domingo, 8 de dezembro de 2013

Chico Xavier cometeu crueldade com as vítimas do circo de Niterói


Vimos o caso do livro Voo de Esperança, em que o médico paulista Woyne Figner Sacchetin usou o nome de Alberto Santos Dumont para ofender as vítimas do acidente da TAM, acusados de terem sido "romanos sanguinários" numa linguagem bastante duvidosa para ser do saudoso pioneiro da aviação.

A aberração ocorreu de tal forma que houve um processo judicial, movido por herdeiros de Santos Dumont, em que o juiz que acatou a ação entendeu que o livro não só usava de forma leviana o nome do engenheiro e aviador mineiro como apresentou passagens bastante ofensivas aos 199 mortos da tragédia.

Não eram ofensas individuais, mas em conjunto, em que os mortos, como um grupo de pessoas afetadas por uma mesma ocorrência, eram coletivamente acusados de terem sido membros do Império Romano instalados na atual França que sentiam prazer em ver pessoas queimadas em praça pública.

Pois o fato, gravíssimo, teve um antecedente e, é bom avisar aos amantes da espiritualidade mais piegas e tendenciosa, que é a "doutrina" do Espiritolicismo, o responsável desse embuste é ninguém menos que o médium Chico Xavier, figura "inatacável", sinônimo da "bondade absoluta", o "homem chamado amor".

Chico fez exatamente o mesmo que Woyne, só que passou incólume por conta da visibilidade e da imagem de "bonzinho" que cultivou sob o suporte publicitário da FEB. O que se torna muito mais grave, porque Chico Xavier quer passar uma imagem de "espírito puro" através de uma crueldade, de uma ação fraudulenta, que relataremos a seguir.

Pois o livro Cartas e Crônicas (1966), em que Chico Xavier, um tanto visado pelo uso do nome de Humberto de Campos, mudou o nome do "espírito" para Irmão X (uma paródia do pseudônimo "Conselheiro XX" que Humberto havia lançado em vida), fez similar acusação contra as centenas de vítimas (número até hoje misterioso) da tragédia do Gran Circo Norte-Americano.

A tragédia ocorreu em 17 de dezembro de 1961, quando um ex-funcionário do circo, para se vingar de uma desavença com os patrões que o demitiram, chamou alguns comparsas e espalharam fogo no circo, causando tumultos e uma enorme tragédia, cujo número oficial variava de 323 a 500, mas teria sido maior pelas graves queimaduras e outros males causados a outras vítimas.


Numa narrativa habilidosa, o livro "psicografado" de 1966 acusa as vítimas de terem sido antigos romanos que massacraram cristãos e os condenavam sumariamente de diversas formas. Para piorar, a narrativa, que atribuiu a ocorrência para o ano 177 de nossa era, ainda usa a cidade francesa de Lion, berço do mestre Allan Kardec, para tamanha leviandade chiquista.

A narrativa tem como personagens o imperador Marco Aurélio, o guerreiro Lúcio Galo, o general Avídio Cássio, o patrício Álcio Plancus e culmina num plano de incendiar uma arena, com vários prisioneiros, inclusive idosos, doentes, escravos, mulheres e crianças, depois de verificarem que os leões que haviam sido trazidos da África eram mansos.

No decorrer do texto, a multidão incentivava as autoridades romanas a prepararem o incêndio, e vários haviam, segundo a narrativa, colaborado nos preparativos, indo até mesmo às residências buscar suspeitos para serem queimados na tragédia. Houve quem, segundo a narrativa, trouxesse fileiras de crianças para o trágico espetáculo.

Pois esse conto de horror épico descrito pelo suposto Humberto de Campos, agora rebatizado de "Irmão X", culminava com os dois parágrafos de conteúdo terrivelmente moralista, em que vem a acusação leviana de que as vítimas da tragédia do Gran Circo Norte-Americano são acusadas de terem sido políticos e militares sanguinários dos tempos do Império Romano, com estas palavras:

"Durante a noite inteira, mais de mil pessoas, ávidas de crueldade, vasculharam residências humildes e, no dia subsequente, ao Sol vivo da tarde, largas filas de mulheres e criancinhas, em gritos e lágrimas, no fim de soberbo espetáculo, encontraram a morte, queimadas nas chamas alteadas ao sopro do vento, ou despedaçadas pelos cavalos em correria.

Quase dezoito séculos passaram sobre o tenebroso acontecimento... Entretanto, a justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis, que, em diversas posições de idade física, se reuniram de novo para dolorosa expiação, a 17 de dezembro de 1961, na cidade brasileira de Niterói, em comovedora tragédia num circo".


A mensagem, portanto, destoa completamente da "bondade infinita" de Chico Xavier e que, num sentimento claramente revanchista, acusa os pobres populares de terem sido sanguinários, vingativos etc, assim sem provas reais ou coisa parecida, numa clara demonstração de acusação leviana e ofensiva.

É um mistério sabemos quem fomos em outras encarnações. Mas talvez isso não tenha muito importância no nosso processo evolutivo. Mas a literatura espiritólica sempre explora a boa-fé das pessoas e promove um moralismo barato às custas da exploração leviana da ideia de reencarnação, acusando vítimas de erros que são apenas presumidos.

Portanto, conclui-se que Chico Xavier cometeu a mesma fraude do dr. Woyne Figner, com o mesmo grau moralista e ofensivo que acusava levianamente as pessoas que foram assistir a um espetáculo alegre e divertido de terem queimado cristãos em outros tempos.

Mas Chico foi poupado, até porque havia "ganho" o processo movido pelos herdeiros de Humberto de Campos, que queriam os direitos autorais do embuste chamado Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, e construiu sua imagem "irretocável" através da habilidade publicitária da roustanguista Federação "Espírita" Brasileira.

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