sábado, 28 de dezembro de 2013

Espiritolicismo faz fiado para infratores graves

 
Estranha moral do "espiritismo" brasileiro. A "doutrina de amor e caridade", tida como a "mais evoluída " do mundo, prefere que pessoas boas abreviem suas existências enfrentando tragédias prematuras enquanto pessoas de baixo caráter e erros extremos "mereçam" viver longamente pouco importando se isso lhes terá serventia ou se eles mesmo terão saúde para tanto.

Não bastasse a glamourização das tragédias prematuras, das cobranças moralistas de "dívidas passadas", o Espiritolicismo encontra no "fiado" a fórmula para pessoas de baixo caráter só poderem "expiar" seus erros na próxima encarnação.

Daí um certo consentimento com a impunidade dos maus, com as crueldades humanas, com os crimes cometidos. Já houve até livro "mediúnico" sobre um homem que matou a esposa e, "coitadinho", tinha até assistência espiritual para fazê-lo ficar bonzinho rapidinho, de preferência diminuindo seu sofrimento e evitando futuros desastres.

Chega a ser contraditório. A energia com que certos pregadores "espíritas" fazem acusando vítimas de hoje de terem sido "crápulas de outras vidas" se opõe à tolerância quase benevolente quando homicidas saem de suas cadeias para levar uma vida de privilégios e um confortável ostracismo.

Só que esse teatrinho de sentimentos, na verdade, envolve um processo só. O da "doutrina" permitir que pessoas cometam seus piores erros e atrocidades com um mínimo de sofrimento e de desilusões ou infortúnios, sendo uma espécie de "fiado" em que tudo se faz hoje e o pagamento só é feito "amanhã", no caso, a "próxima vida".

O sujeito comete todo tipo de erro, rouba demais, mata, prejudica fulano, sicrano e beltrano, provoca dores nas famílias, espalha lágrimas e rancores por toda parte, e nada lhe acontece. Se sofre alguma coisa desagradável, ela é a mínima possível.

Tem homicida que cometeu o crime com certa crueldade, mas como é de alguma classe mais abastada, sai da cadeia como se fosse um ladrãozinho de tomates de um armazém. A mítica espiritólica lhe assegura a longa impunidade de tal forma, a pretexto de um "longo aprendizado", que nem os descuidos à saúde podem liquidá-lo.

Ele pode encher a cara de álcool durante muitos anos, em doses pesadíssimas, que só sofrerá efeitos danosos, segundo a lógica espiritólica, a partir dos 85 anos. Pode dirigir de olhos fechados pelos piores trechos de uma "rodovia da morte" que, se sofrer um acidente, tenderá "oficialmente" a só ferir o dedo mindinho de um dos pés. Uma unhazinha encravada, talvez.

O "crápula", que precisa "aprender muito" algo que suas paixões materiais não o fazem inclinado a aprender, viverá vida sossegada e pode até mesmo processar os parentes de suas vítimas se eles reclamarem de sua impunidade e fizerem alguma acusação grave contra ele.

O que o "espiritismo" não destaca é que, se indivíduos assim têm muita sorte na vida, não é porque eles "têm mais chance de aprender", até porque eles, tomados de seus orgulhos, pouco se evoluem com a longevidade, mas é porque a sociedade está ainda no estágio de tolerar ou aceitar pessoas assim, dentro de condições morais e legais favoráveis a tais situações.

Em contrapartida, o "espiritismo" prefere acreditar que pessoas que cometem erros sérios só venham a conhecer suas consequências quando já se arrependeram de tais delitos ou faltas. Isso é muito, muito ruim, e tal visão nada contribui para a evolução moral das pessoas, mas para aumentar ainda mais os sofrimentos e as angústias das pessoas.

Imagine. Uma pessoa que comete erros graves e passa a vida toda tendo o mínimo de sorte possível para evitar consequências igualmente graves. Essa pessoa causa indignação pelos estragos que fez a outras pessoas que, por sua vez, sofrem até aquilo que nem mereciam sofrer, ao menos da forma ou intensidade que isso ocorre.

Já o "crápula", sortudo na vida presente, só passa a ser um desafortunado nas próximas vidas quando conhece o arrependimento, quando passa a adotar um bom caráter. Se na hora oportuna, o sofrimento que deveria ocorrer é evitado o máximo possível, depois ele aparece numa dose tão exagerada que se torna difícil superar tantas dores.

Essa visão, que expressa um moralismo doutrinário, só prejudica as pessoas que sofrem. Nada tem de caridosa e leva a ideia do perdão aos inimigos e desafetos de forma caricata, forçada e oportunista. E que faz com que certas pessoas que deixem de odiar indivíduos de baixo caráter passem a odiar pessoas que poderiam ser amáveis.

Dessa forma, a moral distorcida espiritólica acaba fazendo, mesmo sem querer, que deixemos de odiar nossos inimigos para "desejar" algum mal para nossos amigos e entes queridos, por causa das tais "dívidas passadas"...

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