quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Chico Xavier e Antônio Wantuil escreveram texto tido como de Humberto de Campos

ORIGENS DA OBSESSÃO XAVIERIANA - HUMBERTO DE CAMPOS LANÇOU ESTE LIVRO QUANDO FAZIA SUA RESENHA SOBRE UM LIVRO DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.

Chico Xavier era um obsediado. Queria ser "dono" de alguns mortos. Sentia fascínio mórbido por falecidos precoces. Sua obsessão era se apropriar de seus carismas e inventar "novas mensagens" atribuídas a eles. E tudo dentro de uma pieguice que seduz, até hoje, muita gente.

A maior obsessão de Chico Xavier era por Humberto de Campos. Chico queria ser "proprietário" do legado póstumo do escritor maranhense, cujos supostos escritos, com uma observação bastante cautelosa e prudente, nada tinham a ver, em estilo, narrativa e temática, ao estilo culto e erudito, porém coloquial e de linguagem concisa e bem-humorada, de Humberto.

O "Humberto de Campos" de Francisco Cândido Xavier é prolixo, choroso, dramático, com temáticas religiosas, uma vivência mais próxima a de um sacerdote do que a de um membro da Academia Brasileira de Letras. Nem de longe parece o Humberto divertido e jovial de O Brasil Anedótico.

Uma das provas disso é que livros como Crônicas de Além-Túmulo e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho mostram diversos plágios cometidos por Chico Xavier, sobretudo de livros do próprio Humberto, num estranho enxerto de tiradas humorísticas na melancólica narrativa atribuída ao espírito do escritor maranhense, mas que em nada indicam veracidade.

Muito pelo contrário. Os enxertos acabam revelando um plágio ainda mais grotesco, transformado num engodo, os livros de Chico Xavier que levam nos créditos o nome de Humberto de Campos se mostram verdadeiros Frankensteins literários, tamanhos os plágios diversos que compõem seus conteúdos confusos.

É até risível que um arrogante Antônio Wantuil de Freitas, o temperamental presidente da Federação "Espírita" Brasileira nos idos de 1944, tentou explicar a "coincidência" de trechos dos livros "psicografados" com os que Humberto produziu em vida:

"Os trechos de “Brasil Anedótico”, que são indicados como plagiados por Francisco Xavier, não podem ser considerados como tais. Qualquer escritor, relatando em nova obra o que já dissera em outra, repete frequentemente as mesmas expressões".

A MENSAGEM DO "ESPÍRITO HUMBERTO"

Todavia, verificamos que uma mensagem atribuída a Humberto de Campos, publicada pela FEB depois do episódio do processo dos familiares do falecido escritor, mas ainda em 1944, e também registrada por Miguel Timponi, advogado da federação, no livro A Psicografia Ante os Tribunais, documento tendencioso mas válido para pesquisas, teria sido forjada por Chico e Wantuil.

Segue a referida mensagem:

"Não desconheço minha pesada responsabilidade moral, no momento quando o sensacionalismo abre torrente de amargura em torno de minh'alma.

Recebeu-me a Federação Espírita Brasileira, generosamente, em seus labores evangélicos, publicou-me as páginas singelas de noticiarista desencarnado, concedendo-me o ingresso na Academia da Espiritualidade. E continuei conversando com os desesperados de todos os matizes, voluntariamente, como o hóspede interessado em valer-se da casa acolhedora.

Eis, porém, que comparecem meus filhos diante da justiça, reclamando uma sentença declaratória. Querem saber, por intermédio do Direito Humano, se eu sou eu mesmo, como se as leis terrestres, respeitabilíssimas embora, pudessem substituir os olhos do coração. Abre-se o mecanismo processual, e o escândalo jornalístico acende a fogueira da opinião pública. Exigem meus filhos a minha patente literária e, para isso, recorrem à petição judicial. Não precisavam, todavia, movimentar o exército dos parágrafos e atormentar o cérebro dos juízes. Que é semelhante reclamação para quem já lhes deu a vida da sua vida? Que é um nome, simples ajuntamento de sílabas, sem maior significação? Ninguém conhece, na Terra, os nomes dos elevados cooperadores de Deus, que sustentam as leis universais; entretanto são elas executadas sem esquecimento de um til.

Na paz do anonimato, realizam-se os mais belos e os mais nobres serviços humanos.

Quero, porém, salientar, nesta resposta simples, que meus filhos não moveram semelhante ação por perversidade ou má-fé. Conheço-lhes as reservas infinitas de afeto e sei pesar o quilate do ouro da carinhosa admiração que consagram ao pai amigo, distanciado do mundo. Mas que paisagem florida, em meio do mato inculto, estará isenta da serpe venenosa e cruel? É por isto que não observo esse problema triste, como o fariseu orgulhoso, e sim como o publicano humilhado, pedindo a bênção de Deus para a humana incompreensão.

