domingo, 11 de maio de 2014

Allan Kardec sempre recomendou questionar processos mediúnicos


O pedagogo Allan Kardec, seguidor do processo investigativo de René Descartes, para o qual a dúvida é o caminho que se leva à busca da verdade, sempre recomendou o questionamento de processos mediúnicos que não receberam uma comprovação definitiva.

O questionamento não é uma atitude ofensiva, mas uma forma honesta de perguntar se tal processo ocorreu, se o modo que ele ocorreu, se isso o foi de fato, foi adequado, e é uma forma de buscar a veracidade, trazendo segurança para as pessoas.

Infelizmente, as "palavras de amor" viraram uma grande desculpa para que boa parte das supostas mensagens espirituais no Brasil sejam divulgadas sem qualquer verificação do processo. A coisa ficou tão sem controle que basta alguém com um mínimo de prestígio escrever qualquer mensagem simpática e atribuir a autoria de um falecido ilustre para qualquer um acreditar.

Até mesmo Ayrton Senna foi usado em supostas psicografias, incluindo uma composição musical (?!?!) para sua ex-namorada Xuxa, e livros como O Podium da Imortalidade. Pouco importam as contradições e os equívocos, se as mensagens "fraternais" permitem todo tipo de erro e irregularidade. "Palavras de amor" servem para "perdoar" todos os erros existentes, por piores que sejam.

Não é assim que se deve acontecer. É até perigoso um processo mediúnico ocorrer dessa forma tão sem controle ou verificação. Sim, porque as "palavras de amor" não podem perdoar todo tipo de erro, elas podem até ser muito perigosas para a relação entre os espíritos do além e os entes que havia deixado.

O "espiritismo" brasileiro esqueceu Allan Kardec, na essência de suas lições e conselhos, nem sempre agradáveis aos festivos "espíritas" brasileiros. O professor deixou claro, em seus livros, sobretudo O Livro dos Médiuns, que corresponde ao assunto desta postagem, sobre todo tipo de cautela que se deve fazer em relação à mediunidade.

Embora Kardec tenha vivido em tempos de tecnologia mais atrasada em relação a hoje, suas advertências são sempre atuais, porque correspondem ao raciocínio humano e a uma cautela rigorosa que se expressa como um conselho atemporal, porque não é uma questão de valores do tempo, mas de expressão de honestidade e busca pela veracidade que nunca se tornam antiquadas.

O "espiritismo" brasileiro, ou Espiritolicismo, é que tentou tomar por "antiquados" os conselhos de Kardec. Qualquer um hoje finge algum transe, escreve qualquer livro melodramático com mensagens supostamente fraternais e bota o nome de um espírito e inventa trajetórias passadas. O "espiritismo" brasileiro virou a Casa da Mãe Joana. Joana de Angelis!!!!

E por que isso é perigoso? Porque os espíritos do além, que, do contrário que crenças religiosas antigas, merecem ser ouvidos por nós e, dependendo do caso, um contato de um espírito falecido com quem está vivo hoje em dia pode ser saudável e proveitoso, o que poderia ser comprometido com algum desvio de conduta no processo mediúnico.

Isso porque, sem qualquer controle ou verificação da mediunidade, há o sério risco de um espírito farsante, ou mesmo de um falso médium (quando este apenas elabora uma mensagem ou livro de sua própria imaginação), se passar pela figura falecida, o que pode trazer consequências bastante dolorosas.

Só esse processo de falsidade ideológica pode entristecer o espírito do falecido, porque este se vê impossibilitado de se comunicar com seus entes queridos. Um outro alguém se passa pelo falecido, e a mensagem enviada por esse farsante, na medida que é legitimada pelos vivos aqui na Terra, até mesmo pelo status simbolizado pelo seu divulgador, cria sérios problemas para o ente que já se foi.

Imaginemos. Você mora distante de seus pais e você espera mensagem deles sobre como está a vida deles longe de você. Mas um picareta que você não sabe quem é imita a caligrafia de sua mãe e escreve uma carta com mensagens dóceis, numa carta falsificada que chega em suas mãos. Você vai acreditar que essa carta é verdadeira, só porque mostra mensagens amorosas?

Nesta ocasião, se a farsa for descoberta, seus pais ficarão muito tristes com o ocorrido. Eles foram impedidos de mandar uma mensagem antes que o farsante mandasse a sua. E todo o sentimento afetivo é desviado por uma mensagem falsa, por uma fraude que corrompe as emoções, criando um clima que nada tem de verdadeiro.

É a mesma coisa na mensagem mediúnica. Pouco importa se é alguém bastante badalado como Chico Xavier e Divaldo Franco. Eles, que já tiveram sérias acusações de plágios e cujas obras psicografadas entram em graves contradições de conteúdo com o que seus supostos autores fizeram enquanto foram vivos, não podem estar acima de qualquer necessidade de verificação das mensagens espirituais.

Em outras palavras, Chico e Divaldo nem de longe são pessoas confiáveis. E se eles inventam mensagens supostamente atribuídas a espíritos falecidos, por que temos que acreditar neles mais do que de qualquer necessidade de buscar a lógica e a veracidade?

Há o risco de entristecermos se nossos entes que se foram, porque não são eles que dão o recado que atribuímos a eles, mas muito provavelmente de espíritos imitadores, verdadeiros parodiadores, que se aproveitam da boa-fé das pessoas e da credulidade dada aos "médiuns" da Terra para mandarem mensagens de "amor e fraternidade".

Existe até a combinação desses espíritos zombeteiros, da qual podemos imaginar até algumas frases ditas entre eles. "Você começa a mensagem mais ou menos dizendo 'Irmãos, uni-vos nessa esfera de amor e caridade'. O pessoal sai acreditando", diz um. "É só dizer que está bem, que sofreu muito, e carregue nas palavras fraternais que os leitores sairão da sala chorando de agradecimento", diz outro.

No entanto, é uma fraude das mais perigosas que, não obstante, podem provocar o afastamento daquele espírito querido do qual os entes que ele deixou queriam tanto se comunicar. "Ninguém liga para mim. Vai um farsante se passando por mim que escreve qualquer coisa e as pessoas gostam. Se não dá para eu mandar mensagens para meus queridos, não sei o que estou fazendo aqui", dirá ele.

Por isso Allan Kardec recomenda a "incômoda" e "desagradável" necessidade de verificar as mensagens espirituais. Com base em suas lições, pacientemente escritas, com a maior clareza possível, em O Livro dos Médiuns, é necessário desde o conhecimento da vida pregressa dos espíritos manifestantes como averiguar se essas mensagens não apresentam alguma contradição ou equívoco em relação aos autores a que elas são atribuídas.

Isso nada tem de ofensivo. Pouco importa o aparente prestígio do médium. Se a mensagem apresenta uma contradição em relação ao espírito que ela lhe é atribuída, sua validade se anula, pouco importando as "palavras de amor" nelas expressas.

Segundo Kardec, é melhor que se recusem dez verdades do que aceitar uma mentira. O rigor científico deve vir em primeiro lugar, porque a honestidade está acima de "palavras de amor". Só depois de verificar as mensagens espirituais, com cuidadoso senso investigativo, é que se dirá se tais mensagens são verdadeiras ou não. Os espíritos do outro lado agradecem.

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