terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Referência no "Coração do Mundo", Sul e Sudeste mostram focos de reacionarismo e atraso

JAIR BOLSONARO, VALESCA POPOZUDA, MOVIMENTO PELA VOLTA DA DITADURA E MEDIDAS TECNOCRÁTICAS IMPOPULARES PARA O TRANSPORTE PÚBLICO - Retrocessos nas regiões consideradas "mais adiantadas" do país.

O que está acontecendo com o Sul e Sudeste? Antigas referências de prosperidade sócio-cultural do país, os Estados das regiões Sul e Sudeste regrediram de tal maneira que suas capitais mais parecem redutos urbanos de neo-coronelismo, com uma série de degradações de ordem politica, institucional e social.

Com o extremo-direitismo surgindo principalmente no eixo Rio-São Paulo - o "corredor" Rio de Janeiro e São Paulo, capitais tidas como referências maiores para o país - , através de figuras como Jair Bolsonaro e golpistas midiáticos como os jornalistas Reinaldo Azevedo e Rachel Sheherazade, a situação é preocupante se levarmos em conta a influência dessas capitais para todo o Brasil.

O extremo-direitismo encontra até eco na mobilidade urbana - com projetos tecnocráticos anti-populares que vão da pintura padronizada à extinção de linhas diretas, tudo feito para complicar um simples ato de ir e voltar por ônibus - e no rádio (mesmo "rádios rock" como 89 FM e Rádio Cidade trabalham um estereótipo reacionário de rebeldia), entre outros setores da sociedade.

Por outro lado, mesmo o aparente populismo do "funk carioca" - simbolizado sobretudo por Valesca Popozuda, MC Guimê e Mr. Catra, entre outros - e a vulgaridade feminina das "mulheres-frutas", paniquetes e similares, revela outro reacionarismo, já que esse tipo de entretenimento popularesco também é financiado por elites dominantes no eixo RJ-SP, incluindo latifundiários, dirigentes esportivos e contraventores.

A trolagem na Internet, o reacionarismo jornalístico, o pior sensacionalismo midiático, o elitismo exagerado e o popularesco mais rasteiro, junto a uma tecnocracia que adota medidas "urbanísticas" e valores "etnográficos" nocivos às classes populares revelam o preocupante grau de atraso que transforma o Sul e Sudeste em antros de um provincianismo nunca visto nessas regiões.

Até na "evoluída" e "civilizada" Curitiba, há focos de violência conjugal, com feminicídios ocorrendo a céu aberto, em centros comerciais ou nas ruas, numa forma brutamontes de homens resolverem problemas conjugais com suas namoradas.

Já o Rio de Janeiro, pela primeira vez, chegou a um estágio que, guardadas as diferenças de contexto, é anterior ao projeto polêmico de urbanização - o "bota abaixo" do prefeito Pereira Passos - que, com seus aspectos cruelmente elitistas, havia ao menos impulsionado a modernização da Cidade Maravilhosa, a partir de 1905.

Com o corporativismo político do grupo de Eduardo Paes e Sérgio Cabral Filho, mais a "etnografia de resultados" do "funk" e a "tecnocracia urbanística" de Jaime Lerner, Alexandre Sansão e outros, o Sul e Sudeste deixa falhar antigos ideais de progresso sócio-cultural e tentativas de implantar valores de Primeiro Mundo em terras brasileiras.

E O "CORAÇÃO DO MUNDO" COM ISSO?

Fica-se perguntando: o que isso tem a ver com o projeto de "Coração do Mundo" que o "espiritismo" brasileiro sonha para o país? Tudo, uma vez que o retrocesso vai na contramão das supostas previsões que, em tese, garantem haver uma onda de muito progresso e avanços para o país.

Mas, também pudera, o próprio "espiritismo" também representa seus retrocessos, vide as históricas fraudes e deturpações que comprometeram a Doutrina Espírita, que a gente até duvida se realmente o projeto do "Brasil Coração do Mundo" significa de fato algum prenúncio de progresso para o país.

Os retrocessos vividos no Sul e Sudeste são consequentes da permanência no poder de estruturas e grupos que apoiaram a ditadura militar, e que passaram a ditar paradigmas e procedimentos que vão de encontro aos interesses populares, mas criam uma base de apoio nas classes médias dotadas de algum viés autoritário e chantagista (daí o reacionarismo na imprensa e nas mídias sociais).

As duas regiões pareciam "virgens" em focos reacionários como eram e ainda são tradicionalmente vividos em regiões como Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que continuam sofrendo os efeitos da opressão coronelista de cunho rural ou suburbano, desde a pistolagem latifundiária até a imbecilização cultural do rádio e TV.

Mas torna-se um fato o Sul e Sudeste serem focos de intenso reacionarismo, diferente dos eventuais focos reacionários que se espera em áreas de desenvolvimento urbano amplo. Nem mesmo a movimentação para o golpe militar de 1964 - apoiado pela FEB e por Chico Xavier - , de Juiz de Fora ao Rio de Janeiro, sinalizava tanto retrocesso.

Internautas reacionários, promiscuidade entre política, contravenção e crime organizado tecnocracia antipopular, etnógrafos comprometidos com a degradação sócio-cultural e jornalistas defendendo interesses de grupos elitistas.

Nunca se pensou tanto contra o interesse público, nunca se agiu tanto contra esse interesse, contrariando as lições mais básicas de fraternidade e caridade, lições que não dependem de palavrinhas piegas como aquelas de Chico Xavier que deslumbram muitos internautas incautos.

Isso é preocupante, é vergonhoso. Junta-se supostas profecias que, interpretando exageradamente alertas científicos - como o risco de asteroides, se caírem na Terra, atingiriam mais a Europa, Ásia e Estados Unidos - , preveem o fim do Primeiro Mundo e a ascensão de um problemático Brasil à vanguarda da comunidade das nações.

Que vanguarda? Com uma "feminista" como Valesca Popozuda que segue estereótipos machistas? Com um moralista como Jair Bolsonaro a conduzir a política nacional como um general retrógrado? Com projetos de mobilidade urbana que mais provocam acidentes de ônibus e fazem muita gente se confundir e demorar para chegar ao trabalho ou à escola?

Isso para não dizer as injustiças sociais, a impunidade, a violência extrema, os absurdos da vida, a agressividade de quem só pensa em seus direitos e não os dos outros, a prevalência de projetos, ideias e valores que não trazem muita vantagem para a sociedade, e a corrupção política e institucional irresolúveis.

Nada disso se resolverá com os "espíritas" dizendo a mesma ladainha: "vamos ser irmãos, buscar o amor e a luz e vivermos na fraternidade", porque a realidade é muito complexa, e buscar ser "fraterno" não resolve necessariamente tais problemas, porque podemos "perdoar" e "sermos irmãos" e deixar tudo como está, de preferência dando mais benefícios a quem não merece.

O grande perigo é que o Sul e Sudeste, considerados referências para o Brasil, puxem, no seu retrocesso de vários aspectos, o mau exemplo a ser seguido em todo o país, só porque vem do Rio de Janeiro ou de São Paulo, criando um retrocesso que tornará o país cada vez pior. E saber que esse retrocesso tem o risco de se tornar uma referência mundial é ameaçador.

Antes fosse melhor que admitamos retrocessos e decadências, do que alimentar vãs esperanças de um progresso que está longe de vir. Porque, sabendo melhor de problemas e até de desastres e injustiças, estaremos mais capazes de resolvê-los. Mas, se acharmos que os retrocessos são "progressos" só porque vêm de áreas ditas desenvolvidas, isso poderá trazer prejuízos incalculáveis para nós.

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