domingo, 9 de março de 2014
"Eu quero ser Allan Kardec"
É um festival de incoerência e de muita hipocrisia o Espiritolicismo e seus supostos mestres. E imaginar que a religião tenta bajular o conhecimento científico, fica brincando de ciência quando sua compreensão sobre o conhecimento e o método científico é bastante precária.
Veja o caso das teses sobre qual figurão brasileiro teria sido Allan Kardec. Consta-se que o Dr. Demeure teria dito que Kardec iria reencarnar um dia na Terra para cumprir sua missão, mas há dúvidas se Kardec reencarnaria na Terra ou num mundo superior.
Se depender do que disse o espírita autêntico José Manoel Barbosa, já falecido, Kardec não teria reencarnado na Terra, porque, pela lei de atração, ele se encontrava num elevado nível de evolução, incompatível com o nível de atraso intransigente em que se encontra a sociedade, na medida em que as lições kardecianas foram duramente deturpadas.
As mentes atrasadas não o compreenderiam direito, por mais que bajulassem o novo espírito (lembrando que Kardec ocultaria sua identidade, pela lei de reencarnação, para evitar complicações diversas, e isso ocorre em todo e qualquer espírito).
No entanto, há quem insista na bolsa de apostas reencarnacionista - poderemos chamá-la de BOVESPÍRITA? - e duas torcidas disputam a hipótese de quem teria sido Allan Kardec ao reencarnar na Terra. E, claro, são dois brasileiros, por coincidência nascidos em 1910, e que representam a obsessão ufanista de puxar a brasa kardeciana para a sardinha dos espiritólicos.
Já descrevemos o caso de Oswaldo Polidoro, o lunático que imaginava ter sido tudo que ele achava bom de personalidades humanas, de cientistas a padres. Delirante, ele afirmava ter sido Allan Kardec e deturpou ao seu bel prazer a doutrina kardeciana apostando num místico "divinismo" que o professor lionês, com toda a segurança, nunca teria o menor interesse em pregar.
Agora tem a torcida mais animada, a de que Chico Xavier é que merece o título. E existe um livro que "cientificamente" tenta "comprovar" que o católico de Pedro Leopoldo teria sido o professor lionês, mesmo com notáveis diferenças de personalidade.
Trata-se do livro A Volta de Allan Kardec, do advogado goiano Weimar Muniz de Oliveira, que se pretende ser um "trabalho de pesquisa", supostamente "científico" e "imparcial", incluindo 24 entrevistas, dez delas com pessoas ilustres do ideal "cristão", e outras dez quase anônimas, além de uma aparente pesquisa bibliográfica para "reforçar" a tese do autor.
As argumentações do livro (editado pela FEEGO, Federação "Espírita" do Estado de Goiás), segundo especialistas, sejam muito cansativas e imprecisas, e mesmo a pretensão de Weimar de dar "como concluída", em caráter "definitivo", a tese de que Xavier foi Kardec, é altamente discutível.
Admitamos que o próprio Chico Xavier negou, certa vez, com certa veemência, que teria sido Allan Kardec. As diferenças de personalidade são notórias, mesmo quando se adota a idolatria tipicamente espiritólica ao mineiro. Nem mesmo a maioria dos espiritólicos aceita a tese de Weimar.
No entanto, a torcida também não é pequena, como havia notado uma pesquisa, no Orkut, em que certos deslumbrados queriam que Xavier fosse Kardec, conforme uma enquete publicada numa comunidade "espírita". A tese, duvidosa e delirante, no entanto é respaldada por quem quer ver o Brasil destacado no "mapa mundi" do Espiritismo (seja este autêntico ou não).
Portanto, não valeu. Allan Kardec, sabemos, não teria reencarnado no Brasil. Se tivesse, o Brasil teria dado um salto de humanidade tremendo, com a presença do brilhante professor, homem de ciências, que ampliaria e modernizaria suas ideias, adaptando-as às novas tecnologias e novos contextos sociais.
Em vez disso, a doutrina kardeciana foi deturpada, distorcida até a medula, empastelada até o perispírito, contaminada com conceitos do catolicismo medieval e de esoterismos e parapsicologias baratas que nada tinham a ver com as seguras pesquisas do professor francês.
Portanto, o Brasil não quis receber Kardec, que não escreveu sequer as mensagens divulgadas pela FEB como de sua autoria. O professor francês não foi bem compreendido pelos brasileiros. Infelizmente, ele sentiu que pouco tinha que fazer aqui, com tantas pessoas ocupadas com os astros do Espiritolicismo. Os maus alunos acabaram "expulsando" o bom professor.
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