sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018
Neopentecostais já foram aliados das forças progressistas; os "espíritas" nunca foram
Dá para entender como as forças de esquerda estão acumulando derrotas na vida política nacional. As esquerdas eventualmente atuam com uma postura de complacência, motivada por apelos emocionais que julga serem "positivos" e apoios tendenciosos movidos pela conveniência que os esquerdistas pensam ser "apoio sincero e incondicional".
Por isso, quando surgem traidores e pessoas "desembarcam" do apoio às forças progressistas, estas, às vezes, custam a entender. Em certos casos, entendem, quando o discurso do interlocutor se torna mais explícito, mas quando o discurso é mais sutil a incompreensão é maior.
Comparemos, no âmbito da religião, a Igreja Universal do Reino de Deus e o "movimento espírita". A Universal já foi aliada, embora de forma condicional, dos esquerdistas. O "movimento espírita" nunca foi e seu histórico foi sempre estar do lado das forças conservadoras, só recorrendo aos esquerdistas de forma meramente diplomática, com uma cordialidade fria e exclusivamente formal.
Com a crise que ocorreu durante o mandato da presidenta Dilma Rousseff, a IURD foi uma das primeiras instituições a romper com o esquerdismo. Seus membros demonstraram, ainda antes dessa ruptura, que não gostavam das transformações sociais progressistas, como a ideologia de gênero e a prática de debates nas universidades e escolas públicas.
Resultado: Assim que houve a ruptura dos neopentecostais a partir da Universal - embora Edir Macedo, como dono da Rede Record TV, continue como patrão de alguns blogueiros progressistas que atuam na emissora, como Paulo Henrique Amorim (filho do espírita autêntico Deolindo Amorim) - , as esquerdas imediatamente passaram a desvendar os aspectos sombrios dessas seitas, investigando e questionando vários fatos e atitudes de seus membros.
Foi uma lição que os esquerdistas não aproveitaram em relação ao "espiritismo" brasileiro, que se sabe não ser o Espiritismo autêntico de Allan Kardec pela deturpação severa que sofreu, apesar de toda a bajulação que os deturpadores fazem ao professor lionês, só para manter as aparências.
Para piorar, os esquerdistas se comportaram como aquele rapaz desengonçado da escola que deseja aquela "musa" da turma que o despreza, mas que ele jura que ela está a fim dele e está apaixonada. Os esquerdistas acham que os "espíritas" estavam apaixonados por eles. Grande engano.
DIPLOMACIA X CUMPLICIDADE
As esquerdas não perceberam a "pegadinha" de dois fatos. Um é o atendimento "mediúnico" do latifundiário e curandeiro goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, ao ex-presidente Lula, uma relação de mera formalidade cordial que erroneamente foi definida como "relação de amizade".
O que mais chama a atenção é que a imagem de "amigo de Lula" atribuída ao "médium" goiano foi "plantada" pela mídia reacionária. João de Deus, aliás, é um latifundiário cujas propriedades atingem dimensões aberrantes para um Estado de Goiás que havia perdido metade de sua área para o Tocantins.
Mais tarde, João de Deus deixou a máscara cair, manifestando sua profunda admiração pelo juiz paranaense Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, a ponto de desejar vê-lo presidente da República. Detalhe: Moro é considerado um dos piores algozes do ex-presidente Lula e se empenha para banir o petista da campanha presidencial de 2018.
Se não há a tão alegada cumplicidade no caso Lula, a cumplicidade se deu logo quando, no ano passado, a edição paulista do encontro Você e a Paz, comandado pelo "médium" Divaldo Franco, decidiu homenagear (sim, homenagear) o prefeito de São Paulo, João Dória Jr..
Mesmo quando se desconsidera o "maniqueísmo ideológico", o chamado "Fla X Flu" da "esquerda X direita", não há um contexto que permitisse que um religioso supostamente progressista decida homenagear um político como Dória Jr., ainda mais quando a opinião pública começava a repudiar o político que quase nada fez por São Paulo.
Se Divaldo Franco decidiu homenagear João Dória Jr., não podemos subestimar isso. Infelizmente a mídia de esquerda caiu na pegadinha das imagens misturadas - a do Você e a Paz e da entrevista coletiva na Arquidiocese de São Paulo - e se esqueceu que a "farinata" e a homenagem a um político reacionário foram decisões pessoais de um "médium espírita".
Uma coisa é a diplomacia, como foi no caso de João de Deus com Lula. Outra é a cumplicidade, a homenagem espontânea de Divaldo a João Dóri Jr.. Não podemos trocar as bolas. As esquerdas foram pegar carona nas duas pegadinhas da mídia hegemônica e, mordendo a isca, foram vítimas de seus erros.
A mídia hegemônica misturou as fotos da aparição de João Dória Jr. no Você e a Paz com as da entrevista coletiva ao lado de Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo. Mesmo os trajes diferentes não foram levados em conta e, de repente, o Você e a Paz passou a ser um "evento da Arquidiocese de São Paulo".
Com isso, os esquerdistas cometeram sua gafe diante não só da complacência com os "espíritas", mas consentindo com os truques noticiosos que a mídia hegemônica, que protege os "médiuns espíritas" (muitos se esquecem que eles são os "filantropos de fachada" criados ou recriados pela Rede Globo), acabou fazendo.
Perdeu-se uma boa oportunidade da mídia alternativa investigar as irregularidades que existem no "espiritismo" brasileiro, que, com toda a sua bajulação a Allan Kardec, sempre traiu o legado do pedagogo francês. As esquerdas se perderam na floresta encantada do igrejismo "espírita" e seus apelos emotivos sedutores e, agora, perderam o protagonismo de antes. As esquerdas assistirão, perplexas, à posse de um plutocrata em 2019, comandando o país sob as bênçãos dos "espíritas".
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