mesmos e da sociedade.

Reduzir a maioridade penal só irá sobrecarregar o sistema carcerário e tornar a violência ainda mais complicada, como comprovam vários países que tentaram implantar a medida e não resolveram sua situação de insegurança e crimes. Se os menores praticam crimes, a solução seria reformar o "mundo adulto" que coloca nas mentes infanto-juvenis valores degradantes.

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