segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Livro histórico afirma: "Espíritas" apoiaram Golpe de 1964


Está no livro 1964: O golpe que derrubou um presidente, dos historiadores Jorge Ferreira (autor da do livro João Goulart - Uma Biografia) e Ângela de Castro Gomes, publicação deste ano da Civilização Brasileira e disponível nas melhores livrarias de todo o país, faz, mesmo sem querer, uma denúncia sobre o Espiritolicismo.

No decorrer do livro, o livro descreve a Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, ou a Marcha da Família, protesto movido por setores das classes média e alta pedindo a derrubada do governo João Goulart.

Nele, os autores descrevem que o protesto não teve apenas católicos - sobretudo as delirantes facções dos "rosários" do padre norte-americano de sobrenome risível, Patrick Peyton - ou evangélicos, mas também o que ela define como "espíritas", que participaram ativamente da marcha golpista.

A Marcha da Família foi uma iniciativa financiada pelo empresariado brasileiro e por multinacionais instaladas no país, sob o patrocínio não-assumido, mas depois revelado por documentos, do Departamento de Estado dos EUA, para convencer a opinião pública a defender a derrubada do governo João Goulart pela intervenção militar.

O protesto começou no centro de São Paulo, em 19 de março de 1964, seis dias após o comício de João Goulart na Central do Brasil, Rio de Janeiro, em que Jango reafirmou sua vocação nacionalista mas a direcionou em favor de forças radicais como as da CGT (Central Geral de Trabalhadores - a "CUT" da época), das Ligas Camponesas (o MST de então) e Leonel Brizola, cunhado do então presidente.

No livro, os autores citam a participação "espírita" na página 378 do livro, no capítulo 23, intitulado "E o golpe virou revolução...", apenas descrevendo o termo como "espírita kardecista", eufemismo usado para denominar o "espiritismo da FEB", que apenas em tese está vinculado a Allan Kardec, como já sabemos, mas na prática é indiferente a ele. Eis o trecho:

"O que marcou a caminhada foram os grupos religiosos e, claro, as mulheres. Embora a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil não apoiasse oficialmente as Marchas, nada impedia que padres e bispos, por sua própria convicção pessoal, participassem do evento. Mas estiveram presentes também fiéis das igrejas protestantes, rabinos, espíritas kardecistas (sic) e umbandistas".

Num outro trecho, também na página 378, aparece da seguinte forma:

"Quando a Marcha chegou ao seu destino (Vale do Anhangabaú, em São Paulo), começaram os discursos. É importante observar quem foram os oradores. Houve líderes religiosos falando em nome dos espíritas kardecistas e da Comissão de Divulgação da Imagem de Iemanjá, além de um rabino, um pastor protestante e um representante da Igreja Romana Ortodoxa".

O livro não dá detalhes sobre quem foi o líder "espírita kardecista" que participou do evento e fez um discurso, limitando-se a estas citações. Sabe-se que a Federação "Espírita" Brasileira, na época, era presidida por Antônio Wantuil de Freitas, há muito tempo na entidade.

Wantuil nunca escondeu sua postura conservadora e seu caráter de concentração de poder, tendo apoiado o Golpe de 1964 com gosto. A reunião do Pacto Áureo, em 1949, é uma prova disso. Mas não há na Internet alguma informação sobre sua participação na Marcha da Família, embora seja provável que ele fosse participar. Mesmo assim, cabe investigar o caso.

O anti-médium Chico Xavier explicitamente era solidário a essa posição. Tanto que em 1971, ano em que a repressão da ditadura se tornou mais intensa, o mineiro não somente defendeu o governo militar como pediu para que orássemos a favor da ditadura, sob o pretexto de que as Forças Armadas estariam organizando o "reino de luz" dos tempos futuros.

Como se vê, o "espiritismo" brasileiro nada tem de progressista. Pelo contrário, se apropriou das ideias de Allan Kardec para distorcê-las o máximo possível e reduzi-las a um neo-catolicismo dotado de ideias medievais que a própria Igreja Católica havia descartado. E que faz sentido diante de sua postura retrógrada, moralista e altamente conservadora.

Montar um "coração do mundo" dessa forma se torna bastante complicado.

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