quinta-feira, 1 de maio de 2014

A farsa das mensagens do suposto Allan Kardec ao Brasil


Uma das grandes farsas que foram divulgadas pela Federação "Espírita" Brasileira foi a exploração do espírito de Allan Kardec em supostas mensagens a ele atribuídas transmitidas por supostos médiuns no Brasil e em Portugal.

Mensagens divulgadas por supostos médiuns como Zilda Gama, Frederico Silva Júnior e Hernani T. Sant'Anna causam muita estranheza, apesar das mensagens "amorosas" que a tudo permitem, sobretudo a complacência com erros estilísticos, desinformações históricas e falsidades ideológicas que povoam a prática do "espiritismo" brasileiro.

Em boa parte dessas mensagens, a forma como o suposto Kardec se apresenta é completamente estranha à do pedagogo e estudioso dos fenômenos espirituais que atuou na França entre 1857 e 1869, mais parecendo a de um padre católico ou de um místico inseguro e temeroso.

A mensagem de Frederico Silva Júnior é de uma fraude estarrecedora, uma vez que não somente o suposto Kardec fazia uma narrativa mais próxima de um padre católico do que a de um cientista criterioso, dando uma ênfase nos apelos para o "amor e fraternidade" que destoam dos ideais de altruísmo que o professor lionês divulgou em seus textos.

Nesta mensagem, o "espírito Allan Kardec" ainda por cima deixa a máscara cair, quando evoca a figura do "anjo" Ismael, a sinistra figura evocada também no duvidoso livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, figura traiçoeira que a FEB atribui como "mentor e protetor espiritual do Brasil":

"Ismael, o vosso Guia, tomando a responsabilidade de vos conduzir ao grande templo do amor e da fraternidade humana, levantou a sua bandeira, tendo inscrito nela – DEUS, CRISTO E CARIDADE. Forte pela sua dedicação, animado pela misericórdia de Deus, que nunca falta aos seus trabalhadores, sua voz santa e evangélica ecoou em todos os corações procurando atraí-los para um único agrupamento onde, unidos, teriam a força dos leões e a mansidão das pombas; onde unidos, pudessem afrontar todo o peso das iniquidade humanas; onde entrelaçados num único segmento – o do amor - , pudessem adorar o Pai em espírito e verdade; onde se levantasse a grande muralha da fé, contra a qual viessem quebrar-se todas as armas dos inimigos da luz; onde, finalmente, se pudesse formar um grande dique à onda tempestuosa das paixões, dos crimes e dos vícios que avassalam a Humanidade inteira!"

Noutro trecho, o suposto Kardec evoca a palavra "Evangelho" no contexto católico do termo, além de desmascarar o teor roustanguista, quando definiu a "doutrina espírita" como "revelação da revelação", justamente subtítulo do livro Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing, advogado francês que passou a detestar Kardec quando este criticou os métodos adotados por esse livro:

"Entretanto, dar-se-ia o mesmo se estivésseis unidos? Porventura acreditais na eficiência de um grande exército dirigido por diversos generais, cada qual com seu sistema, com o seu método de operar e com pontos de mira divergentes? Jamais! Nessas condições sé encontrareis a derrota porquanto – vede bem, o que não podeis fazer com o Evangelho – unir-vos pelo amor do bem – fazem os vossos inimigos, unindo-vos pelo amor do mal!

Eles não obedecem a diversas orientações, nem colimam objetivos diversos; tudo converge para a doutrina espírita – revelação da revelação – que não lhes convém e que precisam destruir, para o que empregam toda a sua inteligência, todo do seu amor do mal, submetendo-se a uma única direção!".

Evocações ao "anjo" Ismael e o tom de pregação católica do texto desmascaram completamente a mensagem, já que Kardec nunca divulgaria uma mensagem desse jeito, mais parecendo sermão de missa e citando a palavra Evangelho como qualquer católico praticante, quando o verdadeiro Kardec chegou a usar a expressão "Imitação" para seu Evangelho Segundo o Espiritismo.

O propósito que Kardec usou para o termo "imitação", depois descartado no título definitivo do livro, seria o de "representação", no sentido de interpretação, ou seja, um livro que, selecionando trechos do Novo Testamento, analisaria suas passagens e "representaria", ou melhor, interpretaria conforme os conhecimentos que ele tinha das descobertas científicas e filosóficas obtidas.

Daí o tom duvidoso do uso do termo "evangelho" pelo suposto Kardec, da mesma forma que o teor "arrependido" de outras mensagens, como as divulgadas por Zilda Gama e Hernani Sant'Anna. Nelas aparece ainda um Kardec ainda mais falso, mais inseguro e envergonhado de sua própria obra.

Tais mensagens contradizem seriamente o espírito seguro e racional do professor lionês, na medida em que difundem um "Kardec" mais preocupado com a "reformulação" de suas ideias, como se Allan Kardec tivesse feito uma besteira ou exagerado no tom científico de suas obras.

Segue então a citação de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen numa análise espiritólica da biografia de Kardec, citando, a respeito das "preocupações" do Espiritismo, "que tudo fosse revisto e consolidado; aplainadas, com todo o cuidado, arestas e asperezas; corrigidas algumas omissões; podados certos excessos de interveniência humana; esclarecidas determinadas dúvidas de interpretação".

Zilda Gama cometeu o agravante de divulgar um estranho Kardec que defendia o "corpo fluídico" de Jesus, um dos principais pontos do livro de Roustaing, já que esta tese, por apresentar um Jesus que não viveu nem sofreu as impressões físicas humanas, vai contra qualquer tipo de lógica que Allan Kardec seguramente defenderia com convicção e certeza.

Felizmente, tais mensagens não repercutiram muito. Isso porque os delírios de Roustaing, como o "corpo fluídico" de Jesus e a reencarnação de humanos na forma de animais, vermes, fungos e protozoários seriam rigorosamente refutados por Allan Kardec, por razões bastante óbvias.

A fraude do pseudo-Kardec se mostrou evidente. Nem mesmo as mensagens "amorosas" conseguem justificar a validade de tais palavras. As contradições e equívocos que o confronto dessas mensagens com os textos originais do codificador do Espiritismo autêntico são muito gritantes e causaram mal-estar até entre muitos espiritólicos, quanto mais para os espíritas autênticos.

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