sábado, 3 de fevereiro de 2018
"Médium" e latifundiário, João de Deus tem documentário lançado.
A cada vez mais o "espiritismo" brasileiro demonstra ser conservador e, de certa forma, elitista. O "médium", dublê de filantropo e latifundiário - sua propriedade em Goiás tem área equivalente a 18 Parques do Ibirapuera, uma aberração para as dimensões de um Estado que, além do mais, perdeu metade de seu território para o Tocantins - João Teixeira de Faria, o João de Deus, ganhou um documentário elogioso sobre sua carreira.
O filme ganhou um título bem ao agrado da Teologia do Sofrimento defendida pelos "espíritas": João de Deus - O Silêncio é uma Prece, dirigido por Candé Salles. O evento ainda teve uma pós-festa no restaurante Jamille, no centro da capital paulista. O evento aconteceu no último dia 30 e teve a presença de vários famosos.
PAULO SKAF, O "PAI" DO PATO DA FIESP E FINANCIADOR DAS PASSEATAS DO "FORA DILMA", TAMBÉM FOI AO EVENTO.
E para as esquerdas que pensavam, ingenuamente, que os "médiuns espíritas" estavam com elas, é bom lembrar que João de Deus, tão alardeado como "amigo de Lula", apoia o presidente Michel Temer e o acolheu entusiasmadamente no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. João também manifestou seu grande desejo de ter o juiz Sérgio Moro como presidente da República. O "médium" definiu Moro como um "homem honesto e bom".
Lembremos que Moro é o algoz do ex-presidente Lula e, por isso, manipula tendenciosamente todos os recursos jurídicos para garantir a prisão, decidida por ele na sentença de nove anos e meio em regime semi-aberto pelo caso do triplex do Guarujá. A sentença de primeira instância não só foi confirmada em segunda instância pelos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, como foi aumentada para doze anos e um mês em regime fechado.
As sintonias do "espiritismo" brasileiro com o conservadorismo político são tantas que um dos convidados para a sessão do filme foi o empresário Paulo Skaf, presidente da FIESP (Federação da Indústria do Estado de São Paulo), embora seja um "industrial sem indústria".
Em todo caso, Paulo Skaf foi um dos militantes do impeachment que atingiu a presidenta Dilma Rousseff, em 2016. Skaf não só bradava contra o governo Dilma como financiou pessoalmente as passeatas do "Fora Dilma", que o "espiritismo" brasileiro definiu como "marco zero do processo de regeneração da humanidade", a ponto de investir na produção de um pato inflável de cor amarela, depois um plágio de uma obra de um artista plástico holandês.
O "pato da FIESP", como foi conhecido, foi a mascote dos protestos anti-Dilma, cujos manifestantes, pela ênfase na cor amarela das camisetas da CBF - curiosamente, diziam combater a corrupção, mas se esqueciam da corrupção na confederação esportiva - , são conhecidos como "coxinhas".
Os fatos que ligam os "espíritas" ao conservadorismo político que retomou o poder em 2016 não são calúnias nem desaforos. São fatos, dos mais concretos, que deveriam ser encarados pelos esquerdistas, que se simpatizavam com a religião e seus "médiuns", com muita resignação.
Na ironia do "espiritismo" brasileiro pedir resignação a tudo, logo os esquerdistas não se resignam em perder, para os direitistas, a aliança dos "médiuns espíritas". Apegados ao wishful thinking, os esquerdistas ficam pedindo para os "médiuns espíritas" pensarem à esquerda, como se os seguidores pudessem mandar nos seus ídolos.
Não, não é assim. Os "médiuns espíritas" são conservadores, como o próprio "espiritismo" brasileiro é conservador. A natureza da religião, que trocou os ensinamentos kardecianos originais pelo Catolicismo jesuíta do período colonial - por sua vez, de origem medieval - , é conservadora, seu caráter moralista é bastante retrógrado.
Afinal, convenhamos: como definir como "progressista" uma religião que pede para os sofredores ficarem calados ante sua desgraça, se resignando a ela mesmo quando ela atinge níveis extremos e acima da capacidade de ser suportada por alguém?
Não há um motivo consistente para associar o "espiritismo" aos movimentos progressistas, porque, apesar do apelo publicitário das crianças pobres sorridentes e do verniz de humildade, o "espiritismo" brasileiro é elitista e extremamente conservador.
São fatos que mostram isso, explicitamente. Não adianta os esquerdistas irem ao Facebook reclamarem e saírem por aí ironizando - um até escreveu que "se o espiritismo é de direita, então eu vou ser engolido pelo planeta chupão" - , porque a realidade nem sempre se molda aos desejos das pessoas.
Os "médiuns espíritas" são pessoas extremamente conservadoras e sua natureza e as causas e personalidades que defendem confirmam rigorosamente essa realidade que desagrada muitos. A verdade dói.
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