Diante, pois, do complicado problema em curso, ajoelho-me no altar da fé, rogando a Jesus inspire os dignos juízes de minha causa, para que façam cessar o escândalo, em torno do meu Espírito, considerando que o próprio Salomão funcionasse nessa causa, ao encarar as dificuldades do assunto, teria, talvez, de imitar o gesto de Pilatos, lavando as mãos".

HUMBERTO DE CAMPOS (sic)

Antes que pudéssemos comentar a referida carta, cabe aqui apresentar fragmentos como uma amostra ligeira de como é o estilo de prosa de Humberto de Campos e as maneiras de escrever de Antônio Wantuil de Freitas e Chico Xavier. Primeiro vamos a Humberto, o que demonstra claramente a disparidade do estilo original com o da mensagem escrita pelo suposto "espírito".

Segue uma amostra da produção em vida de Humberto, neste capítulo do livro O Brasil Anedótico, "O Orgulho de um Gênio", no qual cita como fonte inspiradora do causo (o livro se dedica a tiradas humorísticas envolvendo personalidades da época) um outro livro de Humberto, Carvalhos e Roseiras. Humberto também se baseou em outros autores para extrair outras situações registradas em seu livro de 1927.

O ORGULHO DE UM GÊNIO

Humberto de Campos - Carvalhos e Roseiras pág. 63

Joaquim Gomes de Sousa, o genial brasileiro, que, aos trinta anos, resumia todo o saber do seu tempo, era profundíssimo em tudo, principalmente em matemática. Na Câmara, discutia todas as matérias. Certo dia, ao apartear um deputado que discursava sobre finanças o orador retrucou veementemente:

- O assunto em discussão não é da especialidade de V. Ex.!

E Gomes de Sousa, logo, de pé, com todo o fogo do seu orgulho:

- É por isso mesmo que eu o discuto com V. Ex. Se se tratasse de assunto de minha especialidade eu não admitiria V. Ex. à discussão.

Segue-se agora uma amostra do estilo do então presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, que em 1949, usando o enigmático pseudônimo Minimus - do qual, originalmente, não se deu qualquer esclarecimento - , no trecho extraído do livro Síntese de O Novo Testamento:

"(...)Supuséramos sempre como impossíveis de concatenação adequada: a mente prática de Mateus, a descritiva, de Marcos, a artística, de Lucas, e a divina, de João. (...) O Novo Testamento, revelação divina por instrumentos humanos, quais o foram os seus autores, apresenta-nos muitos degraus de revelação e conhecimento, somente acessíveis pela evolução com o tempo ou pela iluminação com o esforço próprio; uma só LUZ — por filtros diversos".

Agora vamos mostrar uma amostra do estilo de escrever de Chico Xavier ele mesmo, sempre se valendo de promover o conformismo e traduzir o conservadorismo da moral religiosa em palavras dóceis e meigas, que são usadas por internautas nas mídias sociais. Algumas amostras:

"A sabedoria superior tolera, a inferior julga; a superior perdoa, a inferior condena. Tem coisas que o coração só fala para quem sabe escutar!"

"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim".

"Que eu não perca a vontade de doar este enorme amor que existe em meu coração, mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetidoa provas e até rejeitado".

"Se o momento é de crise, não te perturbes, segue... Serve e ora, esperando que suceda o melhor. Queixas, gritos e mágoas são golpes em ti mesmo. Silencia e abençoa, a verdade tem voz".

Colhidas essas amostras, vamos analisar alguns trechos da suposta mensagem de Humberto de Campos:

"Não desconheço minha pesada responsabilidade moral, no momento quando o sensacionalismo abre torrente de amargura em torno de minh'alma".

Este trecho se identifica plenamente com o estilo de escrever de Chico Xavier, com a semelhança explícita das frases que o anti-médium mineiro tanto lançou, estando algumas acima para você mesmo, leitor, comparar.

"Recebeu-me a Federação Espírita Brasileira, generosamente, em seus labores evangélicos, publicou-me as páginas singelas de noticiarista desencarnado, concedendo-me o ingresso na Academia da Espiritualidade. E continuei conversando com os desesperados de todos os matizes, voluntariamente, como o hóspede interessado em valer-se da casa acolhedora".

Embora seja uma argumentação combinada entre Chico e Wantuil, observa-se que a redação final do referido parágrafo se remete mais a Wantuil, até por estar puxado a uma retórica pretensamente científica e linguagem tipicamente editorial, como é de praxe de um chefe de uma instituição.

"Eis, porém, que comparecem meus filhos diante da justiça, reclamando uma sentença declaratória. Querem saber, por intermédio do Direito Humano, se eu sou eu mesmo, como se as leis terrestres, respeitabilíssimas embora, pudessem substituir os olhos do coração. Abre-se o mecanismo processual, e o escândalo jornalístico acende a fogueira da opinião pública. Exigem meus filhos a minha patente literária e, para isso, recorrem à petição judicial. Não precisavam, todavia, movimentar o exército dos parágrafos e atormentar o cérebro dos juízes. Que é semelhante reclamação para quem já lhes deu a vida da sua vida? Que é um nome, simples ajuntamento de sílabas, sem maior significação? Ninguém conhece, na Terra, os nomes dos elevados cooperadores de Deus, que sustentam as leis universais; entretanto são elas executadas sem esquecimento de um til".

