sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O verdadeiro sábio não é aquele que fala macio e difícil

FIGURAS ANTAGÔNICAS: O ANIMADOR DE PLATEIAS E MÉDIUM-ESTRELA, DIVALDO FRANCO, E JOSÉ MANOEL BARBOSA, ESPÍRITA AUTÊNTICO DE NOVA FRIBURGO.

Quem é o verdadeiro sábio? Aquele que adota um discurso difícil, com voz macia, exibindo pretensa erudição e manipulando as mentes das pessoas para que elas se subordinem à sua pretensa superioridade intelectual, ou aquele que, dotado de muitos conhecimentos, explica para as pessoas o que sabe da forma mais simplificada possível?

Sabe-se que, no aparente espiritismo brasileiro, há pessoas que ao longo dos anos se comprometeram a combater as deturpações violentas que o Espiritismo sofreu nas mãos da Federação "Espírita" Brasileira e mesmo de suas muitas dissidências, uma vez que a Doutrina Espírita, de tão deturpada, gerava discordâncias violentas que mais desuniam que uniam as pessoas.

O hoje esquecido italiano naturalizado brasileiro Angeli Torteroli, nos primórdios das atividades da FEB, foi um que combateu energicamente as distorções catolicizantes feitas pela federação, se contrapondo aos delírios roustanguistas do doutor Adolfo Bezerra de Menezes.

Mesmo assim, já muito antes da fundação da FEB, lá na França, o espírito de Erasto de Paneas, em mensagem registrada por um médium e enviada a Allan Kardec, já alertava sobre as deturpações que a Doutrina Espírita sofreria ao longo dos tempos. "Os piores inimigos não estão fora do Espiritismo, estão dentro dele", resumia-se o recado de Erasto, seriamente preocupado com tais rumos.

No século XX, no Brasil, figuras como Carlos Imbassahy (pai), Deolindo Amorim (pai de Paulo Henrique Amorim) e José Herculano Pires tentaram uma oposição sistemática aos abusos e distorções da FEB, na tentativa de formar um grupo unido pela recuperação das lições originais de Allan Kardec e dos espíritos que divulgaram suas mensagens nas obras kardecianas originais.

Recentemente, tivemos a breve trajetória de José Manoel Barbosa, o "Zé Manel", que no seu programa Terceira Revelação, transmitida por um canal local de Nova Friburgo (RJ) e divulgada no YouTube, buscava esclarecer as pessoas da verdadeira natureza da Doutrina Espírita.

Crítico enérgico das distorções da FEB, ele causava polêmica com seus comentários aparentemente agressivos contra os "espíritas" brasileiros, chamando de "farsantes" os espíritos de Emmanuel, Joana de Angelis, Bezerra de Menezes e André Luiz, entre outros.

As críticas não poupavam sequer o médium Chico Xavier, que mesmo os críticos do Espiritolicismo ainda mantém muita cautela - ou não seria medo? - ao fazer qualquer crítica. "Zé Manel", quanto a isso, preferia a crítica enérgica: "Chico Xavier nasceu, viveu e morreu sem entender de Espiritismo", enfatizava Barbosa em várias de suas palestras.

Destoando da visão e do método oficial das palestras "espíritas", José Manoel Barbosa não tinha a voz melíflua de muitos palestrantes, e era visto como "fundamentalista", "radical" e "intolerante" por muitos espiritólicos. Ás vezes parecia "grosseiro" e "duro" nos seus comentários, mas no fundo era apenas o natural questionamento indignado diante dos absurdos do Espiritolicismo.

Em contrapartida, católicos, evangélicos e, sobretudo, ateus, eram mais receptivos às mensagens de Barbosa, mesmo não compartilhando de sua opção doutrinária, mas aproveitando suas lições para avaliarem até mesmo suas próprias crenças.

Barbosa fazia verdadeiras citações de cientistas, não da forma leviana dos espiritólicos, mas para complementar muitas de suas análises. E procurava explicar a natureza da vida espiritual sem sofrer a tentação de pregar falsos otimismos nem de lançar pregações moralistas sob o pretexto de serem "lições dos espíritos superiores".

Pelo contrário. Mais realista, José Manoel Barbosa se opõe à festejada tese de Divaldo Franco, o sorridente animador de plateias, que adota uma fala macia e um discurso verborrágico, de que a Terra já estaria passando por um processo de "regeneração" (como os espiritólicos entendem como evolução para uma sociedade mais fraternal e justa).

Em vez disso, Barbosa, vendo os fatos concretos que acontecem na humanidade, com seus atos de terror, seus vandalismos, seus crimes, seus acidentes e tantas omissões e abusos das pessoas, afirma que a Terra ainda é um planeta inferiorizado, com uma humanidade ainda presa a um estágio bastante atrasado de evolução.

Embora pareça uma visão bem mais pessimista, que não conforte tanto as pessoas quanto a festejada "profecia" de Divaldo Franco - sempre a "remarcar" as datas fixas (?!) para estágios de evolução na Terra - e suas "criança-índigo" (ainda vamos falar dessa farsa), a tese de "Zé Manel" é bem mais pé-no-chão e também nos previne para não nos desapontarmos depois de aparente otimismo.

Os noticiários estão aí para provar. Brigas violentas de torcedores, assassinatos por causas fúteis, acidentes causados pela omissão das autoridades - como a queda de uma passarela numa movimentada avenida do Rio de Janeiro - , ônibus queimados, arrastões, ações diversas do crime organizado. Não há como acreditar que a Terra está se evoluindo com tantos acontecimentos infelizes desses.

José Manoel Barbosa faleceu no dia 05 de março de 2013, por complicações causadas pelo diabetes. Divaldo Franco ainda segue transmitindo suas fantasias para meio mundo, em palestras aplaudidas menos pelo valor de suas mensagens e mais pela eficácia com que o médium-estrela baiano seduz as massas.

Mesmo assim, Barbosa deixou sua semente. Ele procurou esclarecer as pessoas da melhor forma possível, dando continuidade às vozes que lutam contra as deturpações mistificadoras e mitificadoras do "espiritismo" brasileiro. A luta de Barbosa se encerrou, mas deixou as verdadeiras lições de alguém que não precisava falar macio e difícil para mostrar sabedoria.

Até porque a verdadeira sabedoria está nas ideias e nos conhecimentos transmitidos, e não pelo status daquele que os transmite. Barbosa não tinha a vaidade de Divaldo e nem queria promover culto à personalidade, mas se destacava pelo nível honesto, realista e relevante dos conhecimentos que transmitiu.

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