BJÖRN BORG, EX-TENISTA SUECO - Seu rosto é, segundo católicos e espiritólicos, a aparência que teria tido Jesus.
O Espiritolicismo não representou qualquer tipo de ruptura real com a Igreja Católica, mesmo tendo a crença da reencarnação e da sobrevivência do espírito como relativos diferenciais. E isso se deve sobretudo à imagem que o "espiritismo" brasileiro faz de Jesus de Nazaré.
Embora num contexto bem diferente do que foi feito pelo Catolicismo, o Espiritolicismo não se compromete a resgatar o Jesus histórico, apesar de tantas pretensões e promessas dos "espíritas" brasileiros neste sentido. De coração mole, os "espíritas" acabam num e noutro momento preferindo o Jesus religioso, o Jesus Cristo que "importaram" das crenças católicas.
Jesus é uma figura bastante controversa nos dias de hoje. Seu ano de nascimento é incerto, apesar do marco zero do catolicismo medieval atribuir o ano um da nossa era como o de seu nascimento. Jesus, além disso, não teria nascido em janeiro, mas na primeira quinzena de abril, provavelmente entre sete e oito anos "antes de Cristo".
Embora haja uma "flexibilidade" na interpretação da vida de Jesus, os espiritólicos parecem mais confusos do que esclarecidos do significado real de sua pessoa. Tentam sair do dogmatismo extremo do antigo catolicismo, tentando "analisar", sob a luz da "ciência (sic) espírita", até mesmo a pouco conhecida adolescência do ativista judeu.
Sabe-se que Jesus era dotado de uma inteligência muito acima da média dos cidadãos do Oriente Médio de seu tempo. Mas a forma como Jesus teria usado essa inteligência - notabilizada sobretudo na famosa conversa que ele, ainda pré-adolescente, teve com alguns intelectuais da época - é bastante controversa.
O Espiritolicismo até dá a aparente liberdade de se admitir, por exemplo, que Jesus não teve a intenção de criar uma religião específica. No entanto, o "estudo" sobre sua figura apela mais para novos mitos, novas mistificações, do que para a análise de sua figura histórica e sua missão humanista.
Lançando mão de interpretações psicográficas duvidosas, ou de "palpites" de "especialistas espíritas", o Espiritolicismo apenas reforça a imagem de Jesus como um "assistencialista moral", entre um esotérico e um pregador religioso, mesmo quando se admite algum caráter intelectualizado de Jesus ou admitir alguns aspectos pessoais que eram tabus.
Pelo menos o Espiritolicismo admite que Jesus ria, dava risadas, contava piadas e dançava muito nas festas realizadas perto de onde ele se instalava. Sabe-se que ele era um andarilho, e se hospedava em diversas casas, e daí ele conversava e esclarecia as pessoas.
Mas essa brecha foi necessária para o Espiritolicismo para justificar alguma diferença em relação à Igreja Católica, apenas um detalhe menor para compensar o muito do moralismo católico medieval que foi absorvido pelo "espiritismo" brasileiro. Tiveram que criar um Jesus mais humano e menos sisudo, porque manter a imagem medieval de Jesus seria forçar a barra demais.
No entanto, isso para por aí. Fora as menções ligeiras de estudos arqueológicos ou descobertas de historiadores sobre quem teria sido mesmo Jesus, os palestrantes e "especialistas" não raro são tentados a "analisar" Jesus de forma mística, aceitando até mesmo as diversas pinturas que mostram de forma desigual a aparência do jovem andarilho da Galileia.
Chega-se ao ponto do "mestre" Divaldo Franco, um dos totens sagrados do Espiritolicismo, falar em "olhos azuis de Jesus", numa clara afronta à natureza étnica do ativista judeu, que, nascido no Oriente Médio, teve a típica aparência de um árabe, com seus olhos castanhos e sua pele bastante bronzeada e rústica.
Existe até mesmo uma canção "espírita" bem açucarada, cantada em vários centros, que se preocupa em rimar "olhos azuis" com "Jesus", com essa aparência europeizada difundida pelo catolicismo medieval. Difícil não pensar no ex-tenista sueco Björn Borg, que parece simbolizar o paradigma da "imagem ideal" de Jesus pelos católicos ferrenhos e seus simpatizantes.
Também não há uma análise sociológica, a análise histórica é superficial, a geográfica é apenas correta, com a apresentação de mapas e citação de alguns fatos. Mas, a julgar que o "sábio" Emmanuel descreve erros e omissões históricas grotescas no livro Há 2000 Anos, isso também não ajuda muito.
Assim, a imagem de Jesus é apenas suavizada por algumas brechas. Jesus não é mais o "Deus encarnado", nem o moralista sisudo e um tanto solene. Pode-se até admitir que ele foi namorado de Maria de Magdala, sua discípula.
Mas os "olhos azuis" e os erros históricos do padre jesuíta - que provou não ter vivido a época de Jesus - só prejudicam a verdadeira compreensão do ativista da Galileia. Portanto, quem quiser compreender de forma mais objetiva e realista a pessoa de Jesus, recorra a historiadores, arqueólogos e sociólogos sérios, que poderão informar melhor sobre as coisas.
O Jesus espiritólico ainda está preso a uma "missão" moralista-esotérica, tomado ainda de enxertos copiados de crenças orientais (hindus e chinesas) distorcidas, que fazem de Jesus não o verdadeiro ativista social que havia sido, mas um místico que pouco acrescenta à imagem um tanto fabulosa que ele teve do Catolicismo.
Assim, o Jesus histórico pode esclarecer muitas coisas que só reafirmarão a importância desse ser humano que buscou ensinar conhecimentos morais e de outras naturezas para a humanidade.
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