Neste trecho, em que um pretenso "Humberto de Campos" pateticamente desvaloriza sua necessidade de provar a patente literária exigida pelos herdeiros do escritor maranhense, combina-se o sentimentalismo de Chico Xavier e uma argumentação agressiva e falsamente científica de Wantuil, que também teria escrito a redação final do texto, em que pese algumas palavras tipicamente xavierianas.

A argumentação é patética e hipócrita, uma vez que soa muito estranho que um autor se permita omitir-se de responsabilidade autoral, desafiando a lógica das coisas e dos fatos em nome dos "olhos do coração" e acusando a cobertura do processo movido contra Chico e a FEB de "escândalo jornalístico" que acende a "fogueira da opinião pública". O estranho "Humberto" permite-se proteger em um pretenso anonimato para fazer valer sua "mensagem".

"Na paz do anonimato, realizam-se os mais belos e os mais nobres serviços humanos."

Frase escancaradamente escrita por Chico Xavier, e desta vez somente ele, sendo absolutamente idêntica às frases que os internautas adoram mostrar nas mídias sociais, sobretudo Facebook.

"Quero, porém, salientar, nesta resposta simples, que meus filhos não moveram semelhante ação por perversidade ou má-fé. Conheço-lhes as reservas infinitas de afeto e sei pesar o quilate do ouro da carinhosa admiração que consagram ao pai amigo, distanciado do mundo. Mas que paisagem florida, em meio do mato inculto, estará isenta da serpe venenosa e cruel? É por isto que não observo esse problema triste, como o fariseu orgulhoso, e sim como o publicano humilhado, pedindo a bênção de Deus para a humana incompreensão".

Uma típica frase de duplo sentido. O estranho "Humberto" parece demonstrar afeição a sua família, mas também venenosa desconfiança, quando alude a presença de "serpe venenosa e cruel" numa "paisagem florida em meio do mato inculto". Pois aqui quem destila o seu veneno é o suposto espírito, bem no famoso ato de "morde e assopra", em que primeiro demonstra afeição a seus familiares, desmentindo perversidade e má-fé de sua ação judicial, mas depois suspeitando de intenções maldosas por trás desse processo, para em seguida dizer que não observa esse "problema triste" como "fariseu orgulhoso" e "sim como o publicano humilhado".

Diante desse parágrafo confuso, traiçoeiro e contraditório, observa-se algumas argumentações sentimentais típicas de Chico Xavier, mas os trechos ferinos indicam a contribuição de Wantuil, que parece ter escrito a redação final.

"Diante, pois, do complicado problema em curso, ajoelho-me no altar da fé, rogando a Jesus inspire os dignos juízes de minha causa, para que façam cessar o escândalo, em torno do meu Espírito, considerando que o próprio Salomão funcionasse nessa causa, ao encarar as dificuldades do assunto, teria, talvez, de imitar o gesto de Pilatos, lavando as mãos".

Esse parágrafo tem muito mais a cara de Chico Xavier, prevalecendo o seu estilo de analisar os problemas, usando principalmente desculpas típicas, como "ajoelho-me no altar da fé, rogando a Jesus inspire os dignos juízes de minha causa", bem típica do anti-médium mineiro. O religiosismo extremo, a choradeira das palavras dóceis, o parágrafo é escancaradamente de Chico Xavier.

CONCLUSÃO

O referido texto não foi escrito pelo espírito de Humberto de Campos. Isso é certo e comprovado pelo nosso exame do seu conteúdo, confrontado com os estilos literários demonstrados. O modo de escrever é uma argumentação combinada entre Chico Xavier e Antônio Wantuil de Freitas, com redação final deste último, em que pese os referidos parágrafos que parecem paticamente escritos por Xavier.

O conteúdo, a forma de escrever, a maneira de argumentar, vale muito mais do que a presunção de que um texto foi escrito por outro alguém. Se esse outro alguém, neste suposto texto, destoa de seu próprio estilo, então ele não pode ter escrito este texto. E nem de longe o texto soa como um pastiche de Humberto, mas uma clara combinação de argumentações típicas de Chico e Wantuil.

Usando de pretextos que se alternam entre o coitadismo e a agressividade, Chico e Wantuil tentaram justificar sua omissão pela "caridade" e pelos "olhos do coração", desculpas usadas para tirar todo esforço de verificar a veracidade da autoria de Humberto. Em outras palavras, eles queriam justificar a fraude que cometeram pelas "lições de amor".

Com isso, eles atacaram a imprensa e os familiares de Humberto. Quiseram chamar o jornalismo investigativo de "escandaloso". Queriam soar dóceis em seus argumentos, mas em dado momento mostraram também suas garras ferinas e traiçoeiras. Mesmo Chico Xavier, o chamado "homem-amor" que "todo mundo" adora, tinha seus momentos claramente agressivos.